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Vacinação: um outro olhar - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO<strong>Vacinação</strong>: <strong>um</strong> <strong>outro</strong> <strong>olhar</strong>– Mães e vacinação das crianças –Maria Vicencia Pugliesi2004


Maria Vicencia Pugliesi<strong>Vacinação</strong>: <strong>um</strong> <strong>outro</strong> <strong>olhar</strong>– Mães e vacinação das crianças –Dissertação <strong>de</strong> Mestradoapresentada à Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro –Núcleo <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> <strong>em</strong>Saú<strong>de</strong> <strong>Coletiva</strong> – paraobtenção do título <strong>de</strong> Mestre<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>Coletiva</strong>.Orientadores: Luiz FernandoRangel Tura e Maria <strong>de</strong>Fátima Siliansky <strong>de</strong>AndreazziRio <strong>de</strong> Janeiro2004


<strong>Vacinação</strong>: <strong>um</strong> <strong>outro</strong> <strong>olhar</strong> – Mães e vacinação das criançasMaria Vicencia PugliesiDissertação submetida ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>Coletiva</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro -UFRJ, aprovada pela Banca Examinadora composta pelosseguintes m<strong>em</strong>bros:Prof.a. Dra. Diana Maul <strong>de</strong> Carvalho – NESC / UFRJ (pres. dabanca)Prof.a. Dra. Márcia <strong>de</strong> Assunção Ferreira – EEAN / UFRJProf.a. Dra. Rosana Fiorini Puccini – EPM / UNIFESPProf.a. Dra. Ivany Bursztyn – NESC / UFRJ (suplente)Rio <strong>de</strong> Janeiro2004


.À Rosangela Gaze, pelo enorme espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, pela confiança eapoio. À professora Ivani Bursztyn e ao professor Jorge Prata pelo estímulo econvívio; ao conjunto dos colegas <strong>de</strong> turma, especialmente à Aline, Marco eVera e aos profissionais do NESC, pela solidarieda<strong>de</strong>, pelo incentivo e pelassugestões. Às colegas <strong>de</strong> turma anterior, Gisela, Luiza, Telma e Viviane peloestimulante convívio acadêmico.Ao José Augusto Pina, pelo companheirismo e amiza<strong>de</strong>, por todas ascontribuições, por sua constante atenção e apoio.Aos colegas da Associação <strong>de</strong> Pós-Graduação da UFRJ, <strong>em</strong> especial Ariane,Fernanda, Gustavo, Lúcio e Rodrigo, pelo incentivo e trabalho <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa dosdireitos dos alunos; pela vitória recente, mesmo que parcial, no reajuste dasbolsas.Ao Marcelo Herbst, pelo companheirismo e amiza<strong>de</strong>, pela colaboração nafinalização <strong>de</strong>ste trabalho.Aos funcionários do Centro Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Heitor Beltrão pela colaboraçãodurante o trabalho <strong>de</strong> campo: Genivalda, Elizabeth, Maria Lucia, Neusa,Marcelo, Maria <strong>de</strong> Jesus, Maria Helena, enfermeiras Ana Maria e Daize, daSala <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong>; Dayse, Fátima, Ivani, Rosangela, enfermeiras Telma eLeni, do serviço <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia; Terezinha e aos colegas Drs.Jerônimo, Flávia e Eneida, da Epi<strong>de</strong>miologia; Dr. França, da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>Programas; Dr. Celso, do Centro <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> e Dr. Teófilo Machado Ajuz,diretor do CMS, cuja atenção e abertura foi indispensável para a realização dotrabalho.A Joaquim Marçal F. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, da Divisão <strong>de</strong> Iconografia da BibliotecaNacional, pela atenção e profissionalismo.Aos caros amigos e amigas, pelo estímulo, amiza<strong>de</strong>, companheirismo e,l<strong>em</strong>brando o poeta Vinicius, pela simples razão <strong>de</strong> existir<strong>em</strong>: Anita Handfas,Cecília Coimbra, Diva Valente, Elizabeth da Costa, Elizabeth Silveira, MarcoAntonio Andreazzi, Nilza Andra<strong>de</strong>, Regina A. <strong>de</strong> Almeida Gomes, RosaTobinaga, Rosane Mendonça, Rui Valente, Solange Reis, Tatiana Farah,Valéria F. Carvalho, Victoria Grabois, Wellington Lima. Aos caros amigos,colegas no período <strong>de</strong> graduação na Escola Paulista <strong>de</strong> Medicina, pelaamiza<strong>de</strong>, companheirismo, carinho, apoio e pelo convívio naquele momento tãoespecial <strong>de</strong> nossas vidas: Daniel Klotzel, João L. Rosa, Nelza A. Shimidzu eRenato Nabas.À Glaura Pedroso e Márcia Guimarães pelas contribuições no início <strong>de</strong>stetrabalho.A todos aqueles que <strong>de</strong>senvolveram conhecimento a que este trabalho sereportou e que, assim, concorreram para a realização <strong>de</strong>sta dissertação.iv


SUMÁRIOLista <strong>de</strong> tabelas e quadros ................................................................................viRes<strong>um</strong>o..............................................................................................................viiiAbstract .............................................................................................................ix1. Introdução ..................................................................................................... 12. Referencial teórico ........................................................................................ 193. Objeto e objetivos ......................................................................................... 244. Procedimentos metodológicos ...................................................................... 255. Os sentidos da vacina .................................................................................. 326. Consi<strong>de</strong>rações finais .................................................................................... 627. Referências ................................................................................................... 728. Anexos .......................................................................................................... 80v


Tabela 19 - Gestantes e mães segundo motivos para levar os filhos à vacinação ..................... 56Tabela 20 - Gestantes e mães segundo a possibilida<strong>de</strong> do posto não oferecer a vacina .......... 57Tabela 21 - Gestantes e mães segundo conselho ou mensag<strong>em</strong> a outras mães ....................... 60Quadro 1 - Estrutura da representação social <strong>de</strong> vacina ............................................................ 38Quadro 2 - Teste <strong>de</strong> Questionamento ......................................................................................... 40Quadro 3 - Estrutura da representação social <strong>de</strong> vacina das multíparas .................................... 46Quadro 4 - Estrutura da representação social <strong>de</strong> vacina das nulíparas ...................................... 47vii


RESUMOA pesquisa procurou levantar os fatores envolvidos na significativaobservância das mães ao calendário vacinal do Programa Nacional <strong>de</strong>Imunizações, <strong>em</strong> nítido contraste com a reação da população do Rio <strong>de</strong> Janeiroà vacinação obrigatória contra a varíola há c<strong>em</strong> anos, que culminou na Revoltada Vacina. Com o suporte da abordag<strong>em</strong> estrutural das representações sociais,i<strong>de</strong>ntificou-se que atualmente as mães observadas neste estudo associamimunização essencialmente a “prevenção” e “proteção”. As percepções “bom”,“cuidado” e “responsabilida<strong>de</strong>” i<strong>de</strong>ntificadas no sist<strong>em</strong>a periférico darepresentação as impeliriam a concretizar no seu cotidiano estas cogniçõesadquiridas e, assim, garantir o c<strong>um</strong>primento do calendário vacinal. Constatousetambém que tais sentidos que atribu<strong>em</strong> à imunização guardam relaçãoestreita com o discurso acadêmico da Epi<strong>de</strong>miologia que caracteriza as ações<strong>de</strong> imunização enquanto ações <strong>de</strong> proteção específica, <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> prevençãoprimária <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nesse sentido, a experiência recente com a vacinação dascrianças no Brasil, com <strong>um</strong>a observância próxima a 90% alcançada <strong>em</strong> poucomais <strong>de</strong> duas décadas, indica que <strong>um</strong>a visão ativa e consciente dos benefíciosdas imunizações substituiu possíveis <strong>de</strong>sconhecimentos ou resistências porparte das mães <strong>em</strong> relação à vacinação. I<strong>de</strong>ntificou-se que <strong>um</strong> conjuntoespecífico <strong>de</strong> fatores políticos, econômicos, culturais, tecnológicos – nacionaise internacionais – estão envolvidos na oferta <strong>de</strong> imunobiológicos à re<strong>de</strong> <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> no país e contextualizam a atual observância ao calendário vacinal.Palavras-chave: vacinação, educação e saú<strong>de</strong>, representações sociaisviii


ABSTRACTThis work aimed survey the factors involved in the significant attendanceof mothers to the National Immunization Program vaccine calendar, incontrast to the reaction of the Rio <strong>de</strong> Janeiro population against the smallpox obligatory vaccination a century ago, culminating in the VaccineInsurrection. Using the structural approach of the social representations,it was i<strong>de</strong>ntified that the mothers and pregnant focused in this study mainlyassociate immunization to "prevention" and "protection". The perceptions"good", "care" and "responsibility" <strong>de</strong>tected in the representation peripheralsyst<strong>em</strong> would impel those mothers to incorporate into their quotidian theearned cognizance and, hence, to ensure their attendance to the vaccinecalendar. It was also evi<strong>de</strong>nced that the connotations that are attributedby the mothers to the immunization closely res<strong>em</strong>ble to the Epi<strong>de</strong>miologyaca<strong>de</strong>mic speech, which characterizes the immunization actions as specificprotection ones, at the level of el<strong>em</strong>entary health prevention. Thus, therecent experience of children vaccination in Brazil, which reached near 90%attendance in almost two <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, indicates that an active and consciousperception of the immunization benefits is able to substituteunacquaintance and opposition of mothers towards vaccination. It wasi<strong>de</strong>ntified that a set of specific political, economic, cultural,technological national and international factors are involved in theimmunobiological offers to the national health network, and are responsiblefor the observed attendance to the vaccine calendar.Key-words: vaccination, health and education, social representations.Ix


INTRODUÇÃOA vacinação, particularmente <strong>de</strong> lactentes e <strong>de</strong> crianças na primeirainfância, v<strong>em</strong> se constituindo <strong>em</strong> relevante ação <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> doençasinfecto-contagiosas, que n<strong>um</strong> passado recente levavam ao óbito e a gravesseqüelas milhares, e mesmo milhões, <strong>de</strong> crianças no Brasil e no mundo.Porém, ainda cerca <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong> crianças morr<strong>em</strong> anualmente pordoenças evitáveis (WHO, 2002) com <strong>um</strong>a a três doses <strong>de</strong> vacinas.O calendário vacinal é dinâmico e condicionado por fatores individuais eepi<strong>de</strong>miológicos (Carvalho e Weckx, 1999), além dos relativos ao<strong>de</strong>senvolvimento científico e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m econômica (Ga<strong>de</strong>lha e T<strong>em</strong>porão,1999). Assim, além das vacinas implantadas inicialmente pelo ProgramaNacional <strong>de</strong> Imunização (PNI), outras foram progressivamente agregadas.Atualmente faz<strong>em</strong> parte do calendário básico (Anexo 1) <strong>de</strong> imunização dacriança (Brasil, 2001a) vacinas contra poliomielite, sarampo, tétano, difteria,coqueluche, rubéola, cax<strong>um</strong>ba, contra formas graves <strong>de</strong> tuberculose e tambémforam introduzidas vacinas contra hepatite B e contra Ha<strong>em</strong>ophilus influenzaetipo B 1 .No Brasil, as ações <strong>de</strong> vacinação, institucionalizadas no ProgramaNacional <strong>de</strong> Imunizações (PNI), têm sido recent<strong>em</strong>ente incorporadas à culturapopular dos cuidados referentes à saú<strong>de</strong> das crianças (Correia e MacAuliffe,1999).No Rio <strong>de</strong> Janeiro, no início do século XX, a situação era b<strong>em</strong> outra. Otraço autoritário, que marcou diversas diretrizes do governo Rodrigues Alves,1 Em áreas endêmicas no país, e aos que viajam para elas, está indicada a imunização contra febreamarela, disponível na re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Vacinas contra raiva, influenza, contra meningogocos A , Be C; contra febre tifói<strong>de</strong>; pne<strong>um</strong>onia, estão indicadas para situações específicas (Brasil, 2001b). Alg<strong>um</strong>asvacinas como contra hepatite A, varicela, pne<strong>um</strong>onia, influenza são disponibilizadas na re<strong>de</strong> privada, acustos pouco acessíveis à maioria da população.


entre elas a vacinação <strong>em</strong> massa contra a varíola, provocou na população <strong>um</strong>sentimento <strong>de</strong> indignação que culminou na “Revolta da Vacina”, <strong>em</strong> 1904.Sevcenko (2001) assinala que:A constituição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> predominant<strong>em</strong>ente urbanizada e <strong>de</strong> forteteor burguês no início da fase republicana, resultado do enquadramento doBrasil nos termos da nova or<strong>de</strong>m econômica mundial instaurada pelaRevolução Científico-Tecnológica (por volta <strong>de</strong> 1870), foi acompanhada <strong>de</strong>movimentos convulsivos e crises tra<strong>um</strong>áticas, cuja solução convergiuinsistent<strong>em</strong>ente para <strong>um</strong> sacrifício cruciante dos grupos populares (p.9-10).Tratava-se <strong>de</strong> tornar a cida<strong>de</strong> <strong>um</strong> ambiente salubre para <strong>de</strong>terminadosetor da população (Chalhoub, 2001). O Rio <strong>de</strong> Janeiro ficou conhecido como o“túmulo dos estrangeiros” e, para <strong>um</strong>a economia voltada para o comércioexterior que agora <strong>de</strong>pendia da mão-<strong>de</strong>-obra <strong>de</strong> imigrantes (Carvalho, 2002),<strong>de</strong> ruas alargadas para a circulação e o escoamento <strong>de</strong> mercadorias até oporto, <strong>de</strong>terminadas medidas administrativas haviam <strong>de</strong> ser impl<strong>em</strong>entadas,mesmo que a ferro e fogo. Entre estas, a reurbanização da cida<strong>de</strong>, com a<strong>de</strong>molição <strong>de</strong> cortiços e conseqüente afastamento da população mais pobrepara bairros periféricos (e também para morros e mangues), medida quefavoreceria construtoras a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lar<strong>em</strong> o centro da cida<strong>de</strong> com <strong>um</strong> boom <strong>de</strong>novas edificações. Por <strong>outro</strong> lado, ações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública, que naquel<strong>em</strong>omento coibiss<strong>em</strong> principalmente as epi<strong>de</strong>mias que atingiam a populaçãobranca, como as <strong>de</strong> febre amarela e varíola. Chalhoub (2001) observa queOs cortiços supostamente geravam e nutriam “o veneno” causador do vômitopreto. Era preciso, dizia-se, intervir radicalmente na cida<strong>de</strong> para eliminar taishabitações coletivas e afastar do centro da capital as “classes perigosas”que nele residiam. Classes duplamente perigosas, porque propagavam adoença e <strong>de</strong>safiavam as políticas <strong>de</strong> controle social no meio urbano (p. 8).É patente que havia entre aqueles reformadores os que se moviam pelo<strong>em</strong>penho e sinceras convicções <strong>em</strong> <strong>de</strong>belar os flagelos h<strong>um</strong>anos. OswaldoCruz, com a vitoriosa campanha contra a febre amarela, foi <strong>um</strong> caso ex<strong>em</strong>plar.Porém, é interessante notar, como aponta Chalhoub (2001), que mesmo aoalegar <strong>um</strong>a visão neutra das questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, extraordinários esforços forammobilizados pela administração pública para coibir alg<strong>um</strong>as doenças e nãooutras.A tuberculose, que atingia <strong>de</strong> forma importante a população pobre enegra, i<strong>de</strong>ntificada pelos médicos como <strong>um</strong>a doença ligada às péssimas


condições <strong>de</strong> nutrição, <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho era responsável por mais mortesdo que outras doenças epidêmicas do período. Mesmo assim, <strong>de</strong>cisõespolíticas que envolviam a reurbanização, o saneamento da cida<strong>de</strong>, nãoestavam comprometidas com a melhoria das condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>para gran<strong>de</strong> parte da população – pobre – da cida<strong>de</strong>. E até meados do séculoXX, a tuberculose seria <strong>um</strong> fator <strong>de</strong> “seleção natural dos mais aptos aomercado <strong>de</strong> trabalho” (Silva, 1999, p. 458).Critérios diferenciados pelo peso <strong>de</strong> vários fatores e interesses <strong>em</strong> jogocontinuam a existir <strong>em</strong> nossos dias no momento da tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobreinvestimentos para o combate a <strong>um</strong>a ou outra doença, que ating<strong>em</strong> amplasparcelas <strong>de</strong> população.Garrafa (2002) ressalta que “o <strong>de</strong>senvolvimento científico e tecnológicot<strong>em</strong> sido amargamente exclu<strong>de</strong>nte” (p.3). Ao se r<strong>em</strong>eter aos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>pesquisa <strong>em</strong> malária e AIDS, <strong>de</strong>staca que, mesmo com o fato <strong>de</strong> as duasdoenças ter<strong>em</strong> causado igual número <strong>de</strong> óbitos – dois milhões <strong>de</strong> pessoas <strong>em</strong>1999, os investimentos <strong>em</strong> pesquisa com malária tiveram o equivalente a 2%do que foi <strong>de</strong>stinado à AIDS naquele ano.E <strong>em</strong> relação à AIDS, no início da epi<strong>de</strong>mia, como esclarece Quadros 2(Salgado, 2003), maiores aportes <strong>de</strong> recursos foram <strong>de</strong>stinados a trabalhos <strong>de</strong>pesquisa <strong>de</strong> drogas terapêuticas,à busca <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cura, pois as drogas são mais lucrativas do que as vacinas.As vacinas representam apenas cerca <strong>de</strong> 5% <strong>de</strong> todo o mercadofarmacêutico mundial. É por isso que exist<strong>em</strong> tão poucos fabricantes <strong>de</strong>vacinas. No início da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> AIDS, <strong>de</strong> todos os recursos investidos naluta contra a doença, apenas cerca <strong>de</strong> 1 a 2% foram <strong>de</strong>stinados à pesquisa<strong>de</strong> vacinas. Hoje isso está mudando, e vários testes vêm sendo realizadospara aperfeiçoar <strong>um</strong>a vacina contra o HIV. (p.141)Portanto, comparado ao <strong>de</strong> medicamentos, o mercado <strong>de</strong> vacinas ésensivelmente mais restrito <strong>em</strong>bora não <strong>de</strong>sprezível pelo vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> itensenvolvidos, potencial <strong>de</strong> crescimento, pelos avanços tecnológicos que vêmsendo incorporados ao setor, assim como pela sua relevância na redução <strong>de</strong>morbimortalida<strong>de</strong> (T<strong>em</strong>porão, 2003). Conforme dados do autor, <strong>em</strong> artigo sobreo mercado privado <strong>de</strong> vacinas no Brasil enquanto o mercado mundial <strong>de</strong>2 Ex-diretor da Divisão <strong>de</strong> Vacinas e Imunização da Organização Pan-Americana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.


medicamentos girou <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 300 bilhões <strong>de</strong> dólares, o <strong>de</strong> vacina envolveusete bilhões <strong>de</strong> dólares <strong>em</strong> 2000.A varíola – primeira doença infecto-contagiosa a ser erradicada nomundo por meio <strong>de</strong> imunização – teve <strong>um</strong>a longa e larga história <strong>de</strong> vítimas,inclusive no Brasil on<strong>de</strong> adquiriu relevância histórica com a Revolta da Vacina<strong>de</strong> 1904.Em todo o mundo, a varíola acometeu, marcou e dizimou populações <strong>em</strong>vários períodos da história do hom<strong>em</strong>, acompanhando seus <strong>de</strong>slocamentos naTerra (Gazeta, 2001). No Rio, <strong>em</strong> fins do século XIX e início do século XX,eram gran<strong>de</strong>s as epi<strong>de</strong>mias, atingindo significativos segmentos da população. 3Os sinais que a “bexiga” imprimia à aparência <strong>de</strong> alguns doentes eramperenes, marcando a vida daqueles acometidos pela doença e foram comunsaté meados do século XX. A varíola era consi<strong>de</strong>rada <strong>um</strong>a das doenças maiscontagiosas e perigosas. Apresentava-se sob duas formas: varíola major, quese manifestava com <strong>um</strong> quadro clínico severo e <strong>um</strong> índice <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong>elevado, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20%, e a varíola menor, <strong>um</strong>a forma consi<strong>de</strong>rada benigna,com índice <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1%. No Brasil, a sinonímia para a forma major era“bexiga” e para a menor “varicela” (Veronesi, 1991, p.55).A sabedoria popular, difundida entre as camponesas do interior daInglaterra, afiançava que as pessoas que or<strong>de</strong>nhavam vacas não contraíamvaríola. Este saber constituiu-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>ento essencial para a instituição daprimeira vacina no mundo, introduzida pelo médico inglês Edward Jenner <strong>em</strong>fins do século XVIII.Jenner interessou-se por tal pr<strong>em</strong>issa da cultura popular dascamponesas. Observou o fenômeno e, <strong>em</strong> 1796, realizou inoculações com omaterial das pápulas da cow pox, doença eruptiva, s<strong>em</strong>elhante à varíola queacometia o gado da região. Pô<strong>de</strong> constatar que era verda<strong>de</strong>ira a convicção <strong>de</strong>que os indivíduos expostos ao material das lesões não apresentariam a3Um personag<strong>em</strong> magistral da cultura popular brasileira, Alfredo da Rocha Vianna Júnior, revelava amarca da varíola não só no s<strong>em</strong>blante como também no apelido, pelo qual ficou conhecido e imortalizado:Pixinguinha. Diz a lenda que a avó o chamava por Pizindim; <strong>de</strong>pois da doença viria Bexiguento, mas foi a“mistura” Pixinguinha o que “pegou”. Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> registra a presença do mestre na cena carioca,criando <strong>em</strong> seu livro “Macunaíma”, <strong>um</strong> personag<strong>em</strong> que também é i<strong>de</strong>ntificado pela marca da doença:“<strong>um</strong> negrão filho <strong>de</strong> Og<strong>um</strong>, bexiguento e fadista <strong>de</strong> profissão” (Andra<strong>de</strong>, 1988). A passag<strong>em</strong> se dá quandoo “herói s<strong>em</strong> nenh<strong>um</strong> caráter” freqüenta <strong>um</strong>a “mac<strong>um</strong>ba” <strong>em</strong> casa <strong>de</strong> tia Ciata. A caracterização <strong>de</strong> Mário<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> ficou difundida através da biografia <strong>de</strong> Pixinguinha elaborada por Marilia T. Barboza da Silvae Arthur L. <strong>de</strong> Oliveira Filho: “Filho <strong>de</strong> Og<strong>um</strong> Bexiguento” (1979).


doença. Verificou que não adoeciam, mesmo se inoculadas posteriormentecom o vírus da varíola. Publicou suas observações e, mesmo <strong>em</strong> face <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>as polêmicas 4 , a prática da “vacinação” se alastrou pelo mundo (Rosen,1994).Posteriormente, <strong>em</strong> finais do século XIX, Pasteur, <strong>em</strong> seus estudos –inicialmente sobre o cólera <strong>em</strong> galinhas – <strong>de</strong>senvolveu mais profundamente osconhecimentos acerca dos mecanismos da imunização (Rosen, 1994). E, <strong>em</strong>1885, ao <strong>de</strong>scobrir <strong>um</strong> imunizante contra a raiva, ratificou o termo vacina, dolatim vaccina, “<strong>de</strong> vaca” (Ferreira, 1999), <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> a Jenner.A vacina contra a varíola foi introduzida no Brasil no início do século XIX;entretanto, <strong>em</strong> 1904, <strong>um</strong>a nova lei recolocou a sua obrigatorieda<strong>de</strong>. Lei queprevia alg<strong>um</strong>as exigências: o “atestado <strong>de</strong> vacina” era requisitado <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>buscasse <strong>em</strong>prego público, <strong>em</strong>prego doméstico, ou <strong>em</strong> fábricas. Sanções,como multas, também po<strong>de</strong>riam ser aplicadas aos que <strong>de</strong>sc<strong>um</strong>priss<strong>em</strong> a lei(Carvalho, 1987).Muito mais antiga era a prática <strong>de</strong> variolização. Des<strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos r<strong>em</strong>otos,chineses e hindus retiravam secreção das vesículas <strong>de</strong> alguns doentes parainocular pessoas sãs, como forma <strong>de</strong> prevenir a doença. Porém esta prática,por <strong>outro</strong> lado, contribuía para a diss<strong>em</strong>inação <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as moléstias, como asífilis. A variolização era exercida no Brasil, no século XIX, por “práticos”, por“curan<strong>de</strong>iros” negros, inclusive durante os rituais do candomblé.Para muitos, a doença era provocada por divinda<strong>de</strong>s; o tratamento,portanto, caberia aos curan<strong>de</strong>iros e não à administração pública. Este foi mais<strong>um</strong> dos entraves à aceitação da vacinação <strong>em</strong> massa contra a varíola. NoBrasil, <strong>em</strong> finais do século XIX e início do século XX, o conflito entre o discursohigienista e as práticas populares <strong>de</strong> cuidados com a saú<strong>de</strong> se intensificaramcom a obrigatorieda<strong>de</strong> da vacina.Assim, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1904, durante <strong>um</strong>a s<strong>em</strong>ana, a cida<strong>de</strong> ficouconflagrada, com verda<strong>de</strong>iras batalhas campais (Anexo 3). No dia 13, <strong>em</strong> meioa tiroteios, combates <strong>de</strong> rua, 22 bon<strong>de</strong>s foram <strong>de</strong>struídos, mais <strong>de</strong> 1004 Entre elas, a versão <strong>de</strong> que as pessoas inoculadas com material das lesões <strong>de</strong> gado po<strong>de</strong>riam sofrer <strong>um</strong>processo <strong>de</strong> “vacalização” ou “minotaurização” (ilustração no Anexo 2). No século XIX, alg<strong>um</strong>ascamponesas francesas se recusavam a imunizar os filhos porque estes, ao contrair a doença, po<strong>de</strong>riamestar livres da convocação à guerra.


combustores da il<strong>um</strong>inação danificados e 700 inutilizados. Tropas <strong>de</strong> SãoPaulo e Minas foram convocadas para auxiliar<strong>em</strong> a <strong>de</strong>belar o movimento(Carvalho, 1987).Foi <strong>um</strong>a revolta fragmentada, palco <strong>de</strong> vários <strong>em</strong>bates. Oficiais militares,positivistas, inconformados com os “<strong>de</strong>scaminhos” da jov<strong>em</strong> República,financiados por monarquistas, tentaram assaltar o po<strong>de</strong>r e jogaram lenha nainsatisfação popular, que fugiu ao seu “comando”, ass<strong>um</strong>indo formasespontâneas <strong>de</strong> luta. Locatários prejudicados com a sanha <strong>de</strong>molidora doprefeito Pereira Passos, o “Bota-Abaixo”, que interessou, <strong>de</strong> forma muitoespecial, aos grupos <strong>de</strong> construtoras. O acirramento da atuação do po<strong>de</strong>rpúblico, alicerçada na i<strong>de</strong>ologia dos higienistas, contra as práticas econcepções populares sobre doença e cura (Chalhoub, 2001). Um conjunto <strong>de</strong>contradições que se mostrou explosivo naquele momento e que t<strong>em</strong> sido t<strong>em</strong>a<strong>de</strong> cativantes textos <strong>de</strong> historiadores brasileiros 5 .Após a revolta, com punição severa aos manifestantes das classespopulares, o governo brasileiro suspen<strong>de</strong> a obrigatorieda<strong>de</strong> da vacina.A varíola, internacionalmente, seria erradicada <strong>em</strong> finais da década <strong>de</strong>1970 6 . Em alg<strong>um</strong>as áreas rurais da África oci<strong>de</strong>ntal, on<strong>de</strong> ainda na década <strong>de</strong>1960 a prática da variolização era corrente e realizada por religiosos,fetichistas, as equipes da OMS encontraram enormes dificulda<strong>de</strong>s nas ações<strong>de</strong> vacinação. Lograram êxito quando <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> recorrer às autorida<strong>de</strong>spoliciais e conseguiram convencer as li<strong>de</strong>ranças religiosas dos benefícios davacinação (Chalhoub, 2001).Simoes (1997) assinala que “a experiência com a varíola mostrou que aerradicação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a doença é possível quando é atingida e mantida amplacobertura com <strong>um</strong>a vacina eficaz” (p. 196).A atual ênfase, portanto, nas ações envolvendo a vacinação e o<strong>em</strong>penho com a erradicação <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as doenças imunopreveníveis têm sidocolocados não somente no sentido <strong>de</strong> minorar o sofrimento e mesmo a morte5 No início do século XX, a Revolta obteve da historiografia da época <strong>um</strong>a versão limitada e distorcida,reduzida “a <strong>um</strong> choque entre as massas incivilizadas e brutas, açuladas por espíritos retrógrados eignorantes, contra a imposição irreversível da ciência e do progresso” (Benchimol, 1992, p.299).6 Os últimos casos da doença foram verificados <strong>em</strong> 1977, a OMS consi<strong>de</strong>rou-a erradicada <strong>em</strong> 1980(Brasil, 1993).


<strong>de</strong> crianças <strong>em</strong> países periféricos, on<strong>de</strong> até hoje há índices <strong>de</strong> vacinação<strong>de</strong>siguais <strong>em</strong> relação aos alcançados <strong>em</strong> países centrais. As ações,preconizadas e coor<strong>de</strong>nadas <strong>em</strong> âmbito internacional, são <strong>de</strong>fendidas tambémpara que sejam garantidos, estrategicamente, o controle e a erradicação <strong>de</strong>stasdoenças nas populações dos países centrais, que po<strong>de</strong>m se tornar suscetíveis<strong>em</strong> face <strong>de</strong> fatores como <strong>em</strong>igração, migração, viagens, convívio social, etc.Jekel (1999) consi<strong>de</strong>ra queos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> vigilância para alcançar a erradicação ou a eliminaçãoregional <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser excelentes e qualquer programa <strong>de</strong> erradicação oueliminação necessitaria consi<strong>de</strong>ravelmente <strong>de</strong> mais recursos e t<strong>em</strong>po, b<strong>em</strong>como <strong>um</strong>a política geral e <strong>um</strong> apoio popular, do que necessitaria <strong>de</strong> <strong>um</strong>programa <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> doenças. (p.231)Outros dados significativos são apresentados por Simoes (1997) queapontam para índices <strong>de</strong> vacinação diferenciados para diferentes estratos dapopulação, mesmo <strong>em</strong> <strong>um</strong> país central, como os EUA. Ali, níveis <strong>de</strong> cobertura<strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> crianças próximos a 97-98% são atingidos quando estasingressam na escola. Porém, o autor afirma que “até 37% a 56% dos 7,8milhões <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> dois anos naquele país não são totalmente imunizadas”(p. 196). Para <strong>de</strong>terminados grupos sociais, como as camadas mais pobres e<strong>de</strong>terminados grupos raciais e étnicos, ainda segundo o autor, existe <strong>um</strong>adificulda<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e no caso, também àsimunizações, que <strong>em</strong> alguns casos estão disponíveis por <strong>um</strong> “preço mínimo”(p.197).Os baixos níveis <strong>de</strong> imunização <strong>em</strong> crianças pré-escolares nos EUAimplicaram no estabelecimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> programa especial <strong>de</strong> vacinação paraaten<strong>de</strong>r crianças <strong>em</strong> locais privados <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>, incluindo índiosamericanos, crianças no Medicaid e aquelas que não contam com segurosaú<strong>de</strong>para cobrir imunizações (Jekel, 1999; Pereira, 2003).Os índices <strong>de</strong> cobertura vacinal já foram <strong>de</strong>stacados entre aquelesconsi<strong>de</strong>rados para a avaliação das condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> infantil. Rugolo et al.(1990) analisaram <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> infantil <strong>em</strong> 30 países,caracterizando quatro grupos.Nesse estudo, G1 abrangia 18 países com satisfatória condição <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> infantil. Eram países predominant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>senvolvidos, com <strong>de</strong>staque


para os europeus e o Japão. Os EUA estavam situados isoladamente nessegrupo <strong>de</strong>vido a seus baixos índices <strong>de</strong> vacinação. O Brasil encontrava-se <strong>em</strong>G2, que junto com G3 eram os grupos intermediários. Os <strong>de</strong> piores condiçõeseconômicas e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> infantil formavam o G4, compaíses como a Bolívia, Camarões, República Centro Africana, Paquistão, Índiae Bangla<strong>de</strong>sh.Os custos envolvidos com a prevenção <strong>de</strong> doenças imunopreveníveissão consi<strong>de</strong>rados relativamente baixos e <strong>de</strong> enorme impacto no<strong>de</strong>senvolvimento infantil se comparados a gastos com tratamentos dasseqüelas <strong>de</strong>ssas doenças. Em relatório do Banco Mundial (1993, p.22) foiavaliado queCálculos feitos para as Américas antes da erradicação da pólio na regiãomostraram que <strong>um</strong> investimento <strong>de</strong> US$ 220 milhões <strong>em</strong> 15 anos paraeliminar a doença evitaria 220 mil casos e representaria <strong>um</strong>a economia <strong>de</strong>US$ 320 milhões a US$ 1,3 bilhão nos gastos com tratamento (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndodo número <strong>de</strong> pessoas tratadas).Na gestão dos recursos <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, conseqüent<strong>em</strong>ente, é levado <strong>em</strong>consi<strong>de</strong>ração o fato <strong>de</strong> que muitas doenças, evitáveis com poucas doses <strong>de</strong>vacinas, originam com suas seqüelas gastos <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dólares, além dasperdas relativas à freqüência na escola e queda da produtivida<strong>de</strong>.No mesmo doc<strong>um</strong>ento (Banco Mundial, 1993), os custos estimados são“inferiores a US$ 10 por AVAI 7 ganho” <strong>em</strong> relação à imunização contra osarampo e “menos <strong>de</strong> US$ 25” para a combinação <strong>de</strong> vacina antipoliomielite ea DPT, contra difteria, tétano e coqueluche (p.77). Como explicita literalmente orelatório, “os gastos <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> também se justificam <strong>em</strong> termos puramenteeconômicos” (p. 19).Há, portanto e efetivamente, interesse expresso através <strong>de</strong> fóruns eorganismos internacionais, como OPAS, OMS, UNICEF 8 , Banco Mundial, noplanejamento <strong>de</strong> ações coor<strong>de</strong>nadas internacionalmente para que se ampli<strong>em</strong>as ações <strong>de</strong> vacinação.7 Anos <strong>de</strong> Vida Ajustados por Incapacida<strong>de</strong>, indicador que “agrega medidas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e morbida<strong>de</strong><strong>em</strong> <strong>um</strong> único valor, calculado pela soma dos anos <strong>de</strong> vida perdidos <strong>em</strong> função das mortes pr<strong>em</strong>aturas edos anos <strong>de</strong> vida com alg<strong>um</strong>a incapacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não fatais”. (Rouquayrol, 2003,p.651)8 OPAS:Organização Pan-Americana da Saú<strong>de</strong>; OMS: Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; Unicef: Fundo dasNações Unidas para a Infância.


Em 1974, foi aprovado na Ass<strong>em</strong>bléia Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> o PAI –Programa Ampliado <strong>de</strong> Imunização (Expan<strong>de</strong>d Programan on Imunization –EPI) que visava à cooperação da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> erepresentantes governamentais <strong>de</strong> programas nacionais <strong>de</strong> imunização, comênfase na vigilância e monitorização dos níveis <strong>de</strong> imunização dos paísesm<strong>em</strong>bros (Jekel, 1999).No Brasil, como <strong>em</strong> diversos países da América Latina, as ações <strong>de</strong>imunização são <strong>de</strong>senvolvidas através <strong>de</strong> Programas Nacionais <strong>de</strong>Imunizações que, além da vacinação <strong>de</strong> rotina (Todo dia é dia <strong>de</strong> vacina),inclu<strong>em</strong> campanhas nacionais <strong>de</strong> imunização, que se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> momentos<strong>de</strong> mobilização mais geral da socieda<strong>de</strong>.O Brasil recebeu da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1973, oCertificado <strong>de</strong> Erradicação da Varíola e toda a mobilização institucional, políticae técnica, con<strong>de</strong>nsadas no sucesso da campanha <strong>de</strong> erradicação envolveram oprocesso <strong>de</strong> implantação do PNI (T<strong>em</strong>porão, 2003). O PNI, formulado no Brasil<strong>em</strong> 1973 9 por técnicos do Ministério da Saú<strong>de</strong>, sanitaristas e infectologistas(Brasil, 2004) tinha com objetivo <strong>de</strong> controlar doenças como o sarampo,tuberculose, difteria, tétano coqueluche e poliomielite, além <strong>de</strong> mantererradicada a varíola e, assim, contribuiria para a queda da mortalida<strong>de</strong> infantil.Entre os <strong>de</strong>safios para a sua impl<strong>em</strong>entação, levantados pelo Ministério daSaú<strong>de</strong> à época, estava o <strong>de</strong> “promover a educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> para a<strong>um</strong>entar areceptivida<strong>de</strong> da população aos programas <strong>de</strong> vacinação” (Benchimol, 2001,p.320).O PNI que, portanto, prece<strong>de</strong>u o Programa Ampliado <strong>de</strong> Imunização daOPAS foi impl<strong>em</strong>entado progressivamente. Em 1980, quando ainda seobservavam epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> vulto <strong>de</strong> poliomielite (3.205 casos notificados <strong>em</strong>9 No país, o governo Médici. Um dos filmes do programa, veiculado na televisão e <strong>em</strong> cin<strong>em</strong>as(Benchimol, 2001), trazia personagens como o Dr. Prevenildo que estimulava Sugismundo a se vacinar.Este se recusava, alegando não estar doente.“Dr. Prevenildo: Pois é por estar sadio que você precisa se vacinar. A vacina é <strong>um</strong> preparadoque protege contra as doenças. Quando seu filho recebe <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> vacina, o líquido estimulaas <strong>de</strong>fesas naturais do organismo, tornando-as muito mais fortes para combater os germenscausadores da doença.Sugismundo pai: Pôxa... é isso que a vacina faz?”Ao final o narrador alertava:“- Atenção! A partir <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong> julho a vacinação é obrigatória no Brasil. Se o seufilho não for vacinado até completar <strong>um</strong> ano, per<strong>de</strong>rá o direito ao salário família até o momentoque o senhor o vacine e apresente o atestado instituído por lei. O Brasil é feito por nós.”


1979), foram lançados os Dias Nacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> contra a doença.Houve <strong>um</strong> <strong>de</strong>clínio acentuado anos <strong>de</strong>pois, mas novas epi<strong>de</strong>mias ressurgiam.Na OPAS, novas diretrizes ambicionavam a erradicação da doença nasAméricas:O ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Cuba e dos países do leste europeu, que tinham livrado suaspopulações da pólio, e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização revelada pelosbrasileiros nos dias nacionais <strong>de</strong> vacinação mostravam que era possívelatingir aquela meta (Benchimol, 2001, p.353).Ainda segundo o autor, <strong>em</strong> meio a controvérsias com setores médicos esanitaristas que <strong>de</strong>monstraram oposição à política <strong>de</strong> imunização adotada,consi<strong>de</strong>rada autoritária, centralizada e verticalizada, e que <strong>de</strong>sviaria recursosda atenção primária à saú<strong>de</strong>, o Brasil alcança a erradicação da poliomielite <strong>em</strong>1994. A OPAS promoveu, entre 1992 e 1995, <strong>um</strong>a investigação comintelectuais contrários a essa política <strong>de</strong> imunização para avaliar os impactosdo PAI, presidida por <strong>um</strong> dos relatores da <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Alma Ata (1978) 10 . Acomissão Taylor, até para surpresa <strong>de</strong> seus integrantes, concluiu que osprogramas <strong>de</strong> imunização tinham contribuído para o fortalecimento dossist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e difundido na socieda<strong>de</strong> a “cultura da prevenção” (p.356).Campanhas <strong>de</strong> erradicação <strong>de</strong> doenças como a varíola e a poliomieliteconcorreriam, por <strong>outro</strong> lado, para a consolidação <strong>de</strong> <strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> vigilânciaepi<strong>de</strong>miológica no país (Carvalho, 2001).O PNI integra hoje o Programa Ampliado <strong>de</strong> Imunizações da OMS econta com apoio técnico, operacional e financeiro do Unicef e contribuições doRotary Internacional e do PNUD (Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento). É gerenciado pela Coor<strong>de</strong>nação-Geral do ProgramaNacional <strong>de</strong> Imunizações da Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> (Brasil, 2001c).No Brasil, segundo dados <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>ento do Ministério da Fazenda(Brasil, 2003a), os gastos com saú<strong>de</strong> foram da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 23,25 bilhões <strong>em</strong>2001 (cerca <strong>de</strong> 1,9% do PIB) e <strong>de</strong> R$ 26,38 bilhões <strong>em</strong> 2002, equivalentes a2,0% do PIB. Na especificação dos valores, os relativos a vacinas estãoagrupados aos gastos com medicamentos (it<strong>em</strong> D – Medicamentos e Vacinas,p.31) e foram da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 779,8 milhões e R$ 1.103,2 milhões, <strong>em</strong> 2001 e10 A Conferência, realizada <strong>em</strong> 1978, teve como l<strong>em</strong>a “Saú<strong>de</strong> para todos” e ressaltou enfaticamente aimportância e sist<strong>em</strong>atizou ações <strong>de</strong> Atenção Primária à Saú<strong>de</strong>.


2002, respectivamente, que representam cerca <strong>de</strong> 3,4 e 4,2% do total dosgastos com saú<strong>de</strong> naqueles períodos. Os gastos da União com vacinasrepresentam, assim, <strong>um</strong>a parte <strong>de</strong>ssa pequena percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> gastos <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> 11 .As vacinas aplicadas pelo PNI são fornecidas por laboratórios nacionaise estrangeiros 12 . Em meados da década <strong>de</strong> 1980 foi criado o Programa <strong>de</strong>Auto-suficiência Nacional <strong>em</strong> Imunobiológicos (PASNI) que se propunha asuperar as importações <strong>de</strong> vacinas <strong>em</strong> 1990, meta ainda não atingida.A oferta <strong>de</strong> vacinas no país, <strong>um</strong> espaço classicamente <strong>de</strong> abrangênciado setor estatal, v<strong>em</strong> crescent<strong>em</strong>ente sendo invadido pelo setor privado, quepassa a ter <strong>um</strong>a nova dinâmica a partir do licenciamento <strong>em</strong> 1986 da vacinacontra hepatite B, <strong>de</strong>senvolvida por engenharia genética. A própria instituiçãodo PNI e o crédito que a imunização alcançou junto à população contribuírampara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse setor. Vacinas são disponibilizadas <strong>em</strong> clínicasparticulares a preços acessíveis apenas a <strong>um</strong>a pequena parcela da população,criando <strong>um</strong> acesso diferenciado a vacinas mo<strong>de</strong>rnas 13 . É interessante ressaltarque do mercado total <strong>de</strong> vacinas, <strong>em</strong> 2000, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 396 milhões <strong>de</strong> reais, oseguimento privado teve <strong>um</strong>a participação <strong>de</strong> 43%, porém com <strong>um</strong>a coberturab<strong>em</strong> inferior à do PNI. Os vol<strong>um</strong>es mobilizados nos dois setores ten<strong>de</strong>m a seaproximar <strong>em</strong> vista dos preços praticados pelo mercado privado <strong>de</strong> vacinas.(T<strong>em</strong>porão, 2003)Quanto à cobertura vacinal, segundo a OPAS (1998), o Brasil apresentaexpressiva porcentag<strong>em</strong> (86,97%) <strong>de</strong> municípios com cobertura contrapoliomielite maior ou igual a 80%. É superado, na América Latina e Caribe, porCuba (100%), Belize (100%), México (99,58%) e Uruguai (97,58).11 Segundo dados do PNI, os investimentos da União com imunobiológicos <strong>em</strong> 2000 foram <strong>de</strong> R$ 234milhões (Brasil, 2001d)12 Os principais laboratórios nacionais que compõ<strong>em</strong> o PASNI são Biomanguinhos/Fiocruz, <strong>Instituto</strong>Butantã, <strong>Instituto</strong> <strong>de</strong> Tecnologia do Paraná, Fundação Ataulfo <strong>de</strong> Paiva, <strong>Instituto</strong> Vital Brasil e FundaçãoEzequiel Dias. Segundo Ga<strong>de</strong>lha e T<strong>em</strong>porão (1999), a indústria internacional <strong>de</strong> vacinas po<strong>de</strong> sercaracterizada como <strong>um</strong> oligopólio e, a partir do sucesso alcançado com a vacina contra hepatite B, “alógica <strong>em</strong>presarial passou a se inserir na área <strong>de</strong> forma dominante” (p.21).13 Para crianças, a vacina contra hepatite B, <strong>em</strong> clínicas particulares no Rio <strong>de</strong> Janeiro, custa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>R$ 45 a R$ 55 cada dose (n<strong>um</strong> total <strong>de</strong> três doses); a vacina contra hepatite A custa entre R$ 70 e R$ 85cada dose (são necessárias duas doses); contra pne<strong>um</strong>oco, entre R$ 270 e R$ 280 (para crianças atédois anos são necessárias duas doses, acima <strong>de</strong> dois anos <strong>um</strong>a dose); a vacina contra influenza custa<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> R$ 28 a R$ 35 a dose (para crianças são necessárias duas doses) e contra varicela, <strong>em</strong> doseúnica, o preço fica aproximadamente entre R$ 120 e R$ 125. Dados obtidos através <strong>de</strong> contato telefônicoda pesquisadora com clínicas privadas <strong>de</strong> imunização na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, junho <strong>de</strong> 2004.


Internacionalmente, duas doenças encontram-se praticamenteerradicadas: varíola e poliomielite. Porém, ainda <strong>em</strong> 2003, a poliomielitepersistia sob forma <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mia <strong>em</strong> sete países (Salgado, 2003) 14 . No Brasil,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1973, a varíola e, mais recent<strong>em</strong>ente – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994, segundo oCertificado <strong>de</strong> Erradicação concedido pela OMS, a poliomielite encontram-seerradicadas (Brasil, 2003b). Porém, dada a transmissão via fecal-oral 15 dapoliomielite e as ainda precárias condições <strong>de</strong> saneamento básico no país, ascoberturas vacinais antipólio <strong>de</strong>v<strong>em</strong> manter-se elevadas (Correia e MacAuliffe,1999). Busca-se, atualmente, a erradicação do sarampo: há três anos nenh<strong>um</strong>caso da doença foi notificado (Brasil, 2001d).Segundo dados do Programa Nacional <strong>de</strong> Imunizações, enquanto que,<strong>em</strong> 1978, a cobertura vacinal no Brasil atingia apenas cerca <strong>de</strong> 40% dascrianças; <strong>em</strong> 1999, a cobertura <strong>em</strong> menores <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano chegou a índicespróximos a 90%. Entre as vacinas <strong>de</strong> rotina, também <strong>em</strong> menores <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano, opaís v<strong>em</strong> alcançando níveis próximos a 100% <strong>de</strong> cobertura vacinal, a partir <strong>de</strong>1995, contra as formas graves <strong>de</strong> tuberculose, com a aplicação <strong>de</strong> BCG noneonato. (Brasil, 2001d).Já, <strong>de</strong> acordo com os dados da Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Nutrição<strong>de</strong> 1996 (Victora e César, 2003), para crianças entre 12 e 23 meses, acobertura alcançou índices <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong> 87,2% para sarampo; 92,6% paraBCG; 80,8% para DPT e 80,7% para pólio,No Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>em</strong> 2002, conforme dados do DATASUS, a cobertura<strong>de</strong> imunização contra poliomielite atingiu 107,97%; contra sarampo, 84,83%;contra difteria, coqueluche e tétano, (DPT) 72,09%; contra formas graves <strong>de</strong>tuberculose (BCG) atingiu 102,28%; contra hepatite B, 79,84%; contraHa<strong>em</strong>ophilus influenzae B (HiB), 67,24%. As coberturas nos Dias Nacionais <strong>de</strong><strong>Vacinação</strong> contra a Poliomielite, <strong>em</strong> 2002, alcançaram índice <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong>95,31% na primeira etapa e 98,44% na segunda etapa (Brasil, 2002).14 O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado doc<strong>um</strong>entou as tentativas <strong>de</strong> encontrar e imunizar crianças <strong>em</strong>países nos quais a pólio ainda era endêmica <strong>em</strong> 2001, resultando no livro O fim da pólio – a campanhamundial para a erradicação da doença.15 Segundo Quadros (Salgado, 2003), a transmissão é oral-oral <strong>em</strong> países industrializados, e fecal-oral namaioria dos países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> saneamento básico são precárias e avacina oral é a <strong>de</strong> escolha para interromper a transmissão, proporcionando <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> “imunização‘passiva’ naqueles que entram <strong>em</strong> contato com a vacina excretada” (p.138-9).


<strong>de</strong>scritor específico, não mais avaliando o nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o nível <strong>de</strong> vidada comunida<strong>de</strong> (p. 38-39).Vale ressaltar que n<strong>um</strong> país marcado pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social,verificam-se importantes diferenças regionais nos índices <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>e também <strong>de</strong> cobertura vacinal. Duarte et al. (2002) observaram que <strong>em</strong> mais<strong>de</strong> 70% dos municípios <strong>de</strong> estados como Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo, EspíritoSanto, Tocantins e Sergipe foram alcançadas coberturas vacinais para DTPacima <strong>de</strong> 95% <strong>em</strong> 2000. Em estados como Pará, Maranhão e Amazonasmenos <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> seus municípios apresentaram cobertura <strong>de</strong> DPT superior a95%.Mesmo com os progressos alcançados na redução da mortalida<strong>de</strong>infantil no país, com a significativa contribuição da ampliação <strong>de</strong> coberturavacinal, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social se expressa com força dramática no número <strong>de</strong>óbitos que ainda ocorr<strong>em</strong>. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> comparações com índices <strong>de</strong><strong>outro</strong>s países, se todas as regiões brasileiras alcançass<strong>em</strong> a taxa <strong>de</strong>mortalida<strong>de</strong> infantil da região sul (<strong>de</strong> 17,1 por 1.000 nascidos vivos),consi<strong>de</strong>rada a melhor entre as regiões do país 18 , “haveria <strong>um</strong>a redução <strong>de</strong>46,2% das mortes <strong>em</strong> menores <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano, o que representaria não ocorrência<strong>de</strong> 43.439 óbitos infantis a cada ano 19 ” (Duarte et al., 2002, p.66).Dados apresentados no Relatório “La salud <strong>em</strong> las Américas” indicamque cerca <strong>de</strong> 80 a 90% da população dos países da América Latina e Caribetêm acesso aos seus respectivos Programas Nacionais <strong>de</strong> Imunização. O que18Internamente, a cada região e mesmo nos limites <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mesma cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> muitos casos, ocorr<strong>em</strong>padrões marcadamente assimétricos <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>. Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, <strong>em</strong> 2002, segundodados da prefeitura, a diferença entre o melhor e o pior índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil a<strong>um</strong>entou, sendoque o do bairro Perus era 2,8 maior que o <strong>de</strong> Pinheiros, que apresenta valores próximos aos da Suécia eJapão (Folha <strong>de</strong> S. Paulo. Cotidiano. 16 fev, 2004 Em São Paulo, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> cresce na saú<strong>de</strong>.). Em2001, segundo o relatório Índice <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – Situação dos Distritos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Município <strong>de</strong> São Paulo,enquanto Perus apresentava índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong> 17,6 por 1.000 nascidos vivos, no bairroCida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes era <strong>de</strong> 18,3; <strong>em</strong> Parelheiros era <strong>de</strong> 19,3, enquanto <strong>em</strong> Pinheiros era 9,4 (São Paulo,2002). Na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, as diferenças também estão presentes e marcantes. É necessáriolevar <strong>em</strong> conta as características <strong>de</strong> distribuição geográfica, espacial, da população mais pobre na cida<strong>de</strong>e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados por área programática (n<strong>um</strong> total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z AP na cida<strong>de</strong>) e não por distritossanitários ou bairros. Segundo dados da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 2001, a diferença entre o pioríndice (o da AP.5.3): 19,2 por 1.000 nascidos vivos e o melhor (AP 2.2): 11,2 foi <strong>de</strong> 8 pontos percentuais,ou <strong>um</strong> valor 1,71 maior. Em 2002, a diferença esteve entre 16,7 (AP 1.0) e 12,8 (AP 2.1), ou <strong>de</strong> 3,9percentuais, equivalendo a <strong>um</strong> valor 1,3 maior. (Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2002; 2001). No Rio, a AP 5.3 abrangebairros distantes da zona oeste: Santa Cruz, Cesarinho, Sepetiba, Paciência. A AP 2.2, os bairros Tijuca,Vila Isabel, Maracanã, Alto da Boa Vista, Praça da Ban<strong>de</strong>ira, Andaraí; AP 1.0: Centro, Rio Comprido,Mangueira, São Cristóvão, Paquetá, Santo Cristo, Caju, Cida<strong>de</strong> Nova, Santa Tereza; enquanto a AP 2.1engloba Leblon, Gávea, Botafogo, Flamengo, Copacabana, Rocinha, Vidigal, Jardim Botânico, Ipan<strong>em</strong>a,H<strong>um</strong>aitá.19 Destaques da pesquisadora.


também “<strong>de</strong>monstra o grau <strong>de</strong> aceitação da população aos programaspreventivos oferecidos pelos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, especialmente os dirigidos amenores <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano” (OPAS, 1998, p. 118).Houve <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento significativo da re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com criação<strong>de</strong> postos e centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> todo o país, particularmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final dadécada <strong>de</strong> 1970 e início da década <strong>de</strong> 1980.Segundo o Anuário Estatístico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Brasil (Brasil, 2001e), 61 milunida<strong>de</strong>s integravam a re<strong>de</strong> ambulatorial do SUS <strong>em</strong> 2001. Destes, 77% são<strong>de</strong> natureza pública, correspon<strong>de</strong>ndo a cerca <strong>de</strong> 47 mil unida<strong>de</strong>s, sendo que naatenção básica o setor público compreen<strong>de</strong> 96% do total da produçãoambulatorial. São estimados <strong>em</strong> 26 mil os postos que oferec<strong>em</strong> vacinação <strong>de</strong>rotina (Brasil, 2001d). De 1981 a 1992, o número <strong>de</strong> estabelecimentosmunicipais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ganhou <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> seis vezes. Em 1981existiam 2.961 estabelecimentos públicos municipais; <strong>em</strong> 1988, havia 8.851 e<strong>em</strong> 1992, eram 18.662, correspon<strong>de</strong>ndo respectivamente a 22%; 41% e 69%do total <strong>de</strong> estabelecimentos públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no país (Costa, 2001).A ampliação da re<strong>de</strong> básica se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> meio a <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> luta pela<strong>de</strong>mocratização do país e por melhores condições <strong>de</strong> vida. Na resistência àditadura militar, a socieda<strong>de</strong> – <strong>em</strong> particular suas camadas populares e ostrabalhadores – se organizou e mobilizou <strong>em</strong> diversas lutas que incluíam abusca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 20 (Puccini, 2002), com a ampliação dare<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção básica, ao lado <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>ramárduo e tenaz esforço para impl<strong>em</strong>entar a Reforma Sanitária 21 . A Constituição<strong>de</strong> 1988 consagrou a saú<strong>de</strong> como direito <strong>de</strong> todos e a implantação do Sist<strong>em</strong>aÚnico <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) 22 , processo que avançou com marchas e contramarchasnos governos seguintes.20 Entre as reivindicações da 1ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), <strong>em</strong> 1981,estavam: <strong>um</strong>a política nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> voltada para os interesses populares, com ampliação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong>serviços, extinção dos convênios com medicina <strong>de</strong> grupo, contratação <strong>de</strong> profissionais para todas asmodalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong> (com a recomendação <strong>de</strong> que os médicos <strong>de</strong>veriam aten<strong>de</strong>r quatropacientes por hora), criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong> básica, pública, com <strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a médico, hospitalar e odontológicopúblico que aten<strong>de</strong>sse o conjunto da população.21 Caracterizada por <strong>um</strong> pensamento crítico ao mo<strong>de</strong>lo assistencial vigente à época, a Reforma Sanitáriaera <strong>em</strong>basada <strong>em</strong> alguns princípios, consagrados na VIII Conferência Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1986, como:participação popular, eqüida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scentralização, integralida<strong>de</strong> e universalização. Princípios levantados e<strong>de</strong>batidos durante Ass<strong>em</strong>bléia Nacional Constituinte <strong>de</strong> 1987, incorporados <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida àConstituição Fe<strong>de</strong>ral Brasileira <strong>de</strong> 1988 (Carvalho, Martin e Cordoni Jr, 2001).22 O artigo 198 <strong>de</strong>fine o SUS como <strong>um</strong>a re<strong>de</strong> regionalizada e hierarquizada <strong>de</strong> ações e serviços, que t<strong>em</strong>como diretrizes a <strong>de</strong>scentralização, o atendimento integral e a participação da comunida<strong>de</strong>.


Ao analisar o financiamento do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no Brasil, Barros (2003)avalia que:Enquanto a receita da União correspondia, <strong>em</strong> 2001, a 2,34 vezes omontante realizado <strong>em</strong> 1995, a variação do orçamento da saú<strong>de</strong> no mesmoperíodo foi <strong>de</strong> apenas 80%. Em conseqüência, como percentual daarrecadação fe<strong>de</strong>ral, a participação do orçamento do MS [Ministério daSaú<strong>de</strong>] caiu <strong>de</strong> 14,5% para 11,4% (p.37).Em t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> política neoliberal, observa-se, com diretrizes do BancoMundial, a tentativa <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas focalizadoras, que se<strong>de</strong>scompromet<strong>em</strong> com a garantia <strong>de</strong> recursos para a saú<strong>de</strong>, o que restringe aperspectiva da saú<strong>de</strong> como direito <strong>de</strong> todos. Recursos drenados para garantirsuperávit fiscal, pagamento a credores financeiros 23 , <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da garantiados direitos sociais, como o atendimento à saú<strong>de</strong> da população.Pesquisas <strong>em</strong> imunizaçãoNo levantamento bibliográfico realizado, observou-se que centenas <strong>de</strong>trabalhos são <strong>de</strong>dicados ao t<strong>em</strong>a vacinação/imunização. Porém, a abordag<strong>em</strong>é predominant<strong>em</strong>ente biologicista (pesquisas, implantação <strong>de</strong> novas vacinas,avaliação <strong>de</strong> eficácia) ou relativa a dados <strong>de</strong> cobertura.Encontrou-se poucos trabalhos que investigu<strong>em</strong> o envolvimento dapopulação nas ações <strong>de</strong> vacinação e, <strong>em</strong> particular, as mães no processo <strong>de</strong>vacinação das crianças. Interessou-nos lançar o <strong>olhar</strong> sobre aqueles que sãogeralmente vistos como sujeitos passivos <strong>de</strong> ações e programas, computadoscomo números <strong>em</strong> estatísticas.23 Em doc<strong>um</strong>ento da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidarieda<strong>de</strong> do Município <strong>de</strong> SãoPaulo sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda e gastos sociais no Brasil, é ressaltado que: “E, por mais quealguns especialistas arg<strong>um</strong>ent<strong>em</strong> elegant<strong>em</strong>ente do ponto <strong>de</strong> equilíbrio dos juros, o que existe na práticaé <strong>um</strong> esqu<strong>em</strong>a monstruoso <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> do setor privado e da renda do trabalho para <strong>um</strong>a ac<strong>um</strong>ulaçãoessencialmente financeira” (São Paulo, 2003).Segundo dados <strong>de</strong> recente doc<strong>um</strong>ento do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (Brasil, 2003c), “Oachatamento orçamentário e financeiro imposto pela política econômica ao MS, através da gran<strong>de</strong>resistência ao c<strong>um</strong>primento integral da EC 29, do tríplice contingenciamento, da baixa execução <strong>de</strong> váriositens e <strong>outro</strong>s mecanismos, não é justificado por baixas receitas: a receita das contribuições sociais daSegurida<strong>de</strong> Social, arrecadadas até 31.8.2002 (R$ 124,9 bilhões) já eram superavitárias <strong>em</strong> relação às<strong>de</strong>spesas liquidadas (R$ 92,5 bilhões) dos Ministérios correspon<strong>de</strong>ntes (Saú<strong>de</strong>, Previdência/ AssistênciaSocial e Trabalho). A justificativa encontra-se na voracida<strong>de</strong> dos Encargos Financeiros da União (Juros eAmortizações da Dívida Consolidada da União) que <strong>de</strong> 31.12.2000 a 31.8.2002 cons<strong>um</strong>iu R$ 176,7bilhões (mais <strong>de</strong> seis orçamentos anuais do MS). Como se não bastasse, a dívida consolidada da Uniãocresceu no mesmo período, R$ 294 bilhões” (p. 77).


Régis (1981) estudou aspectos culturais relativos às vacinaçõesobrigatórias no primeiro ano <strong>de</strong> vida, concluindo que era baixo o nível <strong>de</strong>conhecimento das mães sobre as vacinas.Em diferentes trabalhos, Ferreira (1984) e Guerra (1991) levantaram ediscutiram por meio do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crenças <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> alguns condicionantesdo comportamento das mães <strong>em</strong> relação à vacinação <strong>de</strong> seus filhos.Quirino (1998), <strong>em</strong> estudo realizado <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>São Paulo, avaliou que as mães sab<strong>em</strong> pouco acerca das vacinasadministradas a seus filhos, particularmente sobre doenças que elas evitam.Pabón Lasso et al. (1986) <strong>de</strong>stacaram a importância dos meios <strong>de</strong>comunicação <strong>de</strong> massa para a a<strong>de</strong>são às campanhas nacionais <strong>de</strong> vacinação,no Panamá. Logullo (2001) pesquisou o papel da mídia na eficácia davacinação contra o sarampo <strong>em</strong> São Paulo, cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que a cobertura <strong>de</strong>vacinação contra esta doença <strong>de</strong>caiu <strong>em</strong> 1996, ocorrendo importante epi<strong>de</strong>mia<strong>em</strong> 1997.Avaliando que o êxito das iniciativas internacionais para a erradicação dosarampo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida do conhecimento sobre a vacinação,Moreira et al. (1997) estudaram os conhecimentos dos pediatras <strong>de</strong> Salvadorsobre a vacina contra o sarampo, consi<strong>de</strong>rando-os insuficientes.Impicciatore et al. (2000), <strong>em</strong> estudo realizado na Itália, examinaramcomo, <strong>em</strong> relação às mães, fatores sociais, educacionais, <strong>de</strong> conhecimento epercepção da imunização po<strong>de</strong>m afetar a compreensão sobre a vacinação <strong>de</strong>pré-escolares.Shearley (1999) avaliou que a vacinação infantil traz gran<strong>de</strong> impacto navida <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> países periféricos, na medida <strong>em</strong> que induz<strong>em</strong> e tornamhabitual o contato com os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.O papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res comunitárias na observância materna às ações <strong>de</strong>imunização <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais na Indonésia foi ressaltado por Streatfield eSingarib<strong>um</strong> (2002).


REFERENCIAL TEÓRICONão t<strong>em</strong> doutores na favelaMas na favela t<strong>em</strong> doutoresO professor se chama bambaMedicina é na mac<strong>um</strong>baCirurgia lá é samba(Minha <strong>em</strong>baixada chegou, Assis Valente)A teoria das representações sociais (TRS) v<strong>em</strong> se apresentando, nasúltimas décadas, como <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ental diferenciado e <strong>em</strong> expansão, comaplicação <strong>em</strong> inúmeros trabalhos <strong>de</strong> pesquisa <strong>em</strong> áreas diversas doconhecimento, com especial interesse na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Sá e Arruda, 2000;Tura, 1998), ao buscar junto a grupos, setores, segmentos da populaçãoapreen<strong>de</strong>r sua experiência, voz, saberes – não instituídos enquantoconhecimento acadêmico – <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> contexto social <strong>de</strong>terminado.A TRS foi inaugurada por Serge Moscovici com sua pesquisa “Arepresentação social da psicanálise”. Nela, Moscovici estudou asrepresentações que diversos grupos <strong>de</strong> parisienses construíram sobre a teoriapsicanalítica, como <strong>de</strong>la se apropriaram (Moscovici, 1978).Ao entrar no <strong>de</strong>bate vivenciado pela TRS, verifica-se que ela éapresentada como <strong>um</strong>a teoria que articula conceitos <strong>de</strong> “pensamentocomplexo”, <strong>de</strong> “transdisciplinarida<strong>de</strong>”, i<strong>de</strong>ntificada na contra-corrente doparadigma ainda dominante do que é consi<strong>de</strong>rado ciência.Nesse <strong>de</strong>bate é questionada a proposição <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar “científico”apenas o que po<strong>de</strong> ser quantificável, mensurado, paradigma assentadobasicamente nos parâmetros da mat<strong>em</strong>ática e da física clássicas. Dados eel<strong>em</strong>entos referentes a aspectos sociais, culturais, i<strong>de</strong>ológicos, psíquicos,subjetivos dos fenômenos não se enquadrariam nos parâmetros puramenten<strong>um</strong>éricos, quantitativos. E, para <strong>de</strong>terminadas áreas <strong>de</strong> pesquisa, essesaspectos não po<strong>de</strong>m ser ignorados para se produzir conhecimento científico.


O conceito <strong>de</strong> representações coletivas ficou eclipsado por cerca <strong>de</strong>meio século, sendo retomado por Serge Moscovici, no início da década <strong>de</strong>1960, com seu livro “A representação social da psicanálise”.Moscovici (2001) apresenta <strong>um</strong> histórico do conceito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as análisesrealizadas por Simmel com a idéia <strong>de</strong> representação individual a Durkheim,consi<strong>de</strong>rado por ele “verda<strong>de</strong>iro inventor do conceito” (p. 47), com a concepção<strong>de</strong> representações coletivas. Segundo ele, estas também foram trabalhadaspor <strong>outro</strong>s autores como Lévy-Bruhl, que se <strong>de</strong>bruçou sobre representações dopensamento primitivo; Piaget ao se <strong>de</strong>dicar ao conhecimento do pensamentoinfantil e Freud quando <strong>de</strong>senvolveu as teorias da sexualida<strong>de</strong> infantil. Já ointeresse <strong>de</strong> Moscovici se centrou sobre as representações sociais <strong>de</strong> grupos,categorias, setores <strong>de</strong> classe <strong>de</strong>finidos da socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea.A TRS articula <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> conceitos para assimilar os el<strong>em</strong>entoscognitivos e sociais envolvidos na representação. É i<strong>de</strong>ntificada como <strong>um</strong>apsicossociologia do conhecimento que, ao estudar objetos <strong>de</strong> pesquisa, analisaos aspectos cognitivos da comunicação, da linguag<strong>em</strong>, do discurso,contextualizando-os <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a situação, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a prática <strong>de</strong>terminada pelaespecificida<strong>de</strong> histórica, i<strong>de</strong>ológica, cultural e social daqueles grupos, classes,setores da socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> questão. Assim, é <strong>de</strong> interesse da TRS o estudo dosfenômenos que têm relevância cultural ou espessura e pertinência social, comoquestões can<strong>de</strong>ntes da vida cotidiana, t<strong>em</strong>as polêmicos, objetos socialmentevalorizados (Sá, 1998).De acordo com esta teoria, as RS são construídas e compartilhadas paraque os sujeitos domin<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong>, se comuniqu<strong>em</strong>, estabeleçam entre siligações e trocas. Segundo Moscovici (1978), elasnos revelam que os indivíduos, <strong>em</strong> sua vida cotidiana, não são apenasessas máquinas passivas para obe<strong>de</strong>cer a aparelhos, registrar mensagens ereagir às estimulações exteriores, <strong>em</strong> que os quis transformar <strong>um</strong>aPsicologia Social s<strong>um</strong>ária, reduzida a recolher opiniões e imagens (p.56).Nesse sentido, a TRS veio contrapor-se a <strong>um</strong>a perspectiva tradicional,baseada no estudo dos reflexos individuais, behaviorista, da psicologia socialnorte-americana e inglesa. Ela enfatiza o papel criador, criativo dos indivíduos


na elaboração <strong>de</strong> suas condutas, nas relações que estabelec<strong>em</strong>cotidianamente.As RS são <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> saber prático que liga <strong>um</strong> sujeito a <strong>um</strong> objeto.Saber, forma <strong>de</strong> conhecimento, que guarda relação e referência com o sabererudito, com a realida<strong>de</strong> e o imaginário (Jo<strong>de</strong>let, 2001; Moscovici, 1978).No estudo das RS, é buscada <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> significante, <strong>em</strong>que três questionamentos se colocam: “Qu<strong>em</strong> sabe e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sabe?” “O que ecomo sabe?”, “Sobre o que sabe e com que efeitos?” (Jo<strong>de</strong>let, 2001, p. 33)As RS, construídas e compartilhadas por <strong>de</strong>terminado “sujeito”, têm <strong>um</strong>conteúdo formado por imagens, atitu<strong>de</strong>s, informações sobre o objeto dado. Esão s<strong>em</strong>pre as representações <strong>de</strong> algo para alguém. São elaborações dosenso com<strong>um</strong> com características significantes e inventivas, que buscam tornaro insólito, o não familiar <strong>em</strong> familiar.Os indivíduos part<strong>em</strong> do seu cabedal específico <strong>de</strong> conhecimentos eexperiências; com ele realizam reelaborações para a construção <strong>de</strong>representações que integr<strong>em</strong> o novo ao seu cotidiano (Ma<strong>de</strong>ira, 2001).As RS estão marcadas pela posição que esse sujeito ocupa nasocieda<strong>de</strong>, na economia, na cultura. Assim, se consi<strong>de</strong>ra que “o sujeito, sendo<strong>um</strong> sujeito social, faz intervir na sua elaboração idéias, valores e mo<strong>de</strong>los queele traz do grupo ao qual pertence ou das i<strong>de</strong>ologias veiculadas na socieda<strong>de</strong>”(Jo<strong>de</strong>let, 1984, p.17). Ou ainda, “o lugar, a posição social que eles ocupam ouas funções que ass<strong>um</strong><strong>em</strong> <strong>de</strong>terminam os conteúdos representacionais e suaorganização, por meio da relação i<strong>de</strong>ológica que mantêm com o mundo social”(Jo<strong>de</strong>let, 2001, p.32).Dois processos, objetivação e ancorag<strong>em</strong>, se articulam na TRS visandoa transformação <strong>de</strong> <strong>um</strong> conhecimento <strong>em</strong> representação e a forma como essarepresentação interfere e transforma o social.A objetivação é <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> seleção, <strong>de</strong> “enxugamento”, <strong>de</strong>concretização, <strong>de</strong> “figuração” <strong>de</strong> <strong>um</strong>a idéia, <strong>de</strong> <strong>um</strong> conceito posto <strong>em</strong> questão eestabelece <strong>um</strong>a relação dialética com a ancorag<strong>em</strong>, que é o processo <strong>de</strong>enraizar, <strong>de</strong> dar sentido à idéia, <strong>de</strong> relacionar o conceito apresentado a <strong>um</strong>


epertório <strong>de</strong> conhecimentos, <strong>de</strong> práticas, <strong>de</strong> experiências já ac<strong>um</strong>uladas peloindivíduo.A ancorag<strong>em</strong> “articula as três funções básicas da representação: funçãocognitiva <strong>de</strong> integração da novida<strong>de</strong>, função <strong>de</strong> interpretação da realida<strong>de</strong>,função <strong>de</strong> orientação das condutas e das relações sociais” (Jo<strong>de</strong>let, 1984, p.29).As RS se estruturam n<strong>um</strong> “sist<strong>em</strong>a interno duplo” (Sá, 1996, p.73): <strong>um</strong>núcleo central e <strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a periférico. Sist<strong>em</strong>as interativos e compl<strong>em</strong>entarescuja i<strong>de</strong>ntificação são relevantes na pesquisa <strong>em</strong> RS, pois o estudo do núcleocentral permite conhecer os el<strong>em</strong>entos essenciais da representação; já osist<strong>em</strong>a periférico informa a ancorag<strong>em</strong> da representação no cotidiano dogrupo. Conforme assinalado por Abric (1998) este duplo sist<strong>em</strong>a dasrepresentações compõe-se <strong>de</strong><strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a central (o núcleo central), cuja <strong>de</strong>terminação éessencialmente social, ligada às condições históricas,sociológicas e i<strong>de</strong>ológicas, diretamente associado aos valores enormas, <strong>de</strong>finindo os princípios fundamentais <strong>em</strong> torno dos quaisse constitu<strong>em</strong> as representações. É a base com<strong>um</strong>propriamente social e coletiva que <strong>de</strong>fine a homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>um</strong> grupo, através dos comportamentos individualizados quepo<strong>de</strong>m parecer contraditórios.<strong>um</strong> sist<strong>em</strong>a periférico, cuja <strong>de</strong>terminação é mais individualizadae contextualizada. Mais associado às características individuaise ao contexto imediato e contingente, nos quais os indivíduosestão inseridos. Este sist<strong>em</strong>a periférico permite a adaptação,<strong>um</strong>a diferenciação <strong>em</strong> função do vivido, <strong>um</strong>a integração dasexperiências cotidianas. (p.33)O núcleo central agrega e con<strong>de</strong>nsa os aspectos mais estáveis <strong>de</strong> <strong>um</strong>aRS, estruturando-a e organizando-a. Possui <strong>um</strong>a dimensão qualitativa, “cujaausência <strong>de</strong>sestruturaria ou daria <strong>um</strong>a significação radicalmente diferente àrepresentação” (Abric, 2001, p.163); é, portanto, menos vulnerável amudanças.Se há alteração no núcleo central, altera-se também a RS no seuconteúdo, no seu significado. Já os el<strong>em</strong>entos periféricos abrang<strong>em</strong> as funções<strong>de</strong> concretização, contextualizando, ancorando as RS na realida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>regulação, adaptando as RS ao contexto dado e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, amortecendo,integrando el<strong>em</strong>entos contraditórios da RS. Assim, são el<strong>em</strong>entos mais


suscetíveis a mudanças, à interação com novos dados da realida<strong>de</strong> (Abric,1998).Quanto à metodologia, a pesquisa <strong>em</strong> RS articula processosquantitativos e qualitativos. As metodologias qualitativas, pouco valorizadas <strong>em</strong>alguns <strong>outro</strong>s campos <strong>de</strong> pesquisa, são fundamentais para o pesquisadorabranger aspectos significativos a ser<strong>em</strong> analisados: sejam psíquicos,culturais, i<strong>de</strong>ológicos, sociais. Para Gaskell (2002) a polêmica entre pesquisaquantitativa e qualitativa é estéril: a avaliação dos dados sociais guarda relaçãocom a categorização do meio social, assim, “não há quantificação s<strong>em</strong>qualificação” como também “não há análise estatística s<strong>em</strong> interpretação”(p.24). Segundo o autorUma cobertura a<strong>de</strong>quada dos acontecimentos sociais exige muitos métodose dados: <strong>um</strong> pluralismo metodológico se origina como <strong>um</strong>a necessida<strong>de</strong>metodológica. A investigação da ação <strong>em</strong>pírica exige: a) a observaçãosist<strong>em</strong>ática dos acontecimentos; inferir os sentidos <strong>de</strong>sses acontecimentosdas (auto-)observações dos atores e espectadores; b) técnicas <strong>de</strong> entrevista,e a interpretação dos vestígios materiais que foram <strong>de</strong>ixados pelos atores eespectadores; c) <strong>um</strong>a análise sist<strong>em</strong>ática. (p.19)


OBJETOOs altos índices <strong>de</strong> observância das mães às ações <strong>de</strong> imunização doPNI, <strong>um</strong> dos mais significativos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, verificados no Brasilatualmente – <strong>em</strong> nítido contraste com o que ocorria no início do século XX,quando eclodiu a Revolta da Vacina no Rio <strong>de</strong> Janeiro – motivou a tentativa <strong>de</strong>enten<strong>de</strong>r as mudanças ocorridas no processo <strong>de</strong> imunização.Com o interesse <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação e saú<strong>de</strong> quesensibiliz<strong>em</strong> e alcanc<strong>em</strong> a participação da população às questões levantadas,serão pesquisados os fatores relacionados à receptivida<strong>de</strong> e ao envolvimentodas mães, expressos hoje, às ações <strong>de</strong> imunização.Objetivo geral:Analisar os fatores envolvidos na significativa observância das mães aocalendário vacinal.Objetivos específicos:Levantar atitu<strong>de</strong>s e práticas que as mães têm sobre avacinação.I<strong>de</strong>ntificar conhecimentos por elas conquistados, após mais<strong>de</strong> trinta anos <strong>de</strong> implantação do Programa Nacional <strong>de</strong>Imunizações, acerca das vacinas, suas ações, efeitoscolaterais.Observar e discutir relações que estabelec<strong>em</strong> com osist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> vacinação.


Discutir <strong>em</strong> que sentido a experiência da observância àvacinação po<strong>de</strong>ria ser ampliada para outras ações <strong>em</strong>educação e saú<strong>de</strong>.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSO trabalho <strong>de</strong> campo teve início com observação <strong>de</strong> campo no CentroMunicipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Heitor Beltrão, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.O CMS Heitor Beltrão presta serviços <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> da população<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1964 e é <strong>um</strong>a das referências <strong>em</strong> imunização na cida<strong>de</strong>, atraindo comseu atendimento a população dos bairros da Tijuca, Praça da Ban<strong>de</strong>ira, Alto daBoa Vista, Muda, Usina e várias comunida<strong>de</strong>s, como Salgueiro, Borel, Morro daFormiga, Casa Branca, Turano, Indiana, Chacrinha, Casa Branca, Dr.Catrambi, Mata Machado, Macaraí, Tijuaçu, Itaquara e ainda a <strong>outro</strong>s bairros,como Vila Isabel, Grajaú, Andaraí e mesmo a bairros mais distantes peloacesso facilitado por meios <strong>de</strong> transporte como metrô e ônibus. Constitui-setambém <strong>em</strong> <strong>um</strong> dos pólos <strong>de</strong> referência para vacinação anti-rábica na cida<strong>de</strong>.Freqüent<strong>em</strong>ente, ali são realizadas reportagens para imprensa (televisão,jornais) no momento das campanhas nacionais <strong>de</strong> imunização (contra a pólio,contra influenza para idosos).Inicialmente, entrou-se <strong>em</strong> contato com o diretor do Centro <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong>que se dirigiu ao diretor do CMS, para qu<strong>em</strong> foi entregue <strong>um</strong>a apresentaçãoformal – da pesquisadora e do objeto da pesquisa. A pesquisadora colocou-setambém à disposição para esclarecimento <strong>de</strong> qualquer questão referente aotrabalho e para alg<strong>um</strong>a contrapartida que fosse do interesse da instituição.Obteve-se todo apoio necessário ao <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, eseguiu-se a apresentação à área <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia e aos funcionários da sala<strong>de</strong> vacinação.Iniciou-se a observação <strong>de</strong> campo na sala <strong>de</strong> vacinas. Observação queproporcionou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a relação <strong>de</strong> conhecimento com o objeto,n<strong>um</strong> contexto <strong>de</strong> relações sociais e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (Tura, 2003).


O espaço é dividido <strong>em</strong> três ambientes principais: <strong>um</strong> primeiro, com apresença <strong>de</strong> duas ou três profissionais, para a i<strong>de</strong>ntificação da criança, dospais e a introdução do Cartão da Criança (Anexo 4), quando da primeira visita àunida<strong>de</strong>, ou para a verificação <strong>de</strong> qual imunização a criança receberá naqueledia. E mais duas salas para a vacinação: <strong>um</strong>a para vacina BCG (on<strong>de</strong> tambémé realizado o teste do pezinho), com <strong>um</strong> profissional e outra maior on<strong>de</strong> asoutras vacinas são aplicadas, on<strong>de</strong> trabalham dois profissionais. Nelas, os (as)vacinadores (as) efetuam a aplicação das vacinas e orientam as mães quanto apossíveis reações, cuidados específicos com a cicatriz da vacina BCG(oferec<strong>em</strong> <strong>um</strong> impresso com recomendações 24 ) e o uso <strong>de</strong> compressas paraaplicações intramusculares.Esses ambientes estão localizados no andar térreo do CMS; aimunização é o primeiro serviço <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentado aos usuáriosno corredor <strong>de</strong> entrada, <strong>de</strong> fácil e sinalizado acesso, logo após a triag<strong>em</strong> inicialda unida<strong>de</strong>. Forma-se por vezes <strong>um</strong>a pequena fila, mas seu fluxo é rápido.Em alguns dias, como início da s<strong>em</strong>ana (segunda e terça-feira) e final(sexta-feira) o movimento é maior, possivelmente <strong>de</strong>vido à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>horário das mães, dos serviços oferecidos, dos profissionais que aten<strong>de</strong>m naunida<strong>de</strong>. Segunda-feira pela manhã é <strong>um</strong> dos dias <strong>de</strong> maior movimento(excetuando os dias <strong>de</strong> chuva) e o horário das 9h, 9:30h, por vezes, fica maiscongestionado. Muitas mães chegam nesse horário, pois “não dorm<strong>em</strong> direitoporque cuidam do bebê na madrugada”, segundo informação <strong>de</strong> <strong>um</strong>avacinadora. A sala <strong>de</strong> vacinação funciona <strong>de</strong> 8 às 12h e das 13 às 17h <strong>de</strong>segunda a sexta-feira. Sábado está aberta das 8 às 12h.Instituiu-se <strong>um</strong> diário <strong>de</strong> campo para anotações julgadas relevantes.Houve cuidado da parte da pesquisadora para que o trabalho que realizava nãofosse confundido com <strong>um</strong>a inspeção ou avaliação do serviço prestado naunida<strong>de</strong>. Procurou-se <strong>de</strong>ixar isso claro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, <strong>em</strong> que pese aslimitações que envolv<strong>em</strong> esse intento. Entretanto, pelo convívio amigável que24“Cuidados após a vacina BCG intradérmico”: A cicatrização da vacina ocorre no prazo <strong>de</strong> <strong>um</strong> a doismeses, não exigindo dieta especial, po<strong>de</strong>ndo a criança levar vida normal, inclusive expor-se ao sol.Contudo alguns cuidados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomados: 1) Evitar curativos no local; 2) Só limpar com gaze oulenço <strong>de</strong> papel; 3) Evitar pancadas no local e contaminação interna; 4) Evitar banhos <strong>de</strong> piscina na fase<strong>de</strong> supuração (a ação do cloro po<strong>de</strong> ser prejudicial); 5) O banho <strong>de</strong> mar é permitido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejaevitada contaminação com areia.


se logrou com o conjunto dos funcionários, acredita-se que essa interpretaçãofoi minimizada.A pesquisadora esteve atenta ao tipo <strong>de</strong> relação estabelecida com ocampo, com os funcionários e mães, no sentido <strong>de</strong> procurar não alterar adinâmica do serviço, n<strong>em</strong> dificultar o trabalho dos funcionários, mas criar <strong>um</strong>clima <strong>de</strong> mútua colaboração. Buscou-se perceber não só as questões queeram colocadas pelo trabalho <strong>de</strong> pesquisa, mas também as atribulações,preocupações cotidianas das ativida<strong>de</strong>s dos funcionários e a ansieda<strong>de</strong> dasmães <strong>em</strong> relação à vacinação <strong>de</strong> seus filhos, assim como relacionamento entrefuncionários e mães.Procurou-se ficar alerta para a tendência, que po<strong>de</strong> existir e por vezesocorre, <strong>de</strong> as pessoas – funcionários e mães, no caso – procurar<strong>em</strong> agir,respon<strong>de</strong>r como acreditam que o observador espera que ajam; <strong>de</strong> falar<strong>em</strong> oque o pesquisador quer ouvir (Tura, 2003) e, assim, que suas condutas foss<strong>em</strong>alteradas pelo processo <strong>de</strong> observação (Pereira, 2003).Observou-se a dinâmica da assistência e efetivação das ações <strong>de</strong>imunização, b<strong>em</strong> como relações que se estabelec<strong>em</strong> entre as mães e o serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; entre elas e seus filhos no momento da aplicação da vacina. Essetrabalho permitiu à pesquisadora <strong>um</strong>a aproximação mais longa, mais informalcom os sujeitos, contribuindo para <strong>um</strong>a interação com o ambiente e <strong>um</strong> estudopreliminar do campo, como <strong>de</strong>staca Vianna (2003). Essa experiência subsidioua construção do questionário, que foi aplicado às mães.A pesquisadora esteve presente <strong>em</strong> <strong>um</strong> Dia Nacional <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong>contra Poliomielite, <strong>em</strong> que a unida<strong>de</strong> toda se prepara para a aplicação daSabin <strong>em</strong> larga escala, administrando também outras vacinas que estivess<strong>em</strong>atrasadas. Geralmente, esse dia acontece <strong>em</strong> <strong>um</strong> sábado e assim não sómães, mas <strong>outro</strong>s familiares – particularmente os pais – também participam daação, que se conforma quase n<strong>um</strong> ato cívico, <strong>em</strong> que todos se mobilizam e s<strong>em</strong>ostram coletivamente conscientizados da importância da imunização.N<strong>um</strong> certo momento, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r que a criança já haviacompletado cinco anos, <strong>um</strong>a mãe ralhou com o filho:“Não falei, você é teimoso...”


A criança provavelmente havia insistido com a mãe, pois queria tomar a“gotinha” (Sabin), no entanto, como já apresentava cinco anos, pela orientaçãodo PNI, não estava indicada a vacinação contra a poliomielite.Percebeu-se, porém, que não era <strong>um</strong> dia particularmente propício àaplicação do questionário porque ali a fila que se forma movimenta-serelativamente rápido e rápido todos quer<strong>em</strong> sair da unida<strong>de</strong>; estão com pressa:porque é sábado, dia especial <strong>em</strong> que muita coisa acontece, como indicavaVinicius <strong>de</strong> Moraes 25 . Especialmente na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, com belas e<strong>de</strong>mocráticas praias.Indagou-se a <strong>um</strong>a funcionária qual o período que ocorre maior procurapela vacina <strong>em</strong> dias <strong>de</strong> campanha, se pela manhã ou à tar<strong>de</strong>, ela respon<strong>de</strong>uque <strong>de</strong>pendia do dia, se “dava praia” ou não. Se fosse <strong>um</strong> belo dia <strong>de</strong> sol, amaior parte vinha pela manhã para <strong>de</strong>pois aproveitar melhor a praia s<strong>em</strong> sepren<strong>de</strong>r a horário <strong>de</strong> volta.N<strong>um</strong> segundo momento – o da aplicação do teste <strong>de</strong> evocação equestionário – a pesquisadora foi apresentada à área <strong>de</strong>Ginecologia/Obstetrícia, on<strong>de</strong> se realizou a maior parte dos testes equestionários e também à Pediatria, on<strong>de</strong> pequena parte dos procedimentos foiaplicada. A pesquisadora s<strong>em</strong>pre contou com apoio, atenção, cooperação dosfuncionários da unida<strong>de</strong>. Na Ginecologia, durante alguns períodos, pô<strong>de</strong> dispor<strong>de</strong> <strong>um</strong>a sala para o contato com as mães.Foi <strong>de</strong>finido o estudo <strong>de</strong> amostra <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> 124 mães, divididas<strong>em</strong> dois grupos: 61 gestantes nulíparas e 63 mulheres multíparas entre as quefreqüentam o serviço <strong>de</strong> Ginecologia/Obstetrícia e Pediatria da Unida<strong>de</strong>. Ouseja, <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> mães que utilizam o SUS para acompanhamento médicoque, <strong>em</strong> sua expressiva maioria, integram as camadas populares do bairro. NoCMS são realizadas, <strong>em</strong> média, 430 consultas <strong>de</strong> pré-natal ao mês 26 .25 “Dia da criação” <strong>de</strong> Vinicius <strong>de</strong> Moraes. “Hoje é sábado, amanhã é domingo /A vida v<strong>em</strong> <strong>em</strong> ondas,como o mar / Os bon<strong>de</strong>s andam <strong>em</strong> cima dos trilhos / E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz paranos salvar.... Neste momento há <strong>um</strong> casamento / Porque hoje é sábado / Hoje há <strong>um</strong> divórcio e <strong>um</strong>violamento / Porque hoje é sábado / Há <strong>um</strong> rico que se mata / Porque hoje é sábado / Há <strong>um</strong> incesto e<strong>um</strong>a regata / Porque hoje é sábado / Há <strong>um</strong> espetáculo <strong>de</strong> gala / Porque hoje é sábado / Há <strong>um</strong>a mulherque apanha e cala / Porque hoje é sábado / Há <strong>um</strong> renovar-se <strong>de</strong> esperanças / Porque hoje é sábado...(Moraes,1977)26 Destas, cerca <strong>de</strong> 50 se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> primeira consulta e 380 consultas subseqüentes.


Frente à analise do processo <strong>de</strong> observação, optou-se por trabalharnestes serviços e não na sala <strong>de</strong> vacina porque nesta não po<strong>de</strong>riam sercontatadas gestantes nulíparas. Foi levado <strong>em</strong> conta também o fato <strong>de</strong> que avacinação é <strong>um</strong> processo rápido, <strong>em</strong> termos do atendimento, <strong>em</strong> relação aoutras ações na unida<strong>de</strong>: a fila – quando se forma – t<strong>em</strong> <strong>um</strong> ritmo maisacelerado e as mães estão com menor disposição <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po do que na sala <strong>de</strong>espera <strong>de</strong> <strong>outro</strong>s serviços. Ali também é atendida <strong>um</strong>a clientela maisheterogênea: além das comunida<strong>de</strong>s adjacentes e do bairro, muitas mães <strong>de</strong>classe média resi<strong>de</strong>ntes no bairro ou que são atendidas <strong>em</strong> consultóriosparticulares, concentrados sobretudo à Praça Saens Peña, b<strong>em</strong> próximo aoCMS Heitor Beltrão, levam seus filhos à vacinação na unida<strong>de</strong>.Na fase <strong>de</strong> observação, a pesquisadora travou contato também com<strong>um</strong>a colega, pediatra, que trazia seus filhos àquela unida<strong>de</strong> para imunização.Muitos pediatras e mães prefer<strong>em</strong> a vacinação <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimentopúblico não só <strong>em</strong> razão dos custos. Alegam a experiência, a gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vacinas aplicadas (com reposição constante <strong>de</strong> estoques) <strong>em</strong>unida<strong>de</strong>s do SUS e, assim, pres<strong>um</strong><strong>em</strong> <strong>um</strong>a maior eficácia.Após a apresentação às mães e com o intuito <strong>de</strong> levantar o conteúdodas representações que elas têm da vacinação <strong>de</strong> seus filhos, foram utilizadoso teste <strong>de</strong> evocação e <strong>um</strong> questionário. Uma associação livre com a palavravacina foi sugerida na aplicação do teste <strong>de</strong> evocação, procedimento que t<strong>em</strong>apresentado significativa relevância para a i<strong>de</strong>ntificação das representaçõessociais, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> sua organização (Abric, 1994, Sá, 1996; Tura, 1998;Vergès, 1992; 1994). Apresentou-se, assim, a questão:Quais as quatro primeiras palavras ou expressões que passam pelasua cabeça quando ouve falar <strong>de</strong> vacina?Solicitou-se, então, que marcass<strong>em</strong> as duas palavras, entre as citadas,que consi<strong>de</strong>rass<strong>em</strong> as mais importantes.Na seqüência, efetuou-se a aplicação do questionário com perguntasfechadas e abertas (Anexo 5) que se iniciava com <strong>um</strong> levantamento sócio<strong>de</strong>mográfico<strong>de</strong>ssas mães, com registro <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, estado <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>,escolarida<strong>de</strong>, ocupação, estado civil (com companheiro ou s<strong>em</strong> companheiro),


número <strong>de</strong> filhos, número <strong>de</strong> pessoas que residiam <strong>em</strong> suas casas e o número<strong>de</strong> cômodos.Procurou-se i<strong>de</strong>ntificar alg<strong>um</strong>as atitu<strong>de</strong>s, experiência, conceitos,significados do processo <strong>de</strong> vacinação das crianças com a apresentação <strong>de</strong>onze questões:1. Qu<strong>em</strong> informou que seu(sua) filho(a) precisava tomar vacina?2. Qu<strong>em</strong> segurou seu filho(a) para tomar as primeiras vacinas – BCG e Anti-Hepatite B? Por quê?3. Quais as vacinas que <strong>de</strong>ram “reação” <strong>em</strong> seu filho(a)?4. Você foi orientada para os cuidados com essas reações?Se foi, por qu<strong>em</strong>?5. Como você sabe que t<strong>em</strong> ele(a) que tomar a(s) próxima (s) vacinas?6. Por que você traz seu filho(a) para vacinar?7. Você já trouxe seu (sua) filho(a) para vacinar <strong>em</strong> Dias Nacionais <strong>de</strong><strong>Vacinação</strong>? Como soube que era dia <strong>de</strong> campanha?8. Já lhe foi solicitada a apresentação do cartão <strong>de</strong> vacinação <strong>em</strong> alg<strong>um</strong>acircunstância, como matrícula para escola, admissão <strong>em</strong> <strong>em</strong>prego, etc?9. Você po<strong>de</strong>ria citar três doenças que são evitadas pela vacina?10. Se os postos não oferecess<strong>em</strong> vacina, o que, como você faria?11. Gostaria <strong>de</strong> falar mais alg<strong>um</strong>a coisa, dar <strong>um</strong>a mensag<strong>em</strong>, <strong>um</strong> conselho aoutras mães?A pesquisadora esteve presente à unida<strong>de</strong> <strong>em</strong> vários períodos até queconseguisse aplicar o conjunto dos questionários. Em alguns casos, houve oencontro, s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong>pois, com alg<strong>um</strong>as das mães que já haviam respondidoàs questões e que reconheceram a pesquisadora. Procurou-se nessesmomentos, novamente, interagir com elas, perguntando sobre sua saú<strong>de</strong>, agestação ou sobre o bebê. Alg<strong>um</strong>as falaram do parto, então já realizado, esobre as primeiras vacinas, procurando confirmar que seus filhos já haviamsido imunizados.Finalmente, cabe o registro <strong>de</strong> que este trabalho procurou cont<strong>em</strong>plar aspr<strong>em</strong>issas da resolução 196/1996 no que tange à busca <strong>de</strong> consentimento dossujeitos envolvidos, sendo esclarecido às mães e gestantes que suaparticipação não implicaria nenh<strong>um</strong>a maleficência, procedimento invasivo, n<strong>em</strong>explicitação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s ou avaliação <strong>de</strong> acerto e erro das opiniões e


espostas dadas (Brasil, 1998). Foi elaborada <strong>um</strong>a carta <strong>de</strong> apresentação àsmães (Anexo 6), <strong>em</strong> que explicitamos o objetivo da pesquisa.Durante a pesquisa, submetida e aprovada pelo Comitê <strong>de</strong> Ética doNESC/UFRJ, procurou-se interagir com as mães, na medida do possível,respon<strong>de</strong>ndo a questões que levantavam sobre sua saú<strong>de</strong> e a da criança. Apesquisadora obteve boa receptivida<strong>de</strong>, não havendo nenh<strong>um</strong>a que serecusasse a colaborar com o trabalho.


OS SENTIDOS DE VACINA1. Caracterização das mãesNo conjunto <strong>de</strong> mães e gestantes entrevistadas, a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>variou <strong>de</strong> 14 a 41 anos, a moda <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> está situada entre 20 a 29 anoscorrespon<strong>de</strong>ndo a 52,4% do grupo <strong>em</strong> estudo; também nesta faixa encontra-sea moda <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> para as duas sub-amostras estudadas: multíparas e nulíparas(Tabela 1). A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> encontrada foi <strong>de</strong> 24,09 anos, entretanto, vale oregistro <strong>de</strong> que <strong>um</strong> contingente <strong>de</strong> 29,9% correspon<strong>de</strong> à faixa etária <strong>de</strong> 14 a 19anos.Tabela 1Gestantes e mães segundo ida<strong>de</strong> e número <strong>de</strong> gestações.Ida<strong>de</strong> Nulíparas Multíparas Totalf % f % f %14-19 anos 27 44,3 10 15,9 37 29,920-29 anos 33 54,1 32 50,8 65 52,430-39 anos 01 1,6 19 30,1 20 16,140 ou mais - - 02 3,2 02 1,6Total 61 100 63 100 124 100Observou-se <strong>um</strong> expressivo número <strong>de</strong> gestantes (principalmente) <strong>em</strong>ães adolescentes. Do total das gestantes nulíparas, quase a meta<strong>de</strong> (44,3%)era adolescente 27 . E no conjunto das adolescentes nulíparas, quase a meta<strong>de</strong>(44,4%) apresentava entre 14 e 16 anos. Em estudos recentes constatou-seque, contrariando a tendência para o <strong>de</strong>clínio significativo da taxa <strong>de</strong>fecundida<strong>de</strong> no país, há <strong>um</strong> visível a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong>sta taxa entre as adolescentes.27O período da adolescência, segundo a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, abrange dos <strong>de</strong>z atéos 19 anos, 11 meses e 29 dias (Vitalle, 2000).


Houve <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> 26% na gravi<strong>de</strong>z <strong>em</strong> adolescentes <strong>de</strong> 15 a 19 anosentre 1970 e 1991, sendo que a fecundida<strong>de</strong> das jovens pobres era <strong>de</strong>z vezesmaior que as <strong>de</strong> maior nível sócio-econômico (Cannon, 1999).Os dados da Tabela 2 refer<strong>em</strong>-se aos nascidos vivos <strong>de</strong> mãesadolescentes na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro (total <strong>de</strong> 18,5% <strong>em</strong> 2002) e na áreaprogramática (2.2) <strong>de</strong> abrangência do CMS Heitor Beltrão (14,95% <strong>em</strong> 2002).Observa-se que neste estudo o percentual <strong>de</strong> mães adolescentes foi próximoaos dados verificados pela Prefeitura e aos dados da Pesquisa Nacional <strong>de</strong>D<strong>em</strong>ografia e Saú<strong>de</strong> (PNDS), <strong>de</strong> 1996 que apontou que 14% das jovens entre15 e 19 anos tinham ao menos <strong>um</strong> filho. O percentual <strong>de</strong> nulíparasadolescentes foi muito mais significativo, entretanto, há que se levar <strong>em</strong>consi<strong>de</strong>ração também os óbitos fetais e a maior vulnerabilida<strong>de</strong> das jovensfrente à gravi<strong>de</strong>z 28 (Cannon, 1999) que, no caso presente, não se constituíramobjeto <strong>de</strong> análise.Tabela 2Nascidos vivos <strong>de</strong> mães adolescentes na Área <strong>de</strong>Planejamento 2.2 e o total do Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Adolescentes TotalAno AP 2.2 Total% % f %1997 14,5 19,4 103.193 1001998 13,3 19,7 97.369 1001999 14,2 19,7 103.624 1002000 15,0 19,6 96.699 1002001 13,9 19,3 90.213 1002002 14,9 18,5 86.829 100Fonte: Rio <strong>de</strong> Janeiro (2002)Tabela 3Gestantes e mães segundo número <strong>de</strong> filhos.Filhos Nulíparas Multíparasf % f %Nenh<strong>um</strong> 61 100 -1 filho - 33 52,42 filhos - 22 34,93 ou mais filhos - 08 12,7Total 61 100 63 10028 Ainda segundo a autora, entre 1993 e 1998 houve <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> 31% <strong>em</strong> partos <strong>em</strong> meninas <strong>de</strong> 10a 14 anos atendidas pelo SUS; <strong>em</strong> 1998 foram atendidas mais <strong>de</strong> 50 mil adolescentes para curetag<strong>em</strong>pós-aborto e três mil entre elas tinham <strong>de</strong> 10 a 14 anos.


nor<strong>de</strong>ste): 37,7% das nulíparas e 34,9% das multíparas e <strong>um</strong>a gestante eraargentina (Tabela 8).2. As representações <strong>de</strong> vacina e sua estruturaProcurou-se i<strong>de</strong>ntificar as representações sociais que as gestantes <strong>em</strong>ães têm da vacinação <strong>de</strong> seus filhos e, apoiando-se na abordag<strong>em</strong> estrutural(Abric, 1994; Sá, 1996), estabelecer sua organização interna – a estrutura ehierarquização dos el<strong>em</strong>entos a partir do núcleo central <strong>de</strong>ssasrepresentações.Esta abordag<strong>em</strong> possibilita reconhecer os el<strong>em</strong>entos essenciais darepresentação da vacinação, usualmente os mais estáveis, <strong>de</strong>terminados porcondições históricas e sociais, e que configuram <strong>um</strong> sentido coletivo àrepresentação (o seu núcleo central), e aqueles periféricos, que po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>ostrar flexíveis, adaptáveis, instáveis, ancorados no dia-a-dia, permeáveis amudanças às quais as representações ficam sujeitas a cada contexto (osist<strong>em</strong>a periférico).Analisou-se o teste <strong>de</strong> evocação aplicado, proce<strong>de</strong>ndo-se aolevantamento do conjunto <strong>de</strong> expressões, categorizadas e computadas <strong>de</strong>forma a evi<strong>de</strong>nciar as mais significativas. Estes resultados foram questionados,testados, por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a estratégia que visa à confirmação (ou não) dacentralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos. No momento seguinte, <strong>em</strong> vista doquestionário, foram discutidas as questões fechadas e proce<strong>de</strong>u-se a <strong>um</strong>aanálise discursiva <strong>de</strong> questões abertas com a intenção <strong>de</strong> subsidiar o estudodas representações sociais, confirmar os el<strong>em</strong>entos estruturais i<strong>de</strong>ntificados narepresentação e avaliar relações que as gestantes e mães pesquisadasestabelec<strong>em</strong> com o objeto.O teste <strong>de</strong> evocação livre <strong>de</strong> palavras v<strong>em</strong> sendo utilizado <strong>em</strong> diversaspesquisas para i<strong>de</strong>ntificar o núcleo central das representações como, porex<strong>em</strong>plo, nos trabalhos <strong>de</strong> Camargo (2000), Tura, Ma<strong>de</strong>ira e Gaze (2002),Martins, Trinda<strong>de</strong> e Almeida (2003), Menin (2000) e Möeller (1996). Seu caráterespontâneo suscita mais ágil e facilmente os el<strong>em</strong>entos significativos do objetorepresentado, constituindo-se, segundo Abric (1994), <strong>em</strong> relevante técnica parai<strong>de</strong>ntificação do núcleo central da representação.


Ao lado <strong>de</strong> <strong>outro</strong>s procedimentos, este teste conforma <strong>um</strong>a estratégia <strong>de</strong>abordag<strong>em</strong> que, segundo Abric (1994), procura atribuir ao próprio sujeito<strong>um</strong> trabalho cognitivo <strong>de</strong> análise, <strong>de</strong> comparação, <strong>de</strong> hierarquização. Esseprincípio metodológico permite reduzir <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida a parte <strong>de</strong>interpretação ou <strong>de</strong> elaboração da significação pelo próprio pesquisador etorna, portanto, a análise dos resultados mais fácil e mais pertinente (p.71).Após a aplicação do teste, buscou-se estimar a força <strong>de</strong> expressivida<strong>de</strong>que cada conteúdo apresenta – para o grupo <strong>em</strong> estudo – por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>aavaliação quantitativa <strong>de</strong> freqüência <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão das palavras.Diante da palavra vacina, as mães e gestantes pesquisadas realizaram314 evocações, com <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 54 palavras diferentes. Analisando-se oconjunto <strong>de</strong> expressões evocadas, proce<strong>de</strong>u-se a <strong>um</strong> levantamento <strong>de</strong>sinônimos e categorização por aproximação s<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong>sse material,alcançando-se <strong>um</strong> corpus <strong>de</strong> 31 expressões. As <strong>de</strong>z palavras evocadas commaiores freqüências foram: prevenção (89), saú<strong>de</strong> (42), proteção (36),importante (20), responsabilida<strong>de</strong> (20), doença (18), cuidado (14), bom (10),criança (9) e combate (8) e correspon<strong>de</strong>ram a 84,7% do total <strong>de</strong> evocaçõesrealizadas.Levantou-se a freqüência <strong>de</strong> evocações e a or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocaçãopara avaliar os diversos el<strong>em</strong>entos evocados (aspecto coletivo) e a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>evocação <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos (aspecto individual), segundo proposta <strong>de</strong> Vergès(1992; 1994). Calculou-se a freqüência <strong>de</strong> evocações somando-se todas asvezes que a palavra foi evocada nas diversas posições; a or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong>evocação foi obtida atribuindo-se o peso 1 quando foi evocada <strong>em</strong> primeirolugar, peso 2, quando evocada <strong>em</strong> segundo lugar e assim sucessivamente atéque se tivesse levantado todas as or<strong>de</strong>ns <strong>em</strong> que a palavra foi evocada. Emseguida, dividiu-se o somatório dos produtos obtidos pelo somatório dasfreqüências da palavra citada nas diversas posições e obtendo-se, assim, aor<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação do el<strong>em</strong>ento (Tura, 1998).Os dados obtidos foram distribuídos <strong>em</strong> <strong>um</strong> gráfico <strong>de</strong> dispersão <strong>em</strong> queo cruzamento das linhas indicativas da média <strong>de</strong> freqüência e da média dasor<strong>de</strong>ns médias <strong>de</strong> evocação faz surgir <strong>um</strong> diagrama <strong>de</strong> quatro quadrantes on<strong>de</strong>as evocações <strong>de</strong> maior freqüência e mais rapidamente evocadas estarão


dispostas no quadrante superior esquerdo e o oposto, no quadrante inferiordireito. Os prováveis componentes do núcleo central serão encontrados,portanto, no quadrante superior esquerdo e aqueles do quadrante inferiordireito nos apontam as expressões do sist<strong>em</strong>a periférico, indicativas <strong>de</strong> maiorinstabilida<strong>de</strong> e flui<strong>de</strong>z.Para se realizar esta análise preconizada por Vergès (1992; 1994),procurou-se calcular a freqüência média <strong>de</strong> evocação e a média das or<strong>de</strong>nsmédias <strong>de</strong> evocação, encontrando-se os valores <strong>de</strong> 36 e 1,95,respectivamente.Os el<strong>em</strong>entos “prevenção” e “proteção” apareceram com freqüênciamaior ou igual a 36 e or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> evocação menor que 1,95 e, assim, compõ<strong>em</strong>o quadrante superior esquerdo, correspon<strong>de</strong>ndo ao núcleo central dasrepresentações do grupo <strong>em</strong> estudo. Os el<strong>em</strong>entos “bom”, “cuidado” e“responsabilida<strong>de</strong>” apareceram com <strong>um</strong>a freqüência menor <strong>de</strong> 36 e or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>aparecimento maior ou igual a 1,95, compondo o quadrante inferior direito,referente ao sist<strong>em</strong>a periférico. E, finalmente, encontram-se os el<strong>em</strong>entos“doença” e “importante” que foram evocados com <strong>um</strong>a freqüência menor que36 e or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> evocação menor que 1,95 e “saú<strong>de</strong>” <strong>em</strong> situação opostacompondo o sist<strong>em</strong>a intermediário ou periferia próxima.Quadro 1Estrutura da representação social <strong>de</strong> vacina.f>=36OME < 1,95 OME >= 1,95El<strong>em</strong>entos f ome El<strong>em</strong>entos f omePrevençãoProteção89361,8991,806Saú<strong>de</strong> 42 1,976


sua modificação implica <strong>em</strong> mudança da representação social e a suaexpressão permite conhecer a experiência vivenciada pelo grupo <strong>em</strong> questão.Abric (1998) pon<strong>de</strong>ra ainda que:É preciso consi<strong>de</strong>rar também que a centralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> el<strong>em</strong>ento não po<strong>de</strong>ser atribuída somente por critérios quantitativos. Ao contrário, o núcleocentral possui, antes <strong>de</strong> tudo, <strong>um</strong>a dimensão qualitativa. Não é a presençamaciça <strong>de</strong> <strong>um</strong> el<strong>em</strong>ento que <strong>de</strong>fine sua centralida<strong>de</strong>, mas sim o fato que eledá significado à representação (p.31).Sobre esse aspecto, Moliner (1994) enfatiza que as característicasquantitativas do núcleo central <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> exatamente <strong>de</strong> sua centralida<strong>de</strong>, “queé fundamentalmente qualitativa” (p.203), <strong>de</strong> significação. E, ainda, “se acentralida<strong>de</strong> qualitativa implica proprieda<strong>de</strong>s quantitativas, o inverso não és<strong>em</strong>pre verda<strong>de</strong>iro” (p.205).Estabelecida a possível estrutura das representações sociais <strong>de</strong> vacina,proce<strong>de</strong>u-se, a seguir, a <strong>um</strong>a avaliação da centralida<strong>de</strong> ou do po<strong>de</strong>r simbólicodos el<strong>em</strong>entos que estruturam esta representação (Abric, 1994; Moliner, 1994;Sá, 1996), buscando por meio do teste da dupla negação questionar aconsistência das evocações realizadas. Este procedimento permite estimar ovalor simbólico dos el<strong>em</strong>entos componentes da representação e i<strong>de</strong>ntificar ahierarquização dos mesmos (Abric, 2002). Parte-se da proposição <strong>de</strong> que osel<strong>em</strong>entos do núcleo central são imprescindíveis para a representação e suarefutação acarretaria a perda <strong>de</strong> significação da representação.Assim, a quarenta mães, escolhidas ao acaso nos serviços <strong>de</strong>Obstetrícia/Ginecologia e no <strong>de</strong> Pediatria, foi feito o teste <strong>de</strong> questionamentodos el<strong>em</strong>entos componentes do núcleo central e sist<strong>em</strong>a periférico darepresentação <strong>em</strong> estudo: “prevenção”, “saú<strong>de</strong>”, “proteção”, “cuidado”, “bom”,“responsabilida<strong>de</strong>”. Os resultados obtidos po<strong>de</strong>m ser observados no quadro 2.Na avaliação do teste <strong>de</strong> dupla negação, são consi<strong>de</strong>rados confirmadosos el<strong>em</strong>entos que alcançam a proporção <strong>de</strong> dupla negação igual ou maior doque 70%, isto é, os sujeitos não reconhec<strong>em</strong> o objeto s<strong>em</strong> a presença doel<strong>em</strong>ento avaliado.Quadro 2Teste <strong>de</strong> Questionamento.


El<strong>em</strong>ento f % Intervalo <strong>de</strong> ConfiançaPrevenção 39 97.500 [85.2655 – 99.8694]Saú<strong>de</strong> 40 100.000 [89.0872 – 100.0000]Proteção 39 97.500 [85.2655 – 99.8694]Cuidado 40 100.000 [89.0872 – 100.0000]Bom 40 100.000 [89.0872 – 100.0000]Responsabilida<strong>de</strong> 40 100.000 [89.0872 – 100.0000]Para testar a significação estatística dos resultados foi utilizado o cálculo<strong>de</strong> confiança a 95% das percentagens obtidas. Assim sendo, os el<strong>em</strong>entosestruturais da representação questionados foram amplamente confirmados,<strong>um</strong>a vez que todos obtiveram percentagens acima <strong>de</strong> 70%.Na resposta às perguntas abertas, os el<strong>em</strong>entos “prevenção” e“proteção” apresentaram-se novamente com força e significação para asentrevistadas, evi<strong>de</strong>nciando <strong>um</strong>a contextualização histórica específica,bastante diversa da que envolveu a Revolta da Vacina <strong>de</strong> 1904 29 e, por <strong>outro</strong>lado, o estabelecimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> hábito, <strong>um</strong>a tradição que v<strong>em</strong> repassando <strong>de</strong>geração a geração nas últimas décadas. Ao respon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> por que traziam seusfilhos à vacinação, alg<strong>um</strong>as assim se expressaram:Para prevenir das doenças. Tanto é que minha mãe cuidou direitinho <strong>de</strong>ssa parte e eunão tive doença nenh<strong>um</strong>a. E a gente apren<strong>de</strong> com nossa mãe. É coisa que agente cresce já sabendo que é certo. (27 anos; fl<strong>um</strong>inense do interior – Campos,há 4 anos na cida<strong>de</strong> do Rio; ensino médio completo; cabeleireira) – 91Para prevenir contra as doenças, para ser s<strong>em</strong>pre <strong>um</strong>a criança saudável, para o<strong>de</strong>senvolvimento das funções imunológicas. (20 anos, fl<strong>um</strong>inense 30 , superiorincompleto, professora, n 31 ) – 21 3229Poucos anos atrás, a pesquisadora presenciou <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> “Revolta da Vacina” às avessas <strong>em</strong><strong>um</strong>a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a população jov<strong>em</strong> local foi convocada a se vacinar contra hepatite B.Foram distribuídas alg<strong>um</strong>as senhas e, n<strong>um</strong> <strong>de</strong>terminado momento, apareceram tantas pessoas <strong>em</strong> buscada vacina que houve início <strong>de</strong> t<strong>um</strong>ulto e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção dos profissionais e responsáveispela unida<strong>de</strong> para acalmar os ânimos mais exaltados...30 A gran<strong>de</strong> maioria das entrevistadas i<strong>de</strong>ntificadas como fl<strong>um</strong>inenses, na verda<strong>de</strong>, são também cariocas.As que nasceram no interior foram i<strong>de</strong>ntificadas como tal. A intenção era permitir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>comparação <strong>de</strong> possíveis diferenças na experiência com vacinação <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> centro urbano como o Rio<strong>de</strong> Janeiro e <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>s do interior do país.31 n, no caso, indica nulípara.32 O n<strong>um</strong>eral no final da fala i<strong>de</strong>ntifica o número do questionário (<strong>de</strong> 1 a 124). E pr. dom. indica prendasdomésticas


... Melhor prevenir do que r<strong>em</strong>ediar. (30 anos, fl<strong>um</strong>inense, 2ª série do ensino médio,auxiliar <strong>de</strong> lavan<strong>de</strong>ria) – 78Para acabar com essas doenças que antigamente eram epi<strong>de</strong>mia. Deviam inventar<strong>um</strong>a vacina para a <strong>de</strong>ngue. (30 anos; piauiense, há 10 anos no Rio; ensinomédio completo; subgerente <strong>de</strong> loja <strong>de</strong> doces) – 96Porque evita muitas doenças hoje <strong>em</strong> dia. Inclusive agora acho que os postos <strong>de</strong>viamdar a da catapora. Minha amiga per<strong>de</strong>u <strong>um</strong>a filha <strong>de</strong> cinco anos com catapora.(28 anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino médio completo, auxiliar <strong>de</strong> turma, n) – 18No intuito <strong>de</strong> explorar possíveis sentidos que as entrevistadassuscitavam com o el<strong>em</strong>ento “prevenção”, utilizou-se <strong>um</strong> dicionário da línguaportuguesa. Para prevenção, foram encontrados significados como: ato ouefeito <strong>de</strong> prevenir-se, modo <strong>de</strong> ver antecipado, precaução, cautela. Paraprevenir: preparar, dispor <strong>de</strong> maneira que evite (dano, mal), evitar, anteciparse,precaver-se, armar-se, pr<strong>em</strong>unir-se, entre <strong>outro</strong>s (Ferreira, 1999).Em outras falas explicitaram o entendimento que têm acerca da“proteção” que as vacinas confer<strong>em</strong> às crianças.Porque a criança fica protegida, você fica mais segura. É importante que todas as mãestivess<strong>em</strong> essa responsabilida<strong>de</strong>. (33 anos; cearense, há <strong>de</strong>z anos no Rio; 5ª série doensino fundamental, <strong>em</strong>pregada doméstica) - 69As vacinas são muito fortes e proteg<strong>em</strong> a criança. Meu filho t<strong>em</strong> o cartão completo, se<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> eu ganhar <strong>um</strong> prêmio disso... (19 anos, fl<strong>um</strong>inense, 7ª série do ensinofundamental, <strong>em</strong>pregada doméstica) – 92Por cost<strong>um</strong>e mesmo. É importante para proteger <strong>de</strong> muitascoisas, muitas doenças. (38 anos, carioca, 4ª série do ensino fundamental, <strong>em</strong>pregadadoméstica) – 118A busca ao dicionário (Ferreira, 1999) ofereceu para o el<strong>em</strong>entoproteção sentidos, como: ato ou efeito <strong>de</strong> proteger(-se), abrigo, resguardo,auxílio, amparo. Para proteger: tomar a <strong>de</strong>fesa, apoiar, preservar do mal,<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r.Verificou-se, por <strong>outro</strong> lado, que tais el<strong>em</strong>entos – “prevenção” e“proteção” i<strong>de</strong>ntificados como núcleo central das representações que as mãese gestantes têm da vacinação <strong>de</strong> seus filhos – guardam referência, sintonia,


po<strong>de</strong>-se dizer, estreita com o discurso acadêmico da Epi<strong>de</strong>miologia, que <strong>de</strong>fineas ações <strong>de</strong> imunização como ações <strong>de</strong> proteção específica, enquanto nível <strong>de</strong>prevenção primária. Segundo Pereira (2003), as ações <strong>de</strong> prevenção primária,que abrang<strong>em</strong> as <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> proteção específica (entre elas,a vacinação), são dirigidas à manutenção da saú<strong>de</strong>. Enquanto as <strong>de</strong> prevençãosecundária – que envolv<strong>em</strong> o diagnóstico e o tratamento precoces, e alimitação <strong>de</strong> dano – <strong>de</strong>stinam-se à fase patológica, <strong>de</strong> progressão da doença.As <strong>de</strong> prevenção terciária, <strong>de</strong> reabilitação, estão colocadas para a fase final doprocesso patológico, buscando a recuperação do indivíduo, o restabelecimento<strong>de</strong> seu potencial funcional.Para os el<strong>em</strong>entos do sist<strong>em</strong>a periférico, foram encontrados nodicionário (Ferreira, 1999) os seguintes sentidos: “cuidado” – precaução,cautela, <strong>de</strong>svelo, zelo, encargo, inquietação <strong>de</strong> espírito; “bom” – que t<strong>em</strong> todasas qualida<strong>de</strong>s a<strong>de</strong>quadas à sua natureza ou função, benigno, perfeito,completo; “responsabilida<strong>de</strong>” – qualida<strong>de</strong> ou condição <strong>de</strong> responsável;responsável - que respon<strong>de</strong> pelos próprios atos ou pelos <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>.El<strong>em</strong>entos do sist<strong>em</strong>a periférico também foram revelados nas falas dasmultíparas, como o cuidado diário e o senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> que atribu<strong>em</strong>às mães, suplantando possíveis entraves <strong>em</strong>ocionais, <strong>de</strong> medo ou pena, o<strong>um</strong>esmo materiais, que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> dificultar a observação do calendário vacinal.São percepções ligadas às experiências pessoais, inclusive as funções sociaisque atribu<strong>em</strong> à condição <strong>de</strong> ser mãe, manifestando sua ancorag<strong>em</strong> nocotidiano.Qu<strong>em</strong> ama cuida, e a vacina é <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> cuidar. Acho que n<strong>em</strong> é preciso falar.(23 anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino médio completo, pr. dom) – 82Para ter amor ao filho, cuidando, prevenindo, vacinando, porque assim não teráprobl<strong>em</strong>as futuros. (27 anos; fl<strong>um</strong>inense do interior – Campos , há 4 anos nacida<strong>de</strong> do Rio; ensino médio completo; cabeleireira) – 91Porque a criança fica protegida, você fica mais segura. É importante que todas asmães tivess<strong>em</strong> essa responsabilida<strong>de</strong>. Acho que é importante porque ascrianças ficam imunes. Quando você é mãe t<strong>em</strong> que estar preparada para tudo e<strong>um</strong>a das responsabilida<strong>de</strong>s maiores é a vacina. (33 anos; cearense, há 10 anosno Rio; 5ª série do ensino fundamental, <strong>em</strong>pregada doméstica) - 69


Em ação há mais <strong>de</strong> 30 anos, o PNI disponibiliza na re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong>atenção, <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 26 mil postos <strong>de</strong> rotina <strong>de</strong> vacinação, <strong>um</strong>a ofertaorganizada, <strong>de</strong> fácil acesso, cotidiana, <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> imunizantes. Envolve<strong>em</strong> alg<strong>um</strong>as ocasiões, como nos Dias Nacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong>, <strong>um</strong> processoefetivamente ativo, ampliado, com o trabalho <strong>de</strong> contatar as famílias, chegar àscrianças, efetuado pelos profissionais das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por agentescomunitários.Os Dias Nacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> se suce<strong>de</strong>m há 24 anos, <strong>em</strong> duasetapas, com campanhas impactantes <strong>de</strong> mídia, <strong>em</strong> re<strong>de</strong> nacional – com aparticipação <strong>de</strong> personagens conhecidos do gran<strong>de</strong> público, que lhe inspir<strong>em</strong>confiança, admiração, respeito. Mais recent<strong>em</strong>ente foram privilegiados artistase atletas para as mensagens ao público.Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> milhares <strong>de</strong> municípios do país foram, portanto,equipadas para oferecer esse serviço. Nos Dias Nacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong>,mesmo unida<strong>de</strong>s que não oferec<strong>em</strong> o serviço rotineiramente acabam seintegrando a esta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> imunizantes, assim como escolas eentida<strong>de</strong>s. No dia 5 <strong>de</strong> junho, p.p., Dia Nacional <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> contra aPoliomielite, foram mobilizadas mais <strong>de</strong> 400 mil pessoas, entre servidores dasaú<strong>de</strong> e voluntários, <strong>em</strong> 117 mil postos para a vacinação, segundo informe daSecretaria <strong>de</strong> Vigilância à Saú<strong>de</strong> (Brasil, 2001f). Uma gestante, n<strong>um</strong>a dasrespostas, já aconselhava:Que elas não per<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> a oportunida<strong>de</strong> das campanhas que s<strong>em</strong>pre acontec<strong>em</strong>. É<strong>um</strong>a prevenção b<strong>em</strong> eficaz. Uma gotinha só po<strong>de</strong> salvar <strong>um</strong>a vida. (24 anos,paraibana, 2º grau completo, há sete anos no Rio, pr. dom, n) – 48Ressalte-se ainda a experiência <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> famílias que não maisvivenciaram as angústias provocadas por alg<strong>um</strong>as afecções anteriormentei<strong>de</strong>ntificadas n<strong>um</strong> espectro <strong>de</strong> “doenças próprias da infância” que po<strong>de</strong>riamlevar seus filhos ao óbito ou a graves seqüelas 33 . Várias falas se referiram aessa experiência, que sinaliza mais <strong>um</strong>a vez a contextualização histórica esocial da representação.33 Nos dias <strong>de</strong> hoje, muitas mães e mesmo profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – como médicos formados maisrecent<strong>em</strong>ente – não mais tiveram contato com moléstias como sarampo, coqueluche ou difteria, para citaralg<strong>um</strong>as doenças imunopreveníveis.


Porque s<strong>em</strong> vacina a criança não fica legal. Eu tenho <strong>um</strong> irmão que não tomou vacinae ficou com paralisia infantil, que agora não dá mais por causa das vacinas. (24anos, cearense, 5ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 68Se não dá vacina po<strong>de</strong> dar paralisia. O garoto lá <strong>em</strong> cima (no morro) não tomou vacinae ficou aleijado. (18 anos, 5ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 99Pra não ter probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> doença. Já aconteceu no caso da minha família. Meu irmãoteve paralisia infantil. Acho que foi <strong>um</strong> crime que fizeram com ele. (30 anos,carioca; “autodidata”, sic; enca<strong>de</strong>rnadora) – 100Moscovici (1978) arg<strong>um</strong>entava que é compreensível queos traços, tanto sociais como intelectuais, <strong>de</strong> representações formadas <strong>em</strong>socieda<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a ciência, a técnica e a filosofia estão presentes soframsua influência e se constituam <strong>em</strong> seu prolongamento, e (ou) <strong>em</strong> oposição aelas (p. 44).Mais à frente avalia que há <strong>um</strong>a relação dinâmica que leva o grupo <strong>em</strong>questão a incorporar saberes antes incomuns ao seu cotidiano:Isso só é possível se fizermos passar, como através <strong>de</strong> vasos comunicantes,linguagens e saberes <strong>de</strong> regiões on<strong>de</strong> existe abundância para regiões on<strong>de</strong>predomina a escassez e vice-versa (Moscovici, 1978, p.60).Já no processo <strong>de</strong> observação, percebeu-se que as mães têm <strong>um</strong>aavaliação positiva dos benefícios que a imunização proporciona a seus filhos,ao associá-la à prevenção <strong>de</strong> doenças. Mesmo que alg<strong>um</strong>as se ressentiss<strong>em</strong>com a dor que envolve a aplicação <strong>de</strong> alguns imunizantes, elas se mostraramcompensadas pelo benefício que reconheciam implícito ao ato.Ao se i<strong>de</strong>ntificar os el<strong>em</strong>entos “prevenção” e “proteção” comocomponentes do núcleo central das representações sociais das gestantes <strong>em</strong>ães acerca <strong>de</strong> vacina das crianças, po<strong>de</strong>-se avaliar que esses sentidoscontribu<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma efetiva, para a significativa observância ao calendáriovacinal observada atualmente. E, como foi visto anteriormente, asrepresentações sociais orientam a prática dos indivíduos e grupos que aselaboram, interferindo no seu cotidiano, dirigindo suas ações.A percepção do objeto é submetida a <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> interiorização, porvezes <strong>de</strong> transformação, para que resulte “n<strong>um</strong> conhecimento que a maioriadas pessoas utiliza <strong>em</strong> sua vida cotidiana” (Moscovici, 1978, p.50). Observouse,por ex<strong>em</strong>plo, que as gestantes e mães <strong>em</strong> questão se apropriaram da


cognição “prevenção” incorporando-a ao seu universo próprio 34 , cotidiano, <strong>de</strong>cuidado das crianças. Moscovici (1978) aponta que:é preciso que o conteúdo estranho se <strong>de</strong>sloque para o interior <strong>de</strong> <strong>um</strong>conteúdo corrente, e que o que está fora do nosso universo penetre nointerior <strong>de</strong> nosso universo. Mais exatamente, é necessário tornar familiar oinsólito e o insólito o familiar, mudar o universo s<strong>em</strong> que ele <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser onosso universo (p.60).A prática da vacinação e o processo que a envolve – incluindo a atuaçãodos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> –, as campanhas <strong>de</strong> mídia e a experiência apreendidacom tal prática, influenciaram a elaboração das representações que as mãestêm sobre a vacinação das crianças e, reciprocamente, tais representaçõesvêm orientando sua prática, <strong>de</strong> tal modo que <strong>um</strong>a gestante aconselhava:Que todas não <strong>de</strong>ix<strong>em</strong> <strong>de</strong> vacinar. Minha mãe teve <strong>de</strong>z filhos, levava os <strong>de</strong>z paravacinar, nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> levar. Eu tenho o cartão, bonitinho... (24 anos,pernambucana, há três anos no Rio, 7ª série do ensino fundamental, <strong>em</strong>pregadadoméstica, n) – 26Há duas gerações, ao menos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação do PNI, milhares <strong>de</strong>mães ac<strong>um</strong>ularam conhecimentos que as impel<strong>em</strong> à observação do calendáriovacinal nos níveis expressivos <strong>em</strong> que hoje são verificados. E hoje o faz<strong>em</strong> <strong>de</strong>maneira consciente, mobilizadas por asserções análogas às que o saberacadêmico preconiza.Debruçando-se novamente sobre os resultados, procurou-se i<strong>de</strong>ntificarpossíveis diferenças entre as estruturas da representação <strong>de</strong> vacina paranulíparas e multíparas. Foram observadas alg<strong>um</strong>as diferenças nas estruturasdas representações construídas por elas.I<strong>de</strong>ntificou-se no núcleo central das multíparas somente o el<strong>em</strong>ento“proteção”, com freqüência igual a 25 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a1,880. Observou-se que “prevenção”, com freqüência igual a 47 e or<strong>de</strong>m média<strong>de</strong> evocação igual a 2, passou a compor o sist<strong>em</strong>a intermediário, ocupando oquadrante superior direito; ao mesmo t<strong>em</strong>po, “saú<strong>de</strong>”, com freqüência igual a20 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a 1,650, também mudou <strong>de</strong> posição<strong>de</strong>scolando-se para o quadrante inferior esquerdo. Quanto ao sist<strong>em</strong>a34Outras ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como a terapia <strong>de</strong> reidratação oral, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar oacompanhamento pré-natal e o planejamento familiar, a prevenção do câncer <strong>de</strong> colo uterino, antesalheias a seu cotidiano, vêm sendo incorporadas por <strong>um</strong> contingente significativo <strong>de</strong> mulheres no país.


periférico, verifica-se que passa a ser composto por “cuidado”, freqüência iguala 12 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a 2,333, e “responsabilida<strong>de</strong>”,freqüência igual a 12 e or<strong>de</strong>m média <strong>de</strong> evocação igual a 2,167, constatandoseo <strong>de</strong>saparecimento do el<strong>em</strong>ento “bom” (Quadro 3)..Quadro 3Estrutura da representação social <strong>de</strong> vacina das multíparas.f OME < 2,00 OME >= 2,00El<strong>em</strong>entos f ome El<strong>em</strong>entos f ome>=22= 1,95El<strong>em</strong>entos f ome El<strong>em</strong>entos f ome>=22Prevenção 42 1,786 Saú<strong>de</strong> 22 2,273


Para Sá (1996), é no sist<strong>em</strong>a periférico das representações sociais on<strong>de</strong>se observa “a interface com as questões práticas da vida cotidiana” (p.82) ouas modulações individuais como assinala Flament (1994). Enquanto osel<strong>em</strong>entos centrais envolv<strong>em</strong> prescrições absolutas ou incondicionais, osel<strong>em</strong>entos periféricos são reconhecidos como prescrições condicionais, maisligadas ao dia-a-dia, ao contexto do momento <strong>em</strong> que a prática social éobservada. O sist<strong>em</strong>a periférico revela indícios, indicações das condições dasituação atual. É condicionado pelos fatos presentes e vulnerável àsintercorrências da experiência vivenciada pelo grupo. Experiências e práticas,por sua vez, que revelam as especificida<strong>de</strong>s do grupo que suscita (ou não,como neste caso) tais el<strong>em</strong>entos.As gestantes nulíparas não vivenciaram a experiência da vacinação <strong>de</strong>seus filhos, assim se explica a lacuna observada <strong>em</strong> seu sist<strong>em</strong>a periférico:efetivamente, não foram encontradas expressões cotidianas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vivênciaque ainda não ocorreu.Por <strong>outro</strong> lado, faz<strong>em</strong> parte do sist<strong>em</strong>a periférico das multíparas osel<strong>em</strong>entos: “bom”, “cuidado” e “responsabilida<strong>de</strong>”, cognições condicionadaspelo fato <strong>de</strong>, no seu cotidiano, já ter<strong>em</strong> experimentado a efetivação daimunização <strong>em</strong> seus filhos, com o conjunto <strong>de</strong> sentidos e conhecimentos quetal prática lhes <strong>de</strong>svelou.Vacina é primordial, é obrigação da mãe. Porque a vida que está <strong>em</strong> jogo! (27 anos,fl<strong>um</strong>inense, ensino superior incompleto, técnica <strong>de</strong> patologia clínica) – 80Pra manter o cartãozinho da criança s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> dia. Tomar todas as vacinas. Quandovir aquelas epi<strong>de</strong>mias não ter perigo da criança pegar as doenças. (21 anos;cearense, há <strong>um</strong> ano no Rio; ensino médio completo; pr. dom) – 86Pra não esquecer <strong>de</strong> dar a vacina pra criança porque é <strong>um</strong> direito que essa criançat<strong>em</strong> para proteger <strong>de</strong>ssas doenças. E pra ter <strong>um</strong>a criança saudável é preciso teressas vacinas. (21 anos; carioca, 7ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 103É importante estar s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> dia... Estou s<strong>em</strong>pre olhando a carteira para vacinar. (39anos, carioca, 1ª série do ensino médio, comerciaria) – 110


Quanto ao núcleo central, po<strong>de</strong>mos avaliar também que as multíparastêm <strong>um</strong>a experiência mais concreta com os filhos que já receberam imunizaçãoe não apresentaram as doenças, ficando assim “protegidos”. Já as nulíparasnão passaram, pessoalmente, por essa experiência e evocaram com maiorfreqüência <strong>um</strong>a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais geral como “prevenção”.Buscou-se, na seqüência, com a análise <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as perguntas doquestionário, esten<strong>de</strong>r a avaliação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e práticas das mães acerca davacinação.Assim, são apresentados alguns resultados obtidos com a aplicação doquestionário. Inicialmente, as perguntas fechadas com respostas <strong>de</strong> freqüênciasimples e, <strong>de</strong>pois as <strong>de</strong>mais, abertas, <strong>em</strong> que se procurou levantar seusconteúdos.Os dados da Tabela 9 informam que tanto a experiência pessoal efamiliar como os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm <strong>um</strong> papel fundamental na orientaçãoquanto à vacinação. As nulíparas referiram principalmente sua experiênciapessoal ou familiar, ao passo que as multíparas aludiam aos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, muitas vezes citando o nome da instituição (Hospital do Andaraí, eMaternida<strong>de</strong>s Carmela Dutra, Oswaldo Nazareth e Pro-Matre) ou mesmo doprofissional (dra. Vânia, por ex<strong>em</strong>plo) ou ainda referindo-se ao serviço <strong>de</strong> prénatal.Possivelmente, essa diferença se explica pelo fato <strong>de</strong> que para asnulíparas, durante a gestação, as orientações e experiências são repassadas<strong>de</strong> forma mais marcante pelas ligações no núcleo familiar e no círculo <strong>de</strong>amiza<strong>de</strong>s. Para as multíparas, <strong>um</strong>a l<strong>em</strong>brança mais nítida da primeiravacinação do recém-nascido po<strong>de</strong> estar ligada à instituição on<strong>de</strong> a aplicaçãoocorreu, nas primeiras horas <strong>de</strong> vida, como v<strong>em</strong> sendo prática <strong>de</strong> rotina,recent<strong>em</strong>ente, <strong>em</strong> alg<strong>um</strong>as unida<strong>de</strong>s.Tabela 9Gestantes e mães segundo informaçõessobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vacinação.N % M % t %Experiência pessoal/familiar 48 76,1 22 32,8 70 53,8Mídia 10 15,9 03 4,5 13 10,0Serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 05 8,0 42 62,7 47 36,2Total 63 100 67 100 130 100


Durante a fase <strong>de</strong> observação foi constatado que alg<strong>um</strong>as mães serecusavam a segurar o filho durante a vacinação, <strong>de</strong>legando esta tarefa paramaridos, avós, amigas. A observação, durante várias horas, por dias seguidos,das reações das crianças e das mães quanto aos aspectos dolorososenvolvidos nas ações <strong>de</strong> vacinação foi <strong>um</strong> dos fatos relevantes daquel<strong>em</strong>omento do trabalho <strong>de</strong> campo. O alivio da dor e o conforto dos recémnascidosv<strong>em</strong> sendo objeto <strong>de</strong> estudo (Guinsburg, 1999) e <strong>de</strong> práticas <strong>em</strong>alg<strong>um</strong>as unida<strong>de</strong>s neonatais que visam à h<strong>um</strong>anização do atendimentorealizado pela equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Já se preconiza, <strong>em</strong> alg<strong>um</strong>as unida<strong>de</strong>s, ooferecimento do aleitamento materno no momento da vacinação ou da punçãovenosa 35 , quando se observa <strong>um</strong> maior conforto para o recém-nascido,evi<strong>de</strong>nciado pela não ocorrência <strong>de</strong> choro. A “marca do cuidado h<strong>um</strong>anizado”(Bordin, 2001, p.218) também <strong>de</strong>ve ser estendido às salas <strong>de</strong> vacina, on<strong>de</strong> acriança experimenta <strong>um</strong> “estresse biológico e psicossocial”, segundo a autora.Tabela 10Gestantes e mães segundo <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> segurar o filho na vacinação.N % M % t %Eu segurei, segurarei 49 80,3 53 79,1 102 79,7Não segurei, não segurarei 12 19,7 11 16,4 23 18,0Com o segundo, eu - - 03 4,5 3 2,3segurareiTotal 61 100 67 100 128 100Tabela 11Gestantes e mães segundo os motivos paranão segurar os filhos na vacinação.N % M % t %Medo 07 50,0 12 80 19 65,5Pena / dó 07 50,0 03 20 10 34,5Total 14 100 15 100 29 100Esta pergunta ocorreu, portanto, durante o processo <strong>de</strong> observação. Aavaliação <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto mais amplo <strong>de</strong> mães, no entanto, indicou que amaioria se encarrega da tarefa, <strong>em</strong> que pes<strong>em</strong> os sentimentos <strong>de</strong> medo, pena35 No Hospital Maternida<strong>de</strong> Fernando Magalhães (SMS-RJ) o contato pele-a-pele e o aleitamento maternovêm sendo incentivados, com base <strong>em</strong> literatura publicada sobre os efeitos benéficos do leite materno, <strong>de</strong>seus componentes, da sucção com glicose e o contato direto com o bebê (Blass, 1996; Blass, Ciamitaro,1994; Stevens, Taddio, Ohlsson, Einarson, 1997), com resultados práticos expressivamente satisfatórios.


e dó que po<strong>de</strong>m estar envolvidos <strong>de</strong> forma mais ou menos intensa e expressano ato.Cerca <strong>de</strong> 70% das mães referiram a não ocorrência <strong>de</strong> reações ouefeitos colaterais das vacinas. Nenh<strong>um</strong>a mãe do conjunto pesquisadoi<strong>de</strong>ntificou <strong>um</strong>a reação mais grave na aplicação dos imunizantes, <strong>em</strong>consonância com a experiência diária das salas <strong>de</strong> vacina e com observaçõesreferidas no Manual <strong>de</strong> Normas <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong> (Brasil,2001) <strong>de</strong> que “as manifestações que po<strong>de</strong>m ocorrer são geralmente benignas etransitórias” (p.18). Ainda, segundo o Manual, exist<strong>em</strong> casos <strong>de</strong> reações,específicas a cada vacina, porém estatisticamente não contra-indicam avacinação universal preconizada pelos programas <strong>de</strong> vacinação. Há tambémindicações precisas para casos especiais como os <strong>de</strong> criançasimuno<strong>de</strong>primidas, sintomáticas ou não.Tabela 12Gestantes e mães segundo informaçõessobre possíveis reações a vacinas.Nulíparas MultíparasS<strong>em</strong> reação - 44BCG - 09Hepatite - 07“Na coxinha” - 05Tríplice/DPT - 04Triviral - 01Não l<strong>em</strong>bra - 04Tabela 13Gestantes e mães segundo oferecimento <strong>de</strong> orientação sobrecuidados relativos às reações vacinais e qu<strong>em</strong> os recomendou.Nulíparas MultíparasSim - 61Não - 02Pelo (a) vacinador(a)- 52Outra pessoa - 11


A imensa maioria das mães foi orientada pela vacinadora, corroborandoobservação efetuada nas salas <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> vacinas. Alg<strong>um</strong>as mãescitaram também médicos como os orientadores.O cartão <strong>de</strong> vacina foi amplamente referido, mesmo pelas nulíparas, poishoje é consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento 36 , a ser apresentado <strong>em</strong> várias ocasiões,que não exclusivamente os dias <strong>de</strong> vacinação. A maioria guarda com cuidado,geralmente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> plástico (para evitar dano, até mesmo <strong>em</strong> caso <strong>de</strong>enchentes, como <strong>em</strong> <strong>um</strong> momento foi citado). Nele, após a primeira vacinação,s<strong>em</strong>pre é marcado, a lápis, a data da próxima vacinação, orientando as mãesquanto à data <strong>de</strong> comparecimento ao serviço.Tabela 14Gestantes e mães segundo orientaçãopara aplicação da próxima vacina.Nulíparas MultíparasPelo cartão 24 63Outro 08 02Não sabe 37 -Em diversos textos e na prática diária, percebe-se que ocorrepercentag<strong>em</strong> significativa <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s perdidas <strong>de</strong> imunização (OPI). Em1996, Rey referia que a taxa <strong>de</strong> OPI estimada pela OMS era <strong>de</strong> 41%. ParaRodríguez-Brieschke (2001) as falsas contra-indicações à vacinação e a falta<strong>de</strong> informação foram as principais causas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s perdidas <strong>de</strong>imunização. Novaes (1994) observou que ocorrência <strong>de</strong> OPI estava ligadaprincipalmente ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> seguida a fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>madministrativa e poucos casos relativos à acompanhante da criança.Pesquisando a participação do pessoal da saú<strong>de</strong> nas OPI, Fe<strong>de</strong>ricci, Gatica,Nalda, Pannocchia, Racioppi e Senosian (1999) levantaram que as causasmais freqüentes <strong>de</strong> OPI percebidas pelo pessoal da saú<strong>de</strong> foram atribuídas aospacientes, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que foram observadas 86,3% <strong>de</strong> falsas contraindicaçõesà vacinação <strong>em</strong> 52% dos profissionais estudados. Na Venezuela,Amaya <strong>de</strong> Brett e Dominguez <strong>de</strong> Torrealba (1996), <strong>em</strong> estudo sobre vacinação36 Abaixo do diagrama com as datas das imunizações está inscrito no Cartão da Criança: “Doc<strong>um</strong>entoválido <strong>em</strong> todo o Território Nacional como comprovante <strong>de</strong> vacinação. Não po<strong>de</strong> ser retido.”


<strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> cinco anos, observaram que a principal causa <strong>de</strong> nãovacinação foi a falta <strong>de</strong> imunobiológicos nos ambulatórios. Desnutrição,infecção ou afecções alérgicas <strong>de</strong> vias respiratórias altas, diarréia leve o<strong>um</strong>o<strong>de</strong>rada, doenças <strong>de</strong> pele (impetigo, escabiose), pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>, internaçãohospitalar (salvo exceções), esqu<strong>em</strong>as com corticosterói<strong>de</strong> inferior a duass<strong>em</strong>anas (Brasil, 2001b) têm sido fatores que erroneamente levam médicos acontra-indicar<strong>em</strong> a vacinação 37 .Rey (1996) aponta que as principais causas <strong>de</strong> OPI <strong>em</strong> 20 estudos porele analisados foram: falsas contra-indicações (a causa mais freqüente), nãoi<strong>de</strong>ntificação da criança suscetível (por negligência do pessoal da saú<strong>de</strong>);barreira institucionais, como não disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vacinas diariamente,horários para imunização diferentes do atendimento, longa espera na fila,restrição do número <strong>de</strong> crianças e dificulda<strong>de</strong>s logísticas: estoquesinsuficientes; frascos <strong>de</strong> várias doses e que não são abertos para poucascrianças; não aplicação <strong>de</strong> várias vacinas n<strong>um</strong> mesmo dia. O autor refere que<strong>em</strong> alguns países a recusa materna é causa importante <strong>de</strong> OPI, porém <strong>em</strong><strong>outro</strong>s, se houver indicação do profissional a mãe aceita vacinar. Em seuestudo, avaliou que, <strong>em</strong> nosso meio, a recusa pelos familiares não ésignificativa e houve aceitação <strong>de</strong> 92 a 95% quando a vacinação era indicadapelo pediatra.Tabela 15Mães segundo informações sobre a campanha.MultíparasInformação f %Mídia 60 83,33Família / amiza<strong>de</strong> 07 9,72Instituição / entida<strong>de</strong> 05 6,9437 Em Editorial do Jornal <strong>de</strong> Pediatria, Martins (1996) l<strong>em</strong>brava:“Não há muito t<strong>em</strong>po... <strong>um</strong> pouco mais <strong>de</strong> 30 anos....Favelas da Saú<strong>de</strong>, Gamboa, da Maré. Nesta, aliás, ocorreu o último caso <strong>de</strong> varíola doBrasil. Todas as crianças estão com tosse, ou asma, ou com parasitoses, ou com pio<strong>de</strong>rmites,ou com diarréia, forte ou leve, quase todas com alg<strong>um</strong> grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição. A or<strong>de</strong>m é só vacinaras crianças sadias. Não há crianças sadias, constata o pediatra <strong>em</strong> <strong>de</strong>sespero, que tenta a tarefaimpossível <strong>de</strong> conciliar as <strong>de</strong>terminação vigentes com a realida<strong>de</strong>.” (p.3)


A imensa maioria (96,82%) das mães levou seus filhos à vacinação <strong>em</strong>Dias Nacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> contra a poliomielite. A divulgação através <strong>de</strong>cartazes, anúncios <strong>em</strong> rádios, canais <strong>de</strong> televisão, jornais têm apresentado <strong>um</strong>efeito amplificador <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> potencial, e foi apontada por quase todas asentrevistadas (Tabela 15). A cada ano, novas peças publicitárias são realizadaspara sensibilizar e motivar famílias a vacinar<strong>em</strong> as crianças. No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>todos esses anos <strong>de</strong> campanhas, os veículos e estratégias <strong>de</strong> comunicaçãosofreram mudanças <strong>em</strong> sua abordag<strong>em</strong>, como aponta estudo <strong>de</strong> Porto e Ponte(2003) refletindo matizes diversos nas políticas <strong>de</strong> imunização no país.Ao “Cartão da Criança” foi atribuído o status <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>ento (Tabela 16).No início da década <strong>de</strong> 1990, <strong>em</strong> editorial <strong>de</strong> Pediatria (São Paulo), publicaçãodo Departamento <strong>de</strong> Pediatria da FMUSP, Marcon<strong>de</strong>s (1991) assim ocaracterizou. Avaliou que o cartão era <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento valioso para oacompanhamento da criança e conclamou os colegas médicos a prestigiá-locom as anotações pertinentes.Tabela 16Gestantes e mães segundo informações sobre solicitação<strong>de</strong> apresentação do Cartão da Criança <strong>em</strong> circunstâncias diversas.Nulíparas MultíparasNão sabe, não foi 28 09Na escola 20 42Programa do governo 38 11 30No trabalho / salário família 11 30No posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> / pediatra - 03Outro 01 02Atualmente, a Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Pediatria faz gestões junto aoMinistério da Saú<strong>de</strong> para a implantação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a Ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> que seprestará ao acompanhamento da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento até aadolescência, <strong>em</strong> substituição ao Cartão da Criança.38 Programas como o do leite, cheque-cidadão.Tabela 17Gestantes e mães ao ser<strong>em</strong> solicitadasa citar três doenças evitadas por vacinas.Nulíparas Multíparas Total


f % f % %Não citou 06 9,83 - - 6 4,84Citou <strong>um</strong>a 04 6,55 04 6,35 8 6,45Citou duas 19 31,14 11 17,45 30 24,19Citou três 29 47,54 38 60,32 67 54,03Citou mais <strong>de</strong> três 03 4,92 10 15,88 13 10,48Total 61 100 63 100,00 124 100,0Constatou-se que, ao respon<strong>de</strong>r à solicitação <strong>de</strong> citar três doençasevitadas por vacinas, seis entrevistadas referiram não l<strong>em</strong>brar <strong>de</strong> nenh<strong>um</strong>a;oito citaram <strong>um</strong>a vacina; 30 citaram duas vacinas; 67 citaram três vacinas; 13citaram mais <strong>de</strong> três vacinas. Vale l<strong>em</strong>brar que nenh<strong>um</strong>a apresentava terceirograu completo e apenas cinco, terceiro grau incompleto e que, <strong>em</strong> disciplinasdo primeiro e segundo grau, rotineiramente, não são ministradas aulasespecíficas sobre imunização, n<strong>em</strong> tampouco sobre o conjunto <strong>de</strong> vacinasexistentes na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.No Cartão da Criança são referidas como “Vacinas obrigatórias no 1ºano <strong>de</strong> vida”: ”BCG”, “Contra-Hepatite B”, “Anti-polio”, “DPT (Tríplice)”, “ContraHa<strong>em</strong>ophilus”, “Contra Sarampo”, “Outras Vacinas”.Há alg<strong>um</strong>as diferenças <strong>de</strong> impressão, com alguns cartões (mais antigos)não referindo a vacina contra Ha<strong>em</strong>ophilus B e <strong>outro</strong>s referindo a vacina contrafebre amarela ao lado <strong>de</strong> “outras vacinas”. Hoje alg<strong>um</strong>as alterações nasrubricas acontec<strong>em</strong>; por ex<strong>em</strong>plo, a vacina contra Ha<strong>em</strong>ophilus está associadaà tríplice, constituindo-se na “tetra”.vacinas.A Tabela 18 apresenta as gestantes e mães segundo informações sobreTabela 18Gestantes e mães segundo informações sobre vacinas:doenças evitáveis por vacinas segundo as respostas das entrevistadas.Nulíparas MultíparasNão l<strong>em</strong>bra 5 0Sarampo 33 41Paralisia 19 32Hepatite 13 21Rubéola 16 20Catapora 19 14Coqueluche 03 13


Tb/BCG 09 08Tétano 15 07Meningite 04 09Cax<strong>um</strong>ba 01 03Difteria 01 02Raiva 01 -Dengue 03 03Febre amarela 01 05Triviral - 01Pne<strong>um</strong>onia - 01Disenteria - 01Malária - 01Hiv/aids 03 -Sífilis - 01Gonorréia 01 -Bronquite - 01Verificou-se que as vacinas citadas incluíram o conjunto das vacinas docalendário do PNI – contra: sarampo, tuberculose (formas graves)/bcg;hepatite, tétano, rubéola, difteria, coqueluche, meningite e ainda foraml<strong>em</strong>bradas as indicadas contra: febre amarela, raiva, pne<strong>um</strong>onia, vacinas estasaplicadas sob <strong>de</strong>terminadas condições. Foram mencionadas vacinas contracatapora (varicela), ainda não disponível na re<strong>de</strong> (<strong>em</strong> São Paulo foi ministradadurante surto <strong>em</strong> escola, n<strong>um</strong>a data próxima da aplicação do questionário, enoticiada por jornal televisivo), mas disponível <strong>em</strong> clínicas particulares; e contradoenças como: <strong>de</strong>ngue, malária, HIV/AIDS, sífilis, gonorréia. Vacinas nãodisponíveis, alg<strong>um</strong>as <strong>em</strong> estudo, mas, curiosamente, no seu conjunto, todascontra doenças <strong>de</strong> interesse <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública. As vacinas contra HIV/AIDS,sífilis e gonorréia foram citadas por adolescentes.A seguir, buscou-se levantar as possíveis relações que as mães<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> no processo <strong>de</strong> vacinação que permitiss<strong>em</strong> revelar seusconteúdos subjacentes, efetuando-se <strong>um</strong>a análise <strong>de</strong> relação, precedida <strong>de</strong><strong>um</strong>a leitura flutuante (Bardin, 1979) <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as questões abertas doquestionário.O conteúdo “prevenção”, por ex<strong>em</strong>plo, apareceu nas respostas <strong>de</strong> 44nulíparas e <strong>de</strong> 37 multíparas; “proteção” apareceu <strong>em</strong> falas <strong>de</strong> oito nulíparas e19 multíparas. A tabela 19 apresenta os conteúdos levantados.Tabela 19Gestantes e mães segundo motivos para levar os filhos à vacinação.


Nulíparas Multíparas TotalConteúdos f % M % T %Prevenção 44 54,3 37 45,7 81 100,0Proteção 08 29,6 19 70,4 27 100,0História familiar / 02 22,2 07 77,8 9 100,0pessoalObrigação 06 42,8 08 57,2 14 100,0Saú<strong>de</strong> 13 65,0 07 35,0 20 100,0Desenvolvimento 03 33,3 06 66,7 9 100,0Responsabilida<strong>de</strong> - - 04 100,0 4 100,0Afetivida<strong>de</strong> 01 100,0 - - 1 100,0Política / reivindicatória 01 50,0 01 50,0 2 100,0Mídia 01 50,0 01 50,0 2 100,0Cost<strong>um</strong>e - - 01 100,0 1 100,0Não sei 01 100,0 - - 1 100,0A percepção <strong>de</strong> que a vacina previne, protege as crianças apareceu commuita força também nesta pergunta, confirmando a expressivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>steconteúdo para o conjunto <strong>de</strong> mães analisado.Porque elas ficam protegidas das doenças. (19 anos, fl<strong>um</strong>inense, 2ª série do ensinomédio, pr. dom) – 71Pra ficar imunizado, não é? (33 anos, carioca, ensino fundamental completo, pr. dom)– 107A experiência pessoal e familiar, o sentido <strong>de</strong> obrigação – o cartão alertaque as vacinas são obrigatórias; a idéia <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvimento saudávelda criança, o senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> inerente ao fato <strong>de</strong> se mobilizar<strong>em</strong>para vacinar as crianças também apareceram com peso.Para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, para evitar muita doença também. No Paraná tinha muitascrianças com paralisia infantil, principalmente as pessoas mais velhas. (25 anos;paranaense, no Rio há dois anos, 1ª série do ensino médio, pr. dom) – 77Que todas dê<strong>em</strong> a vacina. Que é obrigatório! (22 anos; paraibana, há vinte anos noRio; 3ª série do ensino médio, pr. dom) – 73Outros conteúdos, a vacinação como expressão da afetivida<strong>de</strong> da mãe;a mídia como referência à vacinação também foram expressas, porém commenor força. A reivindicação <strong>de</strong> outras vacinas a ser<strong>em</strong> incluídas nocalendário, como <strong>um</strong> direito da criança, também foi i<strong>de</strong>ntificada, <strong>em</strong>boratambém com menor expressão.Tabela 20


Gestantes e mães segundo a possibilida<strong>de</strong>do posto não oferecer a vacina.Conteúdos Nulíparas Multíparasf % f %Pagava/dava <strong>um</strong> jeito 41 55,2 32 44,8Limitação econômica 15 42,9 20 57,1Difícil 19 63,4 11 36,6Não sei o que faria 07 33,4 14 66,6Desprendimento 05 83,4 01 16,6Emocional 01 16,6 05 83,4Pedia ajuda 01 16,6 05 83,4O pai, tendo condições, ia pagar. A maioria das mães não ia conseguir. N<strong>em</strong> todastêm condições. (25 anos; cearense, há sete anos no Rio; 5ª série do ensinofundamental, pr. dom, n) 43Ah, não sei não. Acho que ia ficar s<strong>em</strong> tomar. Sei que cada vacina é <strong>um</strong> dinheirão. (24anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino fundamental completo, auxiliar <strong>de</strong> cabeleireiro) – 62Estava “ferrada”. O que ia ter <strong>de</strong> doenças... As crianças iam ficar com doençass<strong>em</strong>pre. (30 anos, fl<strong>um</strong>inense, 2ª série do ensino médio, auxiliar <strong>de</strong> lavan<strong>de</strong>ria) –78Após enfatizar<strong>em</strong> os benefícios que a vacinação proporciona, foi<strong>em</strong>baraçoso a alg<strong>um</strong>as mães ass<strong>um</strong>ir as dificulda<strong>de</strong>s que enfrentariam para avacinação das crianças se as vacinas não estivess<strong>em</strong> disponíveis nasunida<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nesse sentido, é interessante, verificar as falas <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>as gestantes adolescentes, estudantes, s<strong>em</strong> companheiro, quegarantiam que pagariam as vacinas para seus filhos.Alg<strong>um</strong>as mães ass<strong>um</strong>iam explicitamente a dificulda<strong>de</strong> que tal situaçãolhes provocaria, alg<strong>um</strong>as admitiam que não teriam condições para efetuar avacinação.Não ia vacinar porque não tenho recurso. Acho que as crianças iam viver doentesporque a maioria das pessoas não t<strong>em</strong> condições. Essas vacinas são caras. (24anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino médio completo, auxiliar <strong>de</strong> escritório) – 70Se não tivesse o dinheiro ia ficar s<strong>em</strong> dar porque são muitas vacinas no começo,quando a criança nasce. (21 anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino fundamental completo, pr.dom) – 85Ia ficar <strong>de</strong>sesperada. (18 anos, fl<strong>um</strong>inense, 1ª série do 2º grau, pr. dom) – 66


Acho que ficava maluca, preocupada, não é? (24 anos, cearense, 5ª série do ensinofundamental, pr. dom) – 68A idéia lhes trazia aflição, alg<strong>um</strong>as relutavam ao respon<strong>de</strong>r, mas amaioria garantia que daria <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> garantir as vacinas.A maioria não ia dar porque não t<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> pagar. Eu daria, para ver meu filhob<strong>em</strong>. (20 anos, fl<strong>um</strong>inense, 8ª série do ensino fundamental, manicure) – 32Tinha que juntar dinheiro para pagar a clínica. Porque pro governo não adianta pedirporque não dá pra ninguém. Se não tivesse dinheiro pra juntar ia morrer todomundo. (28 anos, carioca, 7ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 102Tinha que dar <strong>um</strong> jeito ou então ninguém podia ter filho porque não ia po<strong>de</strong>r pagar.(33 anos; paraibana há 18 anos no Rio; 7ª série do ensino fundamental,faxineira) – 97Aí seria complicado porque n<strong>em</strong> todo mundo po<strong>de</strong> pagar. Eu ia trabalhar muito paraconseguir. Já pensou... acho que tinha que trabalhar o ano inteiro. (21 anos,baiana, há 6 anos no Rio, 1ª série do ensino médio, auxiliar <strong>de</strong> montag<strong>em</strong>, n) –49Percebeu-se, neste trabalho, pouca expressão <strong>de</strong> conteúdoreivindicatório, ou <strong>de</strong> consciência do direito que todos têm à saú<strong>de</strong>, garantidopelo artigo 196 da Constituição: “a saú<strong>de</strong> é direito <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong>ver do Estado”(Brasil,1988). Ou como alerta a inscrição no verso do “Cartão da Criança”: “sãodireitos constitucionais da criança – ser amamentada, ser b<strong>em</strong> alimentada,vacinada e receber acompanhamento do crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento...”.Diferent<strong>em</strong>ente do que acontecia há cerca <strong>de</strong> três décadas, as mobilizaçõespopulares, <strong>de</strong> associações <strong>de</strong> bairro, <strong>de</strong> trabalhadores, por melhorias dascondições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm apresentado expressivida<strong>de</strong> reduzida atualmente,prejudicadas pela forte tendência à institucionalização que se observa <strong>em</strong>movimentos populares.Teria que ser <strong>em</strong> local pago. Só que é importante os postosoferecer<strong>em</strong>. (35 anos, fl<strong>um</strong>inense, ensino médio completo, pr.dom, n) – 20


Novamente, el<strong>em</strong>entos como “prevenção”, “importante”, “saú<strong>de</strong>”,“proteção”, “cuidado” reforçam os indícios da experiência pessoal e familiar,que foram percebidas nos conselhos e mensagens a outras mães, como po<strong>de</strong>ser constado na tabela 21.Tabela 21Gestantes e mães segundo conselho ou mensag<strong>em</strong> a outras mães.Nulíparas MultíparasConteúdosf % f %Não 11 100,0 - -É importante 40 42,1 55 57,9Prevenção 11 33,3 22 66,7Moral 13 41,9 18 58,1Cuidado 04 17,4 19 82,6Biológico 05 38,5 08 61,5Desenvolvimento 07 58,4 05 41,6Saú<strong>de</strong> 03 30,0 07 70,0Político / reivindicatório 03 30,0 07 70,0Proteção 02 66,6 03 33,4Ditado popular 02 66,6 03 33,4Emotivo 04 80,0 01 20,0Holística 01 25,0 03 75,0Institucional - - 03 100,0Econômico - - 02 100,0Mobilizatória - - 02 100,0História familiar 01 50,0 01 50,0Epi<strong>de</strong>mia - - 01 100,0Slogan 01 100,0 - -Utilitário - - 01 100,0Direito - - 01 100,0...Ajuda mesmo a prevenir muitas doenças. (38 anos, mineira, hádois anos no Rio, 5ª série do ensino fundamental, serviçosgerais <strong>em</strong> creche) – 67Pra não esquecer <strong>de</strong> dar a vacina pra criança porque é <strong>um</strong> direitoque essa criança t<strong>em</strong> para proteger <strong>de</strong>ssas doenças. E pra ter<strong>um</strong>a criança saudável é preciso ter essas vacinas. (21 anos;carioca, 7ª série do ensino fundamental, pr. dom) – 103


É importante vacinar as crianças. Até a gente mesmo é importante vacinar quandoestá grávida, a médica pe<strong>de</strong> no pré-natal. (16 anos, fl<strong>um</strong>inense, 8ª série doensino fundamental, estudante, n) – 47Pra manter o cartãozinho da criança s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> dia. Tomar todas as vacinas. Quandovir aquelas epi<strong>de</strong>mias não ter perigo da criança pegar as doenças. (21 anos;cearense, há <strong>um</strong> ano no Rio; ensino médio completo; pr. dom) – 86Outros conteúdos, como <strong>um</strong>a visão moral, ou <strong>de</strong> chamar àresponsabilida<strong>de</strong> mães omissas que não levam seus filhos a vacinarapareceram <strong>em</strong> suas falas:As mães não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> esquecer <strong>de</strong> vacinar os filhos ... E que o governo continue aoferecer esse trabalho porque é importante, muito importante. (35 anos,fl<strong>um</strong>inense, ensino médio completo, pr. dom, n) – 20Nunca esqueça <strong>de</strong> vacinar seu filho. Disso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o futuro <strong>de</strong>le. (20 anos,fl<strong>um</strong>inense, ensino médio incompleto, estudante, n) – 24T<strong>em</strong> mãe que n<strong>em</strong> liga, não vai <strong>em</strong> médico. T<strong>em</strong> que ir ao médico, tomar vacinas. (25anos, paranaense, no Rio há dois anos, ensino médio incompleto, pr. dom) – 77Que nunca atrasass<strong>em</strong> a vacina. Porque t<strong>em</strong> mãe que não dá. T<strong>em</strong> preguiça <strong>de</strong> dar.(26 anos, paraibana-interior, há 9 anos no Rio, ensino fundamental completo,<strong>em</strong>pregada doméstica) – 121


CONSIDERAÇÕES FINAISO núcleo central <strong>de</strong> <strong>um</strong>a representação – neste estudo, os el<strong>em</strong>entos“prevenção” e “proteção” – <strong>de</strong>termina <strong>um</strong>a percepção do objeto <strong>de</strong> maneiramuito mais importante do que todos os <strong>outro</strong>s el<strong>em</strong>entos levantados pelosindivíduos (Abric, 1994; Sá, 1996). Na representação social, ele exerce <strong>um</strong>afunção geradora que dá significação, valor, sentido à representação e <strong>um</strong>afunção organizadora, que <strong>de</strong>termina os laços que os el<strong>em</strong>entos darepresentação estabelec<strong>em</strong> entre si. Ele não está sujeito ao contexto<strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente imediato, mas sim ao “contexto global – histórico, social,i<strong>de</strong>ológico – que <strong>de</strong>fine as normas e valores dos indivíduos e grupos” (Abric,2003, p.376).Assim, a imunização é percebida como “prevenção” e “proteção” <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> <strong>um</strong> contexto <strong>em</strong> que, nos últimos trinta anos principalmente, envolveu ainstituição do PNI, as diretrizes e apoios financeiros internacionais, os DiasNacionais <strong>de</strong> <strong>Vacinação</strong> (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980) e toda a sua veiculação nos meios <strong>de</strong>comunicação, a ampliação da re<strong>de</strong> básica e impl<strong>em</strong>entação do SUS,garantindo a oferta <strong>de</strong> imunizantes diariamente <strong>em</strong> diversas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vacinação na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a receptivida<strong>de</strong> das mães e sua experiência comos benefícios da vacinação.Os contextos mais imediatos, reveladores da realida<strong>de</strong> concreta sãoexpressos no sist<strong>em</strong>a periférico – os el<strong>em</strong>entos “bom”, “cuidado”,“responsabilida<strong>de</strong>”, neste caso. São el<strong>em</strong>entos adaptativos, condicionais,avaliativos, cont<strong>em</strong>plam <strong>um</strong>a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações do cotidiano e guardam<strong>um</strong>a relação dialética com os do núcleo central. Assim, são entendidos comocondicionais na medida <strong>em</strong> que, <strong>em</strong> contraste, os el<strong>em</strong>entos do núcleo centralsão prescrições absolutas, incondicionais, essenciais. Estão, portanto, maisligados ao dia-a-dia das mães: as representações “bom”, “cuidado” e“responsabilida<strong>de</strong>” <strong>de</strong>terminam a tomada <strong>de</strong> posição mais imediata; a <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong>, naquele dia, naquele momento, levar os filhos a vacinar, concretizando oentendimento mais essencial que têm da vacinação, as percepções (dosist<strong>em</strong>a central) “prevenção” e “proteção”.


O subconjunto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos da representação reconhecido como núcleocentral hierarquiza, portanto, <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> informações, experiências,crenças, normas, valores, atitu<strong>de</strong>s, práticas e relações que as mães ou futurasmães estabelec<strong>em</strong> no processo <strong>de</strong> vacinação: os el<strong>em</strong>entos do seu sist<strong>em</strong>aperiférico. Para o grupo <strong>em</strong> estudo, hierarquizam relações que envolv<strong>em</strong> odiscernimento <strong>de</strong> escala <strong>de</strong> importância das ações <strong>de</strong> imunização na práticadiária <strong>de</strong> cuidado que têm com seus filhos, <strong>de</strong> experiências pessoais efamiliares, <strong>de</strong> contato com o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com os meios <strong>de</strong> comunicação,com visões mais totalizantes (ou não) e expectativas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com noções(ou privação, ausência) <strong>de</strong> direitos sociais, com os entraves econômicos <strong>de</strong> suainserção social, el<strong>em</strong>entos estes mais diretamente ligados ao contexto imediato<strong>de</strong>stas mães, integradores <strong>de</strong> suas vivências cotidianas, individuais e coletivas,contudo condicionados pelos sentidos mais essenciais que atribu<strong>em</strong> àvacinação: “prevenção” e “proteção”.Assim, os el<strong>em</strong>entos que compõ<strong>em</strong> o núcleo central conformam-senaqueles que dão estabilida<strong>de</strong> a essa representação; e, se mudanças aíocorrer<strong>em</strong>, elas estarão sinalizando mudanças na representação social quefaz<strong>em</strong> da vacinação.Neste ponto, r<strong>em</strong>ete-se a dois instantes da história da imunização nopaís. O primeiro, a Revolta da Vacina <strong>de</strong> 1904 e o segundo, o momento daimplantação do Programa Nacional <strong>de</strong> Imunização. Neles, os índices <strong>de</strong>cobertura eram insatisfatórios. Seriam <strong>outro</strong>s os el<strong>em</strong>entos constituintes dosnúcleos centrais das representações da população acerca da vacinação?Po<strong>de</strong>-se especular que a população do Rio <strong>de</strong> Janeiro que se rebelou hác<strong>em</strong> anos representava a vacinação (no caso, contra a varíola) <strong>de</strong> mododiverso. Se a rejeitava, provavelmente não associava imunização a prevençãoou à proteção <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus familiares. Os sentidos atribuídos àvacina para aquela população, naquele momento histórico, seriam <strong>outro</strong>s,distintos. Estas representações guiariam os indivíduos a outra prática: arebelar-se contra a vacina. Dados levantados neste trabalho sinalizam paraessa apreciação, mas haveria que se <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r pesquisa mais sist<strong>em</strong>atizadapara <strong>um</strong>a avaliação mais conclusiva.


Como foi observado acima, o sist<strong>em</strong>a do núcleo central informa sobre asprescrições absolutas ou incondicionais (Flament, 2001; Sá, 1996), social ehistoricamente <strong>de</strong>terminadas, associadas a normas e valores (Abric, 2003) quecaracterizam e comunicam a homogeneida<strong>de</strong>, a especificida<strong>de</strong> do grupo <strong>em</strong>questão.Percebe-se que contextos históricos, sociais e culturais específicos<strong>de</strong>marcam esses momentos. Em 1904, a cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiroexperimentava o autoritarismo do governo Rodrigues Alves e a vacinaçãoobrigatória se transformou na gota d’água para <strong>um</strong>a população acuada por<strong>um</strong>a crise política e econômica que se abatia preferencialmente sobre asclasses populares (Sevcenko, 2001), atingida por <strong>de</strong>spejos e <strong>de</strong>smandos <strong>de</strong>autorida<strong>de</strong>s, com o agravante <strong>de</strong> <strong>de</strong>snudar corpos para efetivar o intento daaplicação da vacina (Carvalho, 1987).O período da implantação do Programa Nacional <strong>de</strong> Imunização écaracterizado pelo regime político <strong>de</strong> ditadura militar, <strong>em</strong> que a resistência<strong>de</strong>mocrática mal começava a se rearticular. É <strong>um</strong> momento <strong>em</strong> que seprocessa <strong>um</strong> incr<strong>em</strong>ento da urbanização no país, <strong>em</strong> <strong>de</strong>scompasso com aimplantação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> infra-estrutura nas cida<strong>de</strong>s e, sobretudo, com <strong>um</strong>are<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ainda incipiente, <strong>um</strong>a restrita e mais recente experiênciacom imunização.Os baixos índices <strong>de</strong> cobertura observados então seriam <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>alg<strong>um</strong>a representação “negativa” da vacina, <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a crença da populaçãoque lhe tolhesse a iniciativa <strong>de</strong> levar os filhos a vacinar?Observou-se que alguns estudos levantam como restritos os“conhecimentos” <strong>de</strong> mães sobre a vacinação <strong>de</strong> seus filhos <strong>em</strong> dois momentosda história do PNI. N<strong>um</strong>a fase <strong>de</strong> recente implantação, <strong>em</strong> 1981, Régis concluique “o nível <strong>de</strong> conhecimento sobre as vacinas e respectivas doenças é baixo,<strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência da conjugação <strong>de</strong> dois fatores: falta <strong>de</strong> conhecimentos econhecimentos errôneos” (p.98). Em <strong>outro</strong>s dois estudos, <strong>em</strong>basados no“Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crenças <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>”, Ferreira (1984) e Guerra (1991) discut<strong>em</strong>


alguns pressupostos 39 que condicionariam o comportamento das mães frente àvacinação <strong>de</strong> seus filhos.Em finais da década <strong>de</strong> 1990, já com <strong>um</strong>a cobertura vacinal amplamenteexpressiva, <strong>de</strong> acordo com os dados da Pesquisa Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> eNutrição <strong>de</strong> 1996, referidos anteriormente, Quirino (1998), <strong>em</strong> estudo commães usuárias <strong>de</strong> 18 Unida<strong>de</strong>s Básicas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Município <strong>de</strong> São Paulotambém avalia que as mães “apresentaram pouco conhecimento sobre asvacinas aplicadas ao (a) filho(a), durante o primeiro ano <strong>de</strong> vida, no que serefere à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> início, número <strong>de</strong> doses, intervalo <strong>de</strong> doses e doenças queproteg<strong>em</strong>” (p.101).Seria, assim, o pouco conhecimento sobre vacinas ou <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong>crenças os fatores <strong>de</strong>terminantes à limitada expansão da cobertura no início daimplantação do PNI? Nesse sentido, a ênfase a ser colocada para ampliar osíndices <strong>de</strong> cobertura constatados à época estaria basicamente <strong>em</strong> envidar maise maiores esforços no sentido <strong>de</strong> a<strong>um</strong>entar o “conhecimento” das mães? E <strong>em</strong>1998, com níveis <strong>de</strong> cobertura próximos a 90%, continuariam escassos os seusconhecimentos?A presente pesquisa indicou <strong>outro</strong>s caminhos. Um conjunto <strong>de</strong> fatores –políticos, econômicos, culturais, tecnológicos – <strong>de</strong>terminou as mudanças hojeverificadas na observância das mães ao calendário vacinal.Duas questões se mostraram mais pertinentes a esta discussão: acontextualização histórico-social e o entendimento do que seja “conhecimento”.Em que pese a intenção, positiva, <strong>de</strong> se voltar à população alvo <strong>de</strong>programas governamentais, na medida <strong>em</strong> que não contextualiza osfenômenos <strong>em</strong> estudo, o “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Crenças <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>” não cont<strong>em</strong>pla <strong>um</strong>conjunto <strong>de</strong> questões envolvidas no controle e prevenção das doenças (Tura,1998). E, como conseqüência, po<strong>de</strong>-se inferir que as propostas <strong>de</strong> soluçãopara os probl<strong>em</strong>as centram-se, principalmente e sobretudo, <strong>em</strong> oferecerdiretrizes e “conhecimento” aos indivíduos, superar os obstáculos que suas“crenças” interpõ<strong>em</strong>.39 Tais como a percepção <strong>de</strong> que sejam suscetíveis à doença; <strong>de</strong> que a doença seja grave; que existambenefícios na ação e que exista evento motivador que as direcione à ação.


Atualmente, a <strong>de</strong>scontextualização do processo saú<strong>de</strong>-doença ganhanovas formas. Mais recent<strong>em</strong>ente, observa-se <strong>um</strong>a outra tendência: a <strong>de</strong>circunscrever a doença ao domínio <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente privado, que tambémcentra no indivíduo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção. O fato ocorre n<strong>um</strong>momento <strong>em</strong> que se observa, difundida na socieda<strong>de</strong>, com o concurso dosmeios <strong>de</strong> comunicação, <strong>um</strong>a preocupação crescente com a saú<strong>de</strong>, com asquestões que envolv<strong>em</strong> a saú<strong>de</strong>, com mudanças <strong>de</strong> hábitos e “estilos <strong>de</strong> vida”(Arruda, 2002; Herzlich, 2003). O peso e a atenção conferidos aos life stylestransfere “a responsabilida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> da esfera pública à esfera privada”,como observa Herzlich (2003, p.7), <strong>em</strong> trabalho on<strong>de</strong> discute o papel que <strong>um</strong>aepi<strong>de</strong>mia como a <strong>de</strong> AIDS po<strong>de</strong> exercer <strong>em</strong> sentido contrário, <strong>de</strong> “coletivizar”<strong>um</strong>a doença individualizada. Tal ênfase – <strong>de</strong> transferir a responsabilida<strong>de</strong>pública com saú<strong>de</strong> para o indivíduo – também <strong>de</strong>scontextualiza o processosaú<strong>de</strong>-doença.A mudança <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong> vida é, efetivamente, <strong>um</strong> dos el<strong>em</strong>entosnevrálgicos na abordag<strong>em</strong> dos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da atualida<strong>de</strong>, porém se oessencial das prescrições cabíveis centrar-se somente nas alterações que oindivíduo <strong>de</strong>ve promover <strong>em</strong> tais hábitos, transfere-se a ele quase todo o ônusda prevenção primária, tratamento ou reabilitação. O que v<strong>em</strong> ao encontro daspolíticas e i<strong>de</strong>ologia neoliberais que têm como <strong>um</strong> <strong>de</strong> seus fundamentos o<strong>de</strong>scomprometimento do Estado com a garantia dos direitos (no caso, o dasaú<strong>de</strong>) do conjunto da população (Garcia-Canclini, 2000). Assim, s<strong>em</strong> ignorar aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada indivíduo, discute-se que a dimensão queindividualmente lhe é <strong>de</strong>legada no controle dos fatores <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>doenças <strong>de</strong> interesse <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública possivelmente é <strong>de</strong>sproporcional àssuas possibilida<strong>de</strong>s pessoais <strong>de</strong> conter o probl<strong>em</strong>a.Entre os objetivos <strong>de</strong>ste estudo, foi questionado se a experiênciaaltamente positiva da observância das mães ao calendário vacinal po<strong>de</strong>ria serestendida a <strong>outro</strong>s programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Pensou-se <strong>em</strong> programas como os <strong>de</strong>controle <strong>de</strong> hipertensão arterial e <strong>de</strong> tratamento com anti-retrovirais <strong>em</strong>soropositivos com HIV, por ex<strong>em</strong>plo. Po<strong>de</strong>-se constatar, neste ponto dapesquisa, que a observância das mães ao calendário vacinal é <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>entecontextualizada, já que esse processo envolveu condicionantes históricos


específicos on<strong>de</strong>, por <strong>um</strong> lado, houve <strong>um</strong>a oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> imunizaçãoamplamente organizada e difundida pelo país, e por <strong>outro</strong>, a percepção dasmães aos benefícios que a imunização, na prática, há décadas, v<strong>em</strong> trazendoàs crianças.Em programas como o <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> hipertensão, por ex<strong>em</strong>plo,i<strong>de</strong>ntifica-se que <strong>de</strong>terminados hábitos alimentares, se<strong>de</strong>ntarismo e estressesão fatores agravantes para as complicações cardiovasculares. Vale ressaltarque, no país, a socieda<strong>de</strong> está estruturada <strong>de</strong> forma a potencializar essesfatores – <strong>um</strong>a estrutura social altamente <strong>de</strong>sigual, competitiva, violenta eestressante; com forte apelo cons<strong>um</strong>ista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ao uso <strong>de</strong> automóveis eprodutos que minimizam esforço físico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância (televisão, vi<strong>de</strong>ogame)ao cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> alimentos industrializados altamente calóricos; apenas paracitar alguns. Nesse contexto, <strong>de</strong>legar a mudança <strong>de</strong> hábitos exclusivamente aopaciente possivelmente por si só não atingirá os objetivos almejados.A observância a programas como o <strong>de</strong> hipertensão e <strong>de</strong> AIDS v<strong>em</strong>sendo objeto <strong>de</strong> recentes estudos (Cardoso, 2002, Guimarães, 1998) e seapresentam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> contextos próprios. Cardoso (2002) verificou diferençasentre as representações sociais <strong>de</strong> pacientes que a<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ao tratamento comanti-retrovirais e os não a<strong>de</strong>rentes e que este conhecimento po<strong>de</strong>ria contribuirpara a elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> prevenção. Guimarães (1998) salientouque a percepção <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong> que a etiologia da hipertensão arterial“essencial” está ligada ao seu cotidiano <strong>de</strong> conflitos e dificulda<strong>de</strong>s, e nãoapenas a hábitos <strong>de</strong> vida, t<strong>em</strong> sido ainda pouco valorizada.Nesse sentido, infere-se que a experiência com a observância àvacinação está inserida n<strong>um</strong> contexto bastante diverso daqueles relativos àobservância <strong>de</strong> <strong>outro</strong>s programas como os <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> hipertensão arterial e<strong>de</strong> AIDS.Vale ressaltar também que as mães estabelec<strong>em</strong> <strong>um</strong>a relação positiva –ativa e confiante – com o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação à vacinação <strong>de</strong> seusfilhos. Em que pes<strong>em</strong> as marchas e contra-marchas na impl<strong>em</strong>entação do SUSe as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s regionais, a imunização infantil se apresenta com gran<strong>de</strong>aceitação pela população, estabelecendo-se como <strong>um</strong>a ação que incorporou


tecnologias médico-sanitárias e, no seu âmbito específico, os sentidos <strong>de</strong>eqüida<strong>de</strong> e universalização, tão caros às proposições do SUS, po<strong>de</strong>m servisl<strong>um</strong>brados (T<strong>em</strong>porão, 2003b). O que, se por <strong>um</strong> lado é <strong>um</strong> dado altamentepositivo da realida<strong>de</strong> sanitária do país, por <strong>outro</strong>, coloca <strong>em</strong> evidência asinsuficiências que o SUS apresenta <strong>em</strong> outras ações.A segunda discussão colocada refere-se ao entendimento <strong>de</strong>“conhecimento”. Teriam as mães pouco conhecimento sobre vacinas, como foia conclusão <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> pesquisa anteriormente citados <strong>em</strong> 1981 e 1998?Po<strong>de</strong>-se conjecturar que <strong>em</strong> 1981, com <strong>um</strong> nível <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entação doPNI ainda incipiente, <strong>um</strong>a experiência ainda restrita com imunização, as mãestivess<strong>em</strong> ainda poucos conhecimentos sobre o assunto. Porém, <strong>um</strong> dosel<strong>em</strong>entos fundamentais à baixa cobertura no início da implantação do PNI eraainda a sua limitada abrangência, a incipiente re<strong>de</strong> básica difundida no paísque limitava o acesso e a oferta <strong>de</strong> imunobiológicos.Mas <strong>em</strong> 1998, com níveis <strong>de</strong> cobertura próximos a 90%, os“conhecimentos” po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados restritos?O conhecimento, o saber popular é essencialmente prático. Um saberque orienta o cotidiano das pessoas, fruto <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> vida, mas quetambém busca guardar <strong>um</strong>a relação com o saber erudito, na medida <strong>em</strong> queessa relação interfira no seu dia-a-dia.No caso das ações <strong>de</strong> imunização, chegou-se à conclusão neste estudoque os el<strong>em</strong>entos “prevenção” e “proteção”, utilizados pelas mães, são muitopróximos aos do saber acadêmico, no caso, da Epi<strong>de</strong>miologia. Perceber que asvacinas proteg<strong>em</strong> as crianças, previn<strong>em</strong> doenças, certamente não é <strong>um</strong>processo que envolva elevado nível <strong>de</strong> abstração, ao contrário, e ainda com aexperiência ac<strong>um</strong>ulada pelas mães nesse período, é algo altamente objetivo,plausível, <strong>de</strong> fácil assimilação. E não estiveram <strong>em</strong> discussão os fundamentosimunológicos <strong>de</strong>sse processo. Seria necessário? Quais os “conhecimentos”que a mãe <strong>de</strong>ve ter?Para orientar sua prática – garantir a vacinação <strong>de</strong> seus filhos, hánecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber qual o intervalo entre <strong>um</strong>a dose e outra se a data dapróxima vacina está apontada no Cartão da Criança? As mães <strong>de</strong>veriam saber


o significado <strong>de</strong> BCG? Certamente, o esclarecimento <strong>de</strong> quais vacinas estãosendo aplicadas às crianças seria mesmo <strong>um</strong> sinal <strong>de</strong> respeito a elas e a suasfamílias. Assim, no Cartão da Criança <strong>de</strong>veria estar especificado contra quaisdoenças as crianças estão protegidas ao tomar DPT, anti-Hib, BCG.N<strong>um</strong> calendário que abrange vacinas contra nove ou mais doenças paraos primeiros meses <strong>de</strong> vida do lactente, com apresentações, datas <strong>de</strong> início ereforço diferenciadas, com número <strong>de</strong> doses <strong>de</strong> reforço diversas, cujas datasestão marcadas no Cartão, por que as mães teriam necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber <strong>de</strong>cor <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quantos meses da primeira dose <strong>de</strong> vacina contra hepatite Bviriam os reforços, e os da Sabin e os da anti-Hib, e assim sucessivamente? Hámuitos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mesmo médicos, que não guardam essas datas,inclusive porque o calendário é dinâmico, vacinas são agregadas, datas sãoalteradas 40 .Mas por que exigir das mães tais e quais conhecimentos, e não <strong>outro</strong>s?Por ex<strong>em</strong>plo, o entendimento que têm, conforme v<strong>em</strong> inscrito no Cartão, <strong>de</strong>que “são direitos constitucionais da criança – ser amamentada; ser b<strong>em</strong>alimentada, vacinada e receber acompanhamento do crescimento e do<strong>de</strong>senvolvimento”.Por que exigir da mãe cognições <strong>em</strong> tal or<strong>de</strong>m se, por <strong>outro</strong> lado,vivencia-se <strong>um</strong> estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento acerca <strong>de</strong>imunização <strong>em</strong> que as falsas contra-indicações, principal fator associado aoportunida<strong>de</strong>s perdidas <strong>de</strong> imunizações, são orientações <strong>em</strong>itidas pelosprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>?Existe muito provavelmente <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong> preconceito contra as mães,<strong>em</strong> particular das classes populares. E a não percepção <strong>de</strong> que existe <strong>um</strong>saber popular muito precioso que garante às camadas <strong>de</strong>sprotegidas dapopulação resistir às suas precárias condições <strong>de</strong> vida e insistir <strong>em</strong> seguiradiante.Saber certamente limitado <strong>em</strong> muitos aspectos e que, como vimos,busca <strong>um</strong>a relação com o saber erudito, geralmente monopolizado por restritasparcelas da socieda<strong>de</strong>.40 Recent<strong>em</strong>ente, a primeira dose <strong>de</strong> vacina contra sarampo passou a ser aplicada aos doze, não maisaos nove meses.


Camadas da população secularmente negligenciadas pelo po<strong>de</strong>rdominante po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong>sconfiança a novas ações 41 , aferrando-se ahábitos e atitu<strong>de</strong>s que <strong>em</strong> seu meio, ao qual estão familiarizados e <strong>em</strong> queconfiam, são usuais apesar <strong>de</strong> muitas vezes errados ou ultrapassados.A experiência recente com a vacinação das crianças no Brasil, com <strong>um</strong>aobservância ao calendário próxima a 90% conquistada <strong>em</strong> pouco mais <strong>de</strong> duasdécadas, indica que se crenças e atitu<strong>de</strong>s ultrapassadas por parte das mãesexistiam <strong>em</strong> relação à vacinação, elas foram rapidamente substituídas por <strong>um</strong>avisão ativa e consciente dos benefícios das imunizações.Não existe no presente trabalho a menor intenção <strong>de</strong> minimizar aimportância do saber erudito, acadêmico. Ao contrário, percebe-se claramenteque inúmeras limitações e probl<strong>em</strong>as que a socieda<strong>de</strong> enfrenta só serãoi<strong>de</strong>ntificados, diagnosticados e tratados com o <strong>de</strong>senvolvimento científico, nasua complexida<strong>de</strong>. O que talvez seja preciso ressaltar é que o saberacadêmico po<strong>de</strong>ria estar cada vez mais voltado às necessida<strong>de</strong>s percebidaspela maioria da população e com ela e suas experiências estabelecer laçosmais profundos.Dentro do contexto <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>u, a experiência da vacinação, nessesentido, t<strong>em</strong> sido ex<strong>em</strong>plar: estabeleceram-se “vasos comunicantes” entre osaber erudito e o popular que resultaram <strong>em</strong> benefício para milhões <strong>de</strong>pessoas. Vale discutir se não haveria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processo similar ocorrer<strong>em</strong> outras áreas do conhecimento, o que po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> <strong>outro</strong> trabalho <strong>de</strong>pesquisa.Ao ser questionado sobre o porquê do momento – <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002 –ser o melhor para a erradicação da pólio, segundo Salgado (2003), CiroQuadros avaliou que é inaceitável que crianças ainda corram o risco <strong>de</strong> ficar<strong>em</strong>paralisadas pelo resto da vida quando se dispõe <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vacina que custaapenas alguns centavos, finalizando:T<strong>em</strong>os <strong>de</strong> atacar <strong>de</strong> frente tudo o que é inaceitável – não apenas noque se refere a doenças, mas também <strong>em</strong> outras questões: por que<strong>de</strong>veríamos continuar convivendo com tanta miséria no mundo? (p.141)41 Quando foi iniciada a imunização contra influenza <strong>em</strong> idosos, há poucos anos, <strong>em</strong> 1999, muitos serecusaram a tomar a vacina alegando que se pretendia, na realida<strong>de</strong>, com a vacinação era livrar-se <strong>de</strong>lespois, por <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s e políticas <strong>de</strong> governo, estavam se sentindo <strong>de</strong>sprezados eh<strong>um</strong>ilhados.


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ANEXOS


ANEXO 1Calendário básico <strong>de</strong> vacinação da criança (PNI)IDADE VACINAS DOSES DOENÇAS EVITADASAo nascer BCG - ID dose única Formas graves <strong>de</strong> tuberculoseVacina contrahepatite B (1)1 mês Vacina contrahepatite B2 meses VOP (vacina oralcontra pólio)Vacinatetravalente(DTP + Hib) (2)4 meses VOP (vacina oralcontra pólio)Vacinatetravalente(DTP + Hib)6 meses VOP (vacina oralcontra pólio)Vacinatetravalente (DTP+ Hib)Vacina contrahepatite B9 meses Vacina contrafebre amarela (3)12 meses SRC (trípliceviral)15 meses VOP (vacina oralcontra pólio)DTP (tríplicebacteriana)4 - 6 anos DTP (tríplicebacteriana6 a 10anosSRC (trípliceviral)1ª dose Hepatite B2ª dose Hepatite B1ª dose Poliomielite ou paralisia infantil1ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outrasinfecções causadas pelo Ha<strong>em</strong>ophilus influenzae tipob2ª dose Poliomielite ou paralisia infantil2ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outrasinfecções causadas pelo Ha<strong>em</strong>ophilus influenzae tipob3ª dose Poliomielite ou paralisia infantil3ª dose Difteria, tétano, coqueluche, meningite e outrasinfecções causadas pelo Ha<strong>em</strong>ophilus influenzae tipob3ª dose Hepatite Bdose únicadose únicareforçoFebre amarelaSarampo, rubéola e cax<strong>um</strong>baPoliomielite ou paralisia infantil1º reforço Difteria, tétano e coqueluche2º reforço Difteria, tétano e coqueluchereforçoSarampo, rubéola e cax<strong>um</strong>baBCG - ID (4) reforço Formas graves <strong>de</strong> tuberculose10 anos Vacina contrafebre amarelareforçoFebre amarela


(1) A primeira dose da vacina contra a hepatite B <strong>de</strong>ve ser administrada na maternida<strong>de</strong>, nas primeiras 12horas <strong>de</strong> vida do recém-nascido. O esqu<strong>em</strong>a básico se constitui <strong>de</strong> 03 (três) doses, com intervalos <strong>de</strong> 30dias da primeira para a segunda dose e 180 dias da primeira para a terceira dose.(2) O esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> vacinação atual é feito aos 2, 4 e 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com a vacina Tetravalente e doisreforços com a Tríplice Bacteriana (DTP). O primeiro reforço aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos.(3) A vacina contra Febre Amarela está indicada para crianças a partir dos 09 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, queresi<strong>de</strong>m ou que irão viajar para área endêmica (estados: AP, TO, MA MT, MS, RO, AC, RR, AM, PA, GOe DF), área <strong>de</strong> transição (alguns municípios dos estados: PI, BA, MG, SP, PR, SC e RS) e área <strong>de</strong> riscopotencial (alguns municípios dos estados BA, ES e MG). Se viajar para áreas <strong>de</strong> risco, vacinar contraFebre Amarela 10 (<strong>de</strong>z) dias antes da viag<strong>em</strong>.(4) Em alguns estados, esta dose não foi implantada. Aguardando conclusão <strong>de</strong> estudos referentes aefetivida<strong>de</strong> da dose <strong>de</strong> reforço.(Brasil, 2001a)


ANEXO 2“Minotaurização”Gravura inglesa <strong>de</strong> James Gillray, <strong>de</strong> 1802 (Chalhoub, 2001).


ANEXO 3Revolta da Vacina, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1904.Bon<strong>de</strong> virado na praça da República durante a Revolta da Vacina (Carvalho,2002)


Oswaldo Cruz e seu exército <strong>de</strong> mata-mosquitos <strong>em</strong> confronto com a população revoltada.Lima Barreto registrou <strong>em</strong> seu Diário íntimo: “pela primeira vez, eu vi entre nós não se termedo <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> fardado. O povo, como os astecas ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Cortez, se convenceu <strong>de</strong>queles também eram mortais”.Oswaldo Cruz e a população revoltada (Sevcenko, 2001)


ANEXO 4Cartão da Criança


ANEXO 5Teste <strong>de</strong> Evocação e QuestionárioQuais as 4 primeiras palavras ou expressões que passam pela sua cabeçaquando ouve falar <strong>em</strong> vacina?1. ____________________________________________________2. ____________________________________________________3. ____________________________________________________4._____________________________________________________Agora, por favor, marque com x as duas palavras que você acha maisimportantes.Ida<strong>de</strong>: ____________ Estado <strong>em</strong> que nasceu? _____________________Escolarida<strong>de</strong>: ________________ Ocupação ______________________Trabalha fora <strong>de</strong> casa? _______________ Estado civil _______________Quantos filhos você t<strong>em</strong>? _______ Qual a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les?______________Quantas pessoas moram <strong>em</strong> sua casa?______Quantos cômodos?______1. Qu<strong>em</strong> informou que seu(sua) filho(a) precisava tomar vacina?__________________________________________________________2. Qu<strong>em</strong> segurou seu filho(a) para tomar as primeiras vacinas – BCG e Anti-Hepatite B? Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Quais as vacinas que <strong>de</strong>ram “reação” <strong>em</strong> seu filho(a)?____________________________________________________________________________________________________________________4. Você foi orientada para os cuidados com essas reações?( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei


Se foi, por qu<strong>em</strong>?__________________________________________________________5. Como você sabe que t<strong>em</strong> ele(a) que tomar a(s) próxima (s) vacinas?____________________________________________________________________________________________________________________6. Por que você traz seu filho(a) para vacinar?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. Você já trouxe seu (sua) filho(a) para vacinar <strong>em</strong> Dias Nacionais <strong>de</strong><strong>Vacinação</strong>?( ) Sim ( ) Não ( ) Não me l<strong>em</strong>broComo soube que era dia <strong>de</strong> campanha?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________8. Já lhe foi solicitada a apresentação do cartão <strong>de</strong> vacinação <strong>em</strong> alg<strong>um</strong>acircunstância, como matrícula para escola, admissão <strong>em</strong> <strong>em</strong>prego, etc?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9. Você po<strong>de</strong>ria citar três doenças que são evitadas pela vacina?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________10. Se os postos não oferecess<strong>em</strong> a vacina, o que, como você faria?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________11. Gostaria <strong>de</strong> falar mais alg<strong>um</strong>a coisa, dar <strong>um</strong>a mensag<strong>em</strong>, <strong>um</strong> conselho aoutras mães?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


ANEXO 6Carta <strong>de</strong> apresentação às mãesPrezada Senhora,Estamos realizando <strong>um</strong> estudo sobre as representações sociais <strong>de</strong>vacina construídas por mães <strong>de</strong> crianças com menos <strong>de</strong> seis anos. Porconsi<strong>de</strong>rarmos que sua colaboração ao respon<strong>de</strong>r este questionário éimprescindível, esperamos que concor<strong>de</strong> com sua participação nesta pesquisa,cujos resultados po<strong>de</strong>rão ser úteis na construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> intervençãopara a prevenção <strong>de</strong> várias doenças.Sua participação, entretanto, é absolutamente voluntária, não havendoqualquer restrição a <strong>um</strong>a <strong>de</strong>cisão contrária.Os questionários não são i<strong>de</strong>ntificados, assim como não contêm <strong>um</strong>aavaliação <strong>de</strong> acertos ou erros, mas somente espaço para o registro <strong>de</strong> suasvaliosas informações e observações.Após o recolhimento dos questionários e o processamento dos dados,marcar<strong>em</strong>os com cada setor envolvido <strong>um</strong>a apresentação dos dados eposterior discussão.Muito grata por sua ajuda,Maria Vicencia PugliesiUFRJ- Núcleo <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>Coletiva</strong>Tel: 3872-5202 e-mail: mvpugliesi@terra.com.br

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