ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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12.07.2015 Views

126manuseadores de determinados equipamentos diagnósticos ou terapêuticos, porexemplo – e aqueles que se especializam em práticas “menos manuais”, os clínicos emsuas inúmeras especialidades – cardiologistas, neurologistas, endocrinologistas.Todavia, dentro do trabalho em saúde, o campo parcelar pertencente à medicinaapresenta-se, em sua maioria, constituído por trabalho mais complexo, que acaba porexigir a indissociabilidade entre teoria e prática de modo mais presente. Isso nãoimpede que alguns médicos constituam-se como trabalhadores “mais manuais” eoutros como “mais intelectuais”, porém essa divisão tende a se dar de maneira menosnítida.Há ainda os casos de “novas” profissões anexadas ao processo assistencial emsaúde que já o adentram com um campo de práticas definidas e que se apresentamhegemonicamente como intelectuais, como a psicologia e a assistência social, oumanuais, como as várias profissões técnicas que surgem no trabalho em saúde(PEREIRA, 2003). Devemos ressaltar aqui, mais uma vez, nossa concepção já expostano primeiro capítulo desse trabalho, segundo a qual os trabalhos constituem-se“hegemonicamente” como manuais ou intelectuais, pois não se pode conceberqualquer prática manual que não necessite de elaboração intelectual prévia ousimultânea e vice-versa.Pensamos ser fundamental compreender as apresentações pelas quais passou otrabalho em saúde, a unificação inicial na figura médico-artesão e a fragmentaçãoposterior do processo produtivo, não como antagônicas, mas como momentosdiferentes do mesmo movimento de adaptação do trabalho em saúde às necessidadesdo capitalismo. Podemos dizer que a produção da saúde – sob as relações sociaiscapitalistas – torna-se um processo bastante complexo que passa a exigir diversos subramosde produção; sub-ramos estes que podem ser, e na maioria das vezes são,executados por trabalhadores diferentes. Queremos dizer com isso que não existe, sobo capitalismo, um trabalhador individual que produza a assistência à saúde, mas umasérie de trabalhadores diferentes, em etapas separadas e interdependentes do processode trabalho gerando, consequentemente, (semi)produtos diferentes. A unidade dessesdiversos trabalhadores parcelares forma o trabalhador coletivo da saúde. Cada

127trabalhador parcelar, como conseqüência desse processo, passa a qualificar-se cada vezmais na apreensão de um fragmento do real que se encontra vinculado às suas práticas.É esse processo de estabelecimento do trabalho coletivizado, por sua vez, que propiciaum avanço sem precedentes no desenvolvimento de novos saberes, técnicas einstrumentos de trabalho, que auxiliam o trabalhador em seu papel de conhecimento eintervenção sobre o corpo orgânico.Resta ainda um aspecto a ser analisado acerca desse processo de coletivizaçãodo trabalho em saúde, qual seja, aquele relativo à relação dos trabalhadores com osmeios de produção. Assim como na produção de “bens materiais”, a superação dotrabalho artesanal e a emergência do trabalho coletivo trazem consigo a tendência aodespojamento dos trabalhadores da propriedade dos meios de trabalho. A progressivaincorporação tecnológica e a necessidade de grande número de agentes para aconcretização do processo produtivo colocam para o trabalho em saúde a necessidadede institucionalização em grandes e complexas unidades produtivas, principalmente naforma do hospital. Com isso, os pequenos produtores tendem a desaparecer, ao mesmotempo em que se consolidam grandes unidades produtivas, sejam estatais ou privadas.Por isso, constitui-se como característica marcante do trabalho em saúde sob ocapitalismo, a partir do século XX, a tendência progressiva à proletarização e aconsolidação do assalariamento como principal forma de relação de trabalho. Noentanto, DONNANGELO (1975) já ressaltou como no caso do trabalho em saúdeacabam por subsistir mais longamente, em relação à produção industrial, os casos deprodutores independentes (mesmo parcelares), empregadores de si próprios e, porvezes, de mais alguns trabalhadores.Uma conseqüência importante do estabelecimento do trabalho coletivo eparcelarizado em saúde que se consolida nesse atual momento do capitalismomonopolista, em que se evidenciam diversas transformações sistematizadas sob adefinição de “reestruturação produtiva”, é a proliferação de inúmeras formas deterceirização e precarização do trabalho (PIRES, 1998). A fragmentação do processoassistencial em saúde em inúmeras parcelas a cargo de trabalhadores diferentes já tempossibilitado a separação das mesmas em espaços também diversos. O hospital, que a

126manuseadores de determinados equipamentos diagnósticos ou terapêuticos, porexemplo – e aqueles que se especializam em práticas “menos manuais”, os clínicos emsuas inúmeras especialidades – cardiologistas, neurologistas, endocrinologistas.Todavia, dentro do trabalho em saúde, o campo parcelar pertencente à medicinaapresenta-se, em sua maioria, constituído por trabalho mais complexo, que acaba porexigir a indissociabilidade entre teoria e prática de modo mais presente. Isso nãoimpede que alguns médicos constituam-se como trabalhadores “mais manuais” eoutros como “mais intelectuais”, porém essa divisão tende a se dar de maneira menosnítida.Há ainda os casos de “novas” profissões anexadas ao processo assistencial emsaúde que já o adentram com um campo de práticas definidas e que se apresentamhegemonicamente como intelectuais, como a psicologia e a assistência social, oumanuais, como as várias profissões técnicas que surgem no trabalho em saúde(PEREIRA, 2003). Devemos ressaltar aqui, mais uma vez, nossa concepção já expostano primeiro capítulo desse trabalho, segundo a qual os trabalhos constituem-se“hegemonicamente” como manuais ou intelectuais, pois não se pode conceberqualquer prática manual que não necessite de elaboração intelectual prévia ousimultânea e vice-versa.Pensamos ser fundamental compreender as apresentações pelas quais passou otrabalho em saúde, a unificação inicial na figura médico-artesão e a fragmentaçãoposterior do processo produtivo, não como antagônicas, mas como momentosdiferentes do mesmo movimento de adaptação do trabalho em saúde às necessidadesdo capitalismo. Podemos dizer que a produção da saúde – sob as relações sociaiscapitalistas – torna-se um processo bastante complexo que passa a exigir diversos subramosde produção; sub-ramos estes que podem ser, e na maioria das vezes são,executados por trabalhadores diferentes. Queremos dizer com isso que não existe, sobo capitalismo, um trabalhador individual que produza a assistência à saúde, mas umasérie de trabalhadores diferentes, em etapas separadas e interdependentes do processode trabalho gerando, consequentemente, (semi)produtos diferentes. A unidade dessesdiversos trabalhadores parcelares forma o trabalhador coletivo da saúde. Cada

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