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Relíquias de Casa Velha

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JÚPITERALCMENAEn moi, belle et charmante Alcmène,Vous voyez un mari, vous voyez un amant;Mais l'amant seul me touche, à parler franchement,Et je sens près <strong>de</strong> vous que le mari me gêne.Cet amant, <strong>de</strong> vos voeux jaloux au <strong>de</strong>rnier point,Souhaite qu'à lui seul votre amour s'abandonne.Je ne sépare point ce qu'unissent les dieux;Et l'époux et l'amant me sont forte précieux.Se, neste ponto, já se não trata <strong>de</strong> uma situação, <strong>de</strong> um caráter novo, mas <strong>de</strong> uma idéiaentrelaçada no diálogo, importa repetir que ainda imitando ou recordando, o ju<strong>de</strong>u seconserva fiel à sua fisionomia literária; po<strong>de</strong> ir buscar a especiaria alheia, mas há <strong>de</strong> ser paratemperá-la com o molho da sua fábrica. Dessa inclinação ao baixo cômico achamos outroexemplo na Esopaida, cujo assunto fora tratado, antes <strong>de</strong>le, por Boursault. O carátertradicional <strong>de</strong> Esopo era pouco apropriado à comédia: é um moralista, um autor <strong>de</strong> apólogos,mas Boursault trouxe-o assim mesmo para a cena, único modo <strong>de</strong> lhe conservar a cor original.O Esopo <strong>de</strong> Antônio José parece antes um exemplar apurado daqueles lacaios argutos eatrevidos da comédia clássica; salvo dous ou três lugares, é outro gênero <strong>de</strong> Sacatrapos ouChichisbéu; figura ali com agu<strong>de</strong>zas e trocadilhos. Há <strong>de</strong>stes extremamente bufões, como oda bacia das almas, e disso e <strong>de</strong> pouco mais se compõe a filosofia <strong>de</strong> Esopo. Não obstanteessa cor geral, notam-se ali toques <strong>de</strong> bom cômico, embora leves e a espaços. Há também, eprincipalmente, a veia satírica, na cena que quase todos os seus biógrafos transcrevem, -- adas teses dos filósofos, cena extremamente chistosa, e que o próprio Dinis, com toda a suaveia do Hissope e do Falso Heroísmo, não sei se chegaria a fazer mais acabada. Compare-seessa cena com a da invasão do Parnaso pelos maus poetas, na Vida <strong>de</strong> D. Quixote, e ver-se-áque havia no talento <strong>de</strong> Antônio José uma forte dose <strong>de</strong> sátira, -- o que, <strong>de</strong> certa maneira, lhediminuía a força cômica. Nessas duas peças é, aliás, sensível a habilida<strong>de</strong> teatral do poeta, quenão tinha propriamente uma ação em nenhuma <strong>de</strong>las, e não obstante, logrou con<strong>de</strong>nsar a vidados episódios, manter a unida<strong>de</strong> do interesse e angariar o aplauso público. Acresce que o seuD. Quixote não tem o <strong>de</strong>feito capital do seu Esopo; o poeta soube dar-lhe alguns toques daingenuida<strong>de</strong> sublime que caracteriza o tipo <strong>de</strong> Cervantes: é o que se vê logo, na exposição,quando D. Quixote respon<strong>de</strong> ao barbeiro acerca da armada que se prepara para combater oturco: -- "Para que se cansam com tantas máquinas? diz ele. Eu lhes <strong>de</strong>ra um bom arbítriocom que, em menos <strong>de</strong> uma hora, vençam quantas armadas e armadilhas o turco tiver". Éocioso dizer que o arbítrio seria a cavalaria andante.De todas as comédias, porém, a que goza as honras da primazia, é a das Guerras do Alecrim eManjerona, e com razão; é a mais acabada e a mais cômica. Tem o gosto do tempo, e até umressaibo da maneira <strong>de</strong> Cal<strong>de</strong>rón, que <strong>de</strong> si mesmo escrevia:Es comedia <strong>de</strong> Don PedroCal<strong>de</strong>rón, don<strong>de</strong> ha <strong>de</strong> haber,Por fuerza, amante escondidoY rebozada mujer.Há ali com efeito mulheres rebuçadas e amantes escondidos, e tanta vida como nas peças <strong>de</strong>Cal<strong>de</strong>rón.Não trato aqui do fato que po<strong>de</strong>ria ter dado lugar à obra do ju<strong>de</strong>u, nem das dúvidas <strong>de</strong> Costa eSilva sobre se os dous rancilos do alecrim e da manjerona existiam antes da comédia, ou seesta os fez nascer; é investigação que não vale a pena <strong>de</strong> um minuto, e aliás o texto do poeta é

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