72destacável do processo produtivo. Essa particularidade fará com que as esferas deprodução e consumo sejam uma só, no caso desses trabalhos. Porém, fazemos questãode ressaltar, uma atividade, mesmo não sendo palpável como um objeto, pode serbastante material. O trabalho é a atividade mais material que existe, pois, como vimos,é o responsável pela produção da existência humana. No entanto, ele somenteapresenta-se apreensível pelos nossos sentidos em suas formas “materiais”,transitórias, seja o agente, os meios ou o produto do trabalho. Não se apresenta comotarefa fácil apreender o trabalho para além de suas diversas formas, apreendê-loessencialmente como esse movimento constituidor da existência humana. Entendemoso trabalho como esse movimento que, ora se apresenta mais subjetivado (na forma doagente), ora mais objetivado (em produtos ou meios de trabalho), ora se apresentacomo produtor de “bens”, ora como produtor de “atos”. Prender-se a uma das formas ecristalizá-la, com fins de análise, significa paralisar esse movimento e é no queincorrem, por exemplo, os autores que se propõem a classificar um trabalho como“material”, outro como “imaterial”... Relembrar Fernando Pessoa parece-nosconveniente nesse momento:(...) E pela primeira vez no Universo eu reparoQue as borboletas não têm cor nem movimento (...)A cor é que tem cor nas asas da borboleta,No movimento da borboleta o movimento é que se move.(...) A borboleta é apenas borboleta (PESSOA, 2006: 79).As formas são apenas formas, o trabalho, em essência, está para além delas.Bem, toda essa digressão teve como objetivo demonstrar que o que muda do trabalhoprodutor de “bens materiais” para o trabalho “em serviços” é somente a forma como seapresentam seus produtos. Mas ambos, por serem trabalhos, constituem-se como partedo movimento produtor da existência material dos homens.Veremos que o fato de seus produtos serem uma atividade e não “uma coisa”dará ao trabalho em serviços características peculiares em seus “modos de operar” eem seu processo de subsunção ao capital, o que impactará de maneira especial seusprocessos de qualificação.
733.2 TRABALHO EM SERVIÇOS: IMPRODUTIVO?Vimos que um dos elementos que caracterizam o trabalho em serviços paraOffe é o seu caráter improdutivo. O autor refere que esses tipos de trabalho “ (...) sãoefetuados para a manutenção das condições físico-técnicas da produção, e nãoenquanto produção; sua relação com a produção é, antes de mais nada, reflexiva”(OFFE, 1991; 18). Portanto, a fim de esclarecermos se o caráter improdutivo faz partedas características que nos ajudam a definir o “trabalho em serviços”, vejamos mais deperto essa categoria.Antes que o leitor, inconscientemente, ao se deparar com a categoria trabalhoprodutivo, possa incorrer em juízo valorativo e assim afastar o conceito do campo desua definição científica, vamos recorrer a Marx nessa elucidativa citação a fim deiniciarmos o debate com o conteúdo bem delimitado:Como o fim imediato e (o) produto por excelência da produção capitalista é a mais-valia,temos que somente é produtivo aquele trabalho que (e só é trabalhador produtivo aquelepossuidor da capacidade de trabalho que) diretamente produza mais-valia; por isso, só aqueletrabalho que seja consumido diretamente no processo de produção com vista à valorização docapital.Do ponto de vista do processo de trabalho em geral, apresentava-se-nos como produtivoaquele trabalho que se realizava num produto, mais concretamente numa mercadoria. Doponto de vista do processo capitalista de produção, junta-se uma determinação mais precisa: éprodutivo aquele trabalho que valoriza diretamente o capital, o que produza mais-valia(...)(MARX, 1979: 108-109).Portanto, não basta a definição geral de trabalho produtivo. O trabalho nãoexiste de maneira abstrata. Como qualquer abstração, faz-se necessário trazê-la para omundo concreto, das determinações materiais. E sob o capitalismo é acrescentada umacaracterística à concepção geral de trabalho produtivo, qual seja, a capacidade de gerarmais-valia. Não basta que o processo de trabalho produza uma mercadoria para serprodutivo, é necessário que desse processo se extraia a mais-valia que irá participar daacumulação do capital. Isso posto, estamos instrumentalizados para adentrarmos osmais diferentes processos de trabalho a fim de buscarmos possíveis relações com aacumulação do capital. Estamos liberados, inclusive, para analisarmos sob esse ânguloalgo até hoje muito polêmico, que são as diversas apresentações do trabalho em
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