ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ... ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

12.07.2015 Views

180O movimento de qualificação técnica tenderá a acompanhar, com maior oumenor correspondência temporal, as transformações ocorridas ao nível do processo detrabalho em saúde. Portanto, todos os aspectos por nós analisados ao longo dessadissertação – constituição do trabalho coletivizado e parcelarizado; especialização dotrabalhador; impacto das diversas apresentações tecnológicas, entre outros – assimcomo suas contradições, irão impactar os processos educativos em saúde. Geralmente,as transformações ocorridas no processo de trabalho, e suas contradições, nãoapresentam reflexo imediato nos conteúdos e métodos utilizados nos aparelhosformadores. Costuma haver uma distância entre esses dois mundos (acadêmico e dotrabalho), porém, quando as transformações consolidam-se e universalizam-se, aacademia é obrigada a acompanhá-las. Inclusive, pensamos que grande parte das novaselaborações acadêmicas acerca das mudanças do trabalho em saúde reflete umaapreensão dessas transformações em curso, ainda que em germe.Um exemplo atual dessa interseção entre academia e trabalho parece ser a atual“exaltação” da “pedagogia das competências” nas atuais propostas de reformascurriculares, principalmente de cursos técnicos, mas também de cursos superiores.Como vimos, a idéia de competências surge na década de 70, muito vinculada àaquisição de habilidades técnicas parcelares, e, com o advento de formas produtivasmediadas pela microeletrônica, passa a ganhar uma dimensão de habilidadescognitivas de articulação de tecnologias e conhecimentos teóricos e práticos, além deenfatizar características mais comportamentais/disciplinares de adesão aos projetosinstituídos no trabalho.Não é nossa intenção, como já dissemos antes, adentrar o mundo das polêmicasacerca das inúmeras propostas que cotidianamente apresentam-se em relação aoscurrículos da área de saúde. Não obstante, pensamos ser oportuno tecer algunscomentários acerca dessa proposta específica, visto que tem se tornado quase uma“unanimidade” quando o assunto é educação e trabalho.Um primeiro aspecto que queremos ressaltar é a pluralidade de concepçõesacerca do que seria a chamada qualificação baseada em competências. Apresentam-se,desde concepções mais voltadas ao treinamento de habilidades técnicas parcelares, que

181são em menor número e parecem estar perdendo espaço, até concepções quepraticamente colocam a competência como sinônimo moderno de qualificação para otrabalho, com toda a complexidade que a totalidade concernente a essa categoriaconstitui. Uma primeira ressalva que pensamos ser importante fazer é que, assim comoKUENZER (2002b), compreendemos a categoria competência como advinda einerente ao processo de trabalho. Independente da idéia, dita taylorista-fordista, decompetência como treinamento de habilidades parcelares, ou de competência baseadana articulação de tecnologias e saberes da “especialização flexível”, tratam-seefetivamente de técnicas e “modos de operar” adquiridos nos processos de trabalhoconcretos. Referem-se ao exercício prático no trabalho. As conseqüências de trazeressa categoria do trabalho para a educação, no caso da área de saúde, tem sido aformulação de diretrizes, como essa, que defendem queA orientação dos currículos por competência, na área da saúde, implica a inserção dosestudantes, desde o início do curso, em cenários da prática profissional com a realização deatividades educacionais que promovam o desenvolvimento dos desempenhos (capacidades emação), segundo contexto e critérios. Nesse sentido, cabe ressaltar como aspectos de progressãodo estudante o desenvolvimento crescente de autonomia e domínio em relação às áreas decompetência. Essa inserção pressupõe uma estreita parceria entre a academia e os serviços desaúde, uma vez que é pela reflexão e teorização a partir de situações da prática que seestabelece o processo de ensino-aprendizagem (LIMA, 2005: 376).Esse aspecto, no caso do trabalho em saúde, pode ser uma alternativa demétodo para a organização dos treinamentos nos momentos-serviços da qualificação,porém, o processo de qualificação, principalmente do trabalho em saúde, não éconstituído somente por essa dimensão da qualificação. Exige-se, para o exercício daspráticas em saúde, a apreensão dos conhecimentos científicos produzidos pelahumanidade ao longo de sua história e sistematizados no corpo das ciências queajudam a compreender e intervir sobre o objeto do trabalho em saúde. Conhecimentoacerca do corpo, dos padrões de normalização, simultaneamente biológica e social,definições acerca do patológico e suas nuances etc. Se a categoria competência refereseà articulação de saberes e tecnologias, é preciso, antes, dominar esses saberes etecnologias a fim de articulá-los. Se no caso da produção industrial de “bens materiais”

181são em menor número e parecem estar perdendo espaço, até concepções quepraticamente colocam a competência como sinônimo moderno de qualificação para otrabalho, com toda a complexidade que a totalidade concernente a essa categoriaconstitui. Uma primeira ressalva que pensamos ser importante fazer é que, assim comoKUENZER (2002b), compreendemos a categoria competência como advinda einerente ao processo de trabalho. Independente da idéia, dita taylorista-fordista, decompetência como treinamento de habilidades parcelares, ou de competência baseadana articulação de tecnologias e saberes da “especialização flexível”, tratam-seefetivamente de técnicas e “modos de operar” adquiridos nos processos de trabalhoconcretos. Referem-se ao exercício prático no trabalho. As conseqüências de trazeressa categoria do trabalho para a educação, no caso da área de saúde, tem sido aformulação de diretrizes, como essa, que defendem queA orientação dos currículos por competência, na área da saúde, implica a inserção dosestudantes, desde o início do curso, em cenários da prática profissional com a realização deatividades educacionais que promovam o desenvolvimento dos desempenhos (capacidades emação), segundo contexto e critérios. Nesse sentido, cabe ressaltar como aspectos de progressãodo estudante o desenvolvimento crescente de autonomia e domínio em relação às áreas decompetência. Essa inserção pressupõe uma estreita parceria entre a academia e os serviços desaúde, uma vez que é pela reflexão e teorização a partir de situações da prática que seestabelece o processo de ensino-aprendizagem (LIMA, 2005: 376).Esse aspecto, no caso do trabalho em saúde, pode ser uma alternativa demétodo para a organização dos treinamentos nos momentos-serviços da qualificação,porém, o processo de qualificação, principalmente do trabalho em saúde, não éconstituído somente por essa dimensão da qualificação. Exige-se, para o exercício daspráticas em saúde, a apreensão dos conhecimentos científicos produzidos pelahumanidade ao longo de sua história e sistematizados no corpo das ciências queajudam a compreender e intervir sobre o objeto do trabalho em saúde. Conhecimentoacerca do corpo, dos padrões de normalização, simultaneamente biológica e social,definições acerca do patológico e suas nuances etc. Se a categoria competência refereseà articulação de saberes e tecnologias, é preciso, antes, dominar esses saberes etecnologias a fim de articulá-los. Se no caso da produção industrial de “bens materiais”

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