12.07.2015 Views

A Importância das tradições culturais no contexto da ... - Diversitas

A Importância das tradições culturais no contexto da ... - Diversitas

A Importância das tradições culturais no contexto da ... - Diversitas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>Importância</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>tradições</strong> <strong>culturais</strong> <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> <strong>da</strong> globalizaçãoAutor: Silvio Pinto Ferreira JuniorÁrea: Ciências SociaisA globalização, em termos gerais, não foi pensa<strong>da</strong> como um projeto ou iniciativa deum gover<strong>no</strong> ou de um Estado, mas é um grande mercado que se formou por enti<strong>da</strong>despúblicas e priva<strong><strong>da</strong>s</strong> que coman<strong>da</strong>m e controlam hegemonicamente o mercadoempresarial mundial. Tomou forma após a segun<strong>da</strong> guerra mundial, se remodeloucom a decadência <strong>da</strong> URSS (União <strong><strong>da</strong>s</strong> Repúblicas Socialistas Soviéticas) e doregime socialista, consoli<strong>da</strong>ndo o sistema capitalista representado pelo gigante EUA.O marco fun<strong>da</strong>mental para dinamizar o "mundo sem fronteiras", foi representadosimbolicamente pela que<strong>da</strong> do Muro de Berlim em 1989. De lá pra cá, a globalizaçãoproporcio<strong>no</strong>u uma grande mu<strong>da</strong>nça política, econômica, social e cultural e abriufrente para um <strong>no</strong>vo capítulo na história <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de.Com a eco<strong>no</strong>mia americana fortaleci<strong>da</strong>, individualmente as potências européias -principalmente - não <strong>da</strong>riam conta de competir com um mercado consoli<strong>da</strong>do e querapi<strong>da</strong>mente se modernizava, a solução foi unir forças <strong>da</strong>ndo início ao MercadoComum Europeu[1], hoje chamado União Européia. O bloco serviu de exemplo paraoutros mercados emergirem como por exemplo, o NAFTA[2], o ASEAN[3], oMERCOSUL[4], entre outros.Nos países industrializados com os mercados inter<strong>no</strong>s saturados, empresasmultinacionais buscaram <strong>no</strong>vos mercados consumidores, principalmente dos paísesrecém saídos do socialismo. Acirrando uma concorrência que fez com que asempresas utilizassem ca<strong>da</strong> vez mais recursos tec<strong>no</strong>lógicos para baratear os preços eestabelecer contatos comerciais e financeiros de forma rápi<strong>da</strong> e eficiente.Com a globalização veio a privatização <strong><strong>da</strong>s</strong> empresas administra<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo Estado e aabertura dos mercados, estimulando ain<strong>da</strong> mais a concorrência. Neste <strong>contexto</strong>, tempapel fun<strong>da</strong>mental a evolução dos meios de comunicação, mais baratos, maisabrangentes e mais eficazes que encurtaram distâncias - benefícios trazidos pelaInternet, pelas redes de computadores, pelos meios de comunicação via satélite, etc.Por outro lado, os países periféricos, me<strong>no</strong>s industrializados e portanto me<strong>no</strong>spreparados para enfrentar os desafios trazidos pela globalização, sofreram e sofremain<strong>da</strong> graves conseqüências, como é o caso de quase todo o continente africa<strong>no</strong>,alguns países asiáticos, do leste europeu e <strong>da</strong> América Latina.Muitas empresas multinacionais se utilizam desta fragili<strong>da</strong>de para exploração <strong>da</strong> mãode obra, matéria prima e energia mais barata, transferindo-se para estes mercadoscom o objetivo de reduzir custos <strong>no</strong> processo produtivo industrial.Um tênis, por exemplo, pode ser projetado <strong>no</strong>s Estados Unidos, produzido na China


utilizando matéria-prima do Brasil, e comercializado em diversos países do mundo.Para facilitar as relações econômicas, as instituições financeiras (bancos, casas decâmbio, etc.) criaram um sistema rápido e eficiente para favorecer a transferência decapital. Investimentos, pagamentos e transferências bancárias podem ser feitos emquestões de segundos através <strong>da</strong> Internet ou do telefone celular. O inglês passa a ser alíngua universal.Diante deste quadro, na tentativa de encontrar uma visão coerente sobre esta questão,opto pela linha de pensamento de Milena Petters Melo quando descreve aglobalização como um "fenôme<strong>no</strong> que se relaciona com as diversas dimensões <strong><strong>da</strong>s</strong>ocie<strong>da</strong>de, nas suas feições econômica, política e cultural e se perfaz através deprocessos diferenciados. Por essa sua complexi<strong>da</strong>de, não obstante as reitera<strong><strong>da</strong>s</strong>recorrências ao termo, ain<strong>da</strong> hoje o debate sobre as diversas interpretações relativas àglobalização é aberto, exatamente porque a sua primordial característica é amultidimensionali<strong>da</strong>de, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre e por elementos contraditórios que podem sertraduzidos nas dicotomias: global/local, universalismo/particularismo,identi<strong>da</strong>de/diferença, liber<strong>da</strong>de/poder"[5]."Um fenôme<strong>no</strong> que não é <strong>no</strong>vo, mas se intensificou sobremaneira recentemente,sobretudo a partir <strong><strong>da</strong>s</strong> últimas duas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> do século passado. Processos que secaracterizam pela mundialização <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia, a volatili<strong>da</strong>de do capital, atransnacionalização e precarização <strong><strong>da</strong>s</strong> relações trabalhistas, a redefinição paradoxaldo Estado (que se enfraquece como promotor do bem estar social, mas deve sefortalecer para adequar as reali<strong>da</strong>des nacionais à <strong>no</strong>va ordem econômica mundial eaos <strong>no</strong>vos delineamentos <strong>da</strong> política internacional), a desregulamentação de direitos,a celeri<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> informações, o relativismo <strong>da</strong> concepção de espaço e tempo (ante asi<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas na área <strong>da</strong> informática e telecomunicações, que permitem avisualização <strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong>de de eventos que ocorrem <strong>no</strong> mundo todo, e confundema percepção do real com o virtual), a internacionalização dos problemas ecológicos,entre tantos outros fatores" (PETTERS MELO, 2008:03).Porém, se de um lado as grandes potências se consoli<strong>da</strong>m e defendem seus mercados,de outro, enfraquecidos, muitos países não conseguem acompanhar a veloci<strong>da</strong>dedestas transformações, seja por que não se encontravam num nível de industrializaçãocompetitivo, ou porque estavam resolvendo conflitos inter<strong>no</strong>s de ordem política,religiosa, econômica, enfim, criando uma grande margem de exclusão social. O ladonegativo <strong>da</strong> globalização é a desigual<strong>da</strong>de social que se criou, o desemprego, adependência econômica de muitos países e o grande fluxo migratório.O movimento huma<strong>no</strong> se inverteu em apenas um século. Até metade do século XX, ogrande contingente de emigrantes partia <strong>da</strong> Europa em direção a países como oBrasil, EUA, Austrália, Argentina, etc., conforme vimos <strong>no</strong> primeiro capítulo destetrabalho. Nas últimas déca<strong><strong>da</strong>s</strong>, são os países europeus que sofrem com a invasão deimigrantes.


Na Europa, por um período, logo após a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, com o dinamismoeconômico e a necessi<strong>da</strong>de constante de mão de obra, o problema ain<strong>da</strong> não tinha asmesmas dimensões de agora. O problema <strong>da</strong> imigração naqueles tempos era solução,porém, hoje, com os mercados saturados, a concorrência acirra<strong>da</strong> para obter umemprego, a tec<strong>no</strong>logia tomando conta de diversos setores diminuindo o número depostos de ocupação, o imigrante passou a ser visto com outros olhos, como invasor.Inexperientes, estes países tentam buscar alternativas e criam leis para frear ofenôme<strong>no</strong>, com objetivo de "proteger suas eco<strong>no</strong>mias", numa clara demonstração dedespreparo ferindo os preceitos <strong>da</strong> tão defendi<strong>da</strong> democracia.Esta é hoje uma <strong><strong>da</strong>s</strong> grandes questões em debate na Europa - Como li<strong>da</strong>r com oimigrante?Tomando como exemplo a Itália, porta de entra<strong>da</strong> de muitos extra-comunitários quealmejam viver na Europa, não são só os imigrantes provenientes de países africa<strong>no</strong>s,asiáticos ou de pobres países vizinhos como por exemplo a Romênia e a Albânia, queprocuram o país como desti<strong>no</strong>. A legislação italiana teve que se a<strong>da</strong>ptar também aofluxo de descendentes dos italia<strong>no</strong>s que deixaram o país em tempos difíceis. São osci<strong>da</strong>dãos italia<strong>no</strong>s que vivem <strong>no</strong> exterior que fazem o caminho inverso, um "retor<strong>no</strong>"às origens.São milhares de ítalo-brasileiros, ítalo-argenti<strong>no</strong>s, ítalo-america<strong>no</strong>s, etc., quepropagam a cultura <strong>da</strong> Itália num continente diverso, recebem a afetivi<strong>da</strong>de patrióticatransmiti<strong>da</strong> pelos pais, avós e bisavós e refazem um percurso que nunca fizeramantes. Retornam para onde nunca antes estiveram, divididos e movidos pelosentimento de ser duplo ci<strong>da</strong>dão.Muitas vezes é mais fácil sentir-se ci<strong>da</strong>dão italia<strong>no</strong> (para os que nasceram fora <strong>da</strong>Itália) em qualquer outro país do que na própria Itália. Como muitas, a socie<strong>da</strong>deitaliana está desprepara<strong>da</strong> para receber o imigrante, logo esta que por várias geraçõesconviveu com a emigração. O que cria um interessante <strong>contexto</strong> para analisar qual é over<strong>da</strong>deiro conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia? Qual o valor <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de cultural? Como li<strong>da</strong>rcom a diversi<strong>da</strong>de e a multiculturali<strong>da</strong>de? Questões estas que o Brasil, por exemplo,já resolveu há muito tempo e poderia <strong>da</strong>r uma importante contribuição para os paísesdesenvolvidos que não conseguem ain<strong>da</strong> li<strong>da</strong>r com esta questão. Aponta Levy-Strauss:"Na era <strong>da</strong> mundialização, em que a diversi<strong>da</strong>de externa tende a tornar-se ca<strong>da</strong>vez mais pobre, torna-se urgente manter e preservar a diversi<strong>da</strong>de interna de ca<strong><strong>da</strong>s</strong>ocie<strong>da</strong>de, gesta<strong>da</strong> por todos os grupos e subgrupos huma<strong>no</strong>s que a constituem e quedesenvolvem, ca<strong>da</strong> um, diferenças às quais atribuem extrema importância. Em certamedi<strong>da</strong>, a diversi<strong>da</strong>de cultural poderá pelo me<strong>no</strong>s ser manti<strong>da</strong> e estimula<strong>da</strong> pelapreservação <strong><strong>da</strong>s</strong> especifici<strong>da</strong>des <strong>culturais</strong> dos diferentes grupos sociais: assim comose criam bancos de genes de espécies vegetais para evitar o empobrecimento <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong>de biológica e o enfraquecimento de <strong>no</strong>sso ambiente terrestre, é preciso,para que a vitali<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> socie<strong>da</strong>des não seja ameaça<strong>da</strong>, conservar, ao me<strong>no</strong>s, a


memória viva de costumes, de práticas e saberes insubstituíveis que não devemdesaparecer. Pois é a diversi<strong>da</strong>de que deve ser salva, não o conteúdo histórico queca<strong>da</strong> época lhe conferiu e que ninguém saberá perpetuar para além dela própria. A<strong>no</strong>va legislação brasileira abre, nesse sentido, vias que poderão ser úteis comoinspiração para to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de internacional." (LEVY-STRAUSS, 2001:27).Nesta mesma direção, Petters Melo descreve que a diversi<strong>da</strong>de eclatante, que hoje aEuropa vivencia como resultado dos processos de globalização, não é <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de parao Brasil. Como esclarece o Ministro Gilberto Gil: "<strong>no</strong> Brasil, já conhecíamos essamistura fina havia muito tempo, até mesmo porque o País foi construído pelamiscigenação de raças e de culturas, levas de imigrantes de diversos países,migrações internas intensas, etc. Mistura é com a gente mesmo, vem <strong>da</strong>í a riquezacultural". (...) Antes <strong>da</strong> Tropicália, observa Gil, os candi<strong>da</strong>tos a tropicalistas já seencontravam imersos, de nascença, nessa mistura natural, nesse rico caldo de cultura.Tomando o pulso do tempo, resolveram criar um laboratório <strong>no</strong> qual passaram acruzar, de forma intensiva, o samba tradicional, a bossa <strong>no</strong>va, o jazz, o rock e amúsica pop internacional. "Tratava-se de apreender a cultura como enti<strong>da</strong>defragmenta<strong>da</strong>, como um conjunto plural de elementos para os quais nós buscávamosuma interlinguagem"[6] (2007:128).Tomando como base a experiência dos festejamentos do "a<strong>no</strong> do Brasil na França,Petters Melo faz uma analise do pertinente pensamento do Ministro Gil:"Assim, segundo o Ministro, o Brasil teria chegado antes <strong>da</strong> Europa a uma respostacultural à globalização. Sem conseguir estabelecer seu lugar na moderni<strong>da</strong>de, o Brasilteria queimado etapa e chegado diretamente à pós-moderni<strong>da</strong>de. Diversamente <strong><strong>da</strong>s</strong>antigas potências coloniais - França, Grã-Bretanha, Portugal e Espanha - que tiveramde se modernizar para acertar o passo (ou pelo me<strong>no</strong>s tentar) com a potênciaeconômica americana, o Brasil, que também deveria seguir esse caminho, não podefazê-lo. Excluído <strong>da</strong> via <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de por sua situação colonial, o Brasilexperimentou os primeiros frutos <strong>da</strong>quilo que ain<strong>da</strong> não era chamado de pósmoderni<strong>da</strong>de"(2007:129).Muitos países criam leis e medi<strong><strong>da</strong>s</strong> restritivas contra a imigração, e, <strong>da</strong> maneira comque <strong>no</strong>ticiam esta questão na mídia, acabam desenvolvendo uma socie<strong>da</strong>dexe<strong>no</strong>fóbica, preconceituosa e intolerante que só vem a agravar o problema. Paraalguns países que se sentem ameaçados pela inevitável penetração <strong>da</strong> culturaestrangeira, ao invés de instigar a intolerância, os meios de comunicação apoiadospelo Estado poderiam criar uma forma de conscientização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de sobre o valorde seu produto ou saber. Deveriam caminhar junto com as ações relativas ao registrode manifestações <strong>culturais</strong>, não só para sua preservação, mas também para suavalorização, e esta valorização se reflete também na auto-estima do ci<strong>da</strong>dão que seconscientiza <strong>da</strong> sua importância e <strong>da</strong> sua eficaz contribuição na socie<strong>da</strong>de, tornando-


se, assim, alerta às "interferências <strong>da</strong><strong>no</strong>sas"."Desde o Renascimento, compreendeu-se que nenhuma civilização pode pensar sobresi própria, se não dispuser de uma ou várias outras que lhe sirvam de elemento decomparação. Para conhecer e compreender sua própria cultura é necessário aprendera vê-la do ponto de vista do outro, confrontar <strong>no</strong>ssos costumes e crenças com aquelasde outros tempos e de outros lugares". (LEVY-STRAUSS: 2001, 27).Muitos países desenvolvidos vêem a miscigenação, a influência de outrasculturas, a presença "do outro" como uma ameaça à sua própria identi<strong>da</strong>de cultural, enas <strong>tradições</strong> <strong>culturais</strong> incorpora<strong><strong>da</strong>s</strong> por outros elementos tidos como inferiores, comouma influência negativa. O que <strong>no</strong>s faz repensar em que grau de civili<strong>da</strong>de estamos?Qual o rumo que a globalização está <strong>da</strong>ndo para esta <strong>no</strong>va concepção de mundomoder<strong>no</strong>? Estas são questões inseri<strong><strong>da</strong>s</strong> nesta temática e que merecem reflexão.Vale mais uma vez apontar a contribuição de Petters Melo quando analisa oTropicalismo:"O Tropicalismo só aconteceu porque as condições certas estavam <strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong>."Achávamos" comenta Gil, referindo-se ao tempo <strong>da</strong> Tropicália, "que o poder culturalde um povo dependia <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de para digerir a reali<strong>da</strong>de global, mas aomesmo tempo impor a sua singulari<strong>da</strong>de". O verbo "digerir" remete à fonte que Gilnão explica, mas é evidente: Oswald de Andrade e a antropofagia (...) No manifestoAntropófago, Oswald de Andrade declarava: "Só a antropofagia <strong>no</strong>s une.Socialmente. Eco<strong>no</strong>micamente. Filosoficamente" (...) Com a revolução de 64, oTropicalismo usou as idéias do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade paraenfatizar a necessi<strong>da</strong>de de transformar as influências estrangeiras em produtonacional". (2007:133)Porém, falar em <strong>tradições</strong> <strong>culturais</strong> em tempos de globalização parece colocar emevidência o contraste entre o tradicional e o moder<strong>no</strong>, valores e visões de mundo.A idéia de tradicional pode ser, a grosso modo, associa<strong>da</strong> a certas quali<strong>da</strong>des que<strong>no</strong>ssos olhos "moder<strong>no</strong>s", por vezes cansados, identificam como positivas. Entre elas,estão a passagem do tempo mais lenta; um universo de relações sociais pessoaliza<strong><strong>da</strong>s</strong>,onde os mecanismos de controle social se exercem de modo informal; formas decomunicação que privilegiam a orali<strong>da</strong>de muitas vezes direta; a participação maisrestrita dos meios de comunicação de massa <strong>no</strong> processo social.A idéia de moder<strong>no</strong>, ao contrário, associa-se a uma passagem do tempo como queacelera<strong>da</strong>; a um ritmo intenso e por vezes vertigi<strong>no</strong>so de mu<strong>da</strong>nças; às relaçõessociais impessoais; a uma ampliação e intensificação <strong>da</strong> circulação monetária e àpresença mais intensa <strong><strong>da</strong>s</strong> chama<strong><strong>da</strong>s</strong> formas de comunicação de massa. Vale ressaltar,entretanto, <strong>no</strong> seio desse conjunto, características sobre as quais estamos de acordo


em qualificar como ‘positivas': um universo de valores democráticos, com as valiosasidéias de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e direitos huma<strong>no</strong>s, pelo me<strong>no</strong>s tentando se a<strong>da</strong>ptar ao <strong>contexto</strong>hodier<strong>no</strong>.Encontramos comumente aspectos "moder<strong>no</strong>s" e "tradicionais" integrados num únicoprocesso sócio-cultural (CAVALCANTI, 2001: 69).A presença e interpenetração de <strong>tradições</strong> <strong>culturais</strong> distintas, mesmo em países decultura consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>, como a França, incita movimentos que podem ser resumidos <strong>no</strong>que tem sido de<strong>no</strong>minado "desterritorialização <strong>da</strong> cultura", não há dúvi<strong><strong>da</strong>s</strong> de queessa ampliação <strong>no</strong> conceito de patrimônio cultural contribui para aproximar aspolíticas <strong>culturais</strong> dos <strong>contexto</strong>s multiétnicos, multi-religiosos e extremamenteheterogêneos que caracterizam as socie<strong>da</strong>des contemporâneas.No âmbito <strong><strong>da</strong>s</strong> políticas internacionais e nacionais existem algumas instâncias decrítica e controle sobre as questões e situações relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> à proteção do patrimôniocultural. Organismos internacionais como a UNESCO e a OMPI (OrganizaçãoMundial para a Proprie<strong>da</strong>de Intelectual), e nacionais, como os ministérios,secretarias, centros e fun<strong>da</strong>ções de cultura, universi<strong>da</strong>des, programas e projetosespecíficos, estão, ideal e potencialmente, voltados para a salvaguar<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> culturastradicionais e dos bens referenciais para as identi<strong>da</strong>des coletivas; para a garantia <strong><strong>da</strong>s</strong>condições de vi<strong>da</strong>, de trabalho e dos direitos ple<strong>no</strong>s para as pessoas e comuni<strong>da</strong>desprodutoras desse patrimônio.Ao longo do século passado, pode-se dizer que os recursos destinados para tanto nãoforam suficientes entre tantos outros problemas, mas muitas políticas e programasforam implementados, e alguns foram bem-sucedidos. O que não deixa de seranimador diante do quadro alarmante de desigual<strong>da</strong>de social, intolerância étnica esubordinação sócio-cultural que se apresenta neste início de século XXI.Este quadro sinaliza mais uma vez, a urgência do reconhecimento e respeito pelasdiferenças <strong>culturais</strong>; a necessi<strong>da</strong>de em afirmar e garantir a possibili<strong>da</strong>de de redutos de<strong>tradições</strong> que fun<strong>da</strong>m autentici<strong>da</strong>des <strong>culturais</strong>, visões de mundo e identi<strong>da</strong>des sócio<strong>culturais</strong>autô<strong>no</strong>mas, mas não obstante às instâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em que há maior oume<strong>no</strong>r integração coletiva ao "modo de vi<strong>da</strong> moder<strong>no</strong>". Equacionar a conservação deplurali<strong>da</strong>de cultural e supressão de desigual<strong>da</strong>des sociais parece configurar uma <strong><strong>da</strong>s</strong>grandes questões a serem enfrenta<strong><strong>da</strong>s</strong> pela humani<strong>da</strong>de, <strong>no</strong> início do século XXI.No mundo hodier<strong>no</strong>, vive-se ca<strong>da</strong> vez mais em situações de interculturali<strong>da</strong>de, emcenários onde diversos sistemas <strong>culturais</strong> se interpenetram e se cruzam. Nessescenários, tornam-se obsoletas as teorias de "contato cultural", pois não mais se tratade mapear apenas as marcas do confronto entre culturas desenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong>separa<strong>da</strong>mente, demarcando a diferença, mas de observar que os grupos se apropriamde maneiras desiguais dos elementos de várias socie<strong>da</strong>des, rearranjando-os <strong>no</strong> queCanclini de<strong>no</strong>mina processo de hibridização (CANCLINI, 1997). Outros preferemutilizar o termo transculturalismo para definir os processos que resultam emsimbioses <strong>culturais</strong>: "o transcultural não é a combinação de elementos que antes erampuros; esses elementos já são produtos trans<strong>culturais</strong>, e nunca, na história cultural domundo, pode ser encontrado um elemento que não tenha passado por algum processo


transcultural".O termo transcultural se aplicaria também às relações entre grupos diferentes numamesma socie<strong>da</strong>de, uma vez que nestas coexistem grupos detentores de umaplurali<strong>da</strong>de de <strong>tradições</strong> demarca<strong><strong>da</strong>s</strong> a partir de distâncias sociais, diferenças étnicas,religiosas, ocupacionais. Aos indivíduos que conseguem ultrapassar essas fronteiras epromover o encontro de mundos <strong>culturais</strong> distintos, creditou-se o título demediadores <strong>culturais</strong> (PAES BARRETO & GODOY LIMA, 2001:81).É em pensar em to<strong><strong>da</strong>s</strong> estas questões que se pode criar uma idéia <strong>da</strong> importância <strong><strong>da</strong>s</strong><strong>tradições</strong> <strong>culturais</strong> <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> <strong>da</strong> globalização. Não há solução para resolver osproblemas deste encontro cultural que a globalização provocou, <strong>no</strong> entanto, háexperiências positivas como o exemplo que o Brasil pode <strong>da</strong>r com relação àtolerância de se conviver com as diversi<strong>da</strong>des.[1] UE (União Européia) - hoje é constituí<strong>da</strong> por 27 Estados Europeus e foiestabeleci<strong>da</strong> em 1992. Nasce como CEE (Comuni<strong>da</strong>de Econômica Européia) em1957, designa<strong>da</strong> em 1973 como CE (Comuni<strong>da</strong>de Européia). Zona de livre comércioe circulação de ci<strong>da</strong>dãos europeus pertencentes ao bloco.[2] NAFTA (North American Free Trade Agreement), em português: Tratado NorteAmerica<strong>no</strong> de Livre Comércio. Envolve Canadá, México e EUA numa atmosfera deLivre Comércio entre os três países. Entrou em vigor em 1º de janeiro de 1994.[3] ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Constituí<strong>da</strong> em 8 de agostode 1967, composta pelos seguintes países: Tailândia, Indonésia, Malásia, Singapura eFilipinas, mas foram estabelecidos acordos de cooperação com o Japão, China eCoréia do Sul. É uma zona de livre comércio.[4] MERCOSUL (Mercado Comum do Sul). Envolve Argentina, Brasil, Paraguai eUruguai. São Estados associados: Chile, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru eVenezuela. Objetiva eliminar as barreiras comerciais entre os países membros dobloco. Foi estabelecido em março de 1991.[5] PETTERS MELO, Milena Imigração e relações inter<strong>culturais</strong> <strong>no</strong> <strong>contexto</strong> <strong>da</strong>globalização. Entre igual<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de, as <strong>no</strong>vas fronteiras <strong>da</strong> democracia.Itália, 2008 (Ementa do curso de formação para as Assistentes Sociais <strong>da</strong> Prefeiturade Nápoles, promovido pelo FORMEZ em maio 2005.[6] PETTERS MELO, Milena. (2007) Tupi or <strong>no</strong>t Tupi? Entre modernismo,tropicalismo e pós-moderni<strong>da</strong>de: breve ensaio sobre a identi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> Brasil. Itália.


Descrição:A globalização, em termos gerais, não foi pensa<strong>da</strong> como um projeto ou iniciativa deum gover<strong>no</strong> ou de um Estado, mas é um grande mercado que se formou por enti<strong>da</strong>despúblicas e priva<strong><strong>da</strong>s</strong> que coman<strong>da</strong>m e controlam hegemonicamente o mercadoempresarial mundial. Tomou forma após a segun<strong>da</strong> guerra mundial, se remodeloucom a decadência <strong>da</strong> URSS (União <strong><strong>da</strong>s</strong> Repúblicas Socialistas Soviéticas) e doregime socialista, consoli<strong>da</strong>ndo o sistema capitalista representado pelo gigante EUA.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!