ROGÉRIO MIRANDA GOMES AS MUDANÇAS NO MUNDO DO ...

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12.07.2015 Views

106diretamente aos consumidores. A mesma coisa pode-se dizer dos boticários e doscirurgiões. Importante ressaltar que essa propriedade dos meios de trabalho pelosprodutores diretos era hegemônica nesse período, entre outros motivos, porque o baixograu de desenvolvimento das forças produtivas não propiciava nem exigia a existênciade grande instrumental tecnológico para a prática do trabalho em saúde. A tecnologiaconsubstancializava-se basicamente no saber necessário à realização do trabalho e, porser detentor desse saber, podia o trabalhador dominar integralmente o processo deprodução e de socialização dos produtos de suas práticas. O espaço dos atendimentos,somente para citar um componente dos meios de trabalho, por exemplo, erahegemonicamente o domicílio das próprias pessoas demandadoras dos serviços ou dosagentes curadores.Como vimos, será o desenvolvimento e consolidação das relações sociais deprodução capitalistas que colocarão a questão da reprodução da força de trabalho comonecessidade histórica fundamental. Essa forma de trabalho, pautada no ofício e noartesanato, executada por produtores independentes, sem um método único que lhespropiciasse o estabelecimento de um processo de trabalho social, coletivizado, não seapresentava com capacidade produtiva de responder às demandas dessa nova forma desociabilidade.5.2 A PRIMEIRA FORMA DO TRABALHO EM SAÚDE SOB O CAPITALISMOCom a passagem para o modo de produção capitalista, portanto, também aspráticas em saúde passarão a sofrer alterações significativas para responder àsnecessidades postas pela consolidação das novas relações sociais em nascimento.Como pudemos perceber, uma manifestação, talvez o fundamento, dessemovimento que estamos analisando de mudança das práticas de saúde sob ocapitalismo está na mudança do caráter do objeto dessas práticas. Para a nascentesociedade, alicerçada sobre a forma mercadoria, há uma mercadoria muito especial, aúnica cujo valor de uso se caracteriza por ser a capacidade de gerar valor. É aexploração dessa mercadoria, a força de trabalho, sob a forma especificamente

107capitalista - através da extração de mais valia - que se sustenta toda a sociedadenascente. Pudemos daí compreender a centralidade que passa a adquirir apreservação/recuperação do corpo, como suporte orgânico da força de trabalho.Com a transição para um modo de produção erigido sobre a exploração da forçade trabalho - força de trabalho que se revela em última instância como a “capacidadedo corpo em trabalhar” – através da extração de mais valia, a manutenção erecuperação do corpo tornam-se práticas fundamentais para a existência de toda aestrutura social. Assim, o processo de trabalho assistencial em saúde passará por umareorganização de modo a poder assumir essa função central para a existência dasociabilidade nascente.Esse papel que passará a caber ao trabalho em saúde, como vimos, não se darásomente no plano infra-estrutural - reprodução da força de trabalho de maneira estrita– mas também na superestrutura político-ideológica, como instrumento legitimador daordem social que se estabelece sobre a exploração da força de trabalho através do usodos corpos pelo capital (MERHY, 1987). Entender o processo de reprodução da forçade trabalho como um processo que extrapola a manutenção material/orgânica do corpoé fundamental para se apreender o papel que caberá, na nova ordem, ao trabalho emsaúde. Para garantir a manutenção de relações de exploração é necessário, além demanter íntegros os corpos dos trabalhadores, mantê-los também disciplinados paraesse papel na esfera da produção social da existência. Por isso, adquirem papel centralpara o capital os aparelhos e processos de caráter ideológico que visam difundir econsolidar as concepções/normas/valores legitimadores da ordem capitalista. Comosabemos, em uma sociedade de classes elaboram-se diferentes representações e idéias,determinadas, entre outros aspectos, pelas diferentes interpretações que os indivíduostêm da realidade, a depender de sua localização em uma das classes. Sabemos tambémque a classe dominante só se mantém como dominante porque além de deter ahegemonia no campo econômico, a mantém também no campo das idéias e da política.Portanto, torna-se uma questão de sobrevivência para a burguesia a propagação desuas idéias e interpretações do mundo como forma de legitimar as relações sociaiscapitalistas.

106diretamente aos consumidores. A mesma coisa pode-se dizer dos boticários e doscirurgiões. Importante ressaltar que essa propriedade dos meios de trabalho pelosprodutores diretos era hegemônica nesse período, entre outros motivos, porque o baixograu de desenvolvimento das forças produtivas não propiciava nem exigia a existênciade grande instrumental tecnológico para a prática do trabalho em saúde. A tecnologiaconsubstancializava-se basicamente no saber necessário à realização do trabalho e, porser detentor desse saber, podia o trabalhador dominar integralmente o processo deprodução e de socialização dos produtos de suas práticas. O espaço dos atendimentos,somente para citar um componente dos meios de trabalho, por exemplo, erahegemonicamente o domicílio das próprias pessoas demandadoras dos serviços ou dosagentes curadores.Como vimos, será o desenvolvimento e consolidação das relações sociais deprodução capitalistas que colocarão a questão da reprodução da força de trabalho comonecessidade histórica fundamental. Essa forma de trabalho, pautada no ofício e noartesanato, executada por produtores independentes, sem um método único que lhespropiciasse o estabelecimento de um processo de trabalho social, coletivizado, não seapresentava com capacidade produtiva de responder às demandas dessa nova forma desociabilidade.5.2 A PRIMEIRA FORMA <strong>DO</strong> TRABALHO EM SAÚDE SOB O CAPITALISMOCom a passagem para o modo de produção capitalista, portanto, também aspráticas em saúde passarão a sofrer alterações significativas para responder àsnecessidades postas pela consolidação das novas relações sociais em nascimento.Como pudemos perceber, uma manifestação, talvez o fundamento, dessemovimento que estamos analisando de mudança das práticas de saúde sob ocapitalismo está na mudança do caráter do objeto dessas práticas. Para a nascentesociedade, alicerçada sobre a forma mercadoria, há uma mercadoria muito especial, aúnica cujo valor de uso se caracteriza por ser a capacidade de gerar valor. É aexploração dessa mercadoria, a força de trabalho, sob a forma especificamente

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