74serviços. Veremos à frente um fenômeno que aconteceu com o trabalho em saúde, masque pensamos não ser exclusividade deste; pelo contrário, pensamos que essefenômeno é expressão de um processo mais amplo pelo qual passou e passa o chamado“trabalho em serviços” a partir de certo estágio de desenvolvimento do modo deprodução capitalista, seu estágio monopolista. Esse fenômeno se refere à subsunçãodessas apresentações do trabalho – os serviços – à dinâmica de valorização do capital.Trabalhos que até o século XIX eram realizados por trabalhadores autônomos, demaneira artesanal, geralmente com vínculo comercial ou filantrópico, passam a sertransformados em processos coletivos de produção; passam a ser permeados porelementos da divisão do trabalho, da cooperação e propiciam a consolidação decapitalistas como proprietários de empresas de prestação de serviços. Esse processopode ser evidenciado no caso do trabalho em educação e saúde, por exemplo. É assimque a partir de meados do século XX começam a surgir/multiplicar grandes gruposprivados que passam a investir seus capitais nos setores da educação, saúde, entreoutros. Uma fatia do mercado até então pouco explorada pelo capital e com grandepotencial de lucratividade. Hoje grande parte do trabalho em saúde, por exemplo,encontra-se dentro do setor produtivo gerando lucros estratosféricos aos “capitalistasda saúde” em uma dimensão comparável a grandes indústrias de “bens materiais”(BRAGA & SILVA, 2001). Poderemos ver que tanto o trabalho em saúde quanto otrabalho em educação 8 , até o século XIX eram realizados ou por trabalhadoresautônomos ou por assalariados pelo Estado; durante o feudalismo havia ainda o caráterfilantrópico dessas práticas sob controle da igreja. Esse processo em nada contribuíapara a acumulação do capital. Por outro lado, era evidente a tendência crescente detransformação dos trabalhadores autônomos – como os médicos-artesãos eprofessores-artesãos – em trabalhadores assalariados; porém, somente comoassalariados, ou do Estado ou de um pequeno capital comercial, e não industrial, ouseja, produtor de mais valia. Não ocorria ainda a subsunção desses processos de8 Para evidência do processo de trabalho em educação nesse processo de transição ao capitalismomonopolista, pode-se consultar: ALVES, G. L. A produção da escola pública contemporânea;PONCE, A. Educação e luta de classes e SÁ, N. P. O aprofundamento das relações capitalistas nointerior da escola.
75trabalho ao processo de valorização do capital, embora, indiretamente, os primeiros jácomeçassem a apresentar características de processos de trabalho já subsumidos. Esseprocesso faz parte daquilo que Mészaros (2001) definiu como instituição do“sociometabolismo do capital”. Ou seja, a lógica instituída pelo capital passa adominar todos os aspectos da vida social inclusive para além do processo direto deextração de mais-valia. A análise desse momento histórico, anterior à fase monopolistado capitalismo, quando ainda não estava estabelecida a dinâmica do capital nessasáreas do setor de serviços, levou Marx a afirmar queEm suma, os trabalhos que só se desfrutam como serviços não se transformam em produtosseparáveis dos trabalhadores – e, portanto, existentes independentemente deles comomercadorias autônomas – e, embora possam ser explorados de maneira diretamentecapitalista, constituem grandezas insignificantes se os compararmos com a massa da produçãocapitalista. Por isso, deve-se pôr de lado esses trabalhos e tratá-los somente a propósito dotrabalho assalariado que não é simultaneamente trabalho produtivo (1979: 116).Porém os tempos são outros; o modo de produção capitalista desenvolveu a talponto as forças produtivas como jamais visto na história da humanidade e adentrou suafase monopolista 9 . É característica dessa fase do capitalismo o fato de o capital passara impor ao trabalho em suas mais diversas apresentações, inclusive o trabalho emserviços, características muito semelhantes ao trabalho produtor de “bens materiais”,seja nas formas de organizar a produção – parcelarização do processo de trabalho;separação entre planejamento e execução; incorporação cada vez maior de tecnologia -seja nas características a que passa a ser submetida a força de trabalho –proletarização; especialização do trabalhador, entre outros. A partir desse períodohistórico começam a se constituir grandes grupos capitalistas que passam a ver naprodução da saúde e da educação, por exemplo, uma possibilidade de extração demais-valia. O último refúgio para o trabalho em saúde e educação, fora do circuitodireto de acumulação do capital, passa a ser o setor estatal, embora seja importantefrisar que o processo de trabalho aqui não tenha ficado imune às características do9 Alguns autores colocam o domínio do capital monopolista como apenas um, embora central, dosaspectos do atual estágio do capitalismo, e preferem chamá-la de fase Imperialista. Ver Lenine, OImperialismo, Fase Superior do Capitalismo in Lenine, V.I. Obras Escolhidas em VI tomos. Lisboa:Edições Progresso-Moscovo e Edições Avante, 1984. Tomo 2.
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