160mesmo tempo em que evidencia o caráter de interdependência entre as práticasparcelares.Ainda em relação às normatizações, existem outras contradições, com raízesmais antigas do que as acima citadas. Refere-se àqueles casos de organização doprocesso de trabalho em saúde através de experiências de integração sanitária. Se éverdade que existem programas cujo principal objetivo é a racionalização de serviçosde saúde centrada na assistência médica individual, é verdade também que, cada vezmais, assiste-se à consolidação de Ações Programáticas em Saúde, cujo papel é o de“articular instrumentos de trabalho dirigidos a indivíduos, entre eles a assistênciamédica individual, a instrumentos diretamente dirigidos a coletivos, objetivandopotencializar a efetividade epidemiológica de todos os instrumentos.”(NEMES, 2000:54). Portanto, quem volta a surgir como ciência privilegiada para estabelecer critériose métodos sobre os quais se deve organizar as práticas assistenciais em saúde, por maiscontraditório que possa parecer, é a epidemiologia. A mesma que viu a clínica, comométodo explicativo e de intervenção sobre a doença dos corpos individuais,consolidar-se como método hegemônico e dominante das práticas em saúde,subordinando outras concepções e métodos de intervenção sobre a saúde-doença,inclusive a própria epidemiologia. Pois bem, assistimos ao momento em que odesenvolvimento tecnológico consubstancializado em modernos equipamentos etécnicas de intervenção sobre o corpo - desenvolvimento que somente pôde seralcançado pela consolidação da clínica como representante tecnológica no plano dotrabalho das ciências positivas como a patologia – começa a transformar a clínica.Vários autores analisaram o quanto o método clássico da clínica, constituído pelaconsulta como unidade produtiva, vem sendo reconfigurado pela influência de novosrecursos diagnósticos e terapêuticos que passam inclusive a abolir etapas dessemétodo, como alguns elementos da clássica anamnese, do clássico exame físico ou darelação médico-paciente (<strong>DO</strong>NNANGELO, 1975; SCHRAIBER, 1993; DALM<strong>AS</strong>O,2000). Pensamos que não seria de todo equivocado dizer que a clínica, comoexpressão da forma pela qual se desenvolve esse movimento, ao impulsioná-locolaborou para lançar as bases de sua própria superação futura. E nos parece que, ao
161ser abalada em sua hegemonia, ela deixa mostrar “fissuras” pelos quais começam a“respirar” outras concepções/métodos 25 que estiveram por muito tempo subordinados emesmo por ela “sufocados”. E a epidemiologia é a que se apresenta com maiorlegitimidade; legitimidade científica conquistada, como bem lembram MENDES-GONÇALVES (1994) e AYRES (2002), à custa do abandono no passado de seu maiorpotencial emancipador, em meio ao processo de subordinação à racionalidade médicahegemônica, poisSe a Medicina Social se propunha como prática política, a Epidemiologia, resguardada nopanteão das ciências, desdobrar-se-á em aplicações que aspiram ao estatuto de técnicaspuramente. Proporá não modificações no social diretamente, mas nos efeitos do social sobreos indivíduos. Em vez de propor a modificação das condições que resultam em situações dehabitação e nutrição insalubres, por exemplo, proporá que os ‘hospedeiros’ sejam protegidosatravés do isolamento das fontes de infecção, da correção das condições infra-estruturais dahabitação, da educação para melhor nutrição possível e para a higiene, etc., etc., etc.(MENDES-GONÇALVES, 1994: 80).Mas, apesar desse movimento histórico de acomodação ao instituído, aepidemiologia continua apresentando-se como a única ciência a conceber e a tentarapreender o processo saúde-doença em sua dimensão coletiva, mesmo quandoutilizada para instrumentalizar práticas individualizantes. Logo, vemos como avanço ofato de existirem experiências que tentam trabalhar as práticas de saúde dentro deprogramas ou projetos assistenciais direcionados, se não ainda hegemonicamente vistoque a clínica continua dominante, pelo menos com influência crescente daepidemiologia.Bem, retornando à relação tecnologia/trabalhador, podemos ver que no casodesses programas e normatizações organizados com forte influência da epidemiologiapode-se apresentar o fenômeno do estranhamento pelos trabalhadores cujas práticassejam aquelas historicamente embasadas na racionalidade médica. Aí, de fato, o que sesobressai é o estabelecimento de uma nova relação dos trabalhadores com métodos25 Podemos visualizar nesse momento de crise da clínica tradicional a expressão de diversasconcepções e práticas não hegemônicas no campo da saúde e que, até pouco tempo, não encontravamtanto espaço. É o caso das diversas apresentações de medicinas e terapias ditas “alternativas” comohomeopatia, fitoterapia, acupuntura, entre outras. Várias dessas, inclusive, já se encontram emprocesso avançado de “reconhecimento” pela ciência médica hegemônica.
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