ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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56problemas colocados pela nova conformação dos processos de trabalho flexíveis(HIRATA, 1994; FERRETTI, 1997; KUENZER, 2003; SILVA, 2005).Apesar de não se apresentar isenta de divergências a compreensão de qual papelrepresenta o conceito de competência quando se trata da qualificação para o trabalho,parece haver certa convergência dos autores acima citados acerca de alguns aspectosdesse processo. O primeiro refere-se ao fato de que, se o conceito de competência até adécada de 70 esteve mais vinculado ao domínio de práticas manuais, portanto umaqualificação mais infraestrutural (técnica), agora são aspectos comportamentais emesmo cognitivos que passam a ser valorizados. Por isso, Silva (2005) dirá que oconceito de competências refere-se mais aos aspectos superestruturais da qualificaçãoe, portanto, não pode ser usado como sinônimo da mesma. Ferreti (1997) concordacom esse conteúdo (disciplinador, comportamental) das competências e o compreendecomo uma idéia contemporânea de qualificação sob a lógica da nova conformação docapital, contribuindo para o processo de subordinação dos trabalhadores ao capitalatravés do velamento dos interesses antagônicos de classe. Kuenzer (2003), por suavez, enfatiza o aspecto contraditório das competências, pois, se por um lado, estas sãoconstituídas por um forte conteúdo disciplinador e precarizador dos processos detrabalho, por outro lado, representam uma necessidade, posta por estes, de otrabalhador dominar mais a articulação dos conhecimentos, através dodesenvolvimento cognitivo mais complexo.Em síntese, nos parece que esses autores, quando analisam o conceito decompetência, relatam um movimento interessante da categoria qualificação nesse atualciclo de acumulação do capital monopolista. Um movimento que, ao mesmo tempo emque substitui o trabalho vivo por trabalho morto, aumenta a precarização da força detrabalho restante e a intensidade da exploração sobre a mesma. Como conseqüênciadisso, faz-se cada vez mais necessário o conteúdo superestrutural da qualificação, sejaatravés do disciplinamento mais hostil, seja através do envolvimento e da cooptaçãodos trabalhadores para o projeto do capital, seja através de novas habilidadescognitivas necessárias à intensificação do trabalho. Esse último parece ser umfenômeno em curso, de forma mais evidente, nos setores em que a automação de base

57microeletrônica é hegemônica, e aqui é importante ressaltar que esses setores sãominoria dentro da produção social. A “polivalência” ou “multifuncionalidade” quepoderíamos chamar de “multiparcelaridade” passa a exigir do trabalhador algumashabilidades antes desnecessárias, como, por exemplo, a capacidade de adaptação anovas tarefas, mesmo que simplificadas, a fim de conseguir absorver maior carga detrabalho.2.7 TENDÊNCIAS GERAIS DA QUALIFICAÇÃO DO TRABALHO SOB OCAPITALISMOApós analisarmos as transformações pelas quais passou e passa constantementeo trabalho – elemento ontológico da existência humana – pudemos elencar aspectosque ajudam a conformar a concepção acerca da qualificação para o trabalho que, emnossa compreensão, melhor nos guia na apreensão desse movimento pelo qual passa otrabalho nos diferentes momentos da história humana. Como vimos anteriormente, aqualificação para o trabalho, para nós, pode ser definida como o processo pelo qual otrabalhador torna-se apto para a realização de determinado trabalho que lhe é exigidopelo grau de desenvolvimento das forças produtivas sob certas relações sociais deprodução dominantes. Inscrevem-se no campo dessa definição abstrata de qualificaçãodiversos elementos objetivos e subjetivos relacionados às distintas apresentaçõeshistórico-concretas do trabalho. De forma geral esses diversos elementos podem seragrupados naquilo que Silva (2005) define como dimensão infraestrutural (ou técnica)e dimensão superestrutural (ou ideológica) da qualificação para o trabalho. A primeirarefere-se às capacidades mentais e manuais – destreza, habilidade, coordenação e etc -necessárias à realização de determinadas ações práticas que o processo de trabalhointernamente exige. A segunda refere-se a outros componentes não inerentes ao ato derealização de determinado trabalho, mas que são fundamentais para a manutenção ereprodução das relações socais de produção segundo as quais aquele trabalho écondicionado. Diversos outros autores, embora não usem esses conceitos – infra esuperestrutura –, também compreendem o processo de qualificação como constituído

56problemas colocados pela nova conformação dos processos de trabalho flexíveis(HIRATA, 1994; FERRETTI, 1997; KUENZER, 2003; SILVA, 2005).Apesar de não se apresentar isenta de divergências a compreensão de qual papelrepresenta o conceito de competência quando se trata da qualificação para o trabalho,parece haver certa convergência dos autores acima citados acerca de alguns aspectosdesse processo. O primeiro refere-se ao fato de que, se o conceito de competência até adécada de 70 esteve mais vinculado ao domínio de práticas manuais, portanto umaqualificação mais infraestrutural (técnica), agora são aspectos comportamentais emesmo cognitivos que passam a ser valorizados. Por isso, Silva (2005) dirá que oconceito de competências refere-se mais aos aspectos superestruturais da qualificaçãoe, portanto, não pode ser usado como sinônimo da mesma. Ferreti (1997) concordacom esse conteúdo (disciplinador, comportamental) das competências e o compreendecomo uma idéia contemporânea de qualificação sob a lógica da nova conformação docapital, contribuindo para o processo de subordinação dos trabalhadores ao capitalatravés do velamento dos interesses antagônicos de classe. Kuenzer (2003), por suavez, enfatiza o aspecto contraditório das competências, pois, se por um lado, estas sãoconstituídas por um forte conteúdo disciplinador e precarizador dos processos detrabalho, por outro lado, representam uma necessidade, posta por estes, de otrabalhador dominar mais a articulação dos conhecimentos, através dodesenvolvimento cognitivo mais complexo.Em síntese, nos parece que esses autores, quando analisam o conceito decompetência, relatam um movimento interessante da categoria qualificação nesse atualciclo de acumulação do capital monopolista. Um movimento que, ao mesmo tempo emque substitui o trabalho vivo por trabalho morto, aumenta a precarização da força detrabalho restante e a intensidade da exploração sobre a mesma. Como conseqüênciadisso, faz-se cada vez mais necessário o conteúdo superestrutural da qualificação, sejaatravés do disciplinamento mais hostil, seja através do envolvimento e da cooptaçãodos trabalhadores para o projeto do capital, seja através de novas habilidadescognitivas necessárias à intensificação do trabalho. Esse último parece ser umfenômeno em curso, de forma mais evidente, nos setores em que a automação de base

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