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Consulte Aqui Discurso do Enfermeiro Élvio - Ordem dos Enfermeiros

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Cerimónia de Vinculação à ProfissãoÉlvio H. JesusFunchal, 21 de Setembro de 2010 Excelentíssimos …Em primeiro lugar, quero cumprimentar e felicitar os novos colegas pelaconclusão da vossa licenciatura e pelo título profissional que hoje ser-vos-áatribuí<strong>do</strong> - o título de enfermeiro.Se para muitos de vós, o caminho para aqui chegar não terá si<strong>do</strong> muito fácil, oque agora iniciam, embora diferente, também requererá muita motivação,empenho, dedicação e espírito altruísta. A responsabilidade inerente à profissãoque escolheram e que a partir de hoje estão autoriza<strong>do</strong>s a exercer, é muito elevada.Os princípios e os valores consagra<strong>do</strong>s no Código Deontológico e que lhe sãoinerentes, e aos quais to<strong>do</strong>s vós, enquanto enfermeiros estão vincula<strong>do</strong>s, exigem areflexão e o aprofundamento contínuos na vossa prática quotidiana.Os contextos onde ides exercer a profissão são por natureza exigentes,dinâmicos e muito complexos, quer sejam eles os <strong>do</strong>micílios, comunidades, laresou hospitais. Os problemas apresenta<strong>do</strong>s pelos utentes, famílias ou grupos, e quesão da esfera própria de intervenção <strong>do</strong> enfermeiro, geralmente não são lineares,bem defini<strong>do</strong>s ou estáveis, requeren<strong>do</strong> muitas vezes, pouco tempo para a tomadade decisão.Embora saben<strong>do</strong> tal não constituir novidade para muitos de vós, gostaria noentanto de vos aconselhar a continuação da aprendizagem, pois, oprofissionalismo, a autonomia e a consequente responsabilidade que nos é exigida,1


não se compadecem com incipientes investimentos na autoformação e na vontadede aprender ao longo da vida.Numa época de grandes desafios para to<strong>do</strong>s nós, permitam-me uma brevereferência aos nossos sistemas formativo e de saúde e sua relação com aEnfermagem.A profissão de <strong>Enfermeiro</strong>, com o nível de qualificações da Portuguesa eEuropeia, sempre foi e continua a ser, com excepção <strong>do</strong> nosso país, derecrutamento difícil. E se alguma lição podemos tirar de países que, no passa<strong>do</strong>,por razões meramente economicistas, descuraram esta realidade, é a de que forammuitas e negativas as consequências humanas, sociais e económicas para as suaspopulações, difíceis de colmatar.Nesses países, o esforço na cativação <strong>do</strong>s jovens para o ensino daEnfermagem é actualmente muito grande mas os resulta<strong>do</strong>s continuam a serincipientes. Resta-lhes a opção pela importação de <strong>Enfermeiro</strong>s de países terceiros,muitos <strong>do</strong>s quais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> subdesenvolvi<strong>do</strong>, numa atitude, no mínimo,questionável <strong>do</strong> ponto de vista ético, porque delapida<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s já de si muito parcosrecursos nesta área.Na Região, a avaliar pelos caminhos que ultimamente tem trilha<strong>do</strong>, persistepelo menos a dúvida de que estejamos suficientemente empenha<strong>do</strong>s em nãoincorrer naqueles mesmos erros. Pelo contrário, as tentativas de desvalorização <strong>do</strong>papel social <strong>do</strong>s enfermeiros, particularmente nos CSP, e de prejudicar a imagemsocial da enfermagem têm si<strong>do</strong> recorrentes, mesmo nos casos em que to<strong>do</strong>s sabemnão estarem envolvi<strong>do</strong>s enfermeiros. São disso exemplos algumas situaçõestornadas públicas, como nos casos <strong>do</strong> Centro de Saúde de Stº António e, maisrecentemente, o impedimento no acesso <strong>do</strong>s enfermeiros aos da<strong>do</strong>s analíticos <strong>do</strong>sutentes.Também, à semelhança <strong>do</strong> que se passa, infelizmente, um pouco por to<strong>do</strong> opaís, na nossa Universidade, a avaliar pela dispensa da maior parte <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes2


mais experientes e pelo excessivo número de alunos face à capacidade formativainstalada, configura-se uma situação que deverá merecer, no mínimo, a inquietaçãode to<strong>do</strong>s nós.No que ao segun<strong>do</strong> pilar diz respeito, uma das temáticas de maior debate naactualidade é a da sustentabilidade <strong>do</strong>s sistemas de saúde. Uma legítimapreocupação que deve merecer a nossa melhor atenção. Todavia, os pressupostosque vão sen<strong>do</strong> torna<strong>do</strong>s públicos, nem sempre constituem aqueles que <strong>do</strong> nossoponto de vista são os mais estruturantes.Em nossa opinião, o paradigma da <strong>do</strong>ença, ao invés <strong>do</strong> da saúde e bem-estardas pessoas; <strong>do</strong> medicocentrismo, em vez <strong>do</strong> trabalho em equipa e da centralidadeno utente, continuam a <strong>do</strong>minar os nossos serviços e sistemas de saúde. Atente-seao para<strong>do</strong>xo de Portugal constituir o único país a nível mundial onde, por exemplo,nos CSP, existem mais médicos <strong>do</strong> que enfermeiros na prática clínica, exemplonegativo este que alguns nesta região, ao que parece, pretendem, emboratardiamente, imitar!De facto, a manter-se o esta<strong>do</strong> actual de coisas, com uma ênfase excessiva na<strong>do</strong>ença, leia-se medicalização <strong>do</strong>s sistemas e serviços de saúde, o futuro não seafigurará lá muito promissor. Resta-nos a esperança duma melhor reflexão sobre asrecomendações da OMS, que aguardamos ver plasmadas nos planos Nacional eRegional de Saúde, 2011-2016.Se tal não vier a acontecer, de uma coisa estamos convictos: sem reforço <strong>do</strong>papel e <strong>do</strong> número de enfermeiros em to<strong>do</strong>s os contextos, particularmente nosCSP, não existirá investimento público e priva<strong>do</strong> que resista. E a universalidade, aqualidade e segurança, a eficiência, a efectividade e a sustentabilidade estarãodefinitivamente comprometidas!Outros exemplos nãos nos faltam para ilustrar estas preocupações:3


Lá, como cá, as necessidades em cuida<strong>do</strong>s de enfermagem são imensas, adisponibilidade de novos profissionais vai existin<strong>do</strong> mas a capacidadeefectivamente instalada, por incrível que pareça, continua a ser escassa!A crise, há muito que tem vin<strong>do</strong> a ser utilizada para justificar o injustificável,como se pretender “tratar” <strong>do</strong>entes em condições favoráveis à ocorrência decomplicações graves, de dependências ou de mortes evitáveis não fosseexponencialmente mais desumano e mais caro, <strong>do</strong> que admitir e reter ao serviço osenfermeiros que se vão forman<strong>do</strong> nesta região ou país! Pois, é que taiscomplicações, de acor<strong>do</strong> com evidência científica actualmente disponível,aumentam 7% por cada utente adicional atribuí<strong>do</strong> a cada enfermeiro, para além dequatro, nos serviços medicocirúrgicos.No que concerne o número de enfermeiros da RAM, não obstante a aberturade concursos anuais para admissões no SESARAM, o balanço de que dispomos éque, desde 2006, somente foram acrescenta<strong>do</strong>s, em média, 18 novos enfermeirosem cada ano. Um número manifestamente insuficiente para fazer face aoincremento verifica<strong>do</strong> nas necessidades <strong>do</strong>s nossos utentes, assim como nacomplexidade <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, na redução de horários e na abertura de novosserviços.E não esqueçamos que, por exemplo, no ano transacto, aposentaram-se 39enfermeiros experientes e que já no decurso deste ano, 19 passaram àquelasituação. Além de que, na região, existem cerca de trezentos enfermeiros na faixaetária <strong>do</strong>s 50-60 anos!Antes de finalizar, permitam-me uma especial referência à organização <strong>do</strong>trabalho <strong>do</strong> enfermeiro nos CSP. Até porque é nossa convicção de que da suamelhor ou pior adequação dependerá o funcionamento, a acessibilidade e asustentabilidade <strong>do</strong>s serviços hospitalares. Apesar da falta de profissionais,continuamos a ter dificuldade em compreender a inexistência de, pelo menos <strong>do</strong>4


nosso conhecimento, um plano de curto ou médio prazo, o qual garanta a cadafamília o seu enfermeiro.Igualmente não podemos continuar a assistir à insistente tentativa dedesorganização da enfermagem familiar e de proximidade geográfica, tãoimportantes que são para a identificação das determinantes da saúde e para apromoção da saúde individual ou da comunidade. E tão preponderante para asegurança e qualidade das respostas e para a satisfação <strong>do</strong>s utentes e familiares.Assim sen<strong>do</strong>, uma rápida e firme intervenção ao mais alto nível é requerida.Pois não podemos passivamente aceitar, por exemplo, a elevada, e por vezes fatal,taxa de internamentos tardios ou de reinternamentos hospitalares por dificuldadesna gestão <strong>do</strong>s sintomas ou no cumprimento <strong>do</strong> regime terapêutico, sobretu<strong>do</strong> nosgrupos de pessoas menos favorecidas, de idade mais avançada, dependentes ouporta<strong>do</strong>ras de <strong>do</strong>ença crónica.Em suma, um mo<strong>do</strong> diferente de organizar as respostas às necessidades emcuida<strong>do</strong>s de saúde, menos hospitalocêntrico, menos medicaliza<strong>do</strong> e, porconseguinte, menos dispendioso para os utentes, familiares e sistema, é importante,urgente e necessária.Por tu<strong>do</strong> isto, uma última preocupação gostaria de aqui referir. A da habitualdemora na abertura de concursos para os novos profissionais. Compreendemosalgumas das razões, mas apelamos a uma maior celeridade nos processos, de mo<strong>do</strong>a que, no mais breve curto de espaço de tempo possível, possamos ver estesenfermeiros a iniciar os seus percursos profissionais, a melhor se prepararem para aresposta em cuida<strong>do</strong>s de enfermagem de que a nossa população tanto necessita.E para finalizar, gostaria de uma vez mais afirmar que os enfermeiros daMadeira e <strong>do</strong> Porto Santo sempre estiveram empenha<strong>do</strong>s no seu desenvolvimentopessoal e profissional; sempre dedicaram o máximo <strong>do</strong>s seus saberes e energia emprol de um verdadeiro serviço público de saúde, ainda que, e em abono da verdadese deva dizer, sem que para tal colocassem como condição primeira a garantia de5


ecompensas emocionais ou materiais. E, como sempre o dissemos, apesar dasnecessidades ainda verificadas, orgulhamo-nos de ter na Região Autónoma daMadeira uma óptima comunidade profissional de enfermeiros.A to<strong>do</strong>s os novos enfermeiros as nossas felicitações e a certeza de que terãoda parte da vossa <strong>Ordem</strong> o apoio estimulante e exigente no caminho da excelência<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, tal como preconiza<strong>do</strong> no Dec. Lei nº 104/98 e Lei nº 111 de 2009,capítulo VI, consagra<strong>do</strong> ao nosso Código Deontológico.presença.Aos nossos convida<strong>do</strong>s, um muito bem-haja e um muito obriga<strong>do</strong> pela vossa6

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