Set-Out - Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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Função visual de crianças pseudofácicas por catarata infantil279INTRODUÇÃOBinocularidade é o termo que se aplica à capacidadede aprender estímulos visuais com os doisolhos. Sua avaliação em um indivíduo divide-seem três esferas: a percepção macular simultânea, a fusãoe a estereopsia. 1 Cada uma destas esferas podem seravaliadas separadamente, com testes específicos, e o conjuntode seus resultados pode graduar a binocularidadedo indivíduo avaliado 1 .A ausência ou diminuição da visão de um ou ambosos olhos sem alteração anatômica, chama-seambliopia. Ocorre por interação binocular anormal (desviosoculares presentes ou não), privação de forma ou doestímulo visual. A importância da ambliopia consiste nofato de que as perdas visuais que a acompanham tornam-seirreversíveis se não precocemente tratadas. Ostipos de ambliopia mais graves são os que se desenvolvempor privação de estímulo ou desuso, das quais a causamais comum é a catarata congênita 1,2 .Cataratas são a maior causa de cegueira da infância,com prevalência de 1,2 a 6,0 casos por 10.000 nascimentos3 . O implante de lente intra-ocular para a correçãoda afacia em crianças, está sendo cada vez mais preconizadoe aceito pelos especialistas da área, porém,continua controverso já que os resultados a longo prazonão são conhecidos 4,5 .A cirurgia de catarata congênita ou do desenvolvimentoé indicada em crianças com opacidadecristaliniana de 3mm ou maior que acometa o eixo visual6,7 . O resultado visual de olhos operados de cataratasda infância depende da idade de início da catarata, daidade em que a cirurgia foi realizada, do tipo morfológicoda catarata e o acompanhamento e tratamento daambliopia 7,8 . Conforme a literatura sobre catarata congênitae do desenvolvimento, considera-se sucesso notratamento quando a acuidade visual final obtida é igualou maior que 20/40(logmar) 6,8 .Recentes estudos mostram bons resultados visuaisno acompanhamento de crianças submetidas à cirurgiade catarata, porém, os resultados de função binoculardestas crianças ainda são limitados 3,6 .OBJETIVOO objetivo deste estudo foi estudar a função visualbinocular de crianças portadoras de cataratas da infância(congênita ou infantil), do setor deOftalmopediatria da Disciplina de Oftalmologia daFMABC, operadas no período de julho de 2006 a junhode 2008 e com idade acima de 4 anos para obtenção derespostas verbais aos testes realizados.MÉTODOSFoi realizado um estudo observacional com amostranão probabilística com todos os pacientes operadosno período de julho de 2006 a junho de 2008.Foram incluídos os pacientes com idade superiora 4 anos para obtenção de respostas verbais aos testesrealizados , operadas por catarata diagnosticada na infânciaem ambos os olhos e implante de lente intra-ocularrealizado em mesmo tempo cirúrgico. Foram excluídosos pacientes com idade inferior a 4 anos, pacientescom pós-operatório menor a 3 meses, portadores de patologiasoculares associadas à catarata (como a daretinopatia da prematuridade ou associada à persistênciado vítreo primário hiperplásico), cataratas secundáriasa traumas ou uveítes, pacientes com doenças mentais,portadores de nistagmo e estrabismo prévio.As variáveis coletadas foram sexo, idade atual,idade do aparecimento da catarata relatada pelo responsável,idade da cirurgia, acuidade visual pré-operatória,tempo de pós-operatório da última cirurgia, tempode uso de oclusão pós- operatória, presença de opacidadede cápsula posterior e testes de função sensorial. Ascrianças avaliadas podem ou não ser portadoras deametropias. As portadoras de ametropias foram testadascom a correção óptica em uso, prescrita após acirurgia.em um escotoma foveal no olho n nas duas foutra, o oftalmologista ajusta um olho npara a visA função sensorial foi avaliada através de testesespecíficos, e foram realizados sucessivamente:1) Acuidade visual (AV) (Tabela de Snellen): paralonge e para perto, mono e binocular, com a correçãoóptica habitual. Consideramos a acuidade visual comoboa maior ou igual a 0,4.2) Motilidade Ocular Extrínseca: detectar a presençaou não de estrabismo em um ou ambos os olhos.3) Teste das 4 luzes de Worth: 4 luzes são exibidasao paciente, à distância (3 m) e perto (33 cm), com o usode lentes de filtro vermelho e verde (olho direito e esquerdo,respectivamente). A percepção de 2, 3 ou 4 luzesindica se há ou não fusão periférica ou central. Consideramosa presença de fusão o reconhecimento das 4 luzes.4) Teste estereoscópico de Titmus: Utilizam-seóculos polarizado e imagens vectográficas para investigara acuidade estereoscópica através da percepção daprofundidade das imagens. Consideramos estereopsiapresente o resultado menor ou igual a 3000 segundos deRev Bras Oftalmol. 2009; 68 (5): 278-83

280Ferraz PRP, Sugano DM, Fernandes CLarco. Menor ou igual a 400 segundos de arco foi consideradaboa estereopsia.A catarata foi considerada congênita quando relatadopelo familiar o aparecimento até o 3° mês devida; infantil precoce quando o aparecimento foi relatadoapós o terceiro mês de vida e infantil tardia quando oaparecimento após doze meses de vida.A classificação quanto ao tipo de catarata variouquanto à apresentação da opacidade no cristalino, podendoser: cortical (anterior e posterior), nuclear,subcapsular, nuclear embrionária, polar e pulverulenta.A indicação cirúrgica das cataratas baseou-se noacometimento do eixo visual pela opacidadecristaliniana e na acuidade visual que a criança apresentavaao exame oftalmológico.As variáveis correlacionadas foram idade do diagnóstico,Titmus e luzes de Worth; idade da primeiracirurgia e AV pós operatória; AV pré e pós operatória,Titmus e luzes de Worth.Em todos os casos de opacidade de cápsula posteriorfoi realizado YAG laser logo após tempo de pósoperatóriopermitido (6 meses).As variáveis estudadas foram submetidas a análisedescritiva.O nível de significância adotado neste estudo foide 5%.RESULTADOSForam avaliados cinqüenta prontuários de criançascom catarata infantil, operadas pelo setor deOftalmopediatria da Faculdade de Medicina do ABC dejulho de 2006 a junho de 2008, para seleção e convocaçãode pacientes que se adequavam aos critérios de inclusãodeste estudo.Foram selecionadas 12 (24%) crianças, porém, 6(50%) não foram encontradas. Portanto, 6 crianças seadequavam aos critérios do trabalho. Cinco (83,3%)eram do sexo feminino e 1 (16,7%) do sexo masculino.A média de idade das crianças foi de 10,50 anos(DP= 3,391). A idade mínima foi de 5 anos e a máximade 15 anos.A média da idade do diagnóstico da catarata foi5,58 anos (DP= 3,35); apenas 1(16,7%) teve o diagnósticoaos 6 meses de idade.Todas as crianças já foramencaminhadas para este serviço com diagnóstico de cataratarelatado pelo responsável.A média da idade da primeira cirurgia foi de 8,83anos (DP= 3,65).Todas as crianças deste estudo realizaram extraçãoda catarata pela técnica de facoemulsificação comcolocação do implante intra-ocular no mesmo tempo decirurgia. A média de tempo de pós-operatório mínimofoi de 10 meses (DP=5,25).Quanto ao tipo de catarata, 3 (50%) eram nuclearese/ou corticais e/ou subcapsulares; 2 (33,3%) erampulverulentas e apenas 1(16,7%) era nuclear embrionária.A acuidade visual (AV) pré-operatória média doolho direito foi de 0,21 (DP= 0,11) e a do olho esquerdofoi 0,19 (DP= 0,13). Não obtivemos acuidade visual préoperatóriade um dos pacientes pois pela idade na época,não informava. A tabela 1 mostra as característicasclínicas pré-operatórias de cada paciente avaliado.A média da acuidade visual (AV) pós-operatóriado olho direito foi de 0,5 (DP=0,29); e, do olho esquerdofoi de 0,48(DP=0,24). Três (50%) dos olhos direitos e4(67%) dos olhos esquerdos alcançaram AV pós-operatóriamelhor que 0,4. Uma (16,7%) criança apresentoucomo AV pós-operatória 1 e 0,8 (olho direito e esquerdo,respectivamente). Todas as AV pós-operatórias forammedidas com a correção atualizada.Quanto aos testes de função sensorial binocularpós-operatório, apenas 1(16,7%) criança apresentouausência da estereopsia ao teste de Titmus e não apresentoufusão no teste das luzes de Worth, tanto para pertoquanto para longe. Essa criança apresentou padrão desupressão de olho esquerdo. Das 5(83%) crianças queapresentaram boa função sensorial, todas apresentaramfusão no teste da luzes de Worth, tanto para perto quantopara longe. No teste de Titmus, 2 (33,3%) apresentaramestereopsia grosseira, com 3000 segundos de arco e AVpós-operatória menor que 0,4. As outras 3(50%) apresentaramboa estereopsia com valor menor ou igual a400 segundos de arco, com AV pós-operatória melhorque 0,4. A tabela 2 mostra as características clínicas pósoperatóriasde cada paciente avaliado.A opacidade de cápsula posterior (OCP) apresentou-secomo única complicação pós-operatória em 4(66,7%) dos pacientes, sendo realizado YAG laser, após6 meses de pós-operatório. Nenhuma criança apresentouOCP no momento da aferição dos testes.Nenhum dos pacientes apresentou alteração damotilidade extrínseca no período pós-operatório. Apenas1 (16,7%) criança do estudo está em uso de oclusão(quatro horas/dia) há 2 meses, na tentativa de melhorada ambliopia.Houve diferença estatística (p

280Ferraz PRP, Sugano DM, Fernan<strong>de</strong>s CLarco. Menor ou igual a 400 segundos <strong>de</strong> arco foi consi<strong>de</strong>radaboa estereopsia.A catarata foi consi<strong>de</strong>rada congênita quando relatadopelo familiar o aparecimento até o 3° mês <strong>de</strong>vida; infantil precoce quando o aparecimento foi relatadoapós o terceiro mês <strong>de</strong> vida e infantil tardia quando oaparecimento após doze meses <strong>de</strong> vida.A classificação quanto ao tipo <strong>de</strong> catarata variouquanto à apresentação da opacida<strong>de</strong> no cristalino, po<strong>de</strong>ndoser: cortical (anterior e posterior), nuclear,subcapsular, nuclear embrionária, polar e pulverulenta.A indicação cirúrgica das cataratas baseou-se noacometimento do eixo visual pela opacida<strong>de</strong>cristaliniana e na acuida<strong>de</strong> visual que a criança apresentavaao exame oftalmológico.As variáveis correlacionadas foram ida<strong>de</strong> do diagnóstico,Titmus e luzes <strong>de</strong> Worth; ida<strong>de</strong> da primeiracirurgia e AV pós operatória; AV pré e pós operatória,Titmus e luzes <strong>de</strong> Worth.Em todos os casos <strong>de</strong> opacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cápsula posteriorfoi realizado YAG laser logo após tempo <strong>de</strong> pósoperatóriopermitido (6 meses).As variáveis estudadas foram submetidas a análise<strong>de</strong>scritiva.O nível <strong>de</strong> significância adotado neste estudo foi<strong>de</strong> 5%.RESULTADOSForam avaliados cinqüenta prontuários <strong>de</strong> criançascom catarata infantil, operadas pelo setor <strong>de</strong>Oftalmopediatria da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina do ABC <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 2006 a junho <strong>de</strong> 2008, para seleção e convocação<strong>de</strong> pacientes que se a<strong>de</strong>quavam aos critérios <strong>de</strong> inclusão<strong>de</strong>ste estudo.Foram selecionadas 12 (24%) crianças, porém, 6(50%) não foram encontradas. Portanto, 6 crianças sea<strong>de</strong>quavam aos critérios do trabalho. Cinco (83,3%)eram do sexo feminino e 1 (16,7%) do sexo masculino.A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> das crianças foi <strong>de</strong> 10,50 anos(DP= 3,391). A ida<strong>de</strong> mínima foi <strong>de</strong> 5 anos e a máxima<strong>de</strong> 15 anos.A média da ida<strong>de</strong> do diagnóstico da catarata foi5,58 anos (DP= 3,35); apenas 1(16,7%) teve o diagnósticoaos 6 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.Todas as crianças já foramencaminhadas para este serviço com diagnóstico <strong>de</strong> cataratarelatado pelo responsável.A média da ida<strong>de</strong> da primeira cirurgia foi <strong>de</strong> 8,83anos (DP= 3,65).Todas as crianças <strong>de</strong>ste estudo realizaram extraçãoda catarata pela técnica <strong>de</strong> facoemulsificação comcolocação do implante intra-ocular no mesmo tempo <strong>de</strong>cirurgia. A média <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> pós-operatório mínimofoi <strong>de</strong> 10 meses (DP=5,25).Quanto ao tipo <strong>de</strong> catarata, 3 (50%) eram nuclearese/ou corticais e/ou subcapsulares; 2 (33,3%) erampulverulentas e apenas 1(16,7%) era nuclear embrionária.A acuida<strong>de</strong> visual (AV) pré-operatória média doolho direito foi <strong>de</strong> 0,21 (DP= 0,11) e a do olho esquerdofoi 0,19 (DP= 0,13). Não obtivemos acuida<strong>de</strong> visual préoperatória<strong>de</strong> um dos pacientes pois pela ida<strong>de</strong> na época,não informava. A tabela 1 mostra as característicasclínicas pré-operatórias <strong>de</strong> cada paciente avaliado.A média da acuida<strong>de</strong> visual (AV) pós-operatóriado olho direito foi <strong>de</strong> 0,5 (DP=0,29); e, do olho esquerdofoi <strong>de</strong> 0,48(DP=0,24). Três (50%) dos olhos direitos e4(67%) dos olhos esquerdos alcançaram AV pós-operatóriamelhor que 0,4. Uma (16,7%) criança apresentoucomo AV pós-operatória 1 e 0,8 (olho direito e esquerdo,respectivamente). Todas as AV pós-operatórias forammedidas com a correção atualizada.Quanto aos testes <strong>de</strong> função sensorial binocularpós-operatório, apenas 1(16,7%) criança apresentouausência da estereopsia ao teste <strong>de</strong> Titmus e não apresentoufusão no teste das luzes <strong>de</strong> Worth, tanto para pertoquanto para longe. Essa criança apresentou padrão <strong>de</strong>supressão <strong>de</strong> olho esquerdo. Das 5(83%) crianças queapresentaram boa função sensorial, todas apresentaramfusão no teste da luzes <strong>de</strong> Worth, tanto para perto quantopara longe. No teste <strong>de</strong> Titmus, 2 (33,3%) apresentaramestereopsia grosseira, com 3000 segundos <strong>de</strong> arco e AVpós-operatória menor que 0,4. As outras 3(50%) apresentaramboa estereopsia com valor menor ou igual a400 segundos <strong>de</strong> arco, com AV pós-operatória melhorque 0,4. A tabela 2 mostra as características clínicas pósoperatórias<strong>de</strong> cada paciente avaliado.A opacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cápsula posterior (OCP) apresentou-secomo única complicação pós-operatória em 4(66,7%) dos pacientes, sendo realizado YAG laser, após6 meses <strong>de</strong> pós-operatório. Nenhuma criança apresentouOCP no momento da aferição dos testes.Nenhum dos pacientes apresentou alteração damotilida<strong>de</strong> extrínseca no período pós-operatório. Apenas1 (16,7%) criança do estudo está em uso <strong>de</strong> oclusão(quatro horas/dia) há 2 meses, na tentativa <strong>de</strong> melhorada ambliopia.Houve diferença estatística (p

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