Estudo comparativo entre imagens ultra-sonográficas obtidas com sondas <strong>de</strong> 10MHz e 20 MHz na avaliação ...293hemorrágicos intra-oculares (18 pacientes), seguidaspelas trações vítreo-retinianas (18 pacientes), membranasepi-retinianas (5 pacientes) e presença <strong>de</strong> corpo estranhona cavida<strong>de</strong> vítrea (3 pacientes).Neste grupo, a sonda <strong>de</strong> 10 MHz permitiu melhorcaracterização da forma e limites das alterações,assim como aumento da <strong>de</strong>tecção das mesmas. As exceçõesnesse grupo foram as membranas epi-retinianas eos <strong>de</strong>scolamentos tracionais planos, dos quais forammelhor evi<strong>de</strong>nciados os limites com a sonda <strong>de</strong> 20 MHzna maioria dos casos. Nos olhos com múltiplas membranasvítreas, a sonda <strong>de</strong> 10 MHz <strong>de</strong>tectou maior quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> ecos vítreos, sendo que estes apresentaram maiorrefletivida<strong>de</strong> quando observados através <strong>de</strong>sta sonda,particularmente na porção mais anterior da cavida<strong>de</strong>.Por outro lado, <strong>de</strong>scolamentos retinianos tracionais, localizadosna interface vítreo-retiniana posterior, tiveramseus limites e forma mais <strong>de</strong>finidos com a sonda <strong>de</strong>20 MHz (Figura 1). A sonda <strong>de</strong> 10 MHz mostrou-se maiseficaz na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> corpos estranhos localizados nocorpo vítreo. Não foram avaliados pacientes com corposestranhos na pare<strong>de</strong> ocular.Nos pacientes com alterações do nervo óptico, asimagens das escavações <strong>de</strong> papila, <strong>de</strong> colobomas e <strong>de</strong>drusas, foram expressivamente melhor <strong>de</strong>limitadas quandoobtidas com a sonda <strong>de</strong> 20 MHz, embora tenham sido<strong>de</strong>tectadas com facilida<strong>de</strong> com ambas as sondas. Em 4dos 8 casos <strong>de</strong> drusas do nervo óptico, foi possível i<strong>de</strong>ntificarimagens individualizadas <strong>de</strong> pequenas drusas, quemostravam-se como estrutura única à sonda <strong>de</strong> 10 MHz(Figura 2), ou seja, a sonda <strong>de</strong> 20 MHz possibilitou separação<strong>de</strong> pequenas estruturas entre si, o que não foi possívelcom a sonda <strong>de</strong> 10 MHz.O mesmo se observou nos pacientes com anoma-Quadro 1Alterações ultra-sonográficas encontradas nos pacientes examinados segundo alocalização no globo e sonda que permitiu melhor avaliação em cada casoLocalização Número SondaVitreo 44Opacida<strong>de</strong>s puntiformes após hemorragiavítrea e/ou processo inflamatório 18 10 MHzTrações por uveítes 8 10 MHz / 20 MHzTrações por retinopatia diabética 10 20 MHzMembrana epirretiniana 5 20 MHzCorpo estranho intra-ocular 3 10 MHzNervo óptico 20Drusas 8 20 MHzEscavação aumentada 8 20 MHzColoboma 4 20 MHzMacula 31Estafiloma 4 20 MHzDegeneração macular relacionada à ida<strong>de</strong> 15 20 MHzE<strong>de</strong>ma por retinopatia diabética 12 20 MHzPare<strong>de</strong> ocular 37Estafiloma 4 20 MHzColoboma 4 20 MHzFibrose pós-uveite 2 20 MHzCalcificação <strong>de</strong> retina 4 20 MHzTrauma com rotura escleral 2 20 MHzDescolamento <strong>de</strong> corói<strong>de</strong> 6 10 MHz / 20 MHzDescolamento <strong>de</strong> retina 15 10 MHz / 20 MHzTOTAL 132Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 291-5
294Men<strong>de</strong>s MH, Betinjane AJ, Cavalcante AFS, Castanheira VRC, Cheng CT, Carani JCElias da mácula e da pare<strong>de</strong> ocular. Em todos eles, a sonda<strong>de</strong> 20 MHz permitiu a obtenção <strong>de</strong> imagens com melhor<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> limites e formas, possibilitando diferenciaçãomais precisa entre as alterações nas interfacescorói<strong>de</strong>-retina-esclera (Figura 3), Neste grupo <strong>de</strong> pacienteshouveram casos em que a sonda <strong>de</strong> 20 MHz possibilitou<strong>de</strong>tectar e diferenciar estruturas que a sonda <strong>de</strong>10 MHz não po<strong>de</strong>.Na avaliação dos pacientes com <strong>de</strong>scolamento<strong>de</strong> retina e/ou corói<strong>de</strong> pouco elevados, as sondas se mostraramsimilares, com melhor <strong>de</strong>limitação e localizaçãodas estruturas com a sonda <strong>de</strong> 20 MHz em alguns casos.Quando o <strong>de</strong>scolamento é maior, situando-se mais distanteda pare<strong>de</strong> ocular posterior, ocupando a cavida<strong>de</strong> vítreaanterior, a sonda <strong>de</strong> 10 MHz foi mais eficaz, pois permitelocalizá-los com mais facilida<strong>de</strong>, e por vezes chegando aserem somente <strong>de</strong>tectados pela sonda <strong>de</strong> 10 MHz.DISCUSSÃOA ultra-sonografia ocular é um exame nãoinvasivo, eficaz e versátil, que propicia diagnóstico seguro<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> doenças oculares, eque vem sendo cada vez mais aperfeiçoado com novastecnologias (7,8) . Há alguns anos, é bem estabelecido o uso<strong>de</strong> sondas com maiores freqüências para a avaliação dosegmento anterior do globo ocular (9,10) , mas as vantagenstrazidas por sondas <strong>de</strong>sse tipo não são em todo aplicáveispara o exame do segmento posterior.As sondas <strong>de</strong> maior freqüência têm maior resoluçãoe menor penetração, portanto a sonda <strong>de</strong> 20 MHzsupostamente seria mais indicada para avaliação <strong>de</strong> estruturase anomalias mais anteriores, ao contrário dasonda <strong>de</strong> 10 MHz, que então teria sua maior eficáciaquanto mais posteriormente no bulbo ocular se localizassea lesão. No entanto, neste presente estudo, observou-sejustamente situação contrária. Isso se <strong>de</strong>ve aofato da sonda <strong>de</strong> 20 MHz do aparelho utilizado ser projetadapara distância focal aumentada, ou seja, seu funcionamentoi<strong>de</strong>al se dá no pólo posterior do bulbo ocular,permitindo uma maior resolução, a qual é inerente àsua maior freqüência, e propiciando uma profundida<strong>de</strong><strong>de</strong> foco semelhante às das sondas <strong>de</strong> menor freqüência.A sonda <strong>de</strong> 10 MHz, com o ganho máximo, permitiumaior <strong>de</strong>tecção das anormalida<strong>de</strong>s da cavida<strong>de</strong> vítrea,e com ganhos menores foram obtidas imagens commelhores <strong>de</strong>talhes no estudo da pare<strong>de</strong> ocular. A sonda<strong>de</strong> 20 MHz, por sua vez, mesmo com o ganho máximonão possibilitou captação <strong>de</strong> imagens a<strong>de</strong>quadas das alteraçõesdo gel vítreo, pois ela foi menos sensível para a<strong>de</strong>tecção <strong>de</strong>stas estrutura nesta localização.No presente estudo, as imagens com a sonda <strong>de</strong> 10MHz no método trans-palpebral e trans-ocular forammuito semelhantes, não havendo diferença significativaentre esses dois métodos. Já com a sonda <strong>de</strong> 20 MHzobservou-se expressiva diferença quando utilizada sobrea pálpebra ou diretamente em contato com o globoocular, mostrando melhor resolução neste último caso.Nos olhos submetidos à cirurgia em que foram injetadassubstâncias na cavida<strong>de</strong> vítrea, não é possível aobtenção <strong>de</strong> imagens satisfatórias com ambas as sondas.CONCLUSÃOA sonda <strong>de</strong> 20 MHz tem resolução superior para<strong>de</strong>tectar <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> anomalias da pare<strong>de</strong> ocular posteriore da interface vítreo-retiniana. Já a <strong>de</strong> 10 MHz ésuperior para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> anomalias no humor vítreo,particularmente nas porções mais anteriores da cavida<strong>de</strong>.A qualida<strong>de</strong> das imagens obtidas com a sonda <strong>de</strong> 10MHz é semelhante quando utiliza-se o método transpalpebralou diretamente em contato com o olho. Já asonda <strong>de</strong> 20 MHz permite exames <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>(maior resolução), quando a sonda é utilizada em contatocom o globo ocular.ABSTRACTThe ultrasound is an important method in the evaluationof abnormalities of the posterior segment of the eye.Purpose: To compare the advantages and disadvantagesof 10 and 20 MHz probe on B- scanning ultra-sonographyin evaluation of vitreous and posterior pole diseases,providing recommendations for their use. Methods:Patients from Hospital das Clinicas of the University ofSão Paulo (HC-FMUSP), atten<strong>de</strong>d between February2006 and April 2007, were submitted to ultrasound examsusing CINE-Scan® (Quantel Medical Inc) B-scan with10 and 20MHz probe. The patients were examined bythree experienced ophthalmologists, in horizontal dorsalposition, after instillation of tetracaine 1% drops, first withthe probe in direct contact with eyelids, and then with theprobe placed directly in contact with the sclera or cornea.The images obtained were compared immediately duringand after the examination. Results: The 20 MHz probereveled a superior resolution to study <strong>de</strong>tails, like shapeand limits, on the posterior pole, and the 10 MHz probeprovi<strong>de</strong>d better evaluation on vitreous humor. There wereno differences if the exam was performed on eyelids orRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 291-5