Boletim SBH Setembro/2013 - Sociedade Brasileira de Hepatologia
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com mortalida<strong>de</strong> em 28 e 90 dias<strong>de</strong>, respectivamente, 34% e 51%,variando <strong>de</strong> acordo com a presença<strong>de</strong> DO, melhor estimada pelosscores APACHE-II e SOFA empregadosrotineiramente pelos intensivistasdo que por CP ou MELD,mais frequentemente usados peloshepatologistas.Por outro lado, a mortalida<strong>de</strong> dopaciente com cirrose <strong>de</strong>scompensadaadmitido em UTI vem sendoreduzida pela implementação<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> estratégias baseadasem evidências. Em relaçãoao sangramento varicoso, houve<strong>de</strong>créscimo das taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><strong>de</strong> 30%-40% nas últimasdécadas pelo emprego <strong>de</strong> uma série<strong>de</strong> condutas sistematizadas emreuniões <strong>de</strong> consenso, incluindo:antibioticoprofilaxia, endoscopiadigestiva alta precoce, uso <strong>de</strong>vasconstrictores esplâncnicos, estratégiarestritiva no uso <strong>de</strong> sangue ehemo<strong>de</strong>rivados e, recentemente,TIPS precoce em casos selecionados.O manejo a<strong>de</strong>quado das infecções,incluindo antibioticoterapia apropriadae o uso <strong>de</strong> reposição <strong>de</strong> albuminapara prevenção <strong>de</strong> síndromehepatorrenal (SHR) na peritonitebacteriana espontânea e tratamentoda SHR com vasoconstritoresesplâncnicos e albumina são outrosexemplos <strong>de</strong> estratégias baseadas emevidências científicas que tiveramimpacto na sobrevida do cirróticocrítico. Muitas <strong>de</strong>ssas intervençõesainda não foram incorporadas,na beira do leito, por muitas UTIsbrasileiras por fatores relacionadosa custo (particularmente no que serefere ao uso <strong>de</strong> albumina ou TIPS),mas principalmente por falta <strong>de</strong> suaa<strong>de</strong>quada divulgação aos colegasintensivistas e emergencistas, queprestam assistência inicial ou integralao paciente cirrótico crítico emmuitos hospitais brasileiros. Em umpaís com carência <strong>de</strong> hepatologistas,poucos dos nossos especialistas seinteressam por medicina intensiva,dificultando a interação entre intensivistase hepatologistas na maioriadas UTIs brasileiras. Visandoestreitar esses laços, as diretoriasatuais da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Hepatologia</strong> (<strong>SBH</strong>) e da Associação<strong>de</strong> Medicina Intensiva <strong>Brasileira</strong>(AMIB) resolveram promover umaparceria na realização <strong>de</strong> programas<strong>de</strong> educação médica continuadapara intensivistas e hepatologistas. Ainiciativa contará com um curso <strong>de</strong>medicina intensiva em hepatologia,no dia 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> <strong>2013</strong>, <strong>de</strong>ntroda programação do XXII CongressoBrasileiro <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong> e quatromesas redondas sobre o manejo docirrótico crítico no XVIII CongressoBrasileiro <strong>de</strong> Terapia Intensiva nodia 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> <strong>2013</strong>. Nos doiseventos, será lançado o Manual <strong>de</strong>Terapia Intensiva <strong>de</strong> <strong>Hepatologia</strong>,uma edição conjunta da AMIB e<strong>SBH</strong>. Essas parcerias servirão nãoapenas para estreitar os laços entreas duas socieda<strong>de</strong>s afins, mas sobretudopara discutir amplamente efomentar a adoção <strong>de</strong> condutas,visando reduzir a morbimortalida<strong>de</strong>dos pacientes cirróticos admitidosnas emergências e UTIs dos nossoshospitais, aguardando ou não a realizaçãodo transplante <strong>de</strong> fígado. •O PacienteHEPATOPATAOs intensivistas têmvocação e habilida<strong>de</strong>spara tratar <strong>de</strong>sequilíbrioscardiocirculatóriose respiratórios, pois a maioriados estudos em Medicina Intensivase dirige a essas duas áreas da fisiopatologiahumana e é para elas quese orientam os melhores esforçosda tecnologia <strong>de</strong> suporte avançado<strong>de</strong> vida. Mas não se po<strong>de</strong> (ou nãose podia) dizer o mesmo sobre asdisfunções orgânicas das hepatopatiasagudas e principalmentecrônicas.Muitos médicos plantonistas erotineiros <strong>de</strong> nossas UTIs nãoescon<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>sânimo ao se <strong>de</strong>pararcom um paciente com insuficiênciahepática e suas complicações, refletindoo conceito errôneo que foiadquirido em décadas <strong>de</strong> práticasmédicas sem evidência empírica.Isso vem mudando rapidamente.Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>monstrar quea mo<strong>de</strong>rna <strong>Hepatologia</strong> Intensivase constitui numa das subespecialida<strong>de</strong>sque evoluiu <strong>de</strong> maneirasignificativa nos últimos anos,contando com ensaios clínicosfarmacológicos e intervenções terapêuticasinvasivas corroboradaspor evidências. E as evidências seapresentam nos três níveis do atomédico: diagnóstico, tratamentoe prognóstico. Inúmeros métodospropedêuticos passaram a contribuir<strong>de</strong>cisivamente no manejodo paciente hepatopata crítico:marcadores inflamatórios e tumorais,angiorressonância magnética,angiotomografia, eco dopplervascular, colangiografias endoscópicase percutâneas, <strong>de</strong>tecção equantificação viral, imuno-histoquímica,biologia molecular, vi<strong>de</strong>oendoscopiasetc. As quatro principaiscausas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração do pacientecirrótico - hemorragia por varizesesofágicas, infecções peritoneais,encefalopatia e síndrome hepatorrenal(SHR) - têm seus tratamentostotalmente orientados porensaios clínicos. O uso <strong>de</strong> terlipressinae análogos (estes com menorevidência), em conjunto com escleroterapiaou uso <strong>de</strong> bandas nasvarizes sangrantes, reduziram amortalida<strong>de</strong>, no passado ao redor<strong>de</strong> 40%, a menos que 10%. Raramentese recorre a cirurgias <strong>de</strong>anastomose porto-cava ou esplenorrenal,antes tão frequentes. O uso<strong>de</strong> cianocrilato no tratamento dasvarizes gástricas está bem estabelecido.A intervenção endovascularcom TIPS revestidos, e/ou o uso <strong>de</strong>betabloqueadores, diminuindo amorbida<strong>de</strong> da hipertensão portal,constituem importantes recursosestabilizadores para os pacientesque aguardam transplante hepático.O melhor controle metabólico, oconhecimento dos efeitos <strong>de</strong> drogasCRÍTICOMario G. Cardoni (RS)e o uso <strong>de</strong> lactulona permitiram ummelhor controle das encefalopatias.A antibioticoterapia, associada como protocolo <strong>de</strong> infusão <strong>de</strong> albumina,aumentou a resolutivida<strong>de</strong>nas peritonites espontâneas comnítida redução na mortalida<strong>de</strong>. Ouso <strong>de</strong> terlipressina ou noradrenalinacombinado à infusão <strong>de</strong> albuminareduziu e reverteu o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> insuficiência renal nospacientes com SHR.A habilida<strong>de</strong> e experiência com oscuidados perioperatórios do transplantehepático também modificarama visão dos intensivistas.A constatação pelos médicos dasUTIs dos resultados obtidos com otransplante <strong>de</strong> pacientes com MELDelevado, Child-Pugh C e com scoresAPACHE ou SOFA antecipatórios <strong>de</strong>alta mortalida<strong>de</strong>, contribuíram pararenovados e intensivos esforços naestabilização e suporte avançado<strong>de</strong> vida nos pacientes hepatopatascríticos. Além do suporte hemodinâmico,renal e respiratório, osintensivistas <strong>de</strong>verão se familiarizarcada vez mais com diálise <strong>de</strong>albumina com MARS (MolecularAdsorvent Recirculating System).Os dispositivos hepáticos extracorpóreosainda estão sob escrutínio,mas se apresentam como umaanimadora promessa terapêuticaou como “ponte” para tratamentos<strong>de</strong>finitivos. •46 | <strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong><strong>Boletim</strong> <strong>SBH</strong> | 47