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Boletim SBH Setembro/2013 - Sociedade Brasileira de Hepatologia

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| Seção Transporte Biliar |Fazer um relato sobre meu trabalho no Programa<strong>de</strong> Transplante Hepático do Hospital<strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Porto Alegre não representaesforço. O difícil é selecionar a multiplicida<strong>de</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e gerenciar o turbilhão <strong>de</strong> emoçõesque cada lembrança traz à tona nesses quaseoito anos no cuidado ao transplantado <strong>de</strong>fígado. Essas histórias se confun<strong>de</strong>m e semisturam. Inegavelmente, isso é <strong>de</strong>safi ador.ENFERMEIRACOORDENADORADE TRANSPLANTESSoraia Arruda (RS)Dentre as inúmeras recordações,lembro que, em uma<strong>de</strong>terminada semana <strong>de</strong>maio <strong>de</strong> 2006, presencieios cirurgiões solicitando exames e, nasemana seguinte, com alguns valoresanotados no papel, chamavam isso<strong>de</strong> “MELD”. Vi que se tratava <strong>de</strong> umcálculo logarítmico. Complicado. Comoeles faziam rápido! Resolvi acompanhá--los na tarefa. Memorizei o site, osexames e, na semana seguinte, trouxetudo calculado. Isso agilizava o atendimento.Li a portaria, questionei, reli. Fuia algumas palestras e aulas, inclusivea um Grand Round que o Prof. MárioReis apresentou no hospital, falando dasmudanças na legislação <strong>de</strong> transplante,quem eram os candidatos e os valoresprognósticos <strong>de</strong> MELD e Child. Quantacoisa que eu não sabia!! O que é mesmoa tal <strong>de</strong> encefalopatia hepática? Comoe por que se manifesta? E o tal <strong>de</strong> flapping?Eu ia às reuniões da equipe pormera obrigação. Sentia que não faziafalta mesmo!O tempo foi passando e o transplantevirou paixão! Muitas histórias <strong>de</strong> sucesso,muitas vidas resgatadas. Os pacientesforam o meu gran<strong>de</strong> motivo para quererapren<strong>de</strong>r e ficar na equipe. Foram eles osque primeiramente valorizaram o meutrabalho, passaram a perguntar por mim.O trabalho foi crescendo, as responsabilida<strong>de</strong>scomeçaram a ficar maiores. Após 16anos <strong>de</strong> Programa, foi criada a função <strong>de</strong>enfermeira-coor<strong>de</strong>nadora e fui indicadapela equipe a assumir esse papel. Maisum <strong>de</strong>safio pela frente! Sempre fui umaenfermeira assistencial. Gosto muito docontato com o paciente, <strong>de</strong> urgências, doagito do CTI, on<strong>de</strong> construí toda a minhavida profissional. Deixar esse cuidadodiário à beira leito pesou bastante. Medo<strong>de</strong> “per<strong>de</strong>r a prática” no atendimentoa uma parada cardiorrespiratória, napunção <strong>de</strong> uma jugular, <strong>de</strong> esquecercomo funciona uma máquina <strong>de</strong> diálise!O medo maior era não dar certo, trocaralgo que sei fazer por algo novo, e aindaaten<strong>de</strong>r a uma enorme expectativa <strong>de</strong>tanta gente. Isso me <strong>de</strong>ixava feliz, masapreensiva. Apren<strong>de</strong>r a gerenciar a lista<strong>de</strong> receptores, a listar paciente no portal doSNT, não ter mais o CTI como referência,não conviver mais diariamente com aequipe <strong>de</strong> enfermagem. Estranho. A parteboa seria não disputar férias com colegas,e não ter que receber plantão, diariamente,às 7 da manhã!Atualmente, gerencio o meu horário,conforme a <strong>de</strong>manda das ativida<strong>de</strong>s dodia. Duas vezes por semana acompanhoo round da equipe do fígado, visito ostransplantados pelo menos três vezespor semana, acompanho e respondo àsconsultorias <strong>de</strong> internação solicitadaspela Gastroenterologia, on<strong>de</strong> inicio asorientações pré-transplante. O acompanhamentosegue no ambulatório, on<strong>de</strong>atendo, em média, oito pacientes porsemana. Acompanho, ainda, o ambulatórioda cirurgia, elaboro a pauta dareunião semanal da equipe, on<strong>de</strong> sãodiscutidos os casos para listagem, ostransplantados internados, as dúvidas.Reviso, diariamente, a lista dos receptoresno Portal do SNT, quanto às solicitações<strong>de</strong> critério especial, progressão eatualização do MELD, revisando quemsão os primeiros por tipagem sanguínea.Mantenho contato telefônico frequentecom pacientes, familiares e a Central <strong>de</strong>Transplantes. Sou responsável, também,pelo treinamento da equipe <strong>de</strong> enfermagemdo CTI para o recebimento dopaciente em pós-operatório imediato,e gerencio a escala <strong>de</strong> sobreaviso dosenfermeiros e dou suporte à essa escala.Não há o que priorizar <strong>de</strong> mais gratificante!Trabalhar no ambulatório <strong>de</strong>transplante, conhecer cada pacientepelo nome, sua família, sua história, dáum retorno muito especial e diferente <strong>de</strong>tudo aquilo que se presencia no CTI. Vero paciente em condições graves, sendoconsumido pela doença hepática e,<strong>de</strong>pois do transplante, como diz o Prof.Mário Reis, tendo a chance <strong>de</strong> “recomeçar”,tem um sabor inigualável!Passaram-se 10 meses como nessa ativida<strong>de</strong>exclusiva e tanta coisa já aconteceu!Mais transplantes, mais pacientesem lista, menos pacientes inativos. Erao mínimo que se esperava. O CTI já nãocausa tanta sauda<strong>de</strong>.Apren<strong>de</strong>r, ensinar, se envolver. Acreditar,ven<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> sonhos, <strong>de</strong> vidamelhor, <strong>de</strong> sobrevida, <strong>de</strong> benefício.Abdicar <strong>de</strong> datas especiais, da convivênciairrestrita com a família. Essaenormida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emoções, <strong>de</strong> sentimentosfaz parte da vida <strong>de</strong> quemtrabalha com transplante. Olhando pratrás, valeu a pena!! •48 | <strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong><strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong> | 49

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