alguns pressupostos 39 que condicionariam o comportamento das mães frente àvacinação <strong>de</strong> seus filhos.Em finais da década <strong>de</strong> 1990, já com <strong>um</strong>a cobertura vacinal amplamenteexpressiva, <strong>de</strong> acordo com os dados da Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> eNutrição <strong>de</strong> 1996, referidos anteriormente, Quirino (1998), <strong>em</strong> estudo commães usuárias <strong>de</strong> 18 Unida<strong>de</strong>s Básicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Município <strong>de</strong> São Paulotambém avalia que as mães “apresentaram pouco conhecimento sobre asvacinas aplicadas ao (a) filho(a), durante o primeiro ano <strong>de</strong> vida, no que serefere à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início, número <strong>de</strong> doses, intervalo <strong>de</strong> doses e doenças queproteg<strong>em</strong>” (p.101).Seria, assim, o pouco conhecimento sobre vacinas ou <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong>crenças os fatores <strong>de</strong>terminantes à limitada expansão da cobertura no início daimplantação do PNI? Nesse sentido, a ênfase a ser colocada para ampliar osíndices <strong>de</strong> cobertura constatados à época estaria basicamente <strong>em</strong> envidar maise maiores esforços no sentido <strong>de</strong> a<strong>um</strong>entar o “conhecimento” das mães? E <strong>em</strong>1998, com níveis <strong>de</strong> cobertura próximos a 90%, continuariam escassos os seusconhecimentos?A presente pesquisa indicou <strong>outro</strong>s caminhos. Um conjunto <strong>de</strong> fatores –políticos, econômicos, culturais, tecnológicos – <strong>de</strong>terminou as mudanças hojeverificadas na observância das mães ao calendário vacinal.Duas questões se mostraram mais pertinentes a esta discussão: acontextualização histórico-social e o entendimento do que seja “conhecimento”.Em que pese a intenção, positiva, <strong>de</strong> se voltar à população alvo <strong>de</strong>programas governamentais, na medida <strong>em</strong> que não contextualiza osfenômenos <strong>em</strong> estudo, o “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crenças <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>” não cont<strong>em</strong>pla <strong>um</strong>conjunto <strong>de</strong> questões envolvidas no controle e prevenção das doenças (Tura,1998). E, como conseqüência, po<strong>de</strong>-se inferir que as propostas <strong>de</strong> soluçãopara os probl<strong>em</strong>as centram-se, principalmente e sobretudo, <strong>em</strong> oferecerdiretrizes e “conhecimento” aos indivíduos, superar os obstáculos que suas“crenças” interpõ<strong>em</strong>.39 Tais como a percepção <strong>de</strong> que sejam suscetíveis à doença; <strong>de</strong> que a doença seja grave; que existambenefícios na ação e que exista evento motivador que as direcione à ação.
Atualmente, a <strong>de</strong>scontextualização do processo saú<strong>de</strong>-doença ganhanovas formas. Mais recent<strong>em</strong>ente, observa-se <strong>um</strong>a outra tendência: a <strong>de</strong>circunscrever a doença ao domínio <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente privado, que tambémcentra no indivíduo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção. O fato ocorre n<strong>um</strong>momento <strong>em</strong> que se observa, difundida na socieda<strong>de</strong>, com o concurso dosmeios <strong>de</strong> comunicação, <strong>um</strong>a preocupação crescente com a saú<strong>de</strong>, com asquestões que envolv<strong>em</strong> a saú<strong>de</strong>, com mudanças <strong>de</strong> hábitos e “estilos <strong>de</strong> vida”(Arruda, 2002; Herzlich, 2003). O peso e a atenção conferidos aos life stylestransfere “a responsabilida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> da esfera pública à esfera privada”,como observa Herzlich (2003, p.7), <strong>em</strong> trabalho on<strong>de</strong> discute o papel que <strong>um</strong>aepi<strong>de</strong>mia como a <strong>de</strong> AIDS po<strong>de</strong> exercer <strong>em</strong> sentido contrário, <strong>de</strong> “coletivizar”<strong>um</strong>a doença individualizada. Tal ênfase – <strong>de</strong> transferir a responsabilida<strong>de</strong>pública com saú<strong>de</strong> para o indivíduo – também <strong>de</strong>scontextualiza o processosaú<strong>de</strong>-doença.A mudança <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> vida é, efetivamente, <strong>um</strong> dos el<strong>em</strong>entosnevrálgicos na abordag<strong>em</strong> dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da atualida<strong>de</strong>, porém se oessencial das prescrições cabíveis centrar-se somente nas alterações que oindivíduo <strong>de</strong>ve promover <strong>em</strong> tais hábitos, transfere-se a ele quase todo o ônusda prevenção primária, tratamento ou reabilitação. O que v<strong>em</strong> ao encontro daspolíticas e i<strong>de</strong>ologia neoliberais que têm como <strong>um</strong> <strong>de</strong> seus fundamentos o<strong>de</strong>scomprometimento do Estado com a garantia dos direitos (no caso, o dasaú<strong>de</strong>) do conjunto da população (Garcia-Canclini, 2000). Assim, s<strong>em</strong> ignorar aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada indivíduo, discute-se que a dimensão queindividualmente lhe é <strong>de</strong>legada no controle dos fatores <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>doenças <strong>de</strong> interesse <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública possivelmente é <strong>de</strong>sproporcional àssuas possibilida<strong>de</strong>s pessoais <strong>de</strong> conter o probl<strong>em</strong>a.Entre os objetivos <strong>de</strong>ste estudo, foi questionado se a experiênciaaltamente positiva da observância das mães ao calendário vacinal po<strong>de</strong>ria serestendida a <strong>outro</strong>s programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Pensou-se <strong>em</strong> programas como os <strong>de</strong>controle <strong>de</strong> hipertensão arterial e <strong>de</strong> tratamento com anti-retrovirais <strong>em</strong>soropositivos com HIV, por ex<strong>em</strong>plo. Po<strong>de</strong>-se constatar, neste ponto dapesquisa, que a observância das mães ao calendário vacinal é <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>entecontextualizada, já que esse processo envolveu condicionantes históricos
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