54processo tendem a ser, em realidade, aprofundamento de tendências já evidenciadaspor Marx e outros autores marxistas no final do século XIX e início do século XX 6 .Com relação à qualificação para o trabalho, a tendência é o acompanhamentodesse movimento dual de constituição da força de trabalho sob o capitalismo e queparece não ter se alterado significativamente com o regime de acumulação flexível.Esse movimento, já analisado por Marx em O Capital, consiste na tendênciaprogressiva de separação crescente entre trabalho intelectual e manual, com o primeirosubjugando e dominando o segundo. Autores como KLEIN (2003) e SILVA (2005)destacam com ênfase a idéia segundo a qual continua havendo uma simplificaçãoprogressiva do trabalho manual, com a incorporação de novas tecnologias, com otrabalho mais complexo tendendo a ser objeto de um grupo de trabalhadores cada vezmais restrito. Essa incorporação tecnológica é o aspecto que mais impressiona,entretanto, embora possa ter havido um salto qualitativo com a implantação daautomação de base microeletrônica, não se consubstancializa em rompimento com atendência progressiva de alteração da composição orgânica do capital.Quando olhamos com mais atenção para aqueles trabalhadores ditos “centrais”,em setores produtivos constituídos pela automação de base microeletrônica, algunsautores ressaltam o surgimento de uma tendência chamada “polivalência” ou“multifuncionalidade” 7 , que poderia estar em contradição com a tendência desimplificação do trabalho manual. Ao fazer uma crítica a tal tese, Kuenzer esclareceque esse movimento caracteriza-se, em realidade, pela(...) ampliação da capacidade do trabalhador para aplicar novas tecnologias, sem que hajamudança qualitativa desta capacidade. Ou seja, para enfrentar o caráter dinâmico dodesenvolvimento científico-tecnológico, o trabalhador passa a desempenhar diferentes tarefasusando distintos conhecimentos, sem que isto signifique superar o caráter de parcialidade e6 Vide, por exemplo, a análise de LENINE, de 1916, Imperialismo – a fase superior do capitalismo.Vários aspectos descritos por HARVEY como novos já se encontram descritos pelo autor. É o caso daampliação do capital financeiro, da migração de capitais (indústrias) pelo mundo, da concentraçãomonopolista, entre outros.7 Todos esses termos são utilizados para tentar definir o mesmo fenômeno, o que demonstra o pouco consensoem relação à sua interpretação. Dentre todos esses, um dos mais polêmicos é o de multifuncionalidade pelo fatode se questionar se há realmente diferentes funções postas para o trabalhador além daquela de monitoramento(vigilância) da maquinaria. Nesse caso, estar-se-ia confundindo diferentes atos/práticas com diferentes funções.Agrada-nos o termo multiparcelar e o de especialização flexível por expressarem, a nosso ver, acontraditoriedade desse fenômeno.
55fragmentação destas práticas ou compreender a totalidade. A este comportamento no trabalhocorresponde a interdisciplinaridade na construção do conhecimento que nada mais é do que ainter-relação entre conteúdos fragmentados, sem superar os limites da divisão e daorganização, segundo os princípios da lógica formal (KUENZER, 2002a: 10).Portanto, a polivalência não se apresenta contraditoriamente ao processo desimplificação do trabalho, pelo contrário, um trabalhador somente pode realizar váriosatos diferentes porque o avanço tecnológico simplificou a um nível extremo o trabalhoque o restou para executar. Significa, em última instância, portanto, ser capaz derealizar não uma, mas várias ações mais simplificadas. Ao descrever esse processo naindústria automobilística, Coriat demonstra como essa “desespecialização” estárelacionada ao aumento da intensidade do trabalho, poisEste movimento de desespecialização dos operários profissionais e qualificados, paratransformá-los em trabalhadores multifuncionais, é de fato um movimento de racionalizaçãodo trabalho no sentido clássico do termo. Trata-se aqui, também – como na via tayloristanorte-americana -, de atacar o saber complexo do exercício dos operários qualificados, a fimde atingir o objetivo de diminuir os seus poderes sobre a produção, e de aumentar aintensidade do trabalho (CORIAT, 1994: 53).Com a emergência do que seria esse “novo” regime de acumulação flexível e,consequentemente, das novas apresentações do processo de trabalho, passam adesenvolverem-se também novas teorias e compreensões acerca da qualificação para otrabalho. O acompanhamento que as categorias teóricas do campo educativo fazem aomovimento das mudanças do mundo do trabalho, a nosso ver, expressa a atualidade dadiscussão acerca do princípio educativo do trabalho, ou seja, as formas como asrelações sociais de produção educam/qualificam os trabalhadores para o mundo dotrabalho e para a forma de sociabilidade existente (KUENZER, 1985; SAVIANI,1994; GRAMSCI, 2000). O maior exemplo de um conceito ligado ao campo daqualificação que (re)surge ou pelo menos se consolida com a emergência do regime deacumulação flexível é a idéia de competência. De uma maneira geral, costuma-sedefinir o campo das competências como composto por aquelas capacidades dotrabalhador em mobilizar e articular conhecimentos - tácitos e científicos – edemonstrar determinadas habilidades de caráter comportamental – responsabilidade,capacidade de trabalho em equipe, iniciativa, lealdade etc. - com vistas a resolver
- Page 2:
2Aos trabalhadores, em especial aos
- Page 7 and 8: 7RESUMOA partir do século XVII, co
- Page 9 and 10: 91 INTRODUÇÃOPassa uma borboleta
- Page 11 and 12: 11metáfora do bosque e das árvore
- Page 13 and 14: 13outros referenciais teóricos, po
- Page 15 and 16: 15unidades produtivas da assistênc
- Page 17 and 18: 172 A QUALIFICAÇÃO DO TRABALHO -
- Page 19 and 20: 19discussão acerca do processo de
- Page 21 and 22: 21que os homens encontram “dispon
- Page 23 and 24: 23produtivas. A questão da qualifi
- Page 25 and 26: 25qualificação para o trabalho ac
- Page 27 and 28: 27para trabalhar sob suas ordens na
- Page 29 and 30: 29O sistema capitalista pressupõe
- Page 31 and 32: 31consolidação, desenvolvimento e
- Page 33 and 34: 33valorização. Contudo, essa ampl
- Page 35 and 36: 352.4 A DIVISÃO MANUFATUREIRA E SE
- Page 37 and 38: 37objeto de estudo: o trabalho em s
- Page 39 and 40: 39diferentes etapas, passa a ser fr
- Page 41 and 42: 41agora, por estarem desprovidos do
- Page 43 and 44: 43manufatura será um processo que
- Page 45 and 46: 45ferramentas e máquinas correspon
- Page 47 and 48: 47próprios pés” criando as ind
- Page 49 and 50: 49trabalhador. O fato, por exemplo,
- Page 51 and 52: 51todas exigem práticas manuais, e
- Page 53: 53segunda característica é uma ma
- Page 57 and 58: 57microeletrônica é hegemônica,
- Page 59 and 60: 59produzir um sapato durante o feud
- Page 61 and 62: 61capitalismo, embora possam manife
- Page 63 and 64: 63movimento geral que subsume progr
- Page 65 and 66: 653 A QUALIFICAÇÃO DO TRABALHO EM
- Page 67 and 68: 67particular desse no real. Procede
- Page 69 and 70: 69serviços” mais instrumentaliza
- Page 71 and 72: 71Segundo o método que nos guia ne
- Page 73 and 74: 733.2 TRABALHO EM SERVIÇOS: IMPROD
- Page 75 and 76: 75trabalho ao processo de valoriza
- Page 77 and 78: 77mais diversos consumidores, sejam
- Page 79 and 80: 79simultaneamente. A peculiaridade
- Page 81 and 82: 814 O TRABALHO EM SAÚDE E AS RELA
- Page 83 and 84: 83funções que sempre existiram e
- Page 85 and 86: 85humanos estabelecem entre si e co
- Page 87 and 88: 87método, não se apresenta todo e
- Page 89 and 90: 89facilmente entre as ciências nat
- Page 91 and 92: 91fundamentais para a consolidaçã
- Page 93 and 94: 93corpo, como ente privado, advinda
- Page 95 and 96: 95direito à alimentação, saúde,
- Page 97 and 98: 97utópico, e no campo das ciência
- Page 99 and 100: 99hegemonicamente vinculado à ques
- Page 101 and 102: 101executores no período feudal. I
- Page 103 and 104: 103corporações de ofício, exerci
- Page 105 and 106:
105enfermagem que se constituirão
- Page 107 and 108:
107capitalista - através da extra
- Page 109 and 110:
109Como conseqüência dessa nova d
- Page 111 and 112:
111cientificidade e neutralidade qu
- Page 113 and 114:
113medicina manter-se-á ‘artesan
- Page 115 and 116:
115Veremos adiante que essa configu
- Page 117 and 118:
117realizado por diferentes trabalh
- Page 119 and 120:
119exemplo, é que passam a surgir
- Page 121 and 122:
121simplificado em relação ao tra
- Page 123 and 124:
123por um processo de formação t
- Page 125 and 126:
125o corpo? Não estamos evidencian
- Page 127 and 128:
127trabalhador parcelar, como conse
- Page 129 and 130:
1295.4 O PAPEL DA TECNOLOGIA E SEUS
- Page 131 and 132:
131atividade de trabalho) de uma ce
- Page 133 and 134:
133que é aquela consubstancializad
- Page 135 and 136:
135de “liberar” o trabalhador d
- Page 137 and 138:
137se consolida a medicina e seu m
- Page 139 and 140:
139“mecanizar” o trabalho em sa
- Page 141 and 142:
1415.5.1 O TRABALHADOR COLETIVO EM
- Page 143 and 144:
143produtivo, a assistência à sa
- Page 145 and 146:
145diagnósticas e terapêuticas, o
- Page 147 and 148:
147totalidade do processo produtivo
- Page 149 and 150:
149só muito difícil e restrita, m
- Page 151 and 152:
151sujeitos envolvidos nesse proces
- Page 153 and 154:
153seria exagero dizer que a grande
- Page 155 and 156:
155trabalho em saúde sob o capital
- Page 157 and 158:
157possibilidade de superação de
- Page 159 and 160:
159tecnologia (a normatização), p
- Page 161 and 162:
161ser abalada em sua hegemonia, el
- Page 163 and 164:
163mesmo. A sensação descrita no
- Page 165 and 166:
165Concordamos com CAMPOS (1992) qu
- Page 167 and 168:
167Nesse momento histórico, sob um
- Page 169 and 170:
169médico e os setores populares c
- Page 171 and 172:
171interligados, muitas vezes sem u
- Page 173 and 174:
173importante para o capital, pois
- Page 175 and 176:
175Saúde, por meio das quais a epi
- Page 177 and 178:
177maneira “tensa” e somente se
- Page 179 and 180:
179adquirida. Aqui acontecerá o pr
- Page 181 and 182:
181são em menor número e parecem
- Page 183 and 184:
183dos mesmos, ainda que em níveis
- Page 185 and 186:
185maquinaria, no trabalho em saúd
- Page 187 and 188:
187somos adeptos de um método, mé
- Page 189 and 190:
189REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALTH
- Page 191 and 192:
191DE MASI, D. A sociedade pós-ind
- Page 193 and 194:
193LIMA. V. V. Competência: distin
- Page 195 and 196:
195NEMES, M. I. B. Prática program
- Page 197:
197_____. O trabalho médico: quest