Set-Out - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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Avaliação ocular multimodal em doenças heredodistróficas e degenerativas da retina313Figura 7. Avaliaçãoocularmultimodal depaciente comneovascularizaçãode coróide. Aretinografia redfree(superior) e atomografia decoerência ópticaespectral (meio)demonstramelevação da regiãomacular à custa dodescolamento doepitéliopigmentado daretina (EPR) e apresença de algumfluido intraretiniano.Aautofluorescênciade fundo (inferior)revela presença deextensa rotura doEPR associada(área com ausênciade fluorescência nametade temporalmacular).Figura 9. Reflectância com luz infravermelha (near-infraredreflectance, nIR) e tomografia de coerência óptica espectral(spectral optical coherence tomography, SOCT) de paciente comcoriorretinopatia serosa central. Na apresentação do quadro (esquerda)a área de elevação retiniana aparece mais escura na nIR.Quatro meses após a apresentação (direita) o SOCT demonstrarestabelecimento da arquitetura macular sem alterações retinianasevidentes; não obstante, a nIR revela intensa atividade pigmentarna área previamente elevada pelo fluido sub-retiniano.Figura 8. Avaliação ocular multimodal em paciente comcoriorretinopatia serosa central crônica. Enquanto a reflectânciacom luz “infravermelha” (near-infrared reflectance, nIR) (superior)mostra alterações pigmentares inespecíficas, aautofluorescência com luz infravermelha (near-infraredautofluorescence, nIA) (inferior) delineia claramente as áreas dealteração pigmentar no pólo posterior.iluminada com comprimento de onda de 787nm, e o filtrode barreira é idêntico ao utilizado para angiografiacom indocianina verde. 16 Contudo, a imagem do fundoocular obtida é de limitada qualidade.Os achados da nIA são diferentes dos achadoscom autofluorescência de fundo padrão (FAF). Evidênciasindicam que a distribuição da nIA se correlacionadiretamente à distribuição da melanina no fundo ocular,com contribuições do EPR e da coróide. 16,17,42,43 Anormalidadesde nIA foram reportadas em pacientes comanormalidades genéticas ou degenerativas do EPR,como Doença de Stargardt, retinite pigmentosa, degeneraçãomacular relacionada à idade, retinopatia porcloroquina e coriorretinopatia serosa central (Figura8). 16,17,43,44Reflectância com Luz “Infravermelha”(near-Infrared Reflectance, nIR)A reflectância com iluminação “infravermelha”(near-infrared reflectance, nIR) permite a documentaçãode estruturas retinianas profundas e sub-retinianas,com resolução e contraste superiores às técnicas de imagemrotineiras. 45 As imagens de nIR são obtidas pelocSLO com estímulo luminoso de 815nm. 16Apenas sistemas ópticos confocais permitem oRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 309-17

314Ferrara DC, Calucci D, Oréfice JL, Costa RAregistro adequado por nIR por rejeitarem a luz difundida.A câmera de fundo convencional (“retinógrafo”), aocontrário, não consegue separar a luz refletida da luzdifundida. A imagem obtida por nIR, por conseguinte, éultimamente determinada pela reflexão e absorção deluz pelas diferentes camadas do tecido iluminado. Aregião foveal aparece mais “clara”, decorrente da menorabsorção de luz “infravermelha” pelos pigmentosmaculares. Depósitos sub-retinianos como drusas, quandopróximos ao plano de foco, são observados “claros” eobscurecem parcialmente os vasos da coróide. De maneirasimilar, cicatrizes sub-retinianas também refletema luz “infravermelha”. Camadas de fluido denso outúrbido, ao contrário, não transmitem a luz lateralmenteou para planos mais profundos; conseqüentemente, áreasde descolamento do EPR (seroso ou serohemorrágico)aparecem “escuras” na imagem por nIR (Figura 9). 45,46Portanto, a nIR é especialmente valiosa na investigaçãode patologias que envolvam a membrana deBruch ou que apresentem depósitos retinianos profundos,degeneração macular relacionada à idade ou estriasangióides. 1,16,47 Pode ainda, potencialmente, identificarpatologias sub-clínicas, mesmo na presença de algumaopacidade de meios como esclerose lenticular moderadaou hemorragia vítrea leve, ou revelar drusasindetectáveis pelo exames convencionais. 45 Seu usocomo ferramenta auxiliar na monitorização de tratamentosda região macular vem também sendo investigada. 17Figura 10. Avaliação ocular multimodal de paciente comcoriorretinopatia serosa central crônica. A retinografia red-free(superior esquerda) sugere alteração topográfica na regiãomacular compatível com presença de fluido sub-retiniano. Enquantoos achados de autofluorescência de fundo (fundusautofluorescence, FAF) (superior direita) são inespecíficos nestecaso, a reflectância com luz “infravermelha” (near-infraredreflectance, nIR) (inferior esquerda) revela alterações pigmentaresnão evidentes ao exame clínico. A comparação entre a nIR e aautofluorescência com luz “infravermelha” (near-infraredautofluorescence, nIA) (inferior direita) sugere que parte dafluorescência emitida com luz “infravermelha” possa serpseudofluorescência.Avaliação Ocular Multimodal(Multimodal Ocular/Fundus Imaging)O registro angiográfico simultâneo defluoresceína e indocianina verde foi proposto há váriasdécadas, 48 tendo sido incorporado à rotina clínica apenasrecentemente, quando os cSLO se tornaram comercialmentedisponíveis. 49-51 Adicionalmente, por registrarapenas os feixes de luz confocal e suprimir a luzdifundida, os sistemas de cSLO são capazes de documentarum plano específico do tecido retiniano com contrastee detalhes impossíveis de serem obtidos presentementecom as câmeras de fundo convencionais. 52-56 Essapropriedade óptica, somada ao estímulo luminoso e registrode bandas de comprimento de onda específicos,permitem a documentação com FAF e nIR em alta-resolução.O registro de imagens por nIA, entretanto, aindaapresenta uma série de limitações. A definição da imagemobtida não é alta, em comparação com outros modosde imagem, e a interpretação dos achados fenotípicosainda é em parte controversa. A correlação entre nIR enIA indica que parte da fluorescência observada por luz“infravermelha” possa ser pseudofluorescência, com influênciadireta na imagem obtida (Figura 10). 44A alta definição da imagem obtida com os novosaparelhos de OCT espectral tem levado alguns autoresa comparar o corte seccional tomográfico ao cortehistológico. 9,10,57-59 Não obstante, a correlação direta coma histologia do tecido ainda não é conhecida em todas assituações fisiológicas e patológicas, e comparações devemainda ser vistas com algum ceticismo. As característicasfísicas das diferentes camadas celulares da retinaobviamente influenciam a reconstrução óptica daimagem tomográfica, e os artefatos resultantes não podemser desprezados. 7,60 Nesse sentido, a análise integradade imagens multimodal tem se mostrado fundamentalna interpretação dos achados morfológicos daretina neurossensorial e EPR. Considerando-se os princípiosbásicos de aquisição de imagem e processamentodos dados, variados aspectos de diferentes camadas daretina podem ser revelados. Os achados morfológicoscom a investigação multimodal são de tal qualidade emdefinição, sensibilidade e especificidade, que permitemRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 309-17

314Ferrara DC, Calucci D, Oréfice JL, Costa RAregistro a<strong>de</strong>quado por nIR por rejeitarem a luz difundida.A câmera <strong>de</strong> fundo convencional (“retinógrafo”), aocontrário, não consegue separar a luz refletida da luzdifundida. A imagem obtida por nIR, por conseguinte, éultimamente <strong>de</strong>terminada pela reflexão e absorção <strong>de</strong>luz pelas diferentes camadas do tecido iluminado. Aregião foveal aparece mais “clara”, <strong>de</strong>corrente da menorabsorção <strong>de</strong> luz “infravermelha” pelos pigmentosmaculares. Depósitos sub-retinianos como drusas, quandopróximos ao plano <strong>de</strong> foco, são observados “claros” eobscurecem parcialmente os vasos da corói<strong>de</strong>. De maneirasimilar, cicatrizes sub-retinianas também refletema luz “infravermelha”. Camadas <strong>de</strong> fluido <strong>de</strong>nso outúrbido, ao contrário, não transmitem a luz lateralmenteou para planos mais profundos; conseqüentemente, áreas<strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento do EPR (seroso ou serohemorrágico)aparecem “escuras” na imagem por nIR (Figura 9). 45,46Portanto, a nIR é especialmente valiosa na investigação<strong>de</strong> patologias que envolvam a membrana <strong>de</strong>Bruch ou que apresentem <strong>de</strong>pósitos retinianos profundos,<strong>de</strong>generação macular relacionada à ida<strong>de</strong> ou estriasangiói<strong>de</strong>s. 1,16,47 Po<strong>de</strong> ainda, potencialmente, i<strong>de</strong>ntificarpatologias sub-clínicas, mesmo na presença <strong>de</strong> algumaopacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meios como esclerose lenticular mo<strong>de</strong>radaou hemorragia vítrea leve, ou revelar drusasin<strong>de</strong>tectáveis pelo exames convencionais. 45 Seu usocomo ferramenta auxiliar na monitorização <strong>de</strong> tratamentosda região macular vem também sendo investigada. 17Figura 10. Avaliação ocular multimodal <strong>de</strong> paciente comcoriorretinopatia serosa central crônica. A retinografia red-free(superior esquerda) sugere alteração topográfica na regiãomacular compatível com presença <strong>de</strong> fluido sub-retiniano. Enquantoos achados <strong>de</strong> autofluorescência <strong>de</strong> fundo (fundusautofluorescence, FAF) (superior direita) são inespecíficos nestecaso, a reflectância com luz “infravermelha” (near-infraredreflectance, nIR) (inferior esquerda) revela alterações pigmentaresnão evi<strong>de</strong>ntes ao exame clínico. A comparação entre a nIR e aautofluorescência com luz “infravermelha” (near-infraredautofluorescence, nIA) (inferior direita) sugere que parte dafluorescência emitida com luz “infravermelha” possa serpseudofluorescência.Avaliação Ocular Multimodal(Multimodal Ocular/Fundus Imaging)O registro angiográfico simultâneo <strong>de</strong>fluoresceína e indocianina ver<strong>de</strong> foi proposto há váriasdécadas, 48 tendo sido incorporado à rotina clínica apenasrecentemente, quando os cSLO se tornaram comercialmentedisponíveis. 49-51 Adicionalmente, por registrarapenas os feixes <strong>de</strong> luz confocal e suprimir a luzdifundida, os sistemas <strong>de</strong> cSLO são capazes <strong>de</strong> documentarum plano específico do tecido retiniano com contrastee <strong>de</strong>talhes impossíveis <strong>de</strong> serem obtidos presentementecom as câmeras <strong>de</strong> fundo convencionais. 52-56 Essaproprieda<strong>de</strong> óptica, somada ao estímulo luminoso e registro<strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> comprimento <strong>de</strong> onda específicos,permitem a documentação com FAF e nIR em alta-resolução.O registro <strong>de</strong> imagens por nIA, entretanto, aindaapresenta uma série <strong>de</strong> limitações. A <strong>de</strong>finição da imagemobtida não é alta, em comparação com outros modos<strong>de</strong> imagem, e a interpretação dos achados fenotípicosainda é em parte controversa. A correlação entre nIR enIA indica que parte da fluorescência observada por luz“infravermelha” possa ser pseudofluorescência, com influênciadireta na imagem obtida (Figura 10). 44A alta <strong>de</strong>finição da imagem obtida com os novosaparelhos <strong>de</strong> OCT espectral tem levado alguns autoresa comparar o corte seccional tomográfico ao cortehistológico. 9,10,57-59 Não obstante, a correlação direta coma histologia do tecido ainda não é conhecida em todas assituações fisiológicas e patológicas, e comparações <strong>de</strong>vemainda ser vistas com algum ceticismo. As característicasfísicas das diferentes camadas celulares da retinaobviamente influenciam a reconstrução óptica daimagem tomográfica, e os artefatos resultantes não po<strong>de</strong>mser <strong>de</strong>sprezados. 7,60 Nesse sentido, a análise integrada<strong>de</strong> imagens multimodal tem se mostrado fundamentalna interpretação dos achados morfológicos daretina neurossensorial e EPR. Consi<strong>de</strong>rando-se os princípiosbásicos <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> imagem e processamentodos dados, variados aspectos <strong>de</strong> diferentes camadas daretina po<strong>de</strong>m ser revelados. Os achados morfológicoscom a investigação multimodal são <strong>de</strong> tal qualida<strong>de</strong> em<strong>de</strong>finição, sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>, que permitemRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 309-17

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