132trabalho em saúde, como as normatizações e protocolos, por exemplo, querepresentam, segundo eles, tentativas de captura do trabalho vivo pelo trabalho morto.Em contraposição salientarão a importância de fatores como a autonomia e asubjetividade no processo de trabalho como elementos norteadores de um trabalho emsaúde realmente vinculado com um projeto de “defesa da vida”.É com base na realidade do grande desenvolvimento tecnológicoprogressivamente incorporado ao trabalho em saúde a partir do século XX, que osautores são suscitados a elaborarem teses importantes cujos objetos podem serresumidos na seguinte questão: quem ainda seria hegemônico no comando do trabalhoem saúde, o trabalho vivo, representado pelo trabalhador, ou o trabalho morto,consubstanciado na tecnologia, saberes instituídos, modos de produzir em saúde? Otrabalho vivo na área de saúde ainda é capaz de comandar o trabalho morto e colocá-loa seu serviço ao contrário do que acontece nos setores de produção fabril? Quais asimplicações para um projeto assistencial que se proponha como objetivo a “defesa davida”, o fato de um ou outro componente do processo de trabalho ser predominante?Pensamos ser importante, a fim de adentrarmos essa polêmica com maispropriedade, fazer uma breve análise das diferentes formas de apresentação datecnologia no processo de trabalho. Para fins didáticos, e somente para isso, sedividirmos as apresentações da tecnologia utilizando o critério de sua“materialidade” 19 , de um lado teremos a tecnologia consubstancializada emmaquinaria e instrumentos de trabalho e, de outro, teremos aquela consubstancializadaem saberes e técnicas direcionadoras das práticas. Vejamos mais de perto como essasduas apresentações da tecnologia aparecem no trabalho em saúde. Comecemos pelasmáquinas e instrumentos.Quando tratamos do processo de incorporação da tecnologia “mais material” aotrabalho, seja qual for o processo, faz-se necessário estabelecer uma distinção entre oque é a tecnologia consubstancializada em instrumentos/ferramentas de trabalho e o19 Utilizamos aqui o termo “materialidade” entre aspas para ressaltar seu caráter relativo e poucopreciso conceitualmente uma vez que não se pode dizer que as tecnologias consubstancializadas emsaberes e técnicas não sejam tecnologias materiais. Portanto, o autor utiliza aqui esse termo,reconhecendo seus limites, por não dispor de outra nomenclatura mais fidedigna para diferenciar essasduas formas de tecnologia.
133que é aquela consubstancializada em máquinas. Essa distinção, que muitas vezesparece simples e desnecessária, se não realizada com cautela pode nos guiar aconclusões questionáveis. A diferença central entre as duas apresentações datecnologia se refere basicamente ao grau de subordinação desta à força de trabalho. Osinstrumentos/ferramentas de trabalho, são meros acessórios da ação dos homens sobreseus objetos de trabalho, seriam como que “prolongamentos dos órgãos físicos” dosmesmos, portanto, subjugados ao seu comando. Esse é o caráter que possuem asferramentas durante toda a história da humanidade até o período manufatureiro. Após,com a revolução industrial, a tecnologia ganha a dimensão de maquinaria, e estapossui como característica o fato de não ser mais subjugada à ação subjetiva dotrabalho; ou seja, os meios de trabalho passam a funcionar como autômatos. Nasindústrias, quando o sistema de máquinas torna-se hegemônico, esses instrumentos éque passam a ditar a dinâmica do processo de trabalho, colocando a força de trabalhocomo seu acessório.Na manufatura, a organização do processo de trabalho social é puramente subjetiva, umacombinação de trabalhadores parciais. No sistema de máquinas, tem a indústria moderna oorganismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e acabadocomo condição material da produção. Na cooperação simples e mesmo na cooperação fundadana divisão do trabalho, a supressão do trabalhador individualizado pelo trabalhadorcoletivizado parece ainda ser algo mais ou menos contingente. A maquinaria, com exceções amencionar mais tarde, só funciona por meio de trabalho diretamente coletivizado ou comum.O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pelanatureza do próprio instrumental de trabalho (MARX, 2001; 442).Quando trazemos essa discussão para o campo do trabalho em saúde temos atendência a categorizar a presença das diferentes tecnologias materiais, principalmenteas mais complexas, como máquinas. Todavia, se olharmos mais atentamente para asmesmas, veremos que se constituem majoritariamente como ferramentas acessórias àação humana. Os mais diferentes recursos diagnósticos e terapêuticos não seconstituem em realizadores dos atos em saúde, mas tão somente facilitadores das açõesdo trabalhador da saúde. Ao contrário das máquinas das grandes indústrias, queproduzem um produto e demandam o trabalho vivo para monitorá-las ou fiscalizá-lasnesse fim, os instrumentos do trabalho em saúde, em sua grande maioria, só funcionam
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