O subconjunto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos da representação reconhecido como núcleocentral hierarquiza, portanto, <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> informações, experiências,crenças, normas, valores, atitu<strong>de</strong>s, práticas e relações que as mães ou futurasmães estabelec<strong>em</strong> no processo <strong>de</strong> vacinação: os el<strong>em</strong>entos do seu sist<strong>em</strong>aperiférico. Para o grupo <strong>em</strong> estudo, hierarquizam relações que envolv<strong>em</strong> odiscernimento <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> importância das ações <strong>de</strong> imunização na práticadiária <strong>de</strong> cuidado que têm com seus filhos, <strong>de</strong> experiências pessoais efamiliares, <strong>de</strong> contato com o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com os meios <strong>de</strong> comunicação,com visões mais totalizantes (ou não) e expectativas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com noções(ou privação, ausência) <strong>de</strong> direitos sociais, com os entraves econômicos <strong>de</strong> suainserção social, el<strong>em</strong>entos estes mais diretamente ligados ao contexto imediato<strong>de</strong>stas mães, integradores <strong>de</strong> suas vivências cotidianas, individuais e coletivas,contudo condicionados pelos sentidos mais essenciais que atribu<strong>em</strong> àvacinação: “prevenção” e “proteção”.Assim, os el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> o núcleo central conformam-senaqueles que dão estabilida<strong>de</strong> a essa representação; e, se mudanças aíocorrer<strong>em</strong>, elas estarão sinalizando mudanças na representação social quefaz<strong>em</strong> da vacinação.Neste ponto, r<strong>em</strong>ete-se a dois instantes da história da imunização nopaís. O primeiro, a Revolta da Vacina <strong>de</strong> 1904 e o segundo, o momento daimplantação do Programa Nacional <strong>de</strong> Imunização. Neles, os índices <strong>de</strong>cobertura eram insatisfatórios. Seriam <strong>outro</strong>s os el<strong>em</strong>entos constituintes dosnúcleos centrais das representações da população acerca da vacinação?Po<strong>de</strong>-se especular que a população do Rio <strong>de</strong> Janeiro que se rebelou hác<strong>em</strong> anos representava a vacinação (no caso, contra a varíola) <strong>de</strong> mododiverso. Se a rejeitava, provavelmente não associava imunização a prevençãoou à proteção <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus familiares. Os sentidos atribuídos àvacina para aquela população, naquele momento histórico, seriam <strong>outro</strong>s,distintos. Estas representações guiariam os indivíduos a outra prática: arebelar-se contra a vacina. Dados levantados neste trabalho sinalizam paraessa apreciação, mas haveria que se <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r pesquisa mais sist<strong>em</strong>atizadapara <strong>um</strong>a avaliação mais conclusiva.
Como foi observado acima, o sist<strong>em</strong>a do núcleo central informa sobre asprescrições absolutas ou incondicionais (Flament, 2001; Sá, 1996), social ehistoricamente <strong>de</strong>terminadas, associadas a normas e valores (Abric, 2003) quecaracterizam e comunicam a homogeneida<strong>de</strong>, a especificida<strong>de</strong> do grupo <strong>em</strong>questão.Percebe-se que contextos históricos, sociais e culturais específicos<strong>de</strong>marcam esses momentos. Em 1904, a cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiroexperimentava o autoritarismo do governo Rodrigues Alves e a vacinaçãoobrigatória se transformou na gota d’água para <strong>um</strong>a população acuada por<strong>um</strong>a crise política e econômica que se abatia preferencialmente sobre asclasses populares (Sevcenko, 2001), atingida por <strong>de</strong>spejos e <strong>de</strong>smandos <strong>de</strong>autorida<strong>de</strong>s, com o agravante <strong>de</strong> <strong>de</strong>snudar corpos para efetivar o intento daaplicação da vacina (Carvalho, 1987).O período da implantação do Programa Nacional <strong>de</strong> Imunização écaracterizado pelo regime político <strong>de</strong> ditadura militar, <strong>em</strong> que a resistência<strong>de</strong>mocrática mal começava a se rearticular. É <strong>um</strong> momento <strong>em</strong> que seprocessa <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento da urbanização no país, <strong>em</strong> <strong>de</strong>scompasso com aimplantação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> infra-estrutura nas cida<strong>de</strong>s e, sobretudo, com <strong>um</strong>are<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ainda incipiente, <strong>um</strong>a restrita e mais recente experiênciacom imunização.Os baixos índices <strong>de</strong> cobertura observados então seriam <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>a representação “negativa” da vacina, <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a crença da populaçãoque lhe tolhesse a iniciativa <strong>de</strong> levar os filhos a vacinar?Observou-se que alguns estudos levantam como restritos os“conhecimentos” <strong>de</strong> mães sobre a vacinação <strong>de</strong> seus filhos <strong>em</strong> dois momentosda história do PNI. N<strong>um</strong>a fase <strong>de</strong> recente implantação, <strong>em</strong> 1981, Régis concluique “o nível <strong>de</strong> conhecimento sobre as vacinas e respectivas doenças é baixo,<strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da conjugação <strong>de</strong> dois fatores: falta <strong>de</strong> conhecimentos econhecimentos errôneos” (p.98). Em <strong>outro</strong>s dois estudos, <strong>em</strong>basados no“Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crenças <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>”, Ferreira (1984) e Guerra (1991) discut<strong>em</strong>
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