ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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12.07.2015 Views

120progressiva. Como pudemos perceber, o que faz com que o trabalho do artesão sejaprogressivamente parcelado é a necessidade do aumento de produtividade do trabalho.Constata-se, pela prática, que, ao dividir o processo de trabalho e especializar cadatrabalhador em uma ou algumas funções parcelares, ocorre um aumento daprodutividade quando comparado a um processo artesanal onde cada trabalhadorrealiza o processo produtivo por completo. No caso do trabalho em saúde não édiferente: a partir do momento em que os médicos são inseridos em um processo decooperação dentro do hospital (um processo ainda muito semelhante a uma cooperaçãosimples) começam a se cristalizar divisões entre eles que outrora podiam nem existirou se existiam eram esporádicas. Um médico podia gostar ou exercer maiseficientemente determinadas práticas, como as obstétricas, por exemplo; porém, comoprodutor isolado, naquele momento, dificilmente conseguiria um número suficiente declientes demandadoras especificamente dessas práticas para lhe garantir asobrevivência. Todavia, a partir do momento em que esses trabalhadores seestabelecem em um espaço institucional, onde os meios de trabalho sãocompartilhados, capaz de atrair grande número de “pacientes”, os médicos podempassar a se dedicar a diferentes funções. Com o tempo essas divisões demonstram suasvantagens práticas e tendem a se cristalizar e, mais tarde, quando o processo prático detrabalho já se encontra submetido a essa divisão técnica é que se criam mecanismos deinstitucionalização das mesmas; como é o caso da institucionalização de novasprofissões ou especialidades, com mecanismos de certificação ou fiscalização, entreoutros.Um médico ao se especializar em determinado campo parcelar do saber – aortopedia, por exemplo – torna-se muito mais eficiente nessas práticas do que ummédico que exerce as práticas terapêuticas ortopédicas como uma de suas váriasfunções. A especialização, como já diria MARX (2001) produz o “virtuosismo” dotrabalhador mutilado. Esse autor descreveu esse processo como uma tendênciainerente da qualificação do trabalho sob o modo de produção capitalista, qual seja, a desimplificação progressiva do trabalho. O ortopedista somente realiza com maiordestreza, velocidade e eficiência seu trabalho porque este se encontra mais

121simplificado em relação ao trabalho do médico-artesão. O campo de saberes e práticasnecessárias ao exercício da etapa do trabalho que cabe a um especialista passa a serprogressivamente menor em relação àqueles necessários ao médico de caráterartesanal. Portanto, o processo de especialização é simultaneamente processo desimplificação do trabalho.É necessário, contudo, apreender o processo de parcelarização como ummovimento profundamente contraditório. Por um lado, é processo de simplificação dotrabalho, pois, ao separar um processo complexo em diferentes partes, restringindocada trabalhador à execução de uma das partes, este passa a realizar um trabalho maissimples, que exige menos conteúdo técnico. Por outro lado, porém, ao realizar umaetapa parcelar do trabalho, esse trabalhador tende a desenvolver uma extremahabilidade, um virtuosismo nessas práticas antes impossível de ser alcançado sob otrabalho complexo. É um trabalhador mais limitado, porém mais habilidoso. É essasimplificação do campo de atuação, por sua vez, que vai tornar possível ao trabalhadorapropriar-se com muito mais profundidade de seu novo objeto – a parcela –desenvolvendo, inclusive, novos conhecimentos, técnicas e instrumentos para melhorexercer suas práticas. Isso fará com que esse novo campo parcelar passe a constituir-senovamente de maneira mais complexa e passe a exigir nova parcelarização agorainternamente às práticas parcelares. Uma vez constituída a ortopedia, por exemplo,como campo parcelar, essa passa a desenvolver tanto sua capacidade de intervençãosobre seu objeto – as doenças com implicações sobre o sistema osteomuscular – queesse adquire uma complexidade que passa a exigir nova parcelarização interna, novasimplificação; agora é necessária a constituição da ortopedia de coluna, de joelho etc.Mais tarde desenvolver-se-á a ortopedia especializada em algumas patologiasespecíficas da coluna. Por isso, dissemos que a divisão do trabalho e odesenvolvimento tecnológico mantêm entre si uma relação dialética de determinaçãorecíproca. A parcelarização implica em desenvolvimento tecnológico (saberes,técnicas) que, por sua vez exige nova parcelarização que, por sua vez, implicará emnovo grau de desenvolvimento tecnológico que... Por isso, SCHRAIBER (1993) diráque a parcelarização constitui para os trabalhadores parcelares novos objetos de

121simplificado em relação ao trabalho do médico-artesão. O campo de saberes e práticasnecessárias ao exercício da etapa do trabalho que cabe a um especialista passa a serprogressivamente menor em relação àqueles necessários ao médico de caráterartesanal. Portanto, o processo de especialização é simultaneamente processo desimplificação do trabalho.É necessário, contudo, apreender o processo de parcelarização como ummovimento profundamente contraditório. Por um lado, é processo de simplificação dotrabalho, pois, ao separar um processo complexo em diferentes partes, restringindocada trabalhador à execução de uma das partes, este passa a realizar um trabalho maissimples, que exige menos conteúdo técnico. Por outro lado, porém, ao realizar umaetapa parcelar do trabalho, esse trabalhador tende a desenvolver uma extremahabilidade, um virtuosismo nessas práticas antes impossível de ser alcançado sob otrabalho complexo. É um trabalhador mais limitado, porém mais habilidoso. É essasimplificação do campo de atuação, por sua vez, que vai tornar possível ao trabalhadorapropriar-se com muito mais profundidade de seu novo objeto – a parcela –desenvolvendo, inclusive, novos conhecimentos, técnicas e instrumentos para melhorexercer suas práticas. Isso fará com que esse novo campo parcelar passe a constituir-senovamente de maneira mais complexa e passe a exigir nova parcelarização agorainternamente às práticas parcelares. Uma vez constituída a ortopedia, por exemplo,como campo parcelar, essa passa a desenvolver tanto sua capacidade de intervençãosobre seu objeto – as doenças com implicações sobre o sistema osteomuscular – queesse adquire uma complexidade que passa a exigir nova parcelarização interna, novasimplificação; agora é necessária a constituição da ortopedia de coluna, de joelho etc.Mais tarde desenvolver-se-á a ortopedia especializada em algumas patologiasespecíficas da coluna. Por isso, dissemos que a divisão do trabalho e odesenvolvimento tecnológico mantêm entre si uma relação dialética de determinaçãorecíproca. A parcelarização implica em desenvolvimento tecnológico (saberes,técnicas) que, por sua vez exige nova parcelarização que, por sua vez, implicará emnovo grau de desenvolvimento tecnológico que... Por isso, SCHRAIBER (1993) diráque a parcelarização constitui para os trabalhadores parcelares novos objetos de

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