o significado <strong>de</strong> BCG? Certamente, o esclarecimento <strong>de</strong> quais vacinas estãosendo aplicadas às crianças seria mesmo <strong>um</strong> sinal <strong>de</strong> respeito a elas e a suasfamílias. Assim, no Cartão da Criança <strong>de</strong>veria estar especificado contra quaisdoenças as crianças estão protegidas ao tomar DPT, anti-Hib, BCG.N<strong>um</strong> calendário que abrange vacinas contra nove ou mais doenças paraos primeiros meses <strong>de</strong> vida do lactente, com apresentações, datas <strong>de</strong> início ereforço diferenciadas, com número <strong>de</strong> doses <strong>de</strong> reforço diversas, cujas datasestão marcadas no Cartão, por que as mães teriam necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber <strong>de</strong>cor <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quantos meses da primeira dose <strong>de</strong> vacina contra hepatite Bviriam os reforços, e os da Sabin e os da anti-Hib, e assim sucessivamente? Hámuitos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mesmo médicos, que não guardam essas datas,inclusive porque o calendário é dinâmico, vacinas são agregadas, datas sãoalteradas 40 .Mas por que exigir das mães tais e quais conhecimentos, e não <strong>outro</strong>s?Por ex<strong>em</strong>plo, o entendimento que têm, conforme v<strong>em</strong> inscrito no Cartão, <strong>de</strong>que “são direitos constitucionais da criança – ser amamentada; ser b<strong>em</strong>alimentada, vacinada e receber acompanhamento do crescimento e do<strong>de</strong>senvolvimento”.Por que exigir da mãe cognições <strong>em</strong> tal or<strong>de</strong>m se, por <strong>outro</strong> lado,vivencia-se <strong>um</strong> estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento acerca <strong>de</strong>imunização <strong>em</strong> que as falsas contra-indicações, principal fator associado aoportunida<strong>de</strong>s perdidas <strong>de</strong> imunizações, são orientações <strong>em</strong>itidas pelosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>?Existe muito provavelmente <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> preconceito contra as mães,<strong>em</strong> particular das classes populares. E a não percepção <strong>de</strong> que existe <strong>um</strong>saber popular muito precioso que garante às camadas <strong>de</strong>sprotegidas dapopulação resistir às suas precárias condições <strong>de</strong> vida e insistir <strong>em</strong> seguiradiante.Saber certamente limitado <strong>em</strong> muitos aspectos e que, como vimos,busca <strong>um</strong>a relação com o saber erudito, geralmente monopolizado por restritasparcelas da socieda<strong>de</strong>.40 Recent<strong>em</strong>ente, a primeira dose <strong>de</strong> vacina contra sarampo passou a ser aplicada aos doze, não maisaos nove meses.
Camadas da população secularmente negligenciadas pelo po<strong>de</strong>rdominante po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong>sconfiança a novas ações 41 , aferrando-se ahábitos e atitu<strong>de</strong>s que <strong>em</strong> seu meio, ao qual estão familiarizados e <strong>em</strong> queconfiam, são usuais apesar <strong>de</strong> muitas vezes errados ou ultrapassados.A experiência recente com a vacinação das crianças no Brasil, com <strong>um</strong>aobservância ao calendário próxima a 90% conquistada <strong>em</strong> pouco mais <strong>de</strong> duasdécadas, indica que se crenças e atitu<strong>de</strong>s ultrapassadas por parte das mãesexistiam <strong>em</strong> relação à vacinação, elas foram rapidamente substituídas por <strong>um</strong>avisão ativa e consciente dos benefícios das imunizações.Não existe no presente trabalho a menor intenção <strong>de</strong> minimizar aimportância do saber erudito, acadêmico. Ao contrário, percebe-se claramenteque inúmeras limitações e probl<strong>em</strong>as que a socieda<strong>de</strong> enfrenta só serãoi<strong>de</strong>ntificados, diagnosticados e tratados com o <strong>de</strong>senvolvimento científico, nasua complexida<strong>de</strong>. O que talvez seja preciso ressaltar é que o saberacadêmico po<strong>de</strong>ria estar cada vez mais voltado às necessida<strong>de</strong>s percebidaspela maioria da população e com ela e suas experiências estabelecer laçosmais profundos.Dentro do contexto <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>u, a experiência da vacinação, nessesentido, t<strong>em</strong> sido ex<strong>em</strong>plar: estabeleceram-se “vasos comunicantes” entre osaber erudito e o popular que resultaram <strong>em</strong> benefício para milhões <strong>de</strong>pessoas. Vale discutir se não haveria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processo similar ocorrer<strong>em</strong> outras áreas do conhecimento, o que po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> <strong>outro</strong> trabalho <strong>de</strong>pesquisa.Ao ser questionado sobre o porquê do momento – <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002 –ser o melhor para a erradicação da pólio, segundo Salgado (2003), CiroQuadros avaliou que é inaceitável que crianças ainda corram o risco <strong>de</strong> ficar<strong>em</strong>paralisadas pelo resto da vida quando se dispõe <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vacina que custaapenas alguns centavos, finalizando:T<strong>em</strong>os <strong>de</strong> atacar <strong>de</strong> frente tudo o que é inaceitável – não apenas noque se refere a doenças, mas também <strong>em</strong> outras questões: por que<strong>de</strong>veríamos continuar convivendo com tanta miséria no mundo? (p.141)41 Quando foi iniciada a imunização contra influenza <strong>em</strong> idosos, há poucos anos, <strong>em</strong> 1999, muitos serecusaram a tomar a vacina alegando que se pretendia, na realida<strong>de</strong>, com a vacinação era livrar-se <strong>de</strong>lespois, por <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s e políticas <strong>de</strong> governo, estavam se sentindo <strong>de</strong>sprezados eh<strong>um</strong>ilhados.
- Page 1:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANE
- Page 4:
Vacinação: um outro olhar - Mães
- Page 9:
SUMÁRIOLista de tabelas e quadros
- Page 12 and 13:
RESUMOA pesquisa procurou levantar
- Page 15 and 16:
INTRODUÇÃOA vacinação, particul
- Page 17 and 18:
condições de nutrição, de vida
- Page 19 and 20:
doença. Verificou que não adoecia
- Page 21 and 22:
de crianças em países periférico
- Page 23 and 24:
Em 1974, foi aprovado na Assembléi
- Page 25 and 26:
2002, respectivamente, que represen
- Page 28 and 29:
descritor específico, não mais av
- Page 30 and 31:
Ao analisar o financiamento do sist
- Page 33 and 34: REFERENCIAL TEÓRICONão tem doutor
- Page 35 and 36: na elaboração de suas condutas, n
- Page 37 and 38: suscetíveis a mudanças, à intera
- Page 39 and 40: Discutir em que sentido a experiên
- Page 41 and 42: se logrou com o conjunto dos funcio
- Page 43 and 44: Frente à analise do processo de ob
- Page 45 and 46: espostas dadas (Brasil, 1998). Foi
- Page 47: Houve um incremento de 26% na gravi
- Page 51 and 52: Ao lado de outros procedimentos, es
- Page 53 and 54: sua modificação implica em mudan
- Page 55 and 56: ... Melhor prevenir do que remediar
- Page 57 and 58: Em ação há mais de 30 anos, o PN
- Page 59 and 60: cognição “prevenção” incorp
- Page 61 and 62: Para Sá (1996), é no sistema peri
- Page 63 and 64: Durante a fase de observação foi
- Page 65 and 66: A imensa maioria das mães foi orie
- Page 67 and 68: A imensa maioria (96,82%) das mães
- Page 69 and 70: Tb/BCG 09 08Tétano 15 07Meningite
- Page 71 and 72: Gestantes e mães segundo a possibi
- Page 73 and 74: Novamente, elementos como “preven
- Page 75 and 76: CONSIDERAÇÕES FINAISO núcleo cen
- Page 77 and 78: Como foi observado acima, o sistema
- Page 79 and 80: Atualmente, a descontextualização
- Page 81: tecnologias médico-sanitárias e,
- Page 86 and 87: BENCHIMOL, J. L. (coord.) Febre ama
- Page 88 and 89: DUARTE, E.C. et al. Epidemiologia d
- Page 90 and 91: OPAS, Organización Panamericana de
- Page 92 and 93: VERGÈS, P. Evocation de l’argent
- Page 94 and 95: ANEXO 1Calendário básico de vacin
- Page 96 and 97: ANEXO 2“Minotaurização”Gravur
- Page 98 and 99: Oswaldo Cruz e seu exército de mat
- Page 102 and 103: ANEXO 5Teste de Evocação e Questi
- Page 104: ANEXO 6Carta de apresentação às