68encontra-se subsumido ao processo de valorização (ou de extração de mais valor). Porisso, Marx dirá que o trabalho se apresenta com duplo caráter; por um lado produtor deprodutos úteis que satisfazem necessidades (valor de uso), e, por outro, simplesmenteprodutor de valor. O primeiro, o trabalho concreto, transparece nas diferentesatividades produtivas que realizam os seres humanos – marceneiro, sapateiro, etc. Já osegundo, o trabalho abstrato, não se apresenta nas diferentes atividades, mas naquiloque elas apresentam em comum: o fato de serem todas atividades laborativas, ou seja,trabalho em geral. Esse duplo caráter do trabalho se transparece no duplo caráter damercadoria que é, ao mesmo tempo, valor de uso e valor. É através da produção demercadorias que o capitalista consegue fazer com que a força de trabalho gere maisvalor que é ampliado continuamente na forma de capital. Pela primeira vez na históriada humanidade o caráter do trabalho de gerador de valor é sobreposto ao caráter degerador de produtos úteis, cuja função é satisfazer necessidades. Portanto produzirvalores de uso deixa de ser fim e passa a ser meio, meio de extração de mais valor. Aesse processo Marx (1979) denominou subsunção do trabalho ao capital. Logo, acategoria “trabalho produtivo” em geral, sob o capital, passará a acompanhar esseprocesso histórico de subsunção. “Trabalho produtivo”, sob o capitalismo, deixa de sera atividade produtora de produtos úteis (valores de uso) e se define pela capacidade dotrabalho de ser fonte de extração de mais-valia.Como vimos, também em capítulo anterior, do ponto de vista do processo detrabalho, esse processo de subsunção do trabalho ao capital se apresenta de maneiraprogressiva à medida que o modo de produção capitalista surge e se consolida. Em umprimeiro momento, essa subsunção é apenas formal (ou parcial) – a manufatura –porque, embora se extraia mais-valor, o componente subjetivo – o trabalhador - aindaé dominante no processo de produção; e, em um segundo momento, essa subsunçãotorna-se real (ou total), através da implantação da indústria, quando a objetivação dotrabalho se intensifica e o trabalhador fica subordinado à maquinaria.Relembramos esses elementos com a finalidade de ressaltar os aspectos geraisdo processo histórico de subsunção do trabalho social às relações sociais capitalistaspara podermos, assim, adentrar o mundo das polêmicas acerca do “trabalho em
69serviços” mais instrumentalizados. Desde já, portanto, nos localizamos dentro docampo teórico que compreende o “trabalho em serviços” como uma apresentaçãoparticular de um fenômeno universal: o trabalho humano sob o capitalismo. Tentemos,pois abordar os diferentes conceitos e categorias relacionadas a esse objeto tendo porreferência a concepção acima citada acerca do trabalho.3.1 TRABALHO EM SERVIÇOS: IMATERIAL?Um primeiro aspecto que merece abordagem é aquele que versa sobre apossível “imaterialidade” do “trabalho em serviços” (HARDT & NEGRI, 2001). Oque muitos autores convencionaram chamar “imaterial” refere-se a atividadeslaborativas cujos produtos não se consubstancializam em objetos “palpáveis”. No casoda educação, por exemplo, o produto do trabalho – a socialização/transmissão dedeterminado conjunto de saberes - não pode ser palpável, como o pode o produto dotrabalho de um sapateiro. Embora não haja grandes controvérsias até aqui, pensamosque essa chamada “imaterialidade” deva ser relativizada. Isso porque, embora oproduto do trabalho do professor, por exemplo, não possa ser palpável, ele possuideterminações e repercussões bastante “materiais”. Podemos elencar pelo menos duasrepercussões “materiais” do trabalho do professor: a primeira refere-se à dimensão detornar acessíveis para os trabalhadores as técnicas e saberes necessários à realização dedeterminado trabalho – atividade material; a segunda refere-se à transmissão dedeterminados valores, visões de mundo, que colaborarão para condicionardeterminadas formas de se relacionar em sociedade. A grande dificuldade em seapreender essas formas de trabalho como materiais, a nosso ver, é expressão da nãoapreensão das relações sociais como dotadas de materialidade. Citamos o caso dotrabalho em educação e, para complicarmos um pouco mais as análises daqueles quetentam traçar uma linha mecânica de separação e exclusão entre material e imaterial,poderíamos citar o caso do nosso objeto: o trabalho em saúde.Uma primeira característica que “complexifica” a análise do trabalho em saúde,em relação ao trabalho em educação e mesmo em relação a outros “trabalhos em
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