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ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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108Vimos também que os significados do corpo e de seus padrões de normalidadenão são homogêneos, compartilhados por todas as classes. Assim como não sãohomogêneos os juízos valorativos referentes ao corpo e à sua manutenção. Porém, nasociedade capitalista o principal papel da ideologia dominante consiste em velar paraos sujeitos existentes suas diferenças e antagonismos de classe, e apresentá-los comoindivíduos-cidadãos iguais, perante a estrutura jurídico-política, que encontram suaunidade na idéia de Estado. A idéia, portanto, de igualdade social passa a serlegitimada através da transformação das necessidades (“iguais para todos”) em direitosnaturais e iguais para todos os cidadãos. Aqui entra em cena a medicina que, segundoMENDES-GONÇALVES (1979: 172-173) contribuiu para construir(...) uma concepção geral da saúde e da doença – e ter logrado fundamentar cientificamenteessa concepção – fundada sobre a individualidade intrínseca dos fenômenos que aí intervém,isto é, uma concepção que ressalta a saúde e a doença como situações vitais que dizemrespeito ao homem indivíduo-biológico, independente de outras determinações, e indiferenteàs características peculiares dos grupos sociais. Entenda-se bem: a medicina não procurounegar – pelo menos não sistematicamente – a distribuição desigual da saúde e da doença nasociedade capitalista, mas, ao ter concebido a saúde e a doença como fatos objetivamentedetermináveis e ter inculcado essa concepção no conjunto da sociedade, transformou a saúde ea doença em “bens” cuja desigual distribuição estratifica os seres humanos quantitativamente,negando suas diferenças de qualidade: e isto se demonstra permanentemente no fato de que adoença que é diagnosticada reduz o homem concreto que aporta à condição de ser humanosem outras adjetivações senão essa que lhe é aposta pela medicina, individualizado e aomesmo tempo universalizado igualitariamente através do mal e da prática que a esse mal sedirige (...) Em outros termos, através da reelaboração das concepções e das práticas de seucampo de atribuições, os profissionais médicos lograram alinhá-las às características gerais daideologia dominante (igualdade essencial e entre os homens) e reservar para si mesmos, naelaboração dessas concepções e no controle dessas práticas, o papel de únicos trabalhadoresqualificados, vinculando essa capacitação ao domínio de um determinado saber.Portanto, segundo o autor, a extensão das práticas assistenciais em saúde, sob omodo de produção capitalista, conformar-se-á reforçando a idéia do cuidado com ocorpo igualmente necessário e igualmente disponível. Isso, como sabemos, assimcomo a concepção burguesa de educação pública universal, não ocorrerá exatamentedessa maneira, visto que o acesso a tais “direitos universais” também serãodeterminados pelas inserções de classe dos diferentes cidadãos.

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