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Relíquias de Casa Velha

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pessoas gradas e honradas como era o comendador. Ao que este se <strong>de</strong>u por satisfeito eanimado, e então lhe confiou a primeira meta<strong>de</strong> do segredo, a qual era que os dous noivos,criados juntos, vinham casar aqui quando souberam, pela parenta <strong>de</strong> Mata-porcos, uma notíciaabominável...-- E foi...? precipitou-se em dizer João das Mercês, sentindo alguma hesitação nocomendador.-- Que eram irmãos.-- Irmãos como? Irmãos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>?-- De verda<strong>de</strong>; irmãos por parte <strong>de</strong> mãe. O pai é que não era o mesmo. A parenta não lhesdisse tudo nem claro, mas jurou que era assim, e eles ficaram fulminados durante um dia oumais...João das Mercês não ficou menos espantado que eles; dispôs-se a não sair dali sem saber oresto. Ouviu <strong>de</strong>z horas, ouviria todas as <strong>de</strong>mais da noite, velaria o cadáver <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong>ambos, uma vez que pu<strong>de</strong>sse juntar mais esta página às outras da paróquia, embora não fosseda paróquia.-- E vamos, vamos, foi então que a febre os tomou...?Brito cerrou os <strong>de</strong>ntes para não dizer mais nada. Como, porém, o viessem chamar <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro,acudiu <strong>de</strong>pressa, e meia hora <strong>de</strong>pois estava <strong>de</strong> volta, com a nova do segundo passamento. Ochoro, agora mais fraco, posto que mais esperado, não havendo já <strong>de</strong> quem o escon<strong>de</strong>r,trouxera a notícia ao sacristão.-- Lá se foi o outro, o irmão, o noivo. . . Que Deus lhes perdoe! Saiba agora tudo, meu amigo.Saiba que eles se queriam tanto que alguns dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecido o impedimento natural ecanônico do consórcio, pegaram <strong>de</strong> si e, fiados em serem apenas meios irmãos e não irmãosinteiros, meteram-se em um cabriolet e fugiram <strong>de</strong> casa. Dado logo o alarma, alcançamospegar o cabriolet em caminho da Cida<strong>de</strong> Nova, e eles ficaram tão pungidos e vexados dacaptura que adoeceram <strong>de</strong> febre e acabam <strong>de</strong> morrer.Não se po<strong>de</strong> escrever o que sentiu o sacristão, ouvindo-lhe este caso. Guardou-o por algumtempo, com dificulda<strong>de</strong>. Soube os nomes das pessoas pelo obituário dos jornais, e combinouas circunstâncias ouvidas ao comendador com outras. Enfim, sem se ter por indiscreto,espalhou a história, só com escon<strong>de</strong>r os nomes e contá-la a um amigo, que a passou a outro,este a outros, e todos a todos. Fez mais; meteu-se-lhe em cabeça que o cabriolet da fuga podiaser o mesmo dos últimos sacramentos; foi à cocheira, conversou familiarmente com umempregado, e <strong>de</strong>scobriu que sim. Don<strong>de</strong> veio chamar-se a esta página a "anedota docabriolet."PÁGINAS CRÍTICAS E COMEMORATIVAS1. GONÇALVES DIAS2. UM LIVRO (CENA DA VIDA AMAZÔNICA)3. EDUARDO PRADO4. ANTÔNIO JOSÉGONÇALVES DIASDiscurso lido no Passeio Público, ao inaugurar-se o busto <strong>de</strong> Gonçalves Dias.

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