Vacinação: um outro olhar - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva ...

entre elas a vacinação em massa contra a varíola, provocou na população umsentimento de indignação que culminou na “Revolta da Vacina”, em 1904.Sevcenko (2001) assinala que:A constituição de uma sociedade predominantemente urbanizada e de forteteor burguês no início da fase republicana, resultado do enquadramento doBrasil nos termos da nova ordem econômica mundial instaurada pelaRevolução Científico-Tecnológica (por volta de 1870), foi acompanhada demovimentos convulsivos e crises traumáticas, cuja solução convergiuinsistentemente para um sacrifício cruciante dos grupos populares (p.9-10).Tratava-se de tornar a cidade um ambiente salubre para determinadosetor da população (Chalhoub, 2001). O Rio de Janeiro ficou conhecido como o“túmulo dos estrangeiros” e, para uma economia voltada para o comércioexterior que agora dependia da mão-de-obra de imigrantes (Carvalho, 2002),de ruas alargadas para a circulação e o escoamento de mercadorias até oporto, determinadas medidas administrativas haviam de ser implementadas,mesmo que a ferro e fogo. Entre estas, a reurbanização da cidade, com ademolição de cortiços e conseqüente afastamento da população mais pobrepara bairros periféricos (e também para morros e mangues), medida quefavoreceria construtoras a remodelarem o centro da cidade com um boom denovas edificações. Por outro lado, ações em saúde pública, que naquelemomento coibissem principalmente as epidemias que atingiam a populaçãobranca, como as de febre amarela e varíola. Chalhoub (2001) observa queOs cortiços supostamente geravam e nutriam “o veneno” causador do vômitopreto. Era preciso, dizia-se, intervir radicalmente na cidade para eliminar taishabitações coletivas e afastar do centro da capital as “classes perigosas”que nele residiam. Classes duplamente perigosas, porque propagavam adoença e desafiavam as políticas de controle social no meio urbano (p. 8).É patente que havia entre aqueles reformadores os que se moviam peloempenho e sinceras convicções em debelar os flagelos humanos. OswaldoCruz, com a vitoriosa campanha contra a febre amarela, foi um caso exemplar.Porém, é interessante notar, como aponta Chalhoub (2001), que mesmo aoalegar uma visão neutra das questões de saúde, extraordinários esforços forammobilizados pela administração pública para coibir algumas doenças e nãooutras.A tuberculose, que atingia de forma importante a população pobre enegra, identificada pelos médicos como uma doença ligada às péssimas