136transformado pela incorporação de novos meios diagnósticos e terapêuticos dandoorigem à fase da medicina tecnológica.Bem, mas dissemos em parágrafo anterior que a tecnologia consubstancializadaem máquinas e ferramentas é apenas uma das apresentações possíveis dos recursostecnológicos. E, no caso do trabalho em saúde, ao analisarmos sua limitada inserção,em relação à indústria produtora de “bens”, podemos entender porque as elaboraçõesdos principais autores a tratarem desse tema são centradas em outra apresentação datecnologia: aquela consubstancializada em saberes, técnicas, ou seja, “formas deoperar” o trabalho em ato. Vejamos, mais de perto, esse tipo de tecnologia quandopresente no trabalho em saúde.Vimos que existem diversas formas de apresentação desses recursostecnológicos, entre eles: estruturas organizacionais do trabalho, disciplinas científicas,normatizações, técnicas de relações interpessoais etc. Dentre esses “modos de operar”o trabalho, a moderna clínica, como expressão tecnológica das ciências centradas nadoença do corpo anatomofisiológico – a patologia, anatomia, fisiologia – consolida-secomo hegemônica no processo assistencial em saúde. Como vimos, as necessidades docapitalismo em relação ao trabalho em saúde são de duas naturezas: a primeira refereseà necessidade de reprodução da força de trabalho e demandou maior intervenção doEstado a partir do século XVIII; a segunda refere-se ao papel de normalização social,que ganha maior dimensão com a assistência individual a partir do século XIX. Poisbem, o instrumento principal para a primeira tarefa não foi a medicina individual, masinstrumentos para intervenção sobre a saúde coletiva. Era o momento de constituiçãodos grandes centros industriais e surgiam como questões importantes as condiçõeshigiênico-sanitárias relacionadas à reorganização do meio urbano, que eram objetos deintervenção das diferentes apresentações da medicina social ou coletiva. Uma vezencarada essa fase estrutural de reconfiguração do meio urbano passa a apresentar-secomo necessidade histórica para o capital o papel de normalização social, ou seja, anecessidade de intensificar a incorporação pelos cidadãos dos valores e padrões denormalidade social dominantes sob as relações sociais capitalistas (COSTA, 1979;LUZ, 1982, 2004a; FOUCAULT, 1994). É a partir desse momento, e dessa tarefa, que
137se consolida a medicina e seu método – a clínica – como instrumentos disciplinadoresdo social, através da intervenção sobre corpos individuais. Por reproduzir relaçõesnecessárias a determinado momento histórico, a medicina, através da clínica, superaoutras tecnologias na disputa pela hegemonia no comando do processo assistencial emsaúde. Entre essas tecnologias, superadas e renegadas a papel subordinado à clínica,está a epidemiologia, cujo objeto, por ser a saúde da coletividade, encara o processosaúde-doença em dimensão social e tem no individual não seu objeto, mas umaexpressão dele em um plano particular (MENDES-GONÇALVES; SCHRAIBER;NEMES, 1997).Além da apresentação na forma de desdobramentos de disciplinas científicascomo a clínica, a epidemiologia, a psicanálise, o behivorismo, entre outros, astecnologias consubstancializadas em saberes/técnicas também podem se apresentar demodo mais “organizacional” no trabalho em saúde. Essa apresentação ganha maiordimensão e importância com a consolidação do trabalho em saúde sob a forma coletivae institucional. A partir do momento em que o trabalho em saúde começa a consolidarsecomo processo coletivo de produção de valores de uso, podendo adquirir ou não aforma mercadoria, que devem responder a necessidades cada vez mais complexaspostas por uma sociedade crescente, ele começa a perder gradativamente a dimensãode ofício, de trabalho artesanal. Posta essa sua nova configuração – um processo deprodução sob as relações sociais capitalistas – o trabalho em saúde passa a serprogressivamente subordinado a uma dinâmica que apresenta vários aspectos emcomum com a produção de “bens materiais”. Um dos aspectos dessa dinâmica quepassam a permeá-lo é a busca constante pela maior produtividade do trabalho. Éimportante lembrar que essa dinâmica que inicialmente se restringe aos setoresprodutivos, ou seja, os setores subsumidos diretamente ao processo de valorização,com o desenvolvimento do sócio-metabolismo do capital passa a “contaminar”também setores improdutivos, como é o caso do estatal (MÉSZAROS, 2002). Assim, otrabalho em saúde, sob o capitalismo monopolista, passará a incorporar formasorganizativas, normatizações, “racionalizações” como modo de buscar essa maiorprodutividade. Muitas delas advindas originalmente da produção industrial.
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