medicamentos girou <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 300 bilhões <strong>de</strong> dólares, o <strong>de</strong> vacina envolveusete bilhões <strong>de</strong> dólares <strong>em</strong> 2000.A varíola – primeira doença infecto-contagiosa a ser erradicada nomundo por meio <strong>de</strong> imunização – teve <strong>um</strong>a longa e larga história <strong>de</strong> vítimas,inclusive no Brasil on<strong>de</strong> adquiriu relevância histórica com a Revolta da Vacina<strong>de</strong> 1904.Em todo o mundo, a varíola acometeu, marcou e dizimou populações <strong>em</strong>vários períodos da história do hom<strong>em</strong>, acompanhando seus <strong>de</strong>slocamentos naTerra (Gazeta, 2001). No Rio, <strong>em</strong> fins do século XIX e início do século XX,eram gran<strong>de</strong>s as epi<strong>de</strong>mias, atingindo significativos segmentos da população. 3Os sinais que a “bexiga” imprimia à aparência <strong>de</strong> alguns doentes eramperenes, marcando a vida daqueles acometidos pela doença e foram comunsaté meados do século XX. A varíola era consi<strong>de</strong>rada <strong>um</strong>a das doenças maiscontagiosas e perigosas. Apresentava-se sob duas formas: varíola major, quese manifestava com <strong>um</strong> quadro clínico severo e <strong>um</strong> índice <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong>elevado, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20%, e a varíola menor, <strong>um</strong>a forma consi<strong>de</strong>rada benigna,com índice <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1%. No Brasil, a sinonímia para a forma major era“bexiga” e para a menor “varicela” (Veronesi, 1991, p.55).A sabedoria popular, difundida entre as camponesas do interior daInglaterra, afiançava que as pessoas que or<strong>de</strong>nhavam vacas não contraíamvaríola. Este saber constituiu-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>ento essencial para a instituição daprimeira vacina no mundo, introduzida pelo médico inglês Edward Jenner <strong>em</strong>fins do século XVIII.Jenner interessou-se por tal pr<strong>em</strong>issa da cultura popular dascamponesas. Observou o fenômeno e, <strong>em</strong> 1796, realizou inoculações com omaterial das pápulas da cow pox, doença eruptiva, s<strong>em</strong>elhante à varíola queacometia o gado da região. Pô<strong>de</strong> constatar que era verda<strong>de</strong>ira a convicção <strong>de</strong>que os indivíduos expostos ao material das lesões não apresentariam a3Um personag<strong>em</strong> magistral da cultura popular brasileira, Alfredo da Rocha Vianna Júnior, revelava amarca da varíola não só no s<strong>em</strong>blante como também no apelido, pelo qual ficou conhecido e imortalizado:Pixinguinha. Diz a lenda que a avó o chamava por Pizindim; <strong>de</strong>pois da doença viria Bexiguento, mas foi a“mistura” Pixinguinha o que “pegou”. Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> registra a presença do mestre na cena carioca,criando <strong>em</strong> seu livro “Macunaíma”, <strong>um</strong> personag<strong>em</strong> que também é i<strong>de</strong>ntificado pela marca da doença:“<strong>um</strong> negrão filho <strong>de</strong> Og<strong>um</strong>, bexiguento e fadista <strong>de</strong> profissão” (Andra<strong>de</strong>, 1988). A passag<strong>em</strong> se dá quandoo “herói s<strong>em</strong> nenh<strong>um</strong> caráter” freqüenta <strong>um</strong>a “mac<strong>um</strong>ba” <strong>em</strong> casa <strong>de</strong> tia Ciata. A caracterização <strong>de</strong> Mário<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> ficou difundida através da biografia <strong>de</strong> Pixinguinha elaborada por Marilia T. Barboza da Silvae Arthur L. <strong>de</strong> Oliveira Filho: “Filho <strong>de</strong> Og<strong>um</strong> Bexiguento” (1979).
doença. Verificou que não adoeciam, mesmo se inoculadas posteriormentecom o vírus da varíola. Publicou suas observações e, mesmo <strong>em</strong> face <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>as polêmicas 4 , a prática da “vacinação” se alastrou pelo mundo (Rosen,1994).Posteriormente, <strong>em</strong> finais do século XIX, Pasteur, <strong>em</strong> seus estudos –inicialmente sobre o cólera <strong>em</strong> galinhas – <strong>de</strong>senvolveu mais profundamente osconhecimentos acerca dos mecanismos da imunização (Rosen, 1994). E, <strong>em</strong>1885, ao <strong>de</strong>scobrir <strong>um</strong> imunizante contra a raiva, ratificou o termo vacina, dolatim vaccina, “<strong>de</strong> vaca” (Ferreira, 1999), <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> a Jenner.A vacina contra a varíola foi introduzida no Brasil no início do século XIX;entretanto, <strong>em</strong> 1904, <strong>um</strong>a nova lei recolocou a sua obrigatorieda<strong>de</strong>. Lei queprevia alg<strong>um</strong>as exigências: o “atestado <strong>de</strong> vacina” era requisitado <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>buscasse <strong>em</strong>prego público, <strong>em</strong>prego doméstico, ou <strong>em</strong> fábricas. Sanções,como multas, também po<strong>de</strong>riam ser aplicadas aos que <strong>de</strong>sc<strong>um</strong>priss<strong>em</strong> a lei(Carvalho, 1987).Muito mais antiga era a prática <strong>de</strong> variolização. Des<strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos r<strong>em</strong>otos,chineses e hindus retiravam secreção das vesículas <strong>de</strong> alguns doentes parainocular pessoas sãs, como forma <strong>de</strong> prevenir a doença. Porém esta prática,por <strong>outro</strong> lado, contribuía para a diss<strong>em</strong>inação <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as moléstias, como asífilis. A variolização era exercida no Brasil, no século XIX, por “práticos”, por“curan<strong>de</strong>iros” negros, inclusive durante os rituais do candomblé.Para muitos, a doença era provocada por divinda<strong>de</strong>s; o tratamento,portanto, caberia aos curan<strong>de</strong>iros e não à administração pública. Este foi mais<strong>um</strong> dos entraves à aceitação da vacinação <strong>em</strong> massa contra a varíola. NoBrasil, <strong>em</strong> finais do século XIX e início do século XX, o conflito entre o discursohigienista e as práticas populares <strong>de</strong> cuidados com a saú<strong>de</strong> se intensificaramcom a obrigatorieda<strong>de</strong> da vacina.Assim, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1904, durante <strong>um</strong>a s<strong>em</strong>ana, a cida<strong>de</strong> ficouconflagrada, com verda<strong>de</strong>iras batalhas campais (Anexo 3). No dia 13, <strong>em</strong> meioa tiroteios, combates <strong>de</strong> rua, 22 bon<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>struídos, mais <strong>de</strong> 1004 Entre elas, a versão <strong>de</strong> que as pessoas inoculadas com material das lesões <strong>de</strong> gado po<strong>de</strong>riam sofrer <strong>um</strong>processo <strong>de</strong> “vacalização” ou “minotaurização” (ilustração no Anexo 2). No século XIX, alg<strong>um</strong>ascamponesas francesas se recusavam a imunizar os filhos porque estes, ao contrair a doença, po<strong>de</strong>riamestar livres da convocação à guerra.
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