Porque s<strong>em</strong> vacina a criança não fica legal. Eu tenho <strong>um</strong> irmão que não tomou vacinae ficou com paralisia infantil, que agora não dá mais por causa das vacinas. (24anos, cearense, 5ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 68Se não dá vacina po<strong>de</strong> dar paralisia. O garoto lá <strong>em</strong> cima (no morro) não tomou vacinae ficou aleijado. (18 anos, 5ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 99Pra não ter probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> doença. Já aconteceu no caso da minha família. Meu irmãoteve paralisia infantil. Acho que foi <strong>um</strong> crime que fizeram com ele. (30 anos,carioca; “autodidata”, sic; enca<strong>de</strong>rnadora) – 100Moscovici (1978) arg<strong>um</strong>entava que é compreensível queos traços, tanto sociais como intelectuais, <strong>de</strong> representações formadas <strong>em</strong>socieda<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a ciência, a técnica e a filosofia estão presentes soframsua influência e se constituam <strong>em</strong> seu prolongamento, e (ou) <strong>em</strong> oposição aelas (p. 44).Mais à frente avalia que há <strong>um</strong>a relação dinâmica que leva o grupo <strong>em</strong>questão a incorporar saberes antes incomuns ao seu cotidiano:Isso só é possível se fizermos passar, como através <strong>de</strong> vasos comunicantes,linguagens e saberes <strong>de</strong> regiões on<strong>de</strong> existe abundância para regiões on<strong>de</strong>predomina a escassez e vice-versa (Moscovici, 1978, p.60).Já no processo <strong>de</strong> observação, percebeu-se que as mães têm <strong>um</strong>aavaliação positiva dos benefícios que a imunização proporciona a seus filhos,ao associá-la à prevenção <strong>de</strong> doenças. Mesmo que alg<strong>um</strong>as se ressentiss<strong>em</strong>com a dor que envolve a aplicação <strong>de</strong> alguns imunizantes, elas se mostraramcompensadas pelo benefício que reconheciam implícito ao ato.Ao se i<strong>de</strong>ntificar os el<strong>em</strong>entos “prevenção” e “proteção” comocomponentes do núcleo central das representações sociais das gestantes <strong>em</strong>ães acerca <strong>de</strong> vacina das crianças, po<strong>de</strong>-se avaliar que esses sentidoscontribu<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma efetiva, para a significativa observância ao calendáriovacinal observada atualmente. E, como foi visto anteriormente, asrepresentações sociais orientam a prática dos indivíduos e grupos que aselaboram, interferindo no seu cotidiano, dirigindo suas ações.A percepção do objeto é submetida a <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> interiorização, porvezes <strong>de</strong> transformação, para que resulte “n<strong>um</strong> conhecimento que a maioriadas pessoas utiliza <strong>em</strong> sua vida cotidiana” (Moscovici, 1978, p.50). Observouse,por ex<strong>em</strong>plo, que as gestantes e mães <strong>em</strong> questão se apropriaram da
cognição “prevenção” incorporando-a ao seu universo próprio 34 , cotidiano, <strong>de</strong>cuidado das crianças. Moscovici (1978) aponta que:é preciso que o conteúdo estranho se <strong>de</strong>sloque para o interior <strong>de</strong> <strong>um</strong>conteúdo corrente, e que o que está fora do nosso universo penetre nointerior <strong>de</strong> nosso universo. Mais exatamente, é necessário tornar familiar oinsólito e o insólito o familiar, mudar o universo s<strong>em</strong> que ele <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser onosso universo (p.60).A prática da vacinação e o processo que a envolve – incluindo a atuaçãodos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> –, as campanhas <strong>de</strong> mídia e a experiência apreendidacom tal prática, influenciaram a elaboração das representações que as mãestêm sobre a vacinação das crianças e, reciprocamente, tais representaçõesvêm orientando sua prática, <strong>de</strong> tal modo que <strong>um</strong>a gestante aconselhava:Que todas não <strong>de</strong>ix<strong>em</strong> <strong>de</strong> vacinar. Minha mãe teve <strong>de</strong>z filhos, levava os <strong>de</strong>z paravacinar, nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> levar. Eu tenho o cartão, bonitinho... (24 anos,pernambucana, há três anos no Rio, 7ª série do ensino fundamental, <strong>em</strong>pregadadoméstica, n) – 26Há duas gerações, ao menos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação do PNI, milhares <strong>de</strong>mães ac<strong>um</strong>ularam conhecimentos que as impel<strong>em</strong> à observação do calendáriovacinal nos níveis expressivos <strong>em</strong> que hoje são verificados. E hoje o faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>maneira consciente, mobilizadas por asserções análogas às que o saberacadêmico preconiza.Debruçando-se novamente sobre os resultados, procurou-se i<strong>de</strong>ntificarpossíveis diferenças entre as estruturas da representação <strong>de</strong> vacina paranulíparas e multíparas. Foram observadas alg<strong>um</strong>as diferenças nas estruturasdas representações construídas por elas.I<strong>de</strong>ntificou-se no núcleo central das multíparas somente o el<strong>em</strong>ento“proteção”, com freqüência igual a 25 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a1,880. Observou-se que “prevenção”, com freqüência igual a 47 e or<strong>de</strong>m média<strong>de</strong> evocação igual a 2, passou a compor o sist<strong>em</strong>a intermediário, ocupando oquadrante superior direito; ao mesmo t<strong>em</strong>po, “saú<strong>de</strong>”, com freqüência igual a20 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a 1,650, também mudou <strong>de</strong> posição<strong>de</strong>scolando-se para o quadrante inferior esquerdo. Quanto ao sist<strong>em</strong>a34Outras ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como a terapia <strong>de</strong> reidratação oral, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar oacompanhamento pré-natal e o planejamento familiar, a prevenção do câncer <strong>de</strong> colo uterino, antesalheias a seu cotidiano, vêm sendo incorporadas por <strong>um</strong> contingente significativo <strong>de</strong> mulheres no país.
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