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Portugal na guerra - Hemeroteca Digital

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Paris. 1 de Junho de 1917 Anno IºNA GUERRAHEVISTA QUINZENAL ILLUSTRADADitenor : AUGUSTO PINA8UMAR.IO•'ID10.. Port.ugal <strong>na</strong> Guerra "Bilhete de Paris. - J . B.Major Norton de Matlos,ministro da Guerra.Da terra luu. - Mayer Garç~o .A declaração de <strong>guerra</strong>da Allemonha a P-0rl\ gal.Diario de Campanha. - Capiltfo .~ ..A' volta das Trincheiras.Bibl iograpbia.AcLualidades.GRAVURASDr. Ber<strong>na</strong>rdino Machado.Major Norton rle l\lattos.A primeira p1oclamaçdodo general Tamaguini.Os nmigos de Porlugnl:Jean-Finol (Aulographo)t.. Tnpu portquezu eu\ Franç1Uma nwi,;taDesfile dia nte dos ge11er:1esinglez e porluguez.Co1.ti11c11ei11 {i bun1leira portug-wt1:1Depois dn rnvisln.A caminho das trincheiras.ros de aprovisionnmento e


PORTUGAL .<strong>na</strong> GUERRAREVISTA QUINZENAL ILLUST RADA·· · DI RECTOR : AUGUSTO PINASecretario de Redacçiio : JOSÉ de FREITAS BRAGA NÇA: : Redacçâo : 3 , Rue de Villejust - PARIS ..". COLLABORAÇÃO LITTERARIA DOS MAIS NOTAVEISESCRI PTORES PORTUGUEZ ES E ESTRA NGEIROSCartas das principaes capitae1 do .mqndoCOLLABORAÇÀO ART IS TICA DOS MAIORES ARTISTAS PORTUGUEZESSERV ICO PHOTOGRAPHICO ESPE C I A L JUNTO DAS TROPASPORTUGUEZAS EM FRANÇA A CARGO DE A RNAL DO G A RCEZCORRESPONDENTE 'PHOTOÇRAPHICO EM PORTUGAL : A L BERTO LIMA.rAS S IGNATU R AS ABONNEMENTSPO R TUGALFR.AN CEUm anno (24 numeros) .. .. .. 6 30Seis 'Tlezes (12 - ) .. .. .. 3 $ 30Tret mezes ( 6 - ) .. •. .. l $ 80NUMERO AVULSO : 3 0 CENTAVOSUn an (24 numéros).. .• •• •• 2 1 fr.Six mois (12 - ) ..•• - .. 11 fr.Trois mois ( 6 - ).. .. •. .. 6 fr.PRIX DU NUMÊRO : 1 FRANCTodos os pedidos d'assig<strong>na</strong>lura para <strong>Portugal</strong> devem ser dirigidos áAGENCIA GERAL EM P .ORTUGALVICTOR MELL O , 'l{ua Ivens, 56 - 2º J LISBOAJ..J lA GENCIA PARA O BRASIL111Casa A. MOURA, 11 4, Rua da Quitanda :: R 1IO DE JANEIROPREÇ O DA ASS I GN AT U RAU n anno (24 numeros) 3 $ 0 0 0 1 Seis mezes (12 numeros) .• .... .. 16 s 00NUMERO AVULSO : 1 S 500'


PORTUGALaaaa aauaaaaa aaaaaa NA: GUERRA11 de Junho 1917 Anno lº1~ · ~==k; ==~==================================º='=.r=e=c~to=r====A=U==G=U=S=T==O==P=l=N~A==========================================li~~(('2)~f.ROFESSOR .educador,escriptor e estadi~ta.' o snr. Dr. Ber<strong>na</strong>rdmo_a;. Machado, actual presidenteda Republica foi sempre,um grande cidadão.Cidadão que poderia ser deAthe<strong>na</strong>s, pela elegancia do seuespírito ; de Roma. pela nobrezadas suas virtudes ; de Paris, pelavivacidade do seu temperamento.Iniciou a sua vida publica noperíodo aureo do Constitucio<strong>na</strong>lismo.Foi par do Reino. não porhereditariedade nem por mercêregia, mas pelo voto dos estabelecimentosscientificos. Foi ministrodurante a mo<strong>na</strong>rchia, para tentara experiencia liberal. Como essaexperiencia falhou e como d'ellasahiu robustecida a convicção democraticado snr. dr. Ber<strong>na</strong>rdinoMachado, di-lo o vigor da sua acçãoevangelisadora, como propagandistadas novas instituições. Notabilissimaé a sua obra como diplomata,estadista e supremo magistrado daNaç~o.Ministro dos Negocios Estrangeirosdo Governo Provisorio,renova a alliança com a Inglaterra;Embaixador no Brazi( congraçaos elementos divididos danossa colonia e tor<strong>na</strong> ainda maisindissoluveis os laços que unemas duas Republicas irmãs.Chefe do Governo em 1914,apresenta ao Parlamento a declaraçãode 7 de Agosto que definiua nossa attitude ao lado da nossaalliada.Presidente da 'Republica, presidea obra grandiosa da nossa reorganisaçãomilitar e á formação doCorpo Expedicio<strong>na</strong>rio á França.Presidente da Republica Portugueza.


~~'PORTUGALNA GUERRA,,ºTITULO d'esta publicação é jà o titulo de um capitulo da historia de <strong>Portugal</strong>.. Quando, mais tarde e não muito tarde porque a historia está cada vez ma is impaciente porfazer-se, o historiador chegar ao limiar d'este grande cyclo da nossa, e se detiver buscando apalavra que h ade designá-lo, a sua pen<strong>na</strong> involuntariamente escreverá. - P ortugal <strong>na</strong> <strong>guerra</strong>.Assim, nós, ao emprehendermos esta publicação desti<strong>na</strong>da a documentar a intervençãomilitar dos Portuguezes <strong>na</strong> maior conflagração de que ha me moria <strong>na</strong> historia da humanidade,não encontramos desig<strong>na</strong>ção que melhor lhe conviesse.As razões do nosso emprehendimento contêm-se <strong>na</strong> propria magnitude do acontecim e~1toque o msp1ra.A <strong>guerra</strong>, em si mesma, é um facto de tal <strong>na</strong>tureia grande que preencherá por longosseculos a imagi<strong>na</strong>ção dos homens. Já da epocha em que vivemos não restará senão uma apagadalembrança e ainda a posteridade se incli<strong>na</strong>rá cu riosa e commovida sobre as devastações e ascarnifici<strong>na</strong>s a que estamos assistindo. O futuro fallará d'esta <strong>guerra</strong> e dos seu s furores, como hojese falla da invasão dos Barbaros, do Christianismo, ou da Reforma.Mas se a <strong>guerra</strong> em si mesma é um facto de consideraveis proporções, em relação á historiado mundo, a <strong>guerra</strong> que nós proprios vamos fazer com os nossos soldados, em campos debatalha communs, é, em relação á nossa historia, um acontecimento de tamanha grandeza quepodemos considerá-lo unico nos an<strong>na</strong>es da <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade.Com effeito, desde Aljubarrota até aos nossos dias, todo o esforço militar da <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidadeportugueza consistiu <strong>na</strong> defeza da independencia e do territorio. P ela primeira vez e no decurso dasua longa historia, <strong>Portugal</strong> sabe do ambito da sua sce<strong>na</strong> política para a vastidão da sce<strong>na</strong> políticauniversal e apparece como <strong>na</strong>ção armada, ao lado das mais poderosas <strong>na</strong>ções do mundo, defendendouma causa que já não é exclusivamente sua, mas de todos.Por outro lado, <strong>Portugal</strong> realisa um esforço militar ig ualmente sem precedentes <strong>na</strong> suahistoria. Constitue um exercito capaz de combater ao mesmo tempo no continente e <strong>na</strong>s colonias,manda sessenta mil homens para França, trinta mil para Africa e encontra ainda <strong>na</strong>s suas reservasos elementos constitutivos de uma "guarnição territorial. Este exercito é exclusivamente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.Com Schomberg e com o conde de Lippe os instru~tores do exercito portug uez eram estrangeiros;com Wellington g rande numero dos seus officiaes eram inglezes. Inglezes e francezes eram muitosdos officiaes que se ba teram ao nosso lado <strong>na</strong>s luctas liberaes. O exercito portuguez da GrandeGuerra é, d'alto a baixo, portuguez. São Portuguezes os seus officiaes, são Portug uezes os seussoldados e o mesmo panno dos uniformes que veste é portug uez.D'estes dois factos, igualmente grandes - a entrada de <strong>Portugal</strong> <strong>na</strong> colligação e a suacooperação militar nos campos de batalha da Europa, - devem resultar para o futuro da <strong>na</strong>ção·consequencias incalculaveis. Já hoje, a perso<strong>na</strong>lidade cio povo portuguez se affirma em todo omundo. As esquecidas, ou desconhecidas virtudes da nossa raça apparecem á opinião universalcomo uma revelação de energia. Estamos longe do conceito pessimista que nos fazia ver aos olhosdo mundo como uma <strong>na</strong>ção decadente. O velho <strong>Portugal</strong> re<strong>na</strong>sce senão parn a g loria de novasconquistas, para as recompensas da consideração que se deve aos povos vigorosos. O dia d'hoje é ·cheio de promessas; o d'amanhã cheio de esperanças. Depois dos grandes dias do passado, esteé o mais bello momento da nossa historia!Esse momento nos propomos fixa r n'esta publicação, desti<strong>na</strong>da como já dissémos, a documentaro esforço ·militar de <strong>Portugal</strong> <strong>na</strong> presente <strong>guerra</strong>, mas desti<strong>na</strong>da tambem, se isso fôr. ossivel, a manter elevado o espirito <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, pelo exemplo glorioso dos seus.


PORTUGAL NA GUERRA 3OS AMIGOS DE PORTUGAL10. AvENUE BuGEAuo .T E L• G•8 OGo! ;~ JAvr-. ª ,.) . r-.. ~ a.vi ,~~


'PORTUGAL NA GUERRAMAJOR NORTON DE MATTOSMINISTRO DA GUERRAIJ IJ IJEM pleno periodo de luctas inter<strong>na</strong>s, tanto mais encarniçadasquanto o momento se afigurava decisivo, e tanto mais surdasquanto a opio ião se sentia ínsuficientemenleesclarecida,entra<strong>na</strong> sce<strong>na</strong> política porlugueza o snr. major Norton de :\1attos.Logo apoz a r evolução de 14 de Maio de cujo comité o aclualministro da <strong>guerra</strong> fazia parte a cliva, formou-se o ministerio a quepresidiu interi<strong>na</strong>mente o s nr. Dr. José de Castro. O presidente d oconselho tomou a seu cargo lambem a pasta da <strong>guerra</strong>, entãoparliculnrmente difficil de bem gerir.O snr. Dr José de Castro ch::unou então para chefe do seu gabinetemilitar o snr. major Norton de Maltos, cuja firmeza decHacter e sere<strong>na</strong> visão do momento haviam-de remover as enormesdifficuldades acumulad


PORTUGAL NA GUERRA5Serviço da R epiiblicaCorpo Expedicio<strong>na</strong>rio Portuguez~~,- --·Soldados •'1\0 assumir, em França, o Comando do Corpo Expedicio<strong>na</strong>rio Porluguez,com que o governo da Republica Portugueza me honrou, saudo-vos, cheio deentusiasmo, expressando-vos o meu desvanecido orgulho por vos comandar.Tenho a certeza de que, <strong>na</strong> luta em que vamos entrar para a defeza doDireito, da Liberdade, e da nossa propria Honra, pelos nossos inimigos ultr:ijada,sabereis revelar todo o conjuncto de qualidades e sentimentos, que, emtodas as epocas, distinguiram os soldados de <strong>Portugal</strong>.Tenho a maior fé de que regressareis às vossas terras, ao seio das \'Ossasfamílias, coro a consciencia do dever cumprido, depois de aqui terdes, ao ladodos valorosos exercitos Brítanico e Francez, vingado os nossos írmaos da afrontarecebida em terras d'f\ídca, e honrado a nossa querida Patria, em cujabandeira se contemplam as irnorredouras qui<strong>na</strong>s, até lioje cobertas de gloriaem todas as partCtJ elo .Mundo.:fo enviar- vos a minha saudação,· sei que denlro de vossas pe!tos palpita,como no meu, o mesmo entusiasmo fervoroso pela viroria


6 PORTUGAL NA GUERRADA TERRA LU-ZAChegamos, em Porlugal , ao lermo logico d'uma élapenecessaria, no caminho da in Lervenção militar porlugneza <strong>na</strong>conflagração europeia, e este momento, que marca uma conclusão,annuncia o principio d\1ma nova obra. P ortugal chegouao momento de se bater, <strong>na</strong> França, ao lado de inglezes, seusalliados, contra o inimigo commum. Vae baler-se. P ode dizer-seque, d'este momento em diante, a nossa vida eslá suspcusa,porque o nosso coração não está aqui. Es tá n'essc ponto d'uma<strong>na</strong>ção amiga e invadida pelos que querem destruir a obrad' uma civilisação que é a nossa, ponlo que não conhecemos,cujo nome nem sequer nos é dado conj ecturar, e que é para nóscomo um trecho de <strong>Portugal</strong>, que imagi<strong>na</strong>mos illumi<strong>na</strong>do pelonosso sol, embalsamado pela fragancia elas nossas brisas,h:mhado ele harmonia pelo canto das nossas aves, - porqueonde estão os soldados de <strong>Portugal</strong> está n alma, musical, perfumadae humaniosa da nossa patl'ia.Situação curiosa e interessante, em qu ~ se comprova, simultaneamente,a solidez do elo <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e a enternecedora affeclividadeda nossa raça! Nós sabemos, ou anl~s sentimos,como se pode ler uma percepção physica, que us olhos ciosnossos soldados eslão fixados <strong>na</strong>· sua patria distanLe. Estãofixados em nós, <strong>na</strong> nossa vida, nos nossos problemas, <strong>na</strong>s nossasques tões, nos jdeaes a que lentamente vamos abrindo as sendasda historia. Mas se lhe é dado realmente fixarem-nos, com asfaculdades mysleriosas da alma, alravez do espaço, reconhecerãoque os nossos olhares estão filos precisamente n'elles.Cruzam-se os raios da sua luz. E' como se se fundissem espiritos.Elles querem saber a nossa vida porque al imenta a queos anima, e nós só podemos viver da d'elles.lia dias o grande poeta Guerra Junqueiro dizia, n'um j or<strong>na</strong>lde Lisboa dirig ido por quem e:;las linhas firma, q ~1 e « um fa clodomi<strong>na</strong> hoje Loda a nossa exis tencia: a entrada <strong>na</strong> <strong>guerra</strong>. »E' absolulamente exacto, e por isso mesmo ludo quanto deessencial ou mesmo de importante se observa no nosso meio temcom a <strong>guerra</strong> patente relação. Tudo : o 'lue leVfmta o nossoespírito em 1·evigoranles eslimulos de progresso e de bellezaou o que, por momentos, o deprime pelas dolorosas e afllictivascontingencias que da <strong>guerra</strong> são consequencia <strong>na</strong>tural e inevi­Lavel; o que nos alegra e orgulha como o que nos enlrislecee magoa ; o que, por mão da espe ran~, nos entreabre oshorizontes do futuro, e o que, por intermedio da dor, nosinslilla no coração as amarguras da hora presente. Mas tudoisso é a propria vida, submetlida ás provas mais diversas que odestino pode impor á çonsciencia das <strong>na</strong>ções.Que Deus forja uma alma 1c enrijando-a como uma couraça,temperando-a como uma es pada » disse um poetn da França,e o que elle disse du alma do individuo pode applicar-se áalma collectiva dos povos. As inspirações do rlever <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lrobus teceram a alma porlugueza. E' a vida que passa, - mas avida horoica que desafia a morte, - e nunca a expansão admiravelda vida é mais pujante do que quando affronta os supremosperigos. · ·<strong>Portugal</strong> deve ler hoje bem temperada a sua alma de heroelendario quo remoça ao calor de novos ideaes. Porque desde oprimeiro dia da conflagração europeia não hesitou nunca, não sóem manifestar as suas sympathias pela causa dos alliados, comoem tomar uma altitude franca e decidida, em conformidade coma secular allianc;a que a um d 'clles o liga. Foi o nosso paiz, come fleito, o que mais ardentemente patenteou a sua solidariedadecom as <strong>na</strong>ções que eram hostilisadas pelo imperialismo germanico.Ainda q uasi se não haviam trocado os primeiros ti rosde canhão, e já em Lisboa multidões enthusiastas aclamavama causa das <strong>na</strong>ções livres que pela liberdade iam bater-se.Tem-se explorado muito as discusões políticas que em Lornoda <strong>guerra</strong>, e no longo período de perto de tres annos que ellajá conta, se patentearam em <strong>Portugal</strong>. E', todavia, convenienteaccentuar que nunca essas divergencias aflectaram essencialmentea participação <strong>na</strong> <strong>guerra</strong>. Mo<strong>na</strong>rchico ou republicano,nenhum partido ainda expressou a opiniao de que não cumprissemosos nossos deveres de alliança, como nenhum partido aindaDDIJfez qualquer declarnção de que se possa inferir solidariedade coma Allemanha. Nem antes, nem depois da <strong>guerra</strong>. E, da mesmaforma se deve acentuar o fa cto de nunca se te1· feito qualquermanifestação germanophila <strong>na</strong>s praças publicas. Evidentementeagora o governo reprimil-a-hia severamente, porque estamos em<strong>guerra</strong> com os allemães. Mas antes da declaração de <strong>guerra</strong>, annoe meio se passou cm quo não faltava quem considerasse o paizn·uma situação de neutralidade. Houve mesmo um momonLo, -refiro-me ao rapido interregno do governo P imenta de Castro,- em que offi cialmente a situação se apresenlava de molde anão ser di ffi cil, no ponto de vista das repressões legaes, amanifestação publica de sentimentos de sympalhia pela causaallemã, encarada no aspecLo geral da conllagração europeia.Todavia, ni nguem se atreveu a fazei-o, de tal forma eram conhecidasas tendencias populares. E assim, lendo-se feito cm <strong>Portugal</strong>,mesmo antes da <strong>guerra</strong>, deze<strong>na</strong>s de manifestações publicasa favor da causa dos alliados, nunca qualquer manifestaçãocontraria aos alliados se realisou, em nenhumas circumstancias.Corno lodos sabem, a questão da intervenção <strong>na</strong> g uerraseguiu uma linha inteiramente logica. Em 7 de a gtis~o de 1914,quando a avalanche allemã, rolando atravez da ~elg1ca, ameaçavair esmagar o coração da França, e a fo rm1davel marchafulmi<strong>na</strong>nte, o plano de traição e de surpresa se af'fig urava acaminho de pleno exilo, o governo da Republica, no parlamentoportuguez, com fi rmeza e serenidade, assig<strong>na</strong>lava a sua alliludeao lado da causa que parecia, segundo as apparcncias temerosasdo momento, que ia ser vencida.Não Lrcpidamos um instante. Pozemo-nos ao lado dos aliadosuo momento do supremo perigo. l\lais tarde, quando outra horade pavor soou no mundo, q~and o a A lle~1anha a r1:e~cssou sobreVerdun as suas infinitas legiões, proced1nmos de 111l1mo accordocom a Inglaterra, que invocara a nossa alliança, re9~isilando os<strong>na</strong>vios allemães, fundeados nos nossos portos, reqms1ção de queresultou a declaração de <strong>guerra</strong>, que recebemos com estoicismo.rão Linhamos um exercito digno cl'esle nome. J mprovisamol-o,collocando acima de todos os problemas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>es, e algunsd'elles bem insLanles e angustiosos, o problema magno da <strong>guerra</strong>.Essas tropas, que ins truimos, armámos e equipámos, conformetodas as necessidades dos exercitos modernos, enviamol-as abater-se ao lado dos inglezes, <strong>na</strong> França, - e em que mo1ue0Lo ?Prnc1samente no momento em que se annuncia o choque defini­Li vo de que resultará o desenlace da <strong>guerra</strong>, choque cuja violcncia,cujo horror, ultrapassará ludo quando se pode con.tar das <strong>guerra</strong>smais sano-renlas que lêem fl agcllado a bumamdade ; choquelitanico, ~m que as luctas homericas serão realidades huma<strong>na</strong>s;·choque que é mais do que ine~primi~e ~ p::ira os recursos da. n~ssalinguagem, vicia q ue se tor<strong>na</strong> 111conc1b1vel, excedendo os lumlesque a nossa imagi<strong>na</strong>ção pode abr~ nge r. E' uma for<strong>na</strong>lha escancaradaque Cyclopes não affronla<strong>na</strong>m, uma cratera em. qu ~ nemEncelado se preci pilaria, um inferno que o Dante hes1 La~ 1 a emdescrever,e para essa for<strong>na</strong>lha, para essa cratera, p~ra esse mfe:noos soldados de <strong>Portugal</strong> marcham, com um sorriso nos labws.Que outra idéa pode occupar a mente po~'Luguez.a ? Não ~sa lleclos que ligam os que ficaram aos que partiram, visto que Jánão ha ninguem, pode dizer-se em <strong>Portugal</strong> que não lenha umparente ou um a migo <strong>na</strong>s fileiras dos que vão combater pelapatria, n'essa terra generosa da Fra~ça que é lamb~m nossapaLria pelo espirito. E' 1-Amhem o mte~esse comovido', masapaixo<strong>na</strong>do pelo g rande drama q~e se va1 re pres~nt;n. Nestascunjuncluras histo r ica~, em que 1deaes e~tremcc1dos estão emjogo uma febre especial abrasa o orgamsmo humano. Tudo,tudo' depende d'essa lucLa que se vai .trnvar 1 Fitam-se os nossosolhos exlaclicos <strong>na</strong>s bandas do honzonle, para os lados ondeestá a França. E' ahi que a nossa sorte, a sorte de toda a humanidadese decide 1 E a bandeira de <strong>Portugal</strong> flu ctuará <strong>na</strong> frenteda batalha gigantesca, pequeno trecho da immensa lucta, m~sonde bate, - não, o duvidem 1 - porventura o coração maisforte que tem pulsado no peito d'um povo.MA VER G ARÇÃO.


A Declaração de <strong>guerra</strong> da A llemanhaa <strong>Portugal</strong>As causas c.Ja presente <strong>guerra</strong> slio de tal modo complexas etomam raizes em terrenos tão differentes que o historiador mais- !h11Jtrltílf-Dtutf~r !f1dnnbtfdJnfl. Lissebon, den 9.Mãrz 1916.··· ~~}PORTUGAL NA GUERRA 7\ 1 ) Herr Minister,~cir:crVon weiner hohen Regierung bin ich beauftregt Euere1Exze llenz folgende ~rk lã rung zu machen:Regierung hat seit dem 9eginnDie Portugies i ~credes Krieges die ~einde des oeutschen peiches durch neutra.J.itlitswidrige He.ndlungen unterstützt. In vier Fállen wurdeenglischen Truppen der Durch~arsch durch Mozambiquegestettet. Es wurde verboten, die deutschen Schiffe mitKohle zu versorgen. oen englischen Kriegsschiffen ~~rdeein der Neu~relitãt zuwiderleufPnder eusgedehn~er Aufenthaltin rortugiesischen !!áfen ge·t te.ttet, sowie terr.er zugelns~en, dass fngland Madeira els Flottenstütze benutzte.Geschutze und Kriegsmateriel verschiedener Art wurden andie ~·ntente111llchte und überdies t1.n Sllglend ein Torpedoboctzerst~rerverkruft. ne.s Archiv des Kaiserlichen VizekonsuletEin Mosscmedes wurde beschlegnehmt.Ferner ··urden <strong>na</strong>ch Afrika "Xped itionen entsandt undde.bei of fen ausgesp r~chen , dass diese gegen Deutschlendgetichtet seien.,>Der deutsc11e sezirksamtmann Dr. Schultze. Je<strong>na</strong> sowiezwei Offi?.iere und einige Mannscheft en ;


8 PORTUGAL NA GUERRARevista ás tropas portuguezas que vão partir para os campos de batalha. O desfile da infantaria.Reoue des troupes portugaises prêtes à partir pour le front. Le défilé de l'infanterie.Depois da revista : O general inglez H ... communica as suas impressões ao commandante das forças portuguezas.A pres la reoue : le général anglais H ... communique ses impressions au commandant du Corps Expédition<strong>na</strong>ire Portugais.AS TROPAS PORTUGUEZAS EM FRANÇA.


PORTA-BANDEIRA PORTUGUEZ NA GRANDE GUERRA.fl11uarcllo Je Augu•lo 'Pi<strong>na</strong>·~" PGRTtJGAL NA GtJ ~J!.R A"


PORTUGAL NA GUERRA 9A infantaria portugueza desfila deante dos generaes inglez e portuguez, com os seus estados maiores.L' infanterie portugaise défile deoant les généraux anglais et portugais, aoec leurs états-majors.LES TROUPES PORTUGAISES EN .. FRANCE.Ourante a revista : Continencia á bandeira portugueza.Pendant la reoue : Salut au drapeau portugais.


10 ========================== PORTUGAL NA GUERRADIARIO DE CAMPANHADo Capitão X ...DOIS DIAS DE TRINCHEIRASTerça-feira, 1 de Maio. - Esta manhã, sou acorclaclo em sobresalto<strong>na</strong> mess ti


PORTUGAL NA GUERRA 11se tanto. Examino então no mapa das trincheiras a disposição dosector e o meu camarada explica-me a posição dos postos especiaes,o raio de acção dos postos de observação, o campo d asnossa metralhadoras. O chão que pisamos é historico. Em*ntravou-se n' este local uma grande batalha. As nossas trincheirasserpenteiam atravez das mi<strong>na</strong>s !foque foi uma peque<strong>na</strong> e lindacidade da qual não restam senão montes de pedra e de tijolo ealgumas paredes ainda de pé, onde se urganisaram abrigos e postos.Chegou a meia noite. Sahimos e comes:amos a caminhar, aciiminhar. De longe em longe, taboletas. As trincheiras tem nomes,alguns mesmo illustres, muito illustes: Oxford-slreet, por exemplo.Cortamos a Clwrcl1e-road, ao Caminho da Egreja. Da egreja dacidade resta ape<strong>na</strong>s um monte de escombros e um Christo que jáandou em illustrações e magazines. Alguns santos, uma Virgem,estão postos sobre campas d e soldados inglezes. No que talveztivesse sido uma capela llorida, está um ninho de metralhadoras.Subo ás escuras os degraus d'uma escada de mão. Sobre oéano negro tlas armas debruça-se a vigilancia dos serventes e poruma estreita abertura ·vê·se o campo muito claro e lá adeante, acem metros se tau lo, a linha de trincheiras allemãs. Outras vidasalli palpitam, outros olhos nos espíam e nos esperam. Para a nossadireita crepita uma espingarda automatica. Retumba um obus detrincheira. Ouve-se o silvo muito especial da gra<strong>na</strong>da. Cahiuperto, muito perto, <strong>na</strong> nossa primeira linha, diz-me o capitão.Esperamos. Outras deto<strong>na</strong>ções, sete. n'um quarto de hora. Algumsig<strong>na</strong>l tiveram <strong>na</strong> trincheira fronteira que lhes indicou umobjectivo. Proseguimos. Passamos a um posto de observação; um ,dos meus soldados espreita pelo periscopio emquanto umsoldado inglez sorri. Colhemos informações. As gra<strong>na</strong>das cahirammais adeante. Continuamos. Espreito nos obrigos. Os meushomens lá estão e aois que não cabe a vigilancia, esses dormemtranquilan1ehte ao lado dos seus camaradas. Cruzamos maisadeante fachi<strong>na</strong>s inglezes e portugueze5 condusindo chá quente.Indago. Andaram debaixo do fogo. Chegamos fi<strong>na</strong>lmente aoponto bombardeado. Um tenente de ronda conta que as gra<strong>na</strong>dascahiram em volta. Uma acertou n'um eharco allí visinho eencheu-o de Iama. Mostra-nos o seu uniforme todo salpicado.Pergunto que tal se portaram os meus soldados adidos ao posto.- "-Splendid I Very well ! No panic ...Entrevisto a minha gente.- « Ah! meu capitão! Elles mandaram ahi umas garrafas delitro ; mas cá a gente não cortou prégo ...A quem ignore. o portuguez da zo<strong>na</strong> de <strong>guerra</strong>, direi que osprojecteis são divididos conforme o tamanho em barris de almude,garrafas de litro e copos de meio litro. Cortar prégo é ter medo.Sorrio satisfeito. E' a primeira vez que os meus soldados,como eu de resto, estamol) tão em contacto com o perigo. A expcrienciaé satisfatoria.O capitão segue de mãos- nos bolsos e cachimbo <strong>na</strong> bocca.A certa altura pergunta-me se quero sahir da trincheira e ir forado parapeito a um posto de observação collocado n'umas ruí<strong>na</strong>s.Respondo-lhe que irei onde êle fôr. Caminhamos atravez da noiteclara uns trinta passos. Dois homens ape<strong>na</strong>s cabem no abrigo quesó é occupado de noite. Espreitamos pela vigia. Na nossa frentetemos um bosque, cuja historia singular e tétrica o capitão meconta com toda a sua fleugma. Volta.mos para as trincheiras e,apoz duas horas e meia de marcha, tendo pisado kilomelros depassadeira, conversado varias vezes sentados a descançar sobrebanquetas desertas, regressamos ao posto de commando. Ha duascamas : rectangulos de madeira sobre os quaes se estendeu redede arame e que assentam a tres palmos do chão sobre caixotes.Deito sobre mim o meu capote, o capitão enfia-se no saco dasua valise, apagam-se as vélas depois de uns goles de whiskye adormeço d'alli a pouco, admirado de ter somno.Quarta-feira, 2 de Maio. Acordo pelas sele horas ~a manhã.Sento-me sobre o meu leito de campanha, ponho em movimentoas articulações e vejo, a um palmo do meu <strong>na</strong>riz, um prato ondeuma talhada de prezunto fraternisa com um ovo estrellado. E' ofirst-breakfast, que um tenente me estende. Devoro-o, bem comouma tapioca com assucar que sobrevem, regando-os com optimaceraveja Uma chave<strong>na</strong> de chá, umas torradas, uma cachimbada de.tabaco louro e o dia começa. Cá fora da toca o sol está explendido.Passaritos cantam no terrapleno, soldados inglezes fazem abarba e nós oficiaes procedemos á nossa toilette. Nunca, nemmesmo <strong>na</strong>s trincheiras, um subdito de Sua Magestade britanicadeixaria de se barbear todos os dias. Barbeiam-se de cór, semespelho, com <strong>na</strong>valhas ageis e delgadas que passam como umacaricia sobre pelles maravilhosas de frescura e de côr.D'alli a pouco partimos para a ronda da manhã. O mesmoitinerario da véspera, mas agora á luz clara do sol. Reconheç·olocaes entrevistos de noite, cruzo a cada passo os meus homens,que andam de parceria com os seus camaradas, fazendo a limpezadas trincheiras, esgotando agua á bomba, cavando regueiras,concertando parapeitos, isto emquanto outros nos postos deserviço entreteem o tempo limpando as armas. A desposição do.smeus rapazes é excellente. Encontro-os a conversar no melhorportuguez . com os inglezes que os escutam muitos sérios e comose entendem não sei. Ha frases que ouço a meúdo :« Qua11d guerre finish, bonne I dizem os inglezes.« Yess ! yess ! respondem os nossos.« Boches, pas bonnes ...« Yess, yess, concordam' os portuguezes.De vez em quando u m inglez toca no braço d'um soldadonosso e diz-lhe :- « Carne 011. Promemade !. E lá vão os dois a uma fachi<strong>na</strong> qualquer. Pergunto aos meuscamaradas britanicos que impressão leem dos nossos soldados.Em cada posto peço ao capitão que consulte os seus sargentose cabo$. E, felizmente para mim e para honra de <strong>Portugal</strong>, aresposta é sempre a mesma.- « Solids l Bo1111es !Direi mesmo que para cavar e dar á bomba um portuguezvalle bem dois inglezes. Quanto á sua serenidade sob o fogo, bastaque registe o espanto de um sargento inglez, que não podiaperceber como, <strong>na</strong> occasião do bombardeio, os nossos soldadossahiam dos abrigos para ir esp r ~i tar por cima· dos parapeitos.- « Para ver d'onde ellas vinham, meu capitão», explica-meum dos meus rapazes.Um pouco de inconsciencia talvez, mas muita valentia afi<strong>na</strong>l.No fim da nossa ronda palmilhamos mais uns kilometros detrincheiras e chegamos ao posto de commando do batalhão. Ahi,como sempre, o major e o commandante da brigada, que alli veiude visita, me acolhem com toda a gentileza. Dentro da zo<strong>na</strong>ingleza ha cerveja, cigarros e tabaco para cachimbo permanentes.O coronel e o major indagam do capitão o que se passou de noitee pedem noticias dos portuguezes. As companhias que me precederamdeixaram boa impressão e a minha não desmerece daopinião forma da. Visitamos o posto de soccorro, primefroescalão da assistencia médica. Ha um major me.dico curiosíssimo,fallando admiravelmente o francez e que passeiou o seu <strong>na</strong>rizexorbitante por Gallipolis e pelo Egypt.o :rntes de vir para Françaonde se sente felicissimo, sem querer largar o servico das trincheiras.Falia-se da duração de <strong>guerra</strong>. Acaba este anno, dizem todos.O Coronel diz-me que os portuguezes devem ser bons soldados.Respondo-lhe que a historia da Guerra Peninsular, alem de outrosdocumentos, é garantia das qualidades militares da nossa raça.Shake ha11ds frater<strong>na</strong>l e alliado, cerveja, cigarrada.Regressamos, o capitain G. e eu ao nosso abrigo e já é hora denova refeição. Continúo com uin apetite admiravel. Um sargentoinforma-nos de que não ha novidade. Ape<strong>na</strong>s a arthilharia grossacontinua o seu duêto. Sobre a~ nossas cabeças passam silvandog1·a<strong>na</strong>das que, segundo consta, vão escavacar o acanto<strong>na</strong>mento deonde sahimos hontem. Um aeroplano inglez tenta voar sobre aslinhas allemãs. Fazem-lhe uma barragem aerea e elle brinca,volta sobre as asas, sig-zagueia até voltar para tras. Faz calor e ocaplain senta-se à chineza sobre a cama e começa a . escreveruma carta á que ha-de ser Mono G., peul-être, apres la ,querre... Tirodo meu saco La philosopllie de Georges Courteline e leio algumasS3borosas pagi<strong>na</strong>s. Pela porta aberta do abrigo, emquanto o solescalda cá fora, passam soldados inglezes e portuguezes e busco·adivinhar as preocupações d'estes. Vejo-os serenos, girandon'aquelle dedalo de caminhos enterrados como se estivessemn'uma pararla de quartel, insensíveis ao perigo que nos ameaçaem cada segundo. Chamo um e outro. Que tal? Uns estiveram denoite <strong>na</strong> primeira linha e acabam de ser r endidos. Contam a rir


12 PORTUGAL NA GUERRAA' volta das TrincheirasCarros de aprov1s1o<strong>na</strong>mento e -::osinhas de campanha.Voitures de ravilaillement et cuisines de campagne.« Creanças, rapazes e raparigas, corremalegres, formando vanguarda. Depois, umgrupo de officiaes a cavallo, uns de capaceteoutros de bonnet. Uma banda toca marchasmilitares cujo movimento rapido faz lembraro passo dobrado francez.Segue uma companhia de infantaria, equipadacomo verdadeiros poilus que são.Bem parecidos com seu uniforme azulado,ao vê-los assim passar <strong>na</strong> estrada, alegres eespertos, ninguem diria que elles acabam depassar pela dura experiencia das trincheirase que já receberam o baptismo do fogo. Haalgumas baixas <strong>na</strong>s fileiras. Alguns camaradasque ;partiram decididos e alegres, nãovoltaram. Um d'elles até.nunca mais voltará:uma gra<strong>na</strong>da ·allemã tombou-o· para sempre.n'esta terra das Flandres que elle viera libertar.Querendo vingá-lo, outros valentes foramferidos.« A companhia pára deante da igrejada aldeia onde acampam as tropas. Lá os esperaum major, que n'uma voz forte e <strong>na</strong> Iinguatão expressiva da sua terra, se dirige aossoldados.Felicita-os pela bella conclucta perante oinimigo. E todos aqnelles bravos se mostramcontentes e o sorriso que lhes ilumi<strong>na</strong> o rostofaz desapparecer todo o indicio de fadiga.Soldados portuguezes que vão pela primeira vez occupar as trincheiras.Soldais portugais allant, pour la premiere fois, occuper les tranchées


PüRTuGAL NÂ GUERRAjj«A banda toca então a Marsclheza e o hymno<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l d'estes nossos alliados. Sce<strong>na</strong> commovedora:os nldeãos que :icorreram enlreolham-se surpresos, senti ndo deslisar - lhespela face uma lagrima de esperança e decontentamento palriolico.- « Les braves gens! » diz uma velhita.«Bem merecem descançar agora um bocado. 1>« Tens razão, boa aldeã: esses estra ngeirosque veem dar a sua ajuda aos nossos filhospara nos defender contra os Boches barbarose vandalos e auxiliar a França a escorraçaressa pesle do seu territorio, são « d es bravesgens ».« E porque o são, os soldados alliados, dekhaki ou d'azul, é preciso mostrar-lhes bemque a gente os ama e os admira .... Se aqui estamos em segurança, em grandeparle o devemos ás tropas alliadas.« Cuida bem do soldado que tens no leular, boa velhinha. Acarinha o. Pois não é elleum« poilu 11 como o teu rapaz?Sómente a mãe


14 =========================== PORTUGAL NA GUERRAas suas impressões, emquanto os Tommies em volta os escutaminteressados.Ao cahir da tarde recomeça a musica. Os caminhos da rectaguarda~ os da segunda linha principiam a levar a sua conta demetralha. E' a pesca cega ao homem, deze<strong>na</strong>s de projecteis deartilharia e de balas de metralhadoras desperdiçadas para apanharuma vida aqui, outra alem. E'a Morte a entreter-se emquantonào chega a hora dos grandes gol1)es de fouce.Entramos <strong>na</strong> segunda noite. O capitão G ... já sabe a minha vidae eu já sei a d'eUe. Era cl1emisl antes da <strong>guerra</strong> e tencio<strong>na</strong> deixar oexercito mal ella acabe. Sabendo que ha de figurar n'uma cronicaminha, pede que lhe envie o jor<strong>na</strong>l. Quer alem d'isso no seu livrode <strong>guerra</strong> um autografo meu em francez: Escrevo este .Pensamentolapidar ; - « Les boches snnl des cochons el /e capitaine G ...rsl 1m frere. » Vamos dar outra volta. Ao atravessarmos umcaminho da B. Line, crepita ao longe uma metralhadora; sobreas nossas cabeças, <strong>na</strong> rama das arvores, silvam as balas. - « Pasbo11 ! » - exclama o meu companheiro estugando o passo até átrincheira proxima. Ha socego relativo <strong>na</strong> linha. Ape<strong>na</strong>s umagra<strong>na</strong>da de trincheira cahiu cerca de um abrigo deserto. Tudoestá a postos. Uma equipe que tenta ir collocar arame farpado temde regressar e os meus port\Jguezes que ·a acompanham voltamfuriosos por terem sido descobertos.Vamo-nos deitar. De tempos a tempos um oficial ou umsargento de ronda vem fazer o seu relatorio. No meio da noiteacordo.- Um rato dança o cake-walk sobre a minha barriga.- « Whal is this P pergunta um ca pitão, que está acordado,Explico-lhe de que se trata.- « No confortable, diz-me elle <strong>na</strong> escuridão.Headormeço, passados instantes.***Quinta-feira, 3 de Maio. A madrugada foi agitada. Não sei quemosca mordeu os nossos visinhos de fronte. Sem que os provocassemos,sem que lhes fizessemos o minimo slraff, como se dizem calão de trincheira, enviaram-nos algumas ~ra<strong>na</strong>das, matandoum soldado portuguez da compahia pegada á nossa, ferindooutro. Da minha gente só um homem teve um dedo levementepis~do por uma trave, que desabou. O morto foi recolhido a umaabrigo. A noite o enterrarão. O estilhaço furou-lhe o capacete <strong>na</strong>junta da aba e enlrou-lhe pela témpora. O ferido não tem gravidade.Faço a minha ultima ronda. Paro cerca de um abrigo de metralhadorapara ler uma curiosa taboleta. Tem o abrigo o nÇ>me de umgrande gare de Londres: Charing-Cross e a taboleta annnncia qued'alli partem a qualquer hora tiros expressos <strong>na</strong>s direcções de ...e de .... E' com estes traços de humorismo simplista que os soldadosbuscam espalhar o aborrecimento esp.ecial da vida das trincheirasa que os francezes chamam avoir le cafard e para o qual,os nossos soldados crearam uma expressão que se vae generalisando: comer graxa.Um general ingl'ez visita o sector. Passa cercado ou para melhordizer seguido de um grande cortejo de officiaes. Acha bom aspectoaos portuguezes. Das suas observações de serviço resulta que umtenente coronel vem ao posto de commando onde estou hospedadofazer uma Lheoria aos officiaes no tom mais ameno e sorridente,fumando e bebendo.Chega a ordem para a nossa retirada. Pelas tantas da tarde ospostos serão rendidos, a concentração far-se-lia gradualmenleem determi<strong>na</strong>dos pontos e sahiremos, como entramos, em pequenosgrupos, seguindo, até a um cooered way, uma rua de trincheirasa que por home<strong>na</strong>gem se poz o nome de uma formação indiacompletamente aniquilada n'este terreno <strong>na</strong> batalha de ha doisannos.Aproxima-se a hora ele me separar d'esse camarada encantadorque foi a capitão G ... e dos seus subalternos que fraternisaramcom os meus de maneira a deixar-lhes profundas saudades. Chegamos guias que nos hão-de levar ao nosso acanto<strong>na</strong>mento primitivo.Apesar do bombardeio ainda está habitavel. Formam no terraplenoos primeiros grupos. Pelo telefone pegunta-se a hora doquartel general da brigada. Acertam-se os relogios. No momentomarcado, sae o primeiro troço. Tem começado pouco antes oconcerto do costume. Por fim com o ultimo escalão, saio eu, apozuma affectuosa distribuição de apertos de mão áqueles camaradasque talvez não torne a ver.Seguimos em sentido inverso o caminho que nos trouxe. Jápassada a ultima linha recompõem-se os pelotões. A companhiaforma por fim no seu estacio<strong>na</strong>mento. As gra<strong>na</strong>das deitaram umasbarracas abaixo e mataram dez inglezes<strong>na</strong> casa onde ha duas noitesdormiram dois dos meus officiaes. E' noite fechada.Faço a perguntasacramental·:- « Falta ·alguem ?Na minha vida militar tenho-a feito alguns milhares de vezes.Nunca me impressionou tanto a resposta que os meus comandantesde pelotão foram dando successivamente :- Não falta ninguem.Destroçados os soldados, entramos <strong>na</strong> mess. Camaradas doexercito de Jorge V fumam e bebem. Primeira pergunta :- « Avez-vô mangé?Tres segundos depois estavamos a jantar.Capitão X ....... . ..O AVANÇO BRITANICO NA BATALHA DE ARRAS


PORTUGAL NA GUERRA15O general Petain com o .. general Joffre, noquartel general dos exercitos de Verdun.BibliographiaL'Effort,Portugais por Paul AOAM (Bloudet Gay, editores, Paris.)Trata-se duma conferencia, realisadaem Dordeus, em 28 de junho de 1916.Esta brochura faz parte duma serie intitulada« L'Hommage Français )> em quecada um dos paizes alliados teve o elogioda sua obra.Coube ao vigoroso e fino litterato queé Paul Adam a incumbencia de tratar doesforço portuguez <strong>na</strong> grande<strong>guerra</strong>. E comoá data o nosso esforço m ilitar seresumisse ás operaçõescoloniaes,de que aliás poucoconsta, o conferente,desviandoseum tanto do espiri to da se r ie,traça um admiravelquadro do valorportuguez, historiaa evoluçãodo p ensamento<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, e<strong>na</strong>lteceo nosso papel tleobreiros d a civilisaçãomoder<strong>na</strong> efá-lo com um justissimosentido eum elevado conhecimentotla almalusa, jnquieta, abnegadae prodiga.Espirito de poetacultissimo quese compraz <strong>na</strong>sdivagações archaicase intellegenciatemperada nos estudodos modernosproblemaseconomicos e sociaes,Paul Adammelhor do que ninguem soube encarar cáfóra pelos diversos lados, a nossa existencia.A nossa actividade como colonisadoresmereceu-lhe uma attenção particnlarissimae d'ella tirou um significado que bemquizeramos encontrar <strong>na</strong> maior parte dosespecialistas, os quaes em regra tão levia<strong>na</strong>mentenos julgam.Permitta-se-nos uma rectificação : apag. 17 affirma Paul Adam que « l'espr itde la Gironde a l'honneur de collaborerà l'instruction de la jeunesse portugaise ».O auctor refere-se a André de Gouveia, um. dos po.rtuguezissimos Gouveias que, durantegerações orientaram e refundiramo ensino em França, professando emSte Barbe e <strong>na</strong> propria Sorbonne, de quechegaram a ser reitores. Este Gouveiaviera, pois de Paris a Bordeus reorganisaralli o ensino no College de Guyenne. Maistarde D . .Toão lll chamou-o a remodelar anossa universidade, mas o espírito daGironda é que beneficiara do e ngenho _pedagogico e da grande cultura humanistado nosso remoto compatriota a queMontaigne, seu alumno, chamara /e p/w;grand principal de France.Porque muito devemos à França, folgamoscom ver que de longa data não deixamosde lhe pagar <strong>na</strong> melhor moeda,quando podemos.J. DE F. B.AO LEITORAs difficuldades sem contei com que se luctaactualmente para lançar i ma publicação como !Jnossa não estão ainda intt>iramente vencidas.Este primeii-o numero que, p1·esles a entrar nosprelos, soffre1t o contratempo dumct greve, não éainda a ultima palav1·a do que pretendemos obtercom os nossos esforços .Contamos com a cotlabo1·ação dos mois distincto.•escriptores port11gue;es e estrangei1·os, sem falar <strong>na</strong>collaboração artística variada que os nossos Lei10,.es nrnilo apreciarão, beni come> a valiosa docvmentaçãophotograpltica dos nossos campos debatalha, a cargo do snr. Ar<strong>na</strong>ldo Garce;, cujoslt'abathos no presente nume1'o .~õo o melhor elogindas suas qualidade8.Dois tanks francezes, depois da sua estreia: <strong>na</strong> recente offensiva do Aisne, onde se portaram demodo a merecer as honras do communicado.P ho10 H. Manuel.O general F och, recentemente nomeadochefe do Estado Maior General.ActualidadesO general Petain era no começo da<strong>guerra</strong> ainda um simples coronel de infantaria.Nomeado general de divisão durante aretirada de Charleroy, e pouco depoiscommandante dum corpo de exercito, dirigia<strong>na</strong> primavera de 1915 a offensiva deCarency. Em setembro do mesmo anuotomava a iniciativa da olfensiva de Champagne.Em março de 1916 quando os allemilesse encarniçaramcontra Verduo, foilheentregue a defezad'aquelle bastiãoque era preciso aguentar atodo o transe.Os collegas admiram-lhea períciae os soldadosadoram - no pelasua bravura.As suas excepdo<strong>na</strong>esqualidadesguerreiras desig<strong>na</strong>ram-noparao supremo commandodos exer ­citos.O general Foch,distincto tra tadistamilitar ecommandante quemuito se tem illus­Lrado nos camposde batalha, foi escolhidopara chefedo estado maiorgeneral, posto intermediairoentreo ministerio da<strong>guerra</strong> e o supremocommand odos exercitos.


DEPORTUGALANa hora da partida. A ultima m ão cheia de castanhas.L'heure du départ. L a derniere poignée de marrons.Apoz o desembarque. A primeira sopa no meio da neve.Apres le débarquement. La premiere soupe dans la neige.··· ...... Na amurada d'umtransporte, os portuguezessorriem á vistada terra franceza.,•·•,....Sur le ponl d' untransport les soldatsportugais sourient àla vue defrançaise .....la iene....··.A «. Portugueza n ei:r.França. 15 ° abaixo dezero ..•..L'Hymne Portugais enFrance. · 15 ° au-dessousde zéro.493. PARIS. - IMP. ARTIST. < LUX :1, 131, BOUL. SAINT·MICHEI,L'/mprimcur-Géranl : M. GÉLIS


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