Avaliação ocular multimodal em doenças heredodistróficas e <strong>de</strong>generativas da retina311Figura 1. Exemplos <strong>de</strong> avaliação ocular multimodal em doençasda retina e corói<strong>de</strong>, com a combinação da tomografia <strong>de</strong> coerênciaóptica espectral com diferentes modos (reflectância com luz“infravermelha”, autofluorescência <strong>de</strong> fundo, angiografia comfluoresceína e angiografia com indocianina ver<strong>de</strong> [superior parainferior, respectivamente]).Autofluorescência <strong>de</strong> Fundo(Fundus Autofluorescence, FAF)A documentação da autofluorescência do fundoocular permite a inferência <strong>de</strong> características funcionaisdo EPR (e indiretamente da retina) por documentar <strong>de</strong>forma não-invasiva a presença <strong>de</strong> lipofuscina no tecido.11-17 Durante a aquisição <strong>de</strong> FAF com o cSLO a retinaé iluminada com comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 488nm, e ofiltro <strong>de</strong> barreira é idêntico ao utilizado para angiografiacom fluoresceína. 17 Como essencialmente apenas asestruturas com lipofuscina são registradas, a interpretaçãodos achados <strong>de</strong> FAF <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da interação dos sinaisautofluorescentes oriundos do EPR com estruturasretinianas (normais ou patológicas) sobrejacentes. 11,12,18A lipofuscina é uma mistura <strong>de</strong> váriasbiomoléculas, incluindo diferentes fluoróforos, e seu principalconstituinte foi i<strong>de</strong>ntificado como A2-E (Nretinil<strong>de</strong>noN-retiniletanolamina). 19-22 É pigmentoautofluorescente que se acumula na porção basal da célulado EPR, como bioproduto da fagocitose dos segmentosexternos dos fotorreceptores, sendo consi<strong>de</strong>radoum marcador do envelhecimento celular fisiológico. 23Figura 2. Avaliação ocular multimodal <strong>de</strong>ntro dos limites da normalida<strong>de</strong>utilizando oftalmoscópio <strong>de</strong> varredura a laser confocal(Spectralis ® HRA+OCT; Hei<strong>de</strong>lberg Engineering Inc., Hei<strong>de</strong>lberg,Alemanha). A retinografia red-free (superior esquerda), documentaas estruturas mais superficiais. A autofluorescência <strong>de</strong>fundo (fundus autofluorescence, FAF) (superior direita) registraestruturas com lipofuscina. A reflectância com luz “infravermelha”(near-infrared reflectance, nIR) (inferior esquerda) permite a documentação<strong>de</strong> estruturas retinianas profundas e sub-retinianas.A autofluorescência com luz “infravermelha” (near-infraredautofluorescence, nIA) (inferior direita) está teoricamente relacionadaa distribuição <strong>de</strong> melanina.Entretanto, os segmentos externos dos fotorreceptorescontém proteínas, retinói<strong>de</strong>s e gran<strong>de</strong>s proporções <strong>de</strong>ácidos graxos poliinsaturados suscetíveis ao danofotooxidativo, e o acúmulo anormal <strong>de</strong> lipofuscina temsido diretamente associado ao comprometimento <strong>de</strong> funçõesmetabólicas essenciais do EPR. Os variados mecanismos<strong>de</strong> dano ao EPR incluem inibição da capacida<strong>de</strong><strong>de</strong>gradativa lisossomal, perda da integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> membranacelular, e fototoxicida<strong>de</strong>. 24-31Evidências epi<strong>de</strong>miológicas, clínicas e experimentaisindicam que o acúmulo <strong>de</strong> lipofuscina no EPR prece<strong>de</strong>a atrofia das camadas celulares da retina externa, incluindo<strong>de</strong>generação <strong>de</strong> fotorreceptores e atrofia do próprioEPR. 26,30,32-34 A perda da função visual também empatologias heredodistróficas como Doença <strong>de</strong> Stargardte Doença <strong>de</strong> Best tem sido atribuída ao acúmulo anormal<strong>de</strong> lipofuscina no EPR e/ou no espaço sub-retiniano. 12,18,35-37A FAF mostrou-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> nestas doenças,assim como em condições <strong>de</strong>generativas <strong>de</strong> etiologiasvariadas que envolvam alteração progressiva do EPRcomo, por exemplo, coriorretinopatia serosa central eretinopatia por cloroquina (Figura 6). 4,38,39Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 309-17
312Ferrara DC, Calucci D, Oréfice JL, Costa RAFigura 4. Reconstrução da topografia macular <strong>de</strong> um pacientecom síndrome <strong>de</strong> Vogt-Koyanagi-Harada utilizando dados obtidospor tomografia <strong>de</strong> coerência óptica <strong>de</strong> alta-resolução e altavelocida<strong>de</strong>.Figura 3. Aspecto da região macular normal por tomografia <strong>de</strong>coerência óptica espectral obtidos com o Spectralis ® HRA+OCTutilizando módulo ART (automatic real time) em que vários B-scans obtidos da mesma região (por meio <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> eyetracking)são processados para geração do B-scan final. Apesar<strong>de</strong> os 3 B-scans apresentarem a mesma “resolução” (axial), observemo aumento gradativo da qualida<strong>de</strong> (<strong>de</strong>finição) em relação aoB-scan original (superior) a medida que mais imagens são utilizadaspara a geração do tomograma final (meio, 4 B-scans; inferior,16 B-scans).Figura 5. Avaliação por tomografia <strong>de</strong> coerência óptica espectralda mácula (superior) e região peridiscal (inferior) em fundo-<strong>de</strong>olhonormal. Notem i<strong>de</strong>ntificação da interface vítreo-retiniana(setas) e <strong>de</strong> peculiarida<strong>de</strong>s morfológicas não i<strong>de</strong>ntificáveis poroutros recursos semiológicos, como as “bursas” pré-retinianas euma nova camada <strong>de</strong> alta-refletivida<strong>de</strong> (asterisco) entre a camadaaltamente refletiva interna (CARin) correspon<strong>de</strong>nte à junçãodos segmentos interno e externo dos fotorreceptores e a camadaaltamente refletiva externa (CARex) correspon<strong>de</strong>nte ao complexoformado por epitélio pigmentado da retina e membrana <strong>de</strong>Bruch.Figura 6. Avaliação ocular multimodal <strong>de</strong> paciente com Doença<strong>de</strong> Stargardt. A retinografia red-free (superior) mostra <strong>de</strong>pósitospisciformes difusos em ambos os olhos. A autofluorescência <strong>de</strong>fundo (fundus autofluorescence, FAF) (inferior) <strong>de</strong>monstra claramentelesões com aumento <strong>de</strong> autofluorescência bem como revelamúltiplas áreas circunscritas <strong>de</strong> atrofia do EPR (com ausência<strong>de</strong> autofluorescência).Portanto, a FAF oferece informações que se somamaos achados da investigação <strong>de</strong> rotina por estudosangiográficos e tomográficos, contribuindo no diagnósticoe acompanhamento <strong>de</strong> patologias oculares em que oEPR po<strong>de</strong> estar direta ou indiretamente envolvido (Figura7). 33,34,40,41Autofluorescência com Luz “Infravermelha”(near-Infrared Autofluorescence, nIA)A autofluorescência com luz “infravermelha”(near-infrared autofluorescence, nIA) contribui para aavaliação in vivo <strong>de</strong> melanina, outro pigmento característicodo EPR. Durante a nIA com o cSLO, a retina éRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 309-17