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decifrando a teoria queer nos contos de marcelino freire

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Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41284A diversida<strong>de</strong> é gran<strong>de</strong> e se compõe <strong>de</strong> cidadãos negros submetidos a trabalhos<strong>de</strong>gradantes, moradores <strong>de</strong> favelas, prostitutas mal-amadas, assaltantes em conflito,miseráveis indignados, pais infelizes, crianças cruéis, vítimas <strong>de</strong> discriminação eperseguição policial, além <strong>de</strong> predadores sexuais, pedófilos, estrangeiros praticantes<strong>de</strong> turismo sexual e como <strong>de</strong>staque os homossexuais.O presente artigo <strong>de</strong>staca a análise <strong>de</strong> dois <strong>contos</strong> <strong>de</strong> Marcelino Freire,“Coração” do livro “Contos Negreiros” (2005), “Junior” da obra “Rasif - mar quearrebenta” (2008), os quais retratam especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro da diversida<strong>de</strong> sexualpromulgada pela <strong>teoria</strong> <strong>queer</strong>.Vale ressaltar, que a escolha dos <strong>contos</strong> por retratarem tipos homossexuaisrepresentados pela <strong>teoria</strong> <strong>queer</strong>, a bicha, o travesti, o bissexual, os quais <strong>de</strong>têm a voze apresentam suas vonta<strong>de</strong>s, sentimentos e <strong>de</strong>sejos. Ratificando a necessida<strong>de</strong> da<strong>teoria</strong> <strong>queer</strong> <strong>de</strong> representaçao das multiplas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, composta por um numerocomplexo <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong>s e particularida<strong>de</strong>ssócio, histórico, econômico eprincipalmente cultural. Representam grupos me<strong>nos</strong> favorecidos e excluídos dasocieda<strong>de</strong> heteronormativa centralizadora, mas em sua diversida<strong>de</strong>, pois englobamos sujeitos da sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sviantes como os homossexuais, os bissexuais, ostravestis, os transexuais, as drags.No conto “Coração”, Marcelino Freire narra em primeira pessoa, a historia<strong>de</strong> uma bicha, Célio, que transa com muitos homens, mas que se apaixona por umrapaz, Beto, mas esse amor não é correspondido, pois Beto só mantém um caso comCélio como meio <strong>de</strong> satisfazer puramente seu <strong>de</strong>sejo sexual. Dessa forma, Céliolamenta-se <strong>de</strong>ssa situação e <strong>de</strong>seja que bicha tivesse nascido sem coração, oca, vazia,sem sentimentos. E no conto “Junior” o narrador, Junior, conta a historia em que seupai ainda casado com sua mãe convida um travesti para tomar café em sua casa, e otravesti Magaly sem enten<strong>de</strong>r o que estava acontecendo vai com ele no carro equando chega na casa <strong>de</strong>le realiza sua função <strong>de</strong> forma assustada e sem barulho paranão ser notado pela esposa do homem.


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-41288atualida<strong>de</strong> seria a relação instável, provisória, momentânea e sem vínculos afetivos,<strong>de</strong>stacando abertamente, fora do armário, o sexo pelo sexo como fundamental eessencial.Célio conheceu Beto na estação <strong>de</strong> trem, sem setembro. Morenobonito. Celio acariciou o membro <strong>de</strong> Beto no aperto vespertino, nobalanço ferroviário. Beto gozou na mão do veado. Encabulado,mascou seu chiclete, <strong>de</strong>sceu e nem olhou para trás, para Célio...Quando acordou, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tanto prazer, cadê aquele amor? Omenino saiu na madrugada. Evaporou-se. Como? Célio viu se casaestava tudo em or<strong>de</strong>m. As caçarolas intactas, os ossos continuavam ámostra. Ora, que menino mais capeta! Só sobrou o chiclete,acredita?...Não aguentei ficar em casa sozinho, e vim tomar um cafécom você. Essa bosta <strong>de</strong> tristeza que bate no coração da gente, <strong>de</strong>repente. Que <strong>de</strong>smantelo. Bem que Roberto Carlos <strong>de</strong>veria cortar essecabelo. E eu, nascer sem coração, repetiu. É sem coração. (FREIRE,2005, p. 59, 62 e 63).Nesse trecho, fica evi<strong>de</strong>nte a relação entre o homem e a bicha, os quaismantêm uma relação puramente sexual, na qual o homem que se diz hétero seenvolve com as bichas para se satisfazer sexualmente, sem manter ligação afetiva,porém a bicha permanece na situação enquanto objeto <strong>de</strong> prazer, portanto apresentasecomo <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> sentimento e afetivida<strong>de</strong>s. Esse sentimento <strong>de</strong>senvolve aoponto <strong>de</strong> se transformar em paixão, amor “Essa bosta <strong>de</strong> tristeza que bate no coraçãoda gente, <strong>de</strong> repente”, mas esse amor não é correspondido <strong>de</strong>vido ao fato doshomens apenas usufruírem sexualmente, sem manter um relacionamento, pois esseshomens jamais se viriam numa relação afetiva com outros homens, <strong>de</strong>nominadosbichas. Marcelino <strong>de</strong>clara em seu conto a influente presença escancarada das relações<strong>queer</strong> entre homens e bichas, sendo o homem no papel <strong>de</strong> dominador, “o macho”, e abicha, como dominada, “a fêmea”. Como acrescenta Fry:Chamamos esse sistema <strong>de</strong> hierárquico porque a relação sexual se dá entrenão iguais: o "homem" penetra e domina a "bicha", que é passiva, dominada.O ser que penetra é o masculino, dominante, enquanto que o ser penetrado éefeminado, dominado, inferior. O "homem" po<strong>de</strong> ter relações com outros


Anais Eletrônicos do IV Seminário Nacional Literatura e CulturaSão Cristóvão/SE: GELIC/UFS, V. 4, 3 e 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2012. ISSN: 2175-412810KULICK, Dom. Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Ed. Fiocruz, 2008. 280p.LAURETIS, Teresa <strong>de</strong>. “Queer Theory: Lesbian and Gay Sexualities”, Differences: AJournal of Feminist Cultural Studies, 3(2), iii-xviii, 1991.LOPES, Denílson. O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Aeroplano, 2002.LOURO, Guacira Lopes. O corpo estranho. Ensaios sobre sexualida<strong>de</strong> e <strong>teoria</strong> <strong>queer</strong>. BeloHorizonte: Autêntica, 2004.LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado pedagogias da sexualida<strong>de</strong>. Belo Horizonte:Autêntica, 2007.MISKOLCI, Richard. A <strong>teoria</strong> <strong>queer</strong> e a sociologia: o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma analítica danormalização. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, v. 1, n. 29, 2009,SEIDMAN, Steven (org.).Queer Theory / Sociology. Oxford: Blackwell. 1996.

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