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“as fadas”, de charles perrault

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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41281AS FADAS, DE CHARLES PERRAULTKate Constantino Pinheiro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (FSLF)Rosana Batista Pereira (Pio X)CHARLES PERRAULT (Paris, 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1628 - Paris, 16 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1703)Charles Perrault foi um escritor e poeta francês do século XVII queestabeleceu as bases para um novo gênero literário, o conto <strong>de</strong> fadas, além <strong>de</strong> ter sidoo primeiro a dar importância acadêmica a esse tipo <strong>de</strong> literatura, feito que lheconferiu o título <strong>de</strong> Pai da Literatura Infantil.Suas histórias mais conhecidas são Le Petit Chaperon rouge (ChapeuzinhoVermelho), La Belle au bois dormant (A Bela Adormecida), Le Maître chat ou le Chat botté (OGato <strong>de</strong> Botas), Cendrillon ou la petite pantoufle <strong>de</strong> verre (Cin<strong>de</strong>rella), La Barbe bleue (BarbaAzul) e Le Petit Poucet (O Pequeno Polegar) publicadas em 1697 sob o título Histórias oucontos do tempo passado com moralida<strong>de</strong>s, embora tenha ficado conhecido por seusubtítulo: Contos da mamãe gansa.A maioria <strong>de</strong> suas histórias ainda hoje são editadas, traduzidas e distribuídasem divervsos meios <strong>de</strong> comunicação, e adaptadas para várias formas <strong>de</strong> expressões,como o teatro, o cinema e a televisão, tanto em formato <strong>de</strong> animação como <strong>de</strong> açãoviva.Além dos contos citados, muitos outros fazem parte <strong>de</strong>sta obra como o contoLes Fées (As Fadas) sobre o qual faremos algumas observações.Este trabalho tem por objetivo <strong>de</strong>monstrar como os Contos <strong>de</strong> Fadas po<strong>de</strong>minfluenciar positivamente a iniciação no mundo da leitura nas crianças e que estainfluencia po<strong>de</strong> e é direcionada pela mensagem passada a cada nova história que se<strong>de</strong>scobre nas linhas ‘mágicas’ dos contos.


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41282Contos são histórias curtas.Os contos <strong>de</strong> Fadas são uma variação dos contospopulares( Fábulas). A palavra Fada vem do latim FATUM e significa Destino,Fatalida<strong>de</strong>, Fado. No Brasil, surgiu no final do sec.XIX nomeados como Contos daCarochinha.As fadas são originárias do Folclore europeu oci<strong>de</strong>ntal. Elas po<strong>de</strong>m sermulheres belas, dotadas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res mágicos (como a Fada madrinha <strong>de</strong> Cin<strong>de</strong>rela)ou igualmente belas, porém, diabólicas (como as bruxas).Os contos <strong>de</strong> Fadas nem sempre evi<strong>de</strong>nciam a presença <strong>de</strong> uma fada (comoem Chapeuzinho vermelho) mas vêem-se elementos sobrenaturais que mudam orumo dos acontecimentos. Há perigos ou obstáculos a vencer (no final da história).As temáticas giram em torno da vaida<strong>de</strong>, gula, inveja, hipocrisia ou avareza.Em suas origens, os contos <strong>de</strong> Fadas não visavam às crianças nemobjetivavam transmitir ensinamentos morais. A partir <strong>de</strong> Perrault esse quadrocomeça a mudar e se consolida com os contos dos irmãos Grimm (sec.XIX,Alemanha).Os contos <strong>de</strong> Fadas são histórias que foram repetidas ao longo do tempo eatravés <strong>de</strong> civilizações, são <strong>de</strong> autoria coletiva e passados <strong>de</strong> geração em geração,naturalmente, foram sofrendo alterações em sua estrutura original. Barba Azul , porexemplo, é um conto do sec.XVII que, em sua versão escrita, sofreu modificações<strong>de</strong>vido à idéia <strong>de</strong> cristianização <strong>de</strong> seu público. Em Cin<strong>de</strong>rela, na versão <strong>de</strong> CharlesPerrault, existe um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> protagonista feminina( passiva), que não existia naoralida<strong>de</strong>. O ‘Final Feliz’ que conhecemos <strong>de</strong> Chapeuzinho Vermelho (A apariçãoprovi<strong>de</strong>ncial do Herói lenhador) não existia na versão original, contada por Perraulte outros contistas.Quanto mais os Contos <strong>de</strong> Fadas passaram a ser <strong>de</strong>stinados à infância, maismoralizadores se apresentavam. O que se vê, <strong>de</strong> forma geral, é o enaltecimento <strong>de</strong>valores cavalheirescos e camponeses, além <strong>de</strong> uma disseminação da ‘moral’


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41283condicionante <strong>de</strong> comportamentos que são esperados pelo contexto espaço-temporalda história.Os contos orais <strong>de</strong> tradição popular (fonte dos contos <strong>de</strong> Fadas) perpassamum discurso literário cujo objetivo (A moral da história) era manter certos costumes,práticas e valores da época e, <strong>de</strong>ssa forma, as crianças adaptam-se ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong> no qual estão inseridas. Na época <strong>de</strong> Perrault, por exemplo, a socieda<strong>de</strong>exigia da mulher uma atitu<strong>de</strong> diferente da que temos no sec. XXI. Daí a adaptação <strong>de</strong>vários contos <strong>de</strong> fadas e a criação <strong>de</strong> novos paradigmas (como Sherek, Deu a louca naChapeuzinho, etc). Para as meninas, a futura jovem mulher <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>monstrarmodéstia, humilda<strong>de</strong>, perspicácia e virginda<strong>de</strong>, pois <strong>de</strong>ssa forma provaria seu valor.Já os meninos tinham como arquétipo <strong>de</strong> homem a figura do jovem mais ativo (que aDemoiselle), forte, corajoso, sagaz, leal e que, no final, salva a mocinha in<strong>de</strong>fesa. Aperspectiva da narrativa dos contos <strong>de</strong> fadas, em suas origens, mescla a concepção <strong>de</strong>mundo paysan com o humanismo da burguesia ascen<strong>de</strong>nte.Os contos <strong>de</strong> fadas são importantes, pois <strong>de</strong>monstram (em suas diferenciadasversões) como os valores sociais são influenciados pela literatura (e vice -versa) e,consequentemente, constituem fator crucial na educação <strong>de</strong> uma criança.Muitas <strong>de</strong>las, quando lêem ou escutam um conto <strong>de</strong> fadas enxergam-se nosmo<strong>de</strong>los propostos, <strong>de</strong>sejam um “final” semelhante ao narrativa ou simplesmenteencantam-se com a magia do mundo da leitura e passam a se tornarem, elas mesmas,leitores assíduos com um mundo infinito a <strong>de</strong>scobrir.Os contos <strong>de</strong> fadas, na Literatura infantil, po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>cisivos para aformação da criança, <strong>de</strong> suas concepções do mundo que a cerca. O dualismo quesepara as personagens em boas/más, belas/feias, fortes/fracas facilita para a criançaa compreensão <strong>de</strong> valores que a socieda<strong>de</strong> admite e espera <strong>de</strong>las. A criança acaba sei<strong>de</strong>ntificando, consequentemente, com o herói/heroína que é bom/boa, bonito(a) ejusto(a).


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41284A linguagem fácil e metafórica <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> narrativa é compatível com aestrutura do pensamento <strong>de</strong>ssa faixa etária. Outro benefício dos contos <strong>de</strong> fadas é aapropriação da linguagem escrita pelas crianças, o que, futuramente, permitirámelhores condições <strong>de</strong> aceitação social e autonomia (nas socieda<strong>de</strong>s letradas <strong>de</strong>steséculo).É exatamente a mensagem que os contos <strong>de</strong> fadas transmitem à criança <strong>de</strong>forma múltipla: que uma luta contra dificulda<strong>de</strong>s graves na vida éinevitável,é parte intrínseca da existência humana-mas que se a pessoa nãose intimida mas se <strong>de</strong>fronta <strong>de</strong> modo firme com as opressões inesperadas emuitas vezes injustas, ela dominará todos os obstáculos, e ao fim emergirávitoriosa. (BETTELHEIM, 1991).Segunda ainda este autor, os contos <strong>de</strong> fadas baseiam-se em situações <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong>+problema+solução=estabilida<strong>de</strong>, que é justamente o esquemapiagetiano da mente humana e, especificamente, da criança. Os contos, portanto,trabalhariam o psíquico infantil, resultando em equilíbrio e apresentando umaexplicação do mundo que permitiria lidar com esses problemas (cuja solução já éprevista em um dado momento: O “Felizes para Sempre”).AS FADASCARACTERÍSTICASPor se tratar <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> fadas, o seu núcleo é problemático em virtu<strong>de</strong><strong>de</strong> sua configuração existencial. Por conta disso, esse conto po<strong>de</strong> também serestruturado como "uma jornada em quatro etapas, sendo cada etapa da jornada umaestação no caminho da auto<strong>de</strong>scoberta" (Cashdan, 2000, p. 48).A primeira etapa po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a TRAVESSIA na qual "leva o heróiou heroína a uma terra diferente, marcada por acontecimentos mágicos e criaturas


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41285estranhas". No conto As fadas a travessia po<strong>de</strong> ser observada na passagem em que aheroina vai à fonte buscar água e lá encontra uma fada que lhe conce<strong>de</strong> um dom:Entre outras coisas, a pobre criança precisava ir duas vezes por dia buscarágua a uma boa meia-légua <strong>de</strong> casa, e trazer <strong>de</strong> lá uma bilha gran<strong>de</strong> bemcheia. Certo dia, quando estava na fonte, chegou-se a ela uma pobre mulherrogando que lhe <strong>de</strong>sse <strong>de</strong> beber.– É claro, minha senhora, disse a linda moça; e, enxaguando imediatamente abilha, apanhou água no melhor lugar da fonte e lhe ofereceu, sempresegurando a bilha para que bebesse mais facilmente. Depois <strong>de</strong> beber, a boamulher lhe disse:– Você é tão linda, tão boa e tão gentil que não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lhe fazer umdom (pois era uma fada que tinha tomado a forma <strong>de</strong> uma pobre mulher <strong>de</strong>al<strong>de</strong>ia, para ver até on<strong>de</strong> iria a gentileza da jovem). Concedo-lhe o dom,prosseguiu a fada, <strong>de</strong> lhe sair da boca uma flor ou uma pedra preciosa a cadapalavra que você disser.A segunda etapa é <strong>de</strong>finida pelo ENCONTRO que é marcado "com umapresença diabólica – uma madrasta malévola, um ogro assassino, um magoameaçador ou outra figura com características <strong>de</strong> feiticeiro". Neste trecho, a presençadiabólica po<strong>de</strong> ser representada tanto pela irmã da bela heroína como pela sua mãeque, além <strong>de</strong> maltratarem a bela moça, possuem uma má índole, observe:Quando a linda moça chegou em casa, sua mãe ralhou com ela por voltar tãotar<strong>de</strong> da fonte”.“Ai, Senhor, é que minha mãe me expulsou <strong>de</strong> casa”.(Falando a fada à irmã da heroína): “– Você não é nada gentil, retrucou afada (...).A terceira parte é a da CONQUISTA, no qual "o herói ou heroína mergulhanuma luta <strong>de</strong> vida ou morte com a bruxa, que leva inevitavelmente à morte <strong>de</strong>staúltima". Neste conto não há uma luta explícita entre o bem (representado pelaheroína) e o mal (representado pela mãe da heroína sua irmã). Há apenas o ataque domal contra o bem, este se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> apenas fugindo das agressões: (Sobre a maldiçãoconcedida à irmã da heroína): “ – Oh! Céus! Exclamou a mãe, que é isto? A culpa é da irmã,


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41286ela vai me pagar; e em seguida correu para bater nela. A menina fugiu e foi se abrigar nafloresta mais próxima.”E a quarta e última parte é <strong>de</strong>finida pela CELEBRAÇÃO na qual hágeralmente "um casamento <strong>de</strong> gala ou uma reunião <strong>de</strong> família, em que a vitória sobrea bruxa é enaltecida e todos vivem felizes para sempre" como atesta o seguintefragmento:O filho do rei, vendo sair <strong>de</strong> sua boca cinco ou seis pérolas, e outros tantosdiamantes, pediu-lhe que dissesse <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinha aquilo. Ela lhe contou toda asua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela, e consi<strong>de</strong>rando que umdom como aquele valia mais que tudo o que pu<strong>de</strong>sse dar a outro casamento,levou-a para o palácio do rei, seu pai, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sposou.Quanto à sua irmã, se tornou tão odiosa que sua própria mãe a expulsou <strong>de</strong>casa; e a infeliz, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> andar muito sem encontrar ninguém que aquisesse acolher, acabou morrendo só e <strong>de</strong>samparada.REFERÊNCIASCASHDAN, Sheldon. Os 7 pecados capitais nos contos <strong>de</strong> fadas: como os contos <strong>de</strong> fadasinfluenciam nossas vidas. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Campus, 2000.PERRAULT, Charles. Histoires ou contes du temps passés. La Bibliothèque Gallimard,France, 1999.Dictionnaire Encyclopédique Larousse 1998.BETTELHEIM, Bruno Psicanálise dos Contos <strong>de</strong> Fadas, Lisboa, Bertrand Editora, 1991.

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