ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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12.07.2015 Views

112trabalho morto. Veremos que os principais avanços tecnológicos do campo da saúde –instrumentos, equipamentos, medicamentos – somente ocorrerá a partir da revoluçãoindustrial. Portanto, no capitalismo a unificação das práticas de saúde em um sujeitoprincipal, o médico, retira-o do papel de mediador (entre Deus e Homem) para colocálo,aparentemente, no papel determinante. Não há mais imposição por parte da igrejade normas e valores através da medicina; agora é a ciência, representada no própriomédico, que impõe normas. Ora, concordamos com CANGUILHEM (1995: 185)sobre o fato de que “não se ditam normas à vida, cientificamente”; a ciência exerce umpapel de legitimação das normas impostas pela vida social, contribuindo para aadaptação dos sujeitos às mesmas. Aqui reside o aspecto propiciador do principalpapel superestrutural – ideológico – cumprido pelo trabalho médico: o denormalização social. Sob o manto da neutralidade científica o médico passa a seconstituir em um agente central no papel de reprodução das relações sociaisdominantes. (COSTA, 1979).Autores como Donnangelo (1975), Mendes-Gonçalves (1979) e Schraiber(1989), ressaltam que essa unificação técnica dos principais sujeitos realizadores daspráticas em saúde durante o feudalismo sob o comando de um sujeito principal, agorasob novas relações sociais, acontecerá, aparentemente de forma paradoxal em relaçãoa dois aspectos: o primeiro é que esse processo, de unificação, se consolidará somentea partir do final do século XVIII e início do XIX; portanto ao final do regime deacumulação pautado na manufatura e após as revoluções burguesas. Esse aspectopossui relação com a discussão que fizemos anteriormente acerca da demanda postapara o trabalho em saúde pelas novas relações sociais no período em que areestruturação urbana e a normalização social ganham grande dimensão. O segundoaspecto interessante a ser ressaltado é que essa conformação do trabalho em saúde sobo capitalismo dar-se-á inicialmente sob uma forma de trabalho pré-capitalista; ou seja,é sob a forma artesanal de organização do trabalho que se constituirá o principalelemento do moderno trabalho em saúde: a medicina.Este traço, aparentemente curioso mas mais exatamente tradução da peculiaridade do trabalhomédico, chama a atenção pelo contraste com os demais trabalhos na sociedade, pois a

113medicina manter-se-á ‘artesanal’ por quase um século e meio, tempo em que a dinâmica dasforças produtivas dos outros trabalhos sociais já terão de muito ultrapassado até mesmo asformas de trabalho cooperativo.Nesse sentido há um contraste que se instala entre as estruturações do todo e de uma de suaspartes: a cooperação é necessidade histórica peculiar ao capitalismo, ao passo que, para amedicina do capitalismo, a autonomia no trabalho individualizado é que parece ter sido suanecessidade histórica particular. (SCHRAIBER, 1993: 179).Esta forma de organização – artesanal – que predominou no trabalho em saúde,mais especificamente no trabalho médico, do século XIX até meados do século XXapresenta, respeitando-se algumas peculiaridades, as mesmas características dotrabalho artesanal na produção material, quais sejam: a propriedade pelo trabalhadordos meios de trabalho e, consequentemente, dos produtos de seu trabalho; o controlepelo trabalhador da totalidade do processo de trabalho; e a existência do trabalhador nomercado como produtor isolado, sendo produtor e vendedor de seu produto.Se olharmos de maneira isolada para o trabalho médico pode parecer paradoxalque esta unificação sob o capitalismo tenha ocorrido sob a forma artesanal. Todavia, seolharmos com atenção para o movimento realizado pelo trabalho manual no processode transição para o capitalismo, veremos que a primeira forma de produção do capitalse dá sob a forma de trabalho herdada do feudalismo; qual seja, a forma artesanal. Acooperação simples, como vimos, representa esse processo. O primeiro momentodesse processo é a unificação/centralização de diferentes artesãos sob um mesmocapital. Cada um deles permanece produzindo seu produto por completo só que agoracontratados por um capitalista que é o proprietário dos meios de trabalho:instrumentos, oficina. Esse momento também é importante, segundo MARX (2001),porque propicia o estabelecimento de uma homogeneização dos diferentes processosde trabalho outrora realizados de maneira dispersa, tornando possível o uso comum,em escala, dos meios de produção. Essa homogeneização é o que vai possibilitar umcompleto conhecimento acerca do processo de trabalho – seus movimentos, atos,tempos – criando, assim, o alicerce para que o mesmo se torne fragmentável. A divisãomanufatureira do trabalho se instalará sobre essa base artesanal unificada. Essaunificação será responsável também pela erradicação das formas artesanais isoladas e

112trabalho morto. Veremos que os principais avanços tecnológicos do campo da saúde –instrumentos, equipamentos, medicamentos – somente ocorrerá a partir da revoluçãoindustrial. Portanto, no capitalismo a unificação das práticas de saúde em um sujeitoprincipal, o médico, retira-o do papel de mediador (entre Deus e Homem) para colocálo,aparentemente, no papel determinante. Não há mais imposição por parte da igrejade normas e valores através da medicina; agora é a ciência, representada no própriomédico, que impõe normas. Ora, concordamos com CANGUILHEM (1995: 185)sobre o fato de que “não se ditam normas à vida, cientificamente”; a ciência exerce umpapel de legitimação das normas impostas pela vida social, contribuindo para aadaptação dos sujeitos às mesmas. Aqui reside o aspecto propiciador do principalpapel superestrutural – ideológico – cumprido pelo trabalho médico: o denormalização social. Sob o manto da neutralidade científica o médico passa a seconstituir em um agente central no papel de reprodução das relações sociaisdominantes. (COSTA, 1979).Autores como Donnangelo (1975), Mendes-Gonçalves (1979) e Schraiber(1989), ressaltam que essa unificação técnica dos principais sujeitos realizadores daspráticas em saúde durante o feudalismo sob o comando de um sujeito principal, agorasob novas relações sociais, acontecerá, aparentemente de forma paradoxal em relaçãoa dois aspectos: o primeiro é que esse processo, de unificação, se consolidará somentea partir do final do século XVIII e início do XIX; portanto ao final do regime deacumulação pautado na manufatura e após as revoluções burguesas. Esse aspectopossui relação com a discussão que fizemos anteriormente acerca da demanda postapara o trabalho em saúde pelas novas relações sociais no período em que areestruturação urbana e a normalização social ganham grande dimensão. O segundoaspecto interessante a ser ressaltado é que essa conformação do trabalho em saúde sobo capitalismo dar-se-á inicialmente sob uma forma de trabalho pré-capitalista; ou seja,é sob a forma artesanal de organização do trabalho que se constituirá o principalelemento do moderno trabalho em saúde: a medicina.Este traço, aparentemente curioso mas mais exatamente tradução da peculiaridade do trabalhomédico, chama a atenção pelo contraste com os demais trabalhos na sociedade, pois a

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