62transportou a droga e o receptor (os encontros ocorrem invariavelmente em pequenoshotéis no centro da cida<strong>de</strong>).Como é <strong>de</strong> se perceber, dificilmente o gran<strong>de</strong> traficante, aquele que compra apasta-base ou mesmo a cocaína pura na fronteira do Brasil, estará em contato com otraficante distribuidor, que resi<strong>de</strong> nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos. Esse contato se dáatravés das mulas, que se submetem ao risco <strong>de</strong> transportar a droga em troca <strong>de</strong> <strong>um</strong>valor pecuniário.Essa praxe é adotada pelos gran<strong>de</strong>s traficantes <strong>de</strong> drogas, no sentido <strong>de</strong>diminuir os riscos <strong>de</strong> suas prisões, principalmente porque é mais interessante cooptarmulas, que geralmente são pessoas que estão <strong>de</strong>sempregadas, privadas das condiçõesbásicas <strong>de</strong> <strong>sobre</strong>vivência, para o transporte da droga e assim transferir os riscos dotráfico a elas.Os barões do tráfico <strong>de</strong> cocaína dificilmente aparecem, sempre sãorepresentados pelos seus cooptados.3.2.1.3 Base FinanceiraO último processo é a legalização dos lucros obtidos. Diferentemente <strong>de</strong> <strong>um</strong>aempresa legal, o dinheiro obtido pelo narcotráfico precisa ser “lavado” 112 , ou seja, énecessário construir <strong>sobre</strong> ele <strong>um</strong>a origem lícita.Os lavadores <strong>de</strong> dinheiro precisam transferir recursos por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a série<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, até que os rastros da origem ilegal dos narcodólares tenham<strong>de</strong>saparecido.112 O termo “lavagem <strong>de</strong> dinheiro” é utilizado porque os traficantes <strong>de</strong> drogas americanos, noinício <strong>de</strong> 1920, necessitavam dar <strong>um</strong>a origem lícita para o dinheiro, oriundo do tráfico. Para tanto,abriram várias lavan<strong>de</strong>rias <strong>de</strong> roupas on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>claravam enormes receitas ao fisco americano,justificando assim, os lucros provenientes do tráfico.
63As exigências <strong>de</strong> controle das origens do dinheiro complicam os problemaslogísticos <strong>de</strong> se <strong>de</strong>positarem gran<strong>de</strong>s somas em instituições financeiras. Para escapar àsexigências, clientes estruturam suas transações em limites abaixo do limiar <strong>de</strong>prestação <strong>de</strong> informações aos órgãos competentes. (No Brasil esse valor atualmenteestá em R$ 10.000,00 <strong>de</strong>z mil reais).São padrões conhecidos <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>:a) empreen<strong>de</strong>r transações múltiplas em moedas, mantendo cada transaçãoabaixo do limiar legal exigido para comunicação aos órgãos competentes;b) fazer <strong>de</strong>pósitos bancários em várias contas correntes, por meio <strong>de</strong> agênciasbancárias diferentes ou ao longo <strong>de</strong> vários dias;c) adquirir instr<strong>um</strong>entos bancários múltiplos, incluindo cheques, or<strong>de</strong>nsbancárias, cheques <strong>de</strong> viagens, ações, bônus, certificados <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos, etc;d) trocar pequenas notas <strong>de</strong> “moedas <strong>de</strong> rua” por gran<strong>de</strong>s notas;e) solicitar pagamento <strong>de</strong> empréstimo ou resgate <strong>de</strong> instr<strong>um</strong>ento monetárioabaixo do limiar (No Brasil R$ 10.000,00);f) efetuar reembolsos <strong>de</strong> empréstimos com instr<strong>um</strong>entos múltiplos, cada <strong>um</strong><strong>de</strong>les abaixo do limiar; 113g) quando possível, sempre utilizar-se <strong>de</strong> contas correntes “<strong>de</strong> passagem”, ouseja, contas correntes on<strong>de</strong> o dinheiro entra em <strong>um</strong> montante gran<strong>de</strong> e saiem pequenos valores.Ainda há as formas <strong>de</strong> lavagem as quais se dão através da criação <strong>de</strong> empresas<strong>de</strong> fachada, com <strong>de</strong>clarações anuais a receita fe<strong>de</strong>ral superfaturadas. No tópico anterior<strong>de</strong>sse <strong>estudo</strong>, on<strong>de</strong> se trata das ações do Departamento <strong>de</strong> Polícia Fe<strong>de</strong>ral como órgãorepressivo, é claramente <strong>de</strong>monstrado as relações dos maiores traficantes <strong>de</strong> drogas doBrasil e suas empresas <strong>de</strong> fachada, com intuito único <strong>de</strong> lavar o dinheiro oriundo dotráfico.113 Fonte do Doc<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> Serviço <strong>de</strong> Divulgação e Relações Culturais dos Estados Unidos(USIS), em ARBEX JR, op. cit.
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