ROGÃRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÃAS NO MUNDO DO ...
ROGÃRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÃAS NO MUNDO DO ... ROGÃRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÃAS NO MUNDO DO ...
1485.5.2 POLÊMICAS ACERCA DO PAPEL DA TECNOLOGIA NO TRABALHO EMSAÚDE ATUALQuando lerem seus papéisPesquisando, dispostos ao assombroProcurem o Velho e o Novo, pois nosso tempoE o tempo de nossos filhosÉ o tempo das lutas do Novo com o Velho. (...)Mas como diz o povo: na mudança de luaA lua nova segura a lua velhaUma noite inteira nos braços (...)(BRECHT, 2000: 253)Outro aspecto permeado por contradições, e que impacta de maneira importantea qualificação do trabalho em saúde, é aquele que se refere ao papel da tecnologianesse processo produtivo. Como pudemos analisar em capítulo anterior, o trabalho emsaúde diferencia-se do processo industrial produtor de “bens materiais” em relação àtecnologia por não apresentar na maquinaria um elemento central da produção. Atecnologia encontra nos saberes/técnicas/normatizações suas principais expressões,sendo que os mesmos ocupam sempre o papel de acessórios do trabalhador em suaação sobre o objeto de trabalho. Objeto de trabalho que, pela sua complexapeculiaridade, exige como elemento central do processo produtivo, o trabalho vivo.Pois bem, como vimos, não deixam de apresentar polêmicas as interpretaçõesacerca do papel que pode cumprir a tecnologia no processo de trabalho em saúde. Háuma corrente importante da produção teórica brasileira, capitaneada por Merhy eCampos, por exemplo, que vê com muitas ressalvas a dimensão cada vez maisimportante que passam a ocupar elementos como as normatizações, protocolos eorganizações de caráter programático no processo de trabalho em saúde. Merhyentende a tecnologia consubstancializada em saberes/técnicas/normatizações comotrabalho morto que, de forma muito semelhante à maquinaria, também exerce apressão permanente pela “captura” do trabalho vivo. No entanto, para o autor(...) em um centro de saúde, diferentemente da fábrica que analisamos, não é possível obter-seestratégias plenamente competentes que consigam ‘capturar’ plenamente o trabalho vivo,realizador imediato de bens finais, e que ocorre tanto ao nível da prática médica, quanto ao dequalquer outra prática de saúde. A ‘captura’ global do autogoverno nas práticas de saúde não é
149só muito difícil e restrita, mas impossível pela própria natureza tecnológica deste trabalho(MERHY, 1997:98).Nessa citação, podemos perceber como o autor apreende com bastantepropriedade a relação dialética entre trabalho vivo e trabalho morto sob as relaçõessociais capitalistas. Ou seja, ambos tendem a conformar uma unidade de opostos ondea luta de um para dominar o outro é tensa e permanente. Vimos no primeiro capítulodesse trabalho que, no processo de surgimento e consolidação do modo de produçãocapitalista, existe uma tendência a se constituir gradativamente uma inversão nasposições de dominante e dominado pertencentes a essa relação. O trabalho vivo deplenamente dominante na produção artesanal vai sendo subordinado progressivamentea partir da cooperação simples e manufatura, até ser completamente dominado pelamaquinaria na grande indústria. Na manufatura o trabalho vivo ainda era dominante,pois a tecnologia apresentava-se somente na forma de ferramentas/instrumentos detrabalho e na forma de saberes/técnicas/normatizações pelas quais se operava otrabalho. Esse instrumental de trabalho, seja na primeira, seja na segunda forma, estavasubmetida ao controle e ao ritmo ditado pelo trabalho vivo. Além disso, oconhecimento acerca do processo de trabalho estava sob controle exclusivo dotrabalhador, inicialmente do trabalhador individual e depois do trabalhador coletivo. Oconhecimento e o controle sobre o processo de trabalho ainda não havia seconsubstancializado em um meio material, externo ao trabalhador. É somente com amaquinaria que isso se torna possível. Merhy acredita que tecnologias sob a forma denormatizações ou estruturas organizacionais do trabalho podem exercer o mesmopapel de controle e direção do processo de trabalho que a tecnologiaconsubstancializada na maquinaria. Ou seja, podem subjugar o trabalho vivo e“capturá-lo” com a mesma intensidade. Por isso, o autor, em sua proposta declassificação, engloba as três formas de tecnologia – máquinas, normatizações eestruturas organizacionais – naquilo que ele chama de “tecnologias duras”, emoposição a outras formas de tecnologias classificadas como mais leves, como é o casode disciplinas científicas, técnicas de relações interpessoais etc. O conceito de“dureza”, para o autor expressa o caráter de rigidez em “capturar” o trabalho vivo e
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1485.5.2 POLÊMIC<strong>AS</strong> ACERCA <strong>DO</strong> PAPEL DA TEC<strong>NO</strong>LOGIA <strong>NO</strong> TRABALHO EMSAÚDE ATUALQuando lerem seus papéisPesquisando, dispostos ao assombroProcurem o Velho e o Novo, pois nosso tempoE o tempo de nossos filhosÉ o tempo das lutas do Novo com o Velho. (...)Mas como diz o povo: na mudança de luaA lua nova segura a lua velhaUma noite inteira nos braços (...)(BRECHT, 2000: 253)Outro aspecto permeado por contradições, e que impacta de maneira importantea qualificação do trabalho em saúde, é aquele que se refere ao papel da tecnologianesse processo produtivo. Como pudemos analisar em capítulo anterior, o trabalho emsaúde diferencia-se do processo industrial produtor de “bens materiais” em relação àtecnologia por não apresentar na maquinaria um elemento central da produção. Atecnologia encontra nos saberes/técnicas/normatizações suas principais expressões,sendo que os mesmos ocupam sempre o papel de acessórios do trabalhador em suaação sobre o objeto de trabalho. Objeto de trabalho que, pela sua complexapeculiaridade, exige como elemento central do processo produtivo, o trabalho vivo.Pois bem, como vimos, não deixam de apresentar polêmicas as interpretaçõesacerca do papel que pode cumprir a tecnologia no processo de trabalho em saúde. Háuma corrente importante da produção teórica brasileira, capitaneada por Merhy eCampos, por exemplo, que vê com muitas ressalvas a dimensão cada vez maisimportante que passam a ocupar elementos como as normatizações, protocolos eorganizações de caráter programático no processo de trabalho em saúde. Merhyentende a tecnologia consubstancializada em saberes/técnicas/normatizações comotrabalho morto que, de forma muito semelhante à maquinaria, também exerce apressão permanente pela “captura” do trabalho vivo. No entanto, para o autor(...) em um centro de saúde, diferentemente da fábrica que analisamos, não é possível obter-seestratégias plenamente competentes que consigam ‘capturar’ plenamente o trabalho vivo,realizador imediato de bens finais, e que ocorre tanto ao nível da prática médica, quanto ao dequalquer outra prática de saúde. A ‘captura’ global do autogoverno nas práticas de saúde não é