12.07.2015 Views

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da ...

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da ...

Relações filogenéticas, biogeografia histórica e evolução da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Erika Sendra Tavares<strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong>, <strong>biogeografia</strong> <strong>histórica</strong> e <strong>evolução</strong> <strong>da</strong>organização de genes mitocondriais dos psitacídeosneotropicais (tribo Arini: Psittaci<strong>da</strong>e: Psittaciformes)São Paulo2005ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.128 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2005 – P. 5


Erika Sendra Tavares<strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong>, <strong>biogeografia</strong> <strong>histórica</strong> e <strong>evolução</strong> <strong>da</strong>organização de genes mitocondriais dos psitacídeosneotropicais (tribo Arini: Psittaci<strong>da</strong>e: Psittaciformes)Tese apresenta<strong>da</strong> ao Instituto de Biociências<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, para aobtenção de Título de Doutor em Ciências, naÁrea de Biologia/ Genética.Orientadora: Profa. Dra. Cristina Yumi MiyakiSão Paulo2005


Tavares, Erika Sendra<strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong>, <strong>biogeografia</strong><strong>histórica</strong> e <strong>evolução</strong> <strong>da</strong> organização de genesmitocondriais dos psitacídeos neotropicais (triboArini: Psittaci<strong>da</strong>e: Psittaciformes)86 páginasTese (Doutorado) - Instituto de Biociências<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo. Departamento deBiologia.1. Psitacídeos neotropicais 2. Filogeniamolecular 3. tribo Arini 4. Organização dos genesmitocondriais I. Universi<strong>da</strong>de de São Paulo.Instituto de Biociências. Departamento deGenética e Biologia Evolutiva.Comissão Julgadora:__________________________Prof. (a) Dr. (a)__________________________Prof. (a) Dr. (a)__________________________Prof. (a) Dr. (a)__________________________Prof. (a) Dr. (a)__________________________Profa. Dra. Cristina Yumi Miyaki


Ao Rafinha, Tião e Ilka, commuito amor


Strange fascination, fascinating me,Changes are taking the pace I am going through,David Bowie (Changes, “Hunk Dory”, 1971)


AgradecimentosÀ Dra. Cristina Yumi Miyaki pela orientação com muita dedicação e carinho, pelo incentivo eencorajamento de sempre e pelo muito que me ensinou.Ao Dr. Allan Baker pela oportuni<strong>da</strong>de de estágio e orientação em seu laboratório no RoyalOntario Museum em Toronto, pela empolgação científica contagiante, por todo carinho, apoio pessoale pelas várias explicações sobre muitos assuntos.Ao Sérgio Luiz Pereira pela orientação técnica e sugestões científicas ofereci<strong>da</strong> sempre comgrande disposição e paciência, pelo companheirismo e dicas de sobrevivência em terras distantes.Ao Renato Gaban-Lima pela aju<strong>da</strong> incondicional, discussões e sugestões sobre ospsitacídeos.À Dra. Anita Wajntal e à Dra. Elizabeth Höfling pelo interesse e sugestões.À Camila Ribas pelos conselhos prestimosos durante todo o desenvolvimento <strong>da</strong> tese,companheirismo e discussões científicas.À Melina Baumgarten pelas conversas confortantes, incentivo e apoio em muitos momentos.Ao Rogério Lourenço por obter as seqüências de Graydi<strong>da</strong>scalus e Triclaria como parte do seuprojeto de iniciação científica, que foram utiliza<strong>da</strong>s no terceiro capítulo dessa tese.Ao Renato Caparroz pelo empréstimo de livros, materiais e por apresentar grandes amigos noCanadá.Aos amigos de laboratório Adriana Oliveira-Marques, Celina Yoshihara, Cibele Biondo, ErwinGrau, Fábio Raposo, Fernando d’Horta, Fernando No<strong>da</strong>ri, Flávia Presti, Gustavo Cabanne, GustavoYbazeta, Jacqueline Miller, José Patané, Juliana Oliveira, Maryann Burbidge, Mark Pack, Nadia deMoraes-Barros, Nicola Wade, Oliver Haddrath, Polyana Andrioni, Ricardo Yassaka, Rodrigo Pessoa,Sarah Nasser, Tania Matsumoto, Tara Paton, entre outros pela troca de experiências e pelosmomentos agradáveis.Ao Luis Fábio Silveira pela aju<strong>da</strong> prestativa no Museu de Zoologia.À Dra. Marie Anne Van Sluys e Mariana Cabral de Oliveira.do departamento de Botânica porpermitir o uso do sequenciador automático.À Elisângela Que<strong>da</strong>s e Silvia Blanco pela grande aju<strong>da</strong> com o seqüênciamento automático.Ao Dr. Carlos Frederico Martins Menck do Instituto de Biociências pelo empréstimo <strong>da</strong> chavedo programa de computador.Às amigas Helenice Hirata, Lucilene <strong>da</strong> Silva, Maria Andrade, por to<strong>da</strong> aju<strong>da</strong> prestativa,ofereci<strong>da</strong> sempre com muita disposição.Aos amigos e colegas de instituição no Brasil e no Canadá Adriana (Adri), Andréia Ramirez,Antônia Cerqueira (Toninha), Bill, Carla D’Angelo, Cláudia Fábris, Cléber Costa, Cibele Masotti,Cristiane Iughetti, Fátima, Gisele, Ilana Kohl, Mônica Varela, Patrícia Faria, Roseli Zanelato, SilviaGeurgas entre tantos outros pela convivência e por compartilhar momentos alegres.Aos professores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências(USP), pela aju<strong>da</strong> e sugestões.Aos funcionários do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva e <strong>da</strong> pós-graduação doInstituto de Biociências (USP) e do Royal Ontario Museum pelo suporte.


Às pessoas e instituições que cederam o material biológico utilizado nessa tese: African SafariZoo, Parque Ecológico do Tietê, UNESP, Zoológico de Sorocaba, Zoológico de Americana, ZoológicoCyro-Gevaerd, Fun<strong>da</strong>ção Crax, Museu Paraense Emílio Goeldi, Field Museum of Natural History eaviculturistas.À Fun<strong>da</strong>ção de Amparo a Pesquisa no Estado de São Paulo pelo financiamento <strong>da</strong> pesquisa,pela concessão <strong>da</strong> bolsa de doutorado e pelo financiamento do estágio no Royal Ontario Museum.À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ao Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ao Natural Sciences and Engineering ResearchCouncil of Cana<strong>da</strong> e ao National Science Foun<strong>da</strong>tion (AToL) pelo financiamento <strong>da</strong> pesquisa.À Lynx Edicións pela permissão de uso <strong>da</strong>s figuras do Handbook of the Birds of the Worldvolume 4.Ao Rafinha (Rafael Corrêa) pelo grande apoio, participação e incentivo e por ter tornado todosesses anos extremamente felizes.Aos meus pais Sebastião Tavares e Ilka Tavares e aos meus sogros Valmir Corrêa e LúciaCorrêa por tudo que me ensinaram, pelo amor, dedicação e prontidão em aju<strong>da</strong>r.À Maria Inês Ribeiro Salsa pelo grande suporte, por todo carinho e amor.Aos meus irmãos Katia Tavares, Leonardo Tavares e Tiago Corrêa pelos períodos alegres,pelo incentivo e por to<strong>da</strong> aju<strong>da</strong>.À todos os demais membros <strong>da</strong> minha família e aos meus amigos pelo apoio nos períodosdifíceis e por compartilharem os momentos felizes.


ÍndiceResumo 1Abstract 2Capítulo 1: Introdução geral 3Capítulo 2: <strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong> e <strong>biogeografia</strong> <strong>histórica</strong> dos psitacídeosneotropicais (tribo Arini) com base em seqüências de DNA mitocondriale nuclear 28Capítulo 3: Evolução <strong>da</strong> organzação dos genes mitocondriais ao redor <strong>da</strong> regiãocontroladora em psitacídeos Neotropicais 61Capítulo 4: Considerações finais 83


ResumoCom a finali<strong>da</strong>de de entender melhor as relações <strong>filogenéticas</strong> entre os psitacídeos neotropicais(tribo Arini), foram seqüenciados 6416 pares de bases de genes nuclear (RAG-1) e mitocondriais(citocromo b, NADH2, ATPase 6, ATPase 8, COIII, DNAr 12S e DNAr 16S) de 29 espéciespertencentes a 25 dos 30 gêneros reconhecidos atualmente. As análises <strong>filogenéticas</strong> utilizando osmétodos de máxima verossimilhança e análise bayesiana evidenciaram que, dentre os psitacídeosneotropicais, o clado formado por Nannopsittaca e Bolborhynchus é grupo irmão de todos os outrosgêneros, que por sua vez são agrupados em dois clados. Esses clados compreendem: um grupo depapagaios, caturritas, curicas e afins e outro grupo que inclui as araras, marianinhas, tiriba e afins. A<strong>da</strong>tação molecular utilizando uma calibração geológica (separação <strong>da</strong> Nova Zelândia há 82-85 milhõesde anos, ma) sugere que os psitacídeos neotropicais compartilharam ancestral comum com um grupode psitacídeos Australianos no final do Cretáceo (65 ma), portanto a divergência dessas linhagenspoderia ser atribuí<strong>da</strong> ou intensifica<strong>da</strong> pela separação dos continentes. Os ancestrais dos psitacídeosneotropicais atuais poderiam estar distribuídos na América do Sul e Antártica ou somente no primeirocontinente. Hipóteses <strong>da</strong> diversificação no grupo foram levanta<strong>da</strong>s relacionando fatores históricos comos padrões de cladogênese encontrados.Seqüências mitocondriais <strong>da</strong> região controladora e regiões flanqueadoras determina<strong>da</strong>s paravários táxons de psitacídeos neotropicais evidenciaram a existência de dois arranjos gênicos.Nannopsittaca <strong>da</strong>chilleae, Bolborhynchus lineola, Myiopsitta monachus, Brotogeris chiriri, Araararauna, Anodorhynchus hyacinthinus, Cyanoliseus patagonus, Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis,Enicognathus lepthorhynchus, Guarouba guarouba, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis,Pyrrhura picta e Rhynchopsitta pachyryncha apresentam a ordem dos genes descrita inicialmente emGallus gallus e posteriormente sugeri<strong>da</strong> como o arranjo mais freqüente em aves. Graydi<strong>da</strong>scalusbrachyurus, Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi, Triclaria malachitacea, Deroptyus accipitrinus,Pionites leucogaster e Forpus crassirostris revelaram um rearranjo de genes com duplicação <strong>da</strong> regiãocontroladora, como descrito inicialmente para psitacídeos neotropicais dos gêneros Amazona ePionus. Em Deroptyus e Pionites também foram encontrados pseudogenes exclusivos. Com base nomapeamento dessas duas organizações gênicas na filogenia proposta para o grupo (manuscrito 1,anexo) propusemos dois mecanismos para explicar a distribuição <strong>da</strong> ordem gênica no grupo. Noprimeiro, poderia ter ocorrido três eventos de duplicação de genes seguido de três eventos de deleçãoque poderiam levar ao arranjo com a duplicação <strong>da</strong> região controladora. Alternativamente, teriaocorrido um único evento de duplicação de genes seguido de cinco eventos independentes de deleçãode genes, dois reverteriam para a organização original e três <strong>da</strong>riam origem à ordem alternativa.Ambos os cenários assumem convergência e seis eventos envolvendo duplicação ou deleção degenes.1


AbstractTo clarify the phylogenetic relationships among the genera of Neotropical parrots we analyzed6416 base pairs of nuclear (RAG-1) and mitochondrial DNA sequences (cytochrome b, NADH2,ATPase 6, ATPase 8, COIII, 12S rDNA, and 16S rDNA) from 29 species belonging to 25 out of the 30genera. Phylogenetic analyses using maximum likelihood and Bayesian methods showed that withinNeotropical parrots, Nannopsittaca and Bolborhynchus form the sister clade to all other genera, whichin turn are grouped in two distinctive clades. These two derived clades partition amazons and theirallies from macaws, conures, and related taxa. Molecular <strong>da</strong>ting with a geological calibration for theseparation of New Zealand (82-85 million years, Myr) suggests that the Neotropical parrots shared acommon ancestor with Australian parrots around the end of the Cretaceous (65 Myr), and thus, theirdivergence could be explained by vicariance. The three Neotropical clades may have diverged whilethey were in the Antarctica-South America block, or in South America only. Hypothesis of thediversification in these groups relating historical factors and cladogenesis pattern in were proposed.Sequences of the mitochondrial control region and flanking genes of Ara ararauna,Anodorhynchus hyacinthinus, Bolborhynchus lineola, Brotogeris chiriri, Cyanoliseus patagonus,Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis, Enicognathus leptorhynchus, Guarouba guarouba, Myiopsittamonachus, Nanopsittaca <strong>da</strong>chilleae, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis, Pyrrhura picta, andRhynchopsitta pachiryncha show the same gene arrangement first described in Gallus gallus, (which isthe most common mitochondrial genome arrangement in birds). Sequences of the same region inAmazona xanthops, Deroptyus accipitrinus, Forpus crassirostris, Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus,Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi, Pionites melanocephala, and Triclaria malachitacearevealed an arrangement of genes with a duplication of the control region, as previously reported inNeotropical parrots from the genera Amazona and Pionus. Exclusive pseudogenes occur in Deroptyusand Pionites. The mapping of these characters in a phylogenetic proposal for the group suggestsambiguity on the inference of the ancestral states of the clades. Two models were proposed andcompared, considering six events of duplication and deletion of genes.2


Capítulo 1Introdução


1.1. Apresentação GeralCapítulo 1Na presente tese as relações evolutivas entre psitacídeos neotropicais foram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelaanálise de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Os resultados foram comparados comclassificações e propostas sistemáticas prévias. Foram realiza<strong>da</strong>s estimativas dos tempos dedivergência entre as linhagens, a partir <strong>da</strong>s quais foram levanta<strong>da</strong>s hipóteses biogeográficas.Adicionalmente, a <strong>evolução</strong> <strong>da</strong> ordem dos genes mitocondriais ao redor <strong>da</strong> região controladora foiestu<strong>da</strong><strong>da</strong>.A tese está organiza<strong>da</strong> em capítulos. O presente capítulo 1 é uma introdução geral quedescreve o contexto no qual o trabalho se insere, com ênfase nos organismos estu<strong>da</strong>dos e métodos deanálise utilizados. Já nos capítulos 2 e 3 são apresentados os <strong>da</strong>dos obtidos em forma de manuscritosa serem submetidos para publicação. O último capítulo se refere às considerações finais referentesaos manuscritos.1.2. Psitacídeos1.2.1. Informações sistemáticas e <strong>filogenéticas</strong>A ordem Psittaciformes inclui as araras, papagaios, periquitos, maracanãs e cacatuas. Aprincipal característica compartilha<strong>da</strong> pelos táxons pertencentes ao grupo é a forma do bico, cujamaxila superior é curva e envolve a maxila inferior (Smith, 1975; Forshaw, 1989; Sibley e Alquist,1990). Propostas <strong>filogenéticas</strong> recentes com base em evidências moleculares e morfológicas (Sibley eAlquist, 1990; Cooper e Penny, 1997; Cracraft, 2001; Livezey e Zusi, 2001; Mayr e Clarke, 2003;García-Moreno e col., 2003; Harrison e col., 2004) sugerem que o grupo faz parte <strong>da</strong>s Neoaves deNeognathae, porém sua posição filogenética em relação às demais ordens de Neoaves ain<strong>da</strong> não ébem resolvi<strong>da</strong> (Figura 1.1).Figura 1.1. <strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong> entre os grandes grupos de aves (modificado de García-Moreno ecol., 2003).4


Capítulo 1Os Psittaciformes são uma <strong>da</strong>s ordens de aves mais abun<strong>da</strong>ntes em número de espécies,incluindo cerca de 350 espécies (distribuí<strong>da</strong>s em 84 gêneros). Ocorrem no neotrópico, região africana,sul asiática e australiana (Forshaw, 1989, Collar, 1997; Rowley, 1997) (Figura 1.2).30 gêneros 4 gêneros 50 gênerosFigura 1.2. Distribuição dos gêneros <strong>da</strong> ordem Psittaciformes (del Hoyo e col., 1997).Atualmente são reconheci<strong>da</strong>s duas famílias na ordem, Cacatui<strong>da</strong>e (inclui as subfamíliasCalyptohynchinae, Cacatuinae e Nymphicinae) e Psittaci<strong>da</strong>e (Loriinae e Psittacinae) (Forshaw, 1989,Collar, 1997; Rowley, 1997). No entanto, estudos filogenéticos recentes evidenciaram que a famíliaPsittaci<strong>da</strong>e como é reconheci<strong>da</strong> atualmente não é monofilética. Análises <strong>filogenéticas</strong> do gene nuclearRAG-1 e de íntrons localizados nos cromossomos sexuais de um grande número de gêneros <strong>da</strong> ordemPsittaciformes sugerem que os gêneros Strigops (tribo Strigopini: Psittacinae: Psittaci<strong>da</strong>e) e Nestor(Nestorini: Psittacinae: Psittaci<strong>da</strong>e) exclusivos <strong>da</strong> Nova Zelândia são grupo irmão de todos os demaisgêneros de psitacídeos atuais (Barrowclough e col., 2004; de Kloet e de Kloet, 2005), Cacatui<strong>da</strong>e é opróximo clado monofilético e é grupo irmão <strong>da</strong>s demais tribos <strong>da</strong> família Psittaci<strong>da</strong>e (Barrowclough ecol., 2004).Os psitacídeos neotropicais formam o grupo de espécies mais numeroso <strong>da</strong> ordem (com cerca150 espécies) e atualmente inclui 30 gêneros (Collar, 1997). Apresentam uma grande variação detamanho, preferência de hábitat, distribuição geográfica e comportamento (Forshaw, 1989). A5


Capítulo 1sistemática dos gêneros neotropicais sofreu diversas modificações ao longo do tempo (ex. Salvadori,1891; Miran<strong>da</strong>-Ribeiro, 1920; Peters, 1937; Pinto, 1937, 1978; Forshaw, 1989; Sick, 1997; Collar,1997). Alguns sistematas, com base em morfologia externa, anatomia e comportamento (Salvadori,1891; Boetticher, 1943, 1959; Verheyen, 1956; Brereton, 1963) distribuíam os gêneros neotropicais emdois grupos de composição variável, em alguns casos incluindo táxons de outras regiões geográficas(Tabela 1.1).Tabela 1.1. Grupos de gêneros de psitacídeos neotropicais (em alguns casos incluindo gênerosafricanos, sublinhados). Os nomes dos gêneros correspondem à Collar (1997), exceto Propyrrhurapara o qual foi adotado Primolius (Penhallurick, 2001).AutoresSalvadori(1891)Verheyen(1956)Boetticher(1943, 1959)Brereton(1963)Smith (1975)Miyaki e col.(1998)de Kloet e deKloet (2005)Pioninae: Amazona, DeroptyusGraydi<strong>da</strong>scalus, HapalopsittacaPionites, Pionus, Pionopsitta,Triclaria, Touit, PoicephalusAmazoninae: Amazona, DeroptyusGraydi<strong>da</strong>scalus, Pionites, Pionus,Pionopsitta, Triclaria, Touit.Psittacini: Amazona, DeroptyusGraydi<strong>da</strong>scalus, HapalopsittacaPionites, Pionus, Pionopsitta,Triclaria, Touit, Poicephalus,Psittacus, CoracopsisForpi<strong>da</strong>e: Forpus, Bolborhynchus,PsilopsiagonGruposConurinae: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Cyanoliseus, Cyanopsitta,Diopsittaca, Enicognathus, Forpus, Guarouba,Leptosittaca, Myiopsitta, Nan<strong>da</strong>yus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca,Primolius, Psilopsiagon, Pyrrhura,RhynchopsittaArinae: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Brotogeris, Cyanoliseus,Cyanopsitta, Diopsittaca, Enicognathus,Forpus, Guarouba, Leptosittaca, Myiopsitta,Nan<strong>da</strong>yus, Nannopsittaca, Ognorhynchus,Orthopsittaca, Primolius, Psilopsiagon,Pyrrhura, RhynchopsittaAraini: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Bolborhynchus, Cyanoliseus, Cyanopsitta,Diopsittaca, Enicognathus, Forpus, Guarouba,Leptosittaca, Myiopsitta, Nan<strong>da</strong>yus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca,Primolius, Psilopsiagon, Pyrrhura,RhynchopsittaAmazoni<strong>da</strong>e: Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Pionites, Pyrrhura, Pionopsitta, Deroptyus,Amazona, Brotogeris, PionusArini: Amazona, Anodorhynchus, Ara, Aratinga, Bolborhynchus, Brotogeris,Cyanoliseus, Cyanopsitta, Deroptyus, Diopsittaca, Enicognathus, Forpus,Graydi<strong>da</strong>scalus, Guarouba, Hapalopsittaca, Leptosittaca, Myiopsitta, Nan<strong>da</strong>yus,Nannopsittaca, Ognorhynchus, Orthopsittaca, Pionites, Pionopsitta, Pionus, Primolius,Psilopsiagon, Pyrrhura, Rhynchopsitta, Triclaria, TouitCau<strong>da</strong> curta: Amazona, PionusAmazona, Forpus,Graydi<strong>da</strong>scalus,Pionus, TriclariaMyiopsitta,BrotogerisCau<strong>da</strong> longa: Anodorhynchus, Ara, AratingaCyanopsitta, Deroptyus, Diopsittaca,Guarouba, PyrrhuraAnodorhynchus, Ara, Aratinga, Cyanoliseus,Deroptyus, Guarouba, Pionites, Pyrrhura,RhynchopsittaVerheyen (1956) agrupou exclusivamente táxons neotropicais nas famílias Amazoninae eArinae e sugeriu que esses grupos compartilham características morfológicas (presença de quatro6


Capítulo 1vértebras dorsais, uma única caróti<strong>da</strong> dorsal, entre outras) que os distinguem dos psitacídeos <strong>da</strong>sdemais regiões geográficas, mas não sugeriu uma categoria para agrupá-los. Em uma revisãoabrangente <strong>da</strong> sistemática <strong>da</strong> ordem Psittaciformes, Smith (1975) agrupou todos os táxonsneotropicais na tribo Arini (família Psittaci<strong>da</strong>e) com base em dois caracteres exclusivos (eclosão dosfilhotes com canal auditivo imperfurado e postura copulatória em uma perna) e outros caracterescomuns, porém não exclusivos (fórmula caróti<strong>da</strong> do tipo A-2-s, bicos marrons, pretos ou brancos,sistema de coloração <strong>da</strong>s penas com padrão “Dyck-texture” que inclui cor verde, com azul e/ ouvermelho) e considerou artificiais os agrupamentos internos até então propostos na tribo (Tabela 1.1).Na falta de7


Capítulo 1Esse conjunto de <strong>da</strong>dos foi ampliado para um total de 3.245 pb com a adição dos genesmitocondriais citocromo oxi<strong>da</strong>se I e região controladora e um total de 13 espécies de psitacídeosneotropicais (Tavares, 2001; Tavares e col. 2004), com a finali<strong>da</strong>de de entender melhor as relações<strong>filogenéticas</strong> entre os gêneros pertencentes a um dos grupos obtidos anteriormente (Miyaki e col.,1998). Entre os resultados obtidos nessas novas análises, Myiopsitta monachus não agrupa com osdemais táxons de cau<strong>da</strong> longa (Tavares, 2001), algumas espécies de mesmo gênero formam cladosmonofiléticos e um agrupamento nunca mencionado entre os gêneros monoespecíficos Guaroubaguarouba e Diopsittaca nobilis foi recuperado (Figura 1.4). No estudo filogenético de íntrons localizadonos cromossomos sexuais Z e W três grupos de gêneros neotropicais foram recuperados (Tabela 1.1;de Kloet e de Kloet, 2005), sendo que dois dos mesmos apresentaram composição semelhante aosgrupos obtidos nas análises <strong>filogenéticas</strong> anteriores (Miyaki e col., 1998; Tavares e col. 2004). Noentanto, as relações entre os grupos e entre os gêneros pertencentes a ca<strong>da</strong> um desses grupospermaneceram desconheci<strong>da</strong>s. Adicionalmente, filogenias dos níveis taxonômicos de gênero e espéciesugeriram a ausência de monofiletismo nos gêneros Aratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares, 2001;Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004; Ribas e col., 2005).a) b)Figura 1.4. <strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong> entre gêneros de psitacídeos neotropicais com base em seqüênciasde DNA mitocondrial. a) por máxima verossimilhança com base em 2.332 pb, números correspondemao suporte por “quartet puzzle” (Tavares, 2001); b) por máxima verossimilhança com base em 3.246pb, números correspondem ao suporte por “bootstrap”: máxima parcimônia/ máxima verossimilhança(Tavares e col., 2004).8


1.2.2. Importância <strong>da</strong> tribo Arini para a biologia evolutivaCapítulo 1O estudo <strong>da</strong>s relações evolutivas entre as linhagens de psitacídeos neotropicais é necessáriopara entender vários aspectos evolutivos, já que além de numeroso (inclui cerca de 150 espécies), éum grupo relativamente heterogêneo. Estão distribuídos por to<strong>da</strong> a região neotropical, ondeapresentam padrões de exploração de hábitats muito variáveis. Algumas espécies são endêmicas aregiões muito particulares, como Cyanopsitta spixii em mata ciliar aberta na região de Curaçá eGuarouba guarouba em floresta de terra firme ao norte do Maranhão e Pará, enquanto outras sedistribuem em amplas áreas, como Ara ararauna que ocorre em buritizais, babaçuais e beira de mata<strong>da</strong> América Central ao sul do Brasil e Aratinga leucophthalmus em orlas de mata <strong>da</strong>s Guianas àArgentina (Collar, 1997; Sick, 1997; Forshaw, 1989). Existe uma grande variação de tamanho,coloração de plumagem e comportamento entre as linhagens. Por exemplo, as menores espécies,pertencentes ao gênero Forpus, pesam 25 gramas, enquanto a arara-azul grande, Anodorhynchushyacinthinus, pesa cerca de 1500 gramas (Sick, 1997; Forshaw, 1989). Quanto à coloração, algumasespécies são predominantemente verdes (ex. espécies dos gêneros Amazona, Pionus, Pyrrhura eEnicognathus), outras são vermelhas (ex. Ara macao e Ara chloroptera), azuis (ex. Anodorhynchus eCyanopsitta) ou amarelas (ex. complexo Aratinga solstitiais e Guarouba guarouba). Nidificam emparedões rochosos (ex. Anodorhynchus leari), ocos (ex. Cyanopsitta, Nan<strong>da</strong>yus), cupinzeiros (ex.Aratinga aurea) ou constróem ninho de gravetos (exclusivamente Myiopsitta monachus) (Collar, 1997).Alguns gêneros como Pionopsitta, Aratinga, Pyrrhura, Pionites, Touit, Forpus, Brotogeris eAmazona incluem espécies e subespécies com distribuições restritas, sendo bons modelos paraestudos de padrões biogeográficos (vide Ribas, 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004;Ribas e col. 2005). No entanto, a falta de conhecimento <strong>da</strong>s relações entre gêneros, dificulta a escolhade bons grupos externos. Além disso, alguns gêneros monotípicos, são representantes únicos dealgumas <strong>da</strong>s linhagens atuais que estão seriamente ameaçados de extinção, por exemplo, Cyanopsittaspixii e Guarouba guarouba, o que torna urgente a necessi<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r vários aspectos dessasespécies, inclusive suas posições <strong>filogenéticas</strong>, afim de se obter mais informação a respeito dosmesmos antes que sejam extintos. Muitas espécies de psitacídeos neotropicais são vulneráveis ouameaça<strong>da</strong>s de extinção e o conhecimento de suas relações evolutivas pode auxiliar trabalhos maisespecíficos voltados aos planos de conservação e manejo (Collar e col., 1992; Beissinger, 2000;Owens e Bennet, 2000).9


1.2.3. BiogeografiaCapítulo 1Com base na atual distribuição <strong>da</strong>s espécies (Figura 1.2) e no registro fóssil, Glenny (1954)sugeriu que a ordem Psittaciformes se originou no continente antártico após o limite entre o Cretáceo-Terciário, a partir do qual as espécies dispersaram para os continentes sul-americano, Austrália eNova Zelândia e a colonização africana teria ocorrido por migrações transoceânicas. Também combase na distribuição dos gêneros atuais, porém assumindo uma i<strong>da</strong>de mais antiga para a origem dogrupo, Cracraft (1973, 2001) sugeriu que a ordem Psittaciformes, entre outras ordens de aves comdistribuição semelhante, possivelmente se originou no antigo continente <strong>da</strong> Gondwana e que aseparação dos blocos desse grande continente teve uma função importante na diversificação <strong>da</strong>sprimeiras linhagens desses grupos.Algumas evidências recentes vêm corroborando a hipótese de origem na Gondwana para ogrupo. Estudos de <strong>da</strong>tação molecular sugerem que a diversificação de Neoaves e Galloanserae(Figura 1.1), ocorreu entre 80-110 milhões de anos (ma; Hedges e col., 1996; Cooper e Peny, 1997;van Tuinen e Hedges, 2001; Paton e col., 2002). Corroborando essa idéia, foi reanalisadorecentemente um fóssil de ave (Vegavis iaai), posicionado filogeneticamente na ordem Anseriformes e<strong>da</strong>tado de 66-68 ma, o que sugere que pelo menos a ordem atual Anseriformes já estaria diferencia<strong>da</strong>antes do limite entre o Cretácio-Terciário (Clarke e col., 2005). Adicionalmente, os <strong>da</strong>dos recentes defilogenia molecular de psitacídeos sugerem que os gêneros <strong>da</strong> Nova Zelândia são grupo irmão dosdemais táxons atuais e o padrão de diversificação dos demais grupos seguindo um padrão coincidentecom a separação dos continentes também reforçam uma possível origem na Gondwana(Barrowclough, 2004; de Kloet e de Kloet, 2005). Um padrão semelhante é descrito em Passeriformes(Ericson e col. 2003).O registro fóssil de Psittaciformes não contribui para eluci<strong>da</strong>r essa e outras questões. O fóssilmais antigo descrito como psitacídeo é uma mandíbula inferior encontrado na região de Wyoming nosEUA e <strong>da</strong>ta de mais de 65 ma (Stidham, 1998). Apesar disso, a identificação morfológica <strong>da</strong>sestruturas do fóssil como sendo uma mandíbula de psitacídeo foi fortemente questiona<strong>da</strong> (Dyke eMayr, 1999). Outros fósseis de Psittaciformes, porém sem posição filogenética conheci<strong>da</strong>, foramdescritos na França (sítio arqueológico “La Bouffie”), no período Eoceno superior (por volta de 50 ma).Devido a diferenças osteológicas em relação aos demais psitacídeos atuais, foram consideradospertencentes a uma família à parte, Quercypsitti<strong>da</strong>e, atualmente extinta (Chauviré, 1992). Um outrofóssil de psitacídeo, também encontrado na França, é o Archaeopsittacus verreauxi, <strong>da</strong>tado entre oOligoceno Superior e o Mioceno Inferior (Forshaw, 1989). Além destes, existem fósseis de gêneros10


Capítulo 1atuais mais recentes que <strong>da</strong>tam dos períodos Terciário (Boles, 1993; Boles, 1998) e Quaternário(Collar, 1997).Datações moleculares sugerem que a separação entre o periquito australiano (Melopsittacusundulatus) e alguns táxons neotropicais ocorreu por volta de 76 ma (Miyaki e col., 1998) o que tambémestaria de acordo com a hipótese de que a separação dos continentes teve um papel importante nadiversificação desses grupos. A divergência entre os gêneros de psitacídeos neotropicais foi estima<strong>da</strong>entre o Eoceno-Oligoceno e durante o Mioceno (16-27 ma) e foi associa<strong>da</strong> a mu<strong>da</strong>nças ambientais emconsequência de mu<strong>da</strong>nças no nível do mar, orogenia dos Andes e expansão de ambientes de florestae de áreas secas (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004). Já o intervalo de divergências entreespécies do mesmo gênero de psitacídeos foi estimado entre 0,5 e 1,3 ma (Tavares e col., 2004; Ribase Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005).1.3. Inferências <strong>filogenéticas</strong> basea<strong>da</strong>s em seqüências de DNA1.3.1.Aspectos geraisFilogenias são basea<strong>da</strong>s no princípio de que todos os organismos atuais e extintos sãointerligados por relações de ancestrali<strong>da</strong>de comum. A principal meta dos estudos filogenéticos élevantar as hipóteses mais prováveis sobre história evolutiva entre os organismos. Com base noprincípio de ancestrali<strong>da</strong>de comum, a <strong>evolução</strong> ocorre por processos de ramificação, onde umalinhagem se divide em duas ou mais, portanto, as hipóteses sobre as relações evolutivas entre osorganismos são ilustra<strong>da</strong>s em gráficos chamados de árvores <strong>filogenéticas</strong>. O padrão de ramificação deuma árvore é chamado de topologia (Graur e Li, 2000). Muitas são as aplicações dos estudosfilogenéticos, entre elas, estabelecer sistemas de classificação biológica que refletem a <strong>evolução</strong> dosorganismos e permitir interpretações de diversos processos evolutivos morfológicos, moleculares ebiogeográficos. Com o desenvolvimento <strong>da</strong>s técnicas moleculares, surgiu a filogenia molecular, ouseja, o estudo <strong>da</strong>s relações evolutivas entre os organismos pelo uso de marcadores moleculares(Moritz e Hillis, 1996; Graur e Li, 2000).Sibley e Alquist (1990) realizaram um dos primeiros trabalhos de maior impacto na áreamolecular de aves. Esses autores utilizaram a técnica de hibri<strong>da</strong>ção DNA-DNA entre pares de táxonsrepresentantes de praticamente to<strong>da</strong>s as ordens de aves a fim de tentar entender as relações entreesses grupos. Apesar dos vários resultados significativos que eles obtiveram, problemasmetodológicos e empíricos permaneceram sem solução e muitas <strong>da</strong>s relações ain<strong>da</strong> não foramresolvi<strong>da</strong>s (Garcia-Moreno e col., 2003). Recentemente, seqüências de DNA mitocondriais e nucleares11


Capítulo 1têm sido muito emprega<strong>da</strong>s em reconstruções <strong>filogenéticas</strong> em diferentes níveis taxonômicos de aves(ex. Miyaki e col., 1998, Haddrath e Baker, 2001; Pereira e col., 2002, Paton e col., 2002; Nahum ecol., 2003; Harrison e col., 2004).1.3.2. Heterogenei<strong>da</strong>de de taxas de substituição de nucleotídeos e modelagemO princípio básico <strong>da</strong>s inferências <strong>filogenéticas</strong> com base em seqüências de DNA, é que apartir <strong>da</strong> divergência entre dois táxons, o número de diferenças nas suas seqüências homólogas deDNA aumentaria proporcionalmente ao longo do tempo. No entanto, a comparação de seqüênciashomólogas entre os táxons revelou que ca<strong>da</strong> sítio evolui sob condições muito particulares. Em algunscasos essas diferenças podem ser associa<strong>da</strong>s a uma pressão seletiva devido à sua função. Porexemplo, em genes codificadores de proteínas, os sítios correspondentes à terceira posição do códonestão mais sujeitos à variação do que os correspondentes à primeira e à segun<strong>da</strong> posição, porquemutações na terceira posição alteram menos frequentemente o aminoácido correspondente devido ànatureza degenera<strong>da</strong> do código genético (Graur e Li, 2000; Nei e Kumar, 2000). Essa heterogenei<strong>da</strong>defaz com que em alguns conjuntos de <strong>da</strong>dos existam sítios tão conservados que não apresentamsubstituições entre táxons distantemente relacionados, enquanto em outros sítios a variação é muitogrande, a ponto de mascarar o sinal filogenético devido à presença de substituições múltiplas mesmoentre linhagens próximas taxonomicamente. Esse problema é ain<strong>da</strong> maior nas inferências <strong>filogenéticas</strong>entre grupos taxonômicos mais distantemente relacionados (Swofford, 1996; Holder e Lewis, 2003;Felsenstein, 2004).Além disso, alguns tipos de substituições entre os sítios ocorrem com maior freqüência do queoutros e as substituições também estão sujeitas à freqüência de bases que ocorre no segmentoestu<strong>da</strong>do. Todos esses fatores mencionados podem interferir nas inferências <strong>filogenéticas</strong> aumentandoo número de substituições paralelas ou reversões de estado, que não podem ser detectados pelasimples comparação <strong>da</strong>s seqüências dos táxons atuais. No entanto, foram desenvolvidos diversosmodelos evolutivos que descrevem o padrão de substituição de nucleotídeos no DNA em diferentesconjuntos de <strong>da</strong>dos. Existem diferentes testes e critérios para escolher o modelo evolutivo maisadequado para um conjunto de <strong>da</strong>dos, como o teste de razão de verossimilhança (“likelihood ratiotest”, Felsenstein, 1988; Posa<strong>da</strong>, 2003) e o critério de informação Akaike (Posa<strong>da</strong> e Cran<strong>da</strong>ll, 1998;Posa<strong>da</strong>, 2003) e, em geral, os valores dos parâmetros são estimados a partir dos <strong>da</strong>dos (Swofford ecol., 1996). Na presente tese, foram empregados os métodos de máxima verossimilhança e análise12


Capítulo 1bayesiana (descritos a seguir) que incorporam modelos evolutivos explícitos (Swofford, 1996; Holder eLewis, 2003; Felsenstein, 2004) .1.3.3. Máxima verossimilhançaO método <strong>da</strong> máxima verossimilhança busca a hipótese filogenética com maior probabili<strong>da</strong>dede explicar a distribuição dos estados de caráter nos táxons atuais, com base em um modelo evolutivopreviamente definido e estados de caracteres observados nos terminais <strong>da</strong> árvore filogenética(Swofford e col., 1996). Dessa forma, para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> hipótese, representa<strong>da</strong> na forma de umatopologia, a probabili<strong>da</strong>de para as combinações considerando ca<strong>da</strong> possível ancestral de ca<strong>da</strong> nóinterno devem ser calcula<strong>da</strong>s com base no modelo evolutivo. Por esse método, diversas hipóteses sãotesta<strong>da</strong>s pela multiplicação <strong>da</strong>s suas probabili<strong>da</strong>des para ca<strong>da</strong> caráter, que em estudos molecularessão ca<strong>da</strong> sítio de DNA.Por ser um critério de otimização, para se escolher a melhor topologia pela máximaverossimilhança, em princípio to<strong>da</strong>s as topologias possíveis para explicar a história evolutiva dostáxons devem ser testa<strong>da</strong>s. No entanto, dependendo do número de táxons na análise, o cálculo <strong>da</strong>probabili<strong>da</strong>de para to<strong>da</strong>s as possíveis topologias pode ser extremamente demoradocomputacionalmente. Por causa disso, foram desenvolvi<strong>da</strong>s diferentes estratégias de buscasheurísticas, que visam encontrar a melhor topologia, sem necessariamente amostrar to<strong>da</strong>s astopologias possíveis, tornando o método aplicável para grandes conjuntos de <strong>da</strong>dos, apesar deaumentar o risco de a melhor topologia não ser amostra<strong>da</strong> (Swofford e col., 1996; Holder e Lewis,2003; Felsenstein, 2004).Uma <strong>da</strong>s formas mais utiliza<strong>da</strong>s para avaliar o quanto os <strong>da</strong>dos sustentam ca<strong>da</strong> clado <strong>da</strong>melhor topologia obti<strong>da</strong> por máxima verossimilhança é o “bootstrap” não paramétrico. Pelo “bootstrap”a matriz de <strong>da</strong>dos originais é re-amostra<strong>da</strong> com reposição para gerar várias pseudo-réplicas, a partir<strong>da</strong>s quais a melhor topologia para ca<strong>da</strong> uma é encontra<strong>da</strong>. Uma topologia consenso dessas árvores égera<strong>da</strong> e o número de vezes que ca<strong>da</strong> clado aparece nessas topologias é representadoprobabilisticamente. Dessa forma, esse algoritmo permite availar que partes <strong>da</strong> topologia são menossuporta<strong>da</strong>s pelo conjunto de <strong>da</strong>dos (Holder e Lewis, 2003).1.3.4. Análise BayesianaA inferência filogenética por análise bayesiana é basea<strong>da</strong> no conceito de probabili<strong>da</strong>deposterior <strong>da</strong>s hipóteses <strong>filogenéticas</strong>. A probabili<strong>da</strong>de posterior de uma topologia pode ser interpreta<strong>da</strong>13


Capítulo 1como a sua probabili<strong>da</strong>de de ser a que representa a ver<strong>da</strong>deira história evolutiva do grupo deorganismos estu<strong>da</strong>dos, portanto por esse método a topologia com a maior probabili<strong>da</strong>de posterior deveser a melhor estimativa <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> do grupo. Para calcular a probabili<strong>da</strong>de posterior é usado oteorema de Bayes que combina a probabili<strong>da</strong>de a priori <strong>da</strong> topologia, com sua probabili<strong>da</strong>de deexplicar a distribuição dos estados de caráter nos táxons atuais com base em um modelo evolutivo(verossimilhança). A probabili<strong>da</strong>de a priori de uma topologia é defini<strong>da</strong> como sua probabili<strong>da</strong>de combase em <strong>da</strong>dos independentes dos <strong>da</strong>dos que serão usados na análise, por exemplo, pode ser gera<strong>da</strong>a partir <strong>da</strong> taxonomia vigente do grupo (Holder e Lewis, 2003). Diferentemente <strong>da</strong> verossimilhança,onde os valores de parâmetro do modelo evolutivo são pré definidos, em um contexto bayesiano, aescolha <strong>da</strong> melhor topologia implica em calcular a probabili<strong>da</strong>de posterior para to<strong>da</strong>s as hipóteses,assim como sua integração com to<strong>da</strong>s as possíveis combinações de tamanho de ramos e valores dosparâmetros dos modelos de substituição de nucleotídeos (Huelsenbeck e col., 2001; Holder e Lewis,2003; Felsenstein, 2004). Mesmo com a utilização de buscas heurísticas, é impossível realizar todoesse cálculo analiticamente, portanto a aproximação <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des posteriores <strong>da</strong>s topologias érealiza<strong>da</strong> através <strong>da</strong> cadeia Markov de Monte Carlo (“Markov chain Monte Carlo”- MCMC)(Felsenstein, 2004).O algorítmo MCMC gera uma cadeia conceitual no espaço de parâmetros (que são astopologias possíveis, com to<strong>da</strong>s as combinações de parâmetros do modelo evolutivo) através de umaseqüência de passos. A partir de uma topologia inicial qualquer do espaço, é gera<strong>da</strong> uma novatopologia pela perturbação de alguns parâmetros do modelo evolutivo. Essa nova topologia é aceita ounão em comparação com a anterior, de acordo com um teste estatístico descrito por Metropolis e col.(1953). Ca<strong>da</strong> comparação entre topologias corresponde a uma geração <strong>da</strong> cadeia. Na maior parte <strong>da</strong>svezes são aceitas as topologias com maior probabili<strong>da</strong>de, porém esse procedimento é intercalado pelaescolha de topologias com menor probabili<strong>da</strong>des em algumas gerações, para favorecer a mu<strong>da</strong>nça delocalização no espaço de parâmetros. Repetindo esse processo milhões de vezes, uma grande cadeiade localizações no espaço de parâmetros é cria<strong>da</strong>. Ao atingir regiões de alta probabili<strong>da</strong>de posterior,dificilmente são aceitos movimentos para regiões de probabili<strong>da</strong>de mais baixa no espaço deparâmetros. A proporção de vezes que uma topologia é visita<strong>da</strong>, após a cadeia atingir o equilíbrio, éuma aproximação váli<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua probabili<strong>da</strong>de posterior. O mesmo vale para ca<strong>da</strong> valor de parâmetrodo modelo evolutivo e para as diferentes combinações de tamanho de ramo (Holder e Lewis, 2003;Felsenstein, 2004).14


Capítulo 1Em geral, mais de uma topologia e valores de parâmetros apresentam probabili<strong>da</strong>des altas emuito próximas, portanto, é obti<strong>da</strong> uma amostragem de hipóteses mais prováveis ao invés de umaúnica topologia. As porções congruentes <strong>da</strong>s várias topologias podem ser sumariza<strong>da</strong>s em umatopologia consenso onde a probabili<strong>da</strong>de posterior aproxima<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> clado pode ser representa<strong>da</strong> eé uma forma de avaliar seu suporte. Utilizando um número muito grande de gerações, é possívelamostrar as regiões com maior probabili<strong>da</strong>de do espaço de parâmetros, o que torna o algoritmo bemacurado (Holder e Lewis, 2003). No entanto, não é possível saber se a MCMC atuou tempo suficientepara prover estimativas confiáveis <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des posteriores. Uma estratégia recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> é ageração independente de várias MCMC, com números altos de gerações para verificar seindependentemente as mesmas hipóteses são recupera<strong>da</strong>s no equilíbrio de ca<strong>da</strong> uma delas(Shoemaker e col., 1999; Huelsenbeck e col., 2001; Felsenstein, 2004).1.4. Mapeamento de caracteres em uma hipótese filogenética1.4.1. Aspectos geraisPara entender vários aspectos dos processos evolutivos, não basta conhecer os estados doscaracteres dos organismos atuais, mas também precisamos saber como eram os estados nos seusancestrais. Embora o registro fóssil forneça informações a respeito de várias características físicas ecomportamentais dos organismos ancestrais, em diversos casos, os fósseis não estão disponíveis ounão estão suficientemente preservados para obter a informação necessária. A fim de preencher essalacuna, uma alternativa que vem sendo emprega<strong>da</strong> amplamente é a inferência do estado dosorganismos ancestrais, a partir do mapeamento dos estados de caracteres presentes nos organismosatuais em uma hipótese filogenética. Vários erros estão associados a esse tipo de análise, entre eles o<strong>da</strong> hipótese filogenética e o <strong>da</strong> reconstrução dos estados ancestrais do caráter. Apesar disso, essaferramenta tem se revelado útil nas mais diversas áreas do conhecimento evolutivo, por exemplo, nareconstrução de receptores de estrógeno ancestrais (Thornton e col., 2003), na inferência decomportamentos ancestrais de abelhas (Schwarz, e col., 2003) e na identificação de padrões dedispersão de grupos (Waters e Roy, 2004). As inferências dos estados nos ancestrais podem serrealiza<strong>da</strong>s pelos métodos de máxima parcimônia ou máxima verossimilhança (Maddison e Maddison,2004).15


1.4.2. Mapeamento de caracteres por máxima parcimôniaCapítulo 1O mapeamento por máxima parcimônia infere os estados ancestrais que minimizam o númerode passos de mu<strong>da</strong>nça do caráter na hipótese filogenética a partir <strong>da</strong> distribuição dos estados nosorganismos atuais. Consideremos um exemplo hipotético, onde um caráter com dois estados, preto (0)e branco (1) apresentam a mesma probabili<strong>da</strong>de de sofrer mu<strong>da</strong>nça entre os dois estados (modificadode Ronquist, 2004). A partir de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> hipótese filogenética e distribuição dos estados nos terminais(Figura 1.4), a reconstrução mais parcimoniosa <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> do caráter sugere dois eventos demu<strong>da</strong>nça de estado e também que os ancestrais A e B apresentavam o estado de caráter preto,enquanto os os ancestrais C, D, E e F apresentavam estado ancestral do caráter branco (Figura 1.4a).A análise por máxima parcimônia permite considerar caracteres não-ordenados, ordenados e pesagemdiferencial nas diferentes mu<strong>da</strong>nças de estado (Maddison e Maddison, 2004; Ronquist, 2004).1.4.3. Mapeamento de caracteres por máxima verossimillahançaNo mapeamento por verossimilhança a probabili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça entre os estados de caráterobservados nos terminais é estima<strong>da</strong>. A partir dessas probabili<strong>da</strong>des e dos comprimentos de ramo <strong>da</strong>topologia, em questão, as probabili<strong>da</strong>des dos estados nos ancestrais são estima<strong>da</strong>s. Nesse caso,considerando o mesmo exemplo para explicar o mapeamento por parcimônia e assumindo a mesmaprobabili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça entre os estados preto e branco (0,5), o estado de caráter dos ancestrais A,B e F não são tidos como certos, mas uma probabili<strong>da</strong>de é <strong>da</strong><strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> estado. Por exemplo, o nóancestral C apresenta maior probabili<strong>da</strong>de de que o estado tenha sido branco. Uma vantagem domapeamento por verossimilhança em comparação ao mapeamento por pascimônia é que aprobabili<strong>da</strong>de de estado em um ancestral não depende dos estados estimados em outros ancestrais(Figura 1.4b) (Ronquist, 2004).a) b)Figura 1.4. Mapeamento de caracteres em uma hipótese filogenética. a) por máxima parcimônia; b) pormáxima verossimilhança, tamanhos de ramo proporcionais à régua, p - probabili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nçaentre os estados (modificado de Ronquist, 2004).16


1.5. Datação molecularCapítulo 11.5.1. Fun<strong>da</strong>mentosA hipótese do relógio molecular propõe que os genes e seus produtos evoluem sob uma taxaconstante ao longo do tempo e <strong>da</strong>s linhagens (Zuckerkandl e Pauling, 1965). Essa hipótese recebeupopulari<strong>da</strong>de imediata por diversas razões. A principal vantagem que a teoria ofereceu foi apossibili<strong>da</strong>de de inferir o tempo de divergência entre duas linhagens a partir do número desubstituições entre as suas seqüências de DNA, independentemente de informações fósseis. Issorapi<strong>da</strong>mente se tornou uma aplicação comum, sendo propostos vários relógios moleculares universais,que foram empregados em uma ampla gama de trabalhos buscando entender diversos aspectosevolutivos e biogeográficos (Bermingham e col., 1992; Doolittle e col., 1996; Hedges e col., 1996;Wang e col., 1999). Um dos relógios moleculares gerais mais amplamente utilizados foi a taxa de 2%de substituição de nucleotídeos por milhão de anos para o genoma mitocondrial, proposto inicialmentepara mamíferos (Brown e col., 1979) e estendido para outros grupos de vertebrados, como aves(Shields e Wilson, 1987) e aplicado em diversos estudos (ex., Klicka e Zink, 1997; Ribas e Miyaki,2004).No entanto, apesar do impacto do relógio molecular nos estudos evolutivos, com o acúmulo de<strong>da</strong>dos gerados ficou evidente a existência de uma heterogenei<strong>da</strong>de muito maior do que se acreditavainicialmente nas taxas de substituição entre diferentes linhagens. Como resultado disso, foi proposta aidéia de relógios moleculares locais. Por essa proposta, se a taxa de substituição for constante entregrupos taxonomicamente próximos, é possível estimar o tempo de divergência dentre os mesmosaplicando um ponto de calibração específico para o grupo (Swofford e col., 1996; Fleischer e col.,1998; Yoder e Yang, 2000).A fim de verificar se um conjunto de táxons está evoluindo sob uma mesma taxa, duasestratégias são amplamente utiliza<strong>da</strong>s: o teste de taxa relativa (“relative rate test”; Takezaki e col.,1995; Margoliash, 1963; Sarich e Wilson, 1967; Graur e Li, 2000) e o teste de razão deverossimilhança (“likelihood ratio test”; Felsenstein, 1988). O teste de taxa relativa comparaestatisticamente o número de substituições entre ca<strong>da</strong> dois táxons com o número de substituições deca<strong>da</strong> uma em relação ao grupo externo mais próximo. Se a diferença no número de substituições emca<strong>da</strong> linhagem for estatisticamente diferente ao nível de significância de 5% comparado ao grupoexterno, o teste considera que as linhagens não estão evoluindo sob uma taxa constante (Takezaki ecol., 1995). Pelo teste de razão de verossimilhança, são compara<strong>da</strong>s por c 2 as probabili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>topologia estima<strong>da</strong> sem a hipótese do relógio molecular e <strong>da</strong> mesma topologia forçando os17


Capítulo 1comprimentos dos tamanhos de ramo a apresentarem taxa constante (topologia lineariza<strong>da</strong>). Paraesse teste o número de graus de liber<strong>da</strong>de é definido pelo número de táxons menos dois. Caso astopologias apresentem probabili<strong>da</strong>des significantemente diferentes, a hipótese de taxa constante não éaceita (Felsenstein, 1988; Posa<strong>da</strong> e Cran<strong>da</strong>ll, 1998).Quando a heterogenei<strong>da</strong>de de taxas de substituição entre os táxons é identifica<strong>da</strong>, uma <strong>da</strong>sestratégias utiliza<strong>da</strong>s é a exclusão dos táxons ou dos genes que apresentam desvio significativo emrelação aos demais <strong>da</strong> análise. A divergência entre os demais pode ser calcula<strong>da</strong> através dostamanhos de ramo <strong>da</strong> topologia lineariza<strong>da</strong> (Takezaki e col., 1995). No entanto, essa estratégia faz usoineficiente <strong>da</strong> informação obti<strong>da</strong> pelas seqüências de DNA porque em alguns casos, muitos táxonsdevem ser excluídos antes de se estimar as <strong>da</strong>tas de divergência (Arbobast e col., 2002). Além disso,em alguns casos, os testes de identificação de variação de taxa podem ser ineficientes, como porexemplo, quando a seqüência é curta ou os genes apresentam baixas taxas de substituição. Falha nadetecção de variação de taxas pode levar a um erro sistemático nas estimativas de tempo dedivergência, já que pode superestimar algumas <strong>da</strong>tas (Bromham e Penny, 2003). A fim de evitar essesproblemas, métodos mais recentes de <strong>da</strong>tação molecular, como o “non-parametric rate smoothing”(nprs; Sanderson, 1997), “penalized likelihood” (PL; Sanderson, 2002) e o método bayesiano (Thorne ecol., 1998, Kishino e col., 2001) acomo<strong>da</strong>m a variação nas taxas de substituição de nucleotídeos entreas linhagens.1.5.2. Métodos NPRS e PLO princípio básico do método NPRS é assumir taxas evolutivas locais para ca<strong>da</strong> nó <strong>da</strong> topologiae minimizar a variação entre essas taxas ao longo <strong>da</strong> topologia pela aplicação de uma penali<strong>da</strong>de nãoparamétrica.Essa penali<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça abrupta (“roughness penality”) é determina<strong>da</strong> peloquadrado mínimo <strong>da</strong> diferença entre as taxas dos ramos ancestrais e descendentes e a variância nastaxas entre os ramos descendentes e a raíz (Sanderson, 1997).O método PL utiliza o mesmo principio básico que o NPRS, mas utiliza uma aproximação semiparamétrica para encontrar um valor ótimo de um parâmetro de suavização (“smoothing parameter”),que pode variar entre dois extremos, para a penali<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça abrupta. Em um extremo, existe omodelo do relógio molecular, onde as taxas não variam (para o qual o parâmetro de suavização tendeao infinito), e no outro, existe o modelo saturado, onde ca<strong>da</strong> ramo apresenta uma taxa independente(para o qual o parâmetro de suavização tende a zero). O teste de vali<strong>da</strong>ção cruza<strong>da</strong> (“crossvali<strong>da</strong>tion”)é empregado para encontrar o valor ideal do parâmetro de suavização para o conjunto de18


Capítulo 1<strong>da</strong>dos. Por esse método, ramos terminais são independentemente excluídos <strong>da</strong> topologia. O tamanhode ramo desse terminal é então estimado com base na taxa dos demais ramos e na penali<strong>da</strong>de demu<strong>da</strong>nça abrupta, considerando diversos valores do parâmetro de suavização. Os valores estimadossão então comparados com os valores observados. Esse processo é repetido até que o valor escolhidopara o parâmetro de suavização é aquele que melhor aproxima os valores estimados dos tamanhos deramo aos valores observados.O PL se revelou superior aos métodos que assumem linearização e ao NPRS, porque o teste devali<strong>da</strong>ção cruza<strong>da</strong> permite avaliar se para um conjunto de <strong>da</strong>dos é melhor assumir um modelo onde astaxas são constantes ao longo <strong>da</strong>s linhagens (relógio molecular), ou mais variáveis, ou ain<strong>da</strong> qualquercategoria intermediária entre esses dois extremos (Sanderson, 2002).1.5.3. Método bayesianoO método bayesiano de <strong>da</strong>tação usa um modelo probabilístico para descrever a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>staxas de <strong>evolução</strong> ao longo dos ramos e utiliza uma cadeia Markov de Monte Carlo para aproximar asprobabili<strong>da</strong>des posteriores <strong>da</strong>s taxas e dos tempos (Thorne e col., 1998; Kishino e col., 2001). Essemétodo, assim como o NPRS e o PL também assume que ca<strong>da</strong> ramo apresenta uma taxaindependente, mas constante ao longo do ramo e existe uma autocorrelação entre as taxas dosdiferentes ramos ao longo do tempo evolutivo. O método parte de uma topologia pré defini<strong>da</strong> e ointervalo de tempo para pelo menos um dos nós, mas ao contrário dos dois outros métodos (NPRS ePL), não assume os valores fixos de tamanho de ramo. Os parâmetros para o modelo evolutivo podemser estimados para ca<strong>da</strong> partição de <strong>da</strong>dos a partir <strong>da</strong> topologia e <strong>da</strong>s seqüências. Com base nomodelo evolutivo, na topologia e na matriz de <strong>da</strong>dos, são estimados os tamanhos de ramo e seusrespectivos valores de variância e covariância. Como o cálculo analítico <strong>da</strong>s taxas evolutivas para ca<strong>da</strong>ramo leva em conta todos os valores dos parâmetros do modelo evolutivo, a variação dos tamanhos deramo e a própria incerteza dos tempos de divergência levaria muito tempo computacional, essesvalores são aproximados pela MCMC. Para essa MCMC são definidos como parâmetros iniciais a taxade <strong>evolução</strong> molecular <strong>da</strong> raiz do grupo interno, a média <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> raiz do grupo interno e seusrespectivos desvios padrões. O resultado final aproxima as estimativas de tempo de divergência <strong>da</strong>slinhagens e fornece os valores do intervalo de credibili<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> nó (Thorne e col., 1998; Kishino ecol., 2001; Thorne e Kishino, 2002).19


1.5.4. Pontos de calibraçãoCapítulo 1Além <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de de taxa evolutiva ao longo <strong>da</strong>s linhagens, outra questão amplamentedebati<strong>da</strong> no emprego <strong>da</strong> <strong>da</strong>tação molecular envolve a escolha de pontos de calibração adequados.Com a adoção de relógios moleculares locais, devido à evidente variabili<strong>da</strong>de nas taxas evolutivas emdiferentes linhagens, a utilização de uma taxa geral se revelou inadequa<strong>da</strong> (Lovette, 2004). Portanto,para obter estimativas de tempo de divergência mais confiáveis, pontos de calibração específicosdevem ser adotados para ca<strong>da</strong> linhagem (Bromham e Penny, 2003).Um dos métodos mais confiáveis de calibração é a utilização de evidências fósseis quesustentem limites para a diversificação entre duas ou mais linhagens incluí<strong>da</strong>s na topologia que sepretende utilizar para estimar os tempos de divergência. No entanto, mesmo quando há disponibili<strong>da</strong>dedo fóssil em questão, três principais fontes de erros devem ser considera<strong>da</strong>s nesse caso: a) erro nainferência filogenética do grupo em questão; b) erro na identificação e posicionamento filogenético dofóssil em questão; c) erro na identificação <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta do fóssil. Em aves, o registro fóssil é muitoincompleto devido em grande parte à própria natureza dos ossos pneumáticos, que dificultam afossilização (Arbobast e col., 2002; Bromham e Penny, 2003; Lovette, 2004).Uma outra maneira de escolher pontos de calibração é a utilização de eventos geológicosassociados à diversificação de um dos grupos em questão. Por exemplo, a origem de ilhas oceânicascujas <strong>da</strong>tas de emergência são conheci<strong>da</strong>s (Fleischer e col., 1998). Porém, <strong>da</strong> mesma forma, existemerros que podem estar associados a essa calibração, como por exemplo: a) a precisão do intervalo detempo para a formação <strong>da</strong> ilha; b) tempo de colonização <strong>da</strong>s populações após a formação de ca<strong>da</strong>ilha; c) possibili<strong>da</strong>de de migração entre as ilhas no caso de aves com grande capaci<strong>da</strong>de de dispersão;d) erro na inferência filogenética do grupo em questão (Bromham e Penny, 2003).Por causa dos erros que podem estar associados a um particular ponto de calibração e oaumento do erro <strong>da</strong> própria estimativa de tempo a medi<strong>da</strong> em que os nós distanciam-se dessa região<strong>da</strong> topologia, o ideal é usar uma abor<strong>da</strong>gem múltipla, onde vários pontos de calibração sãoempregados (ex. van Tuinen e Hedges, 2001).20


1.6. ObjetivosCapítulo 1A presente tese tem por objetivos:• Inferir as relações <strong>filogenéticas</strong> entre os gêneros <strong>da</strong> tribo Arini por meio de <strong>da</strong>dosmoleculares a partir de um grande número de seqüências dos genomas mitocondrial enuclear.• Estimar o tempo de divergência entre as linhagens e comparar essas estimativas comeventos históricos paleogeográficos descritos para a região neotropical que possam terinfluenciado a diversificação dos psitacídeos neotropicais.• Determinar a organização dos genes mitocondriais ao redor <strong>da</strong> região controladora atravésdo sequenciamento de porções entre o final do gene citocromo b e o início do DNAribossomal 12S de representantes <strong>da</strong>s linhagens de psitacídeos neotropicais. A análisedessas seqüências em conjunto com a filogenia e a <strong>da</strong>tação <strong>da</strong> divergência entre aslinhagens visa compreender melhor a <strong>evolução</strong> do genoma mitocondrial no grupo.21


1.7. ReferênciasCapítulo 1Arbobast, B.S, Edwards, S.V., Wakeley, J., Beerli, P. ,Slowinski, J.B., 2002. Estimating divergencetimes from molecular <strong>da</strong>ta on phylogenetic and population genetic timescales. Annu. Rev. Ecol.Syst. 33, 707–740.Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. OneHundred and Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologist’s Union. 16 – 21August, Laval, Quebec.Beissinger, S.R., 2000. Ecological mechanisms of extinction. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 97, 11688-11689.Bermingham, E., Rohwer, S., Freeman, S., Wood, C., 1992. Vicariance biogeography in thePleistocene and speciation in North American wood warblers: a test of Mengel’s model. Proc.Natl. Acad. Sci. USA 89, 6624–28.Boetticher, H.von, 1943. Ge<strong>da</strong>nken “uber die systematic Stellung einiger Papagaien. Zool. Anz. 143,191-200.Boetticher, H.von, 1959. Papagaien. Wittenberg Lutherstadt, A. Ziemsen.Boles, W.E., 1993. A new cockatoo (Psittaciformes: Cacatui<strong>da</strong>e) from the Tertiary of Rivers Leigh,northwestern Queensland, and an evaluation of rostral characters in the systematics of parrots.Ibis 135, 8-18.Boles, W.E., 1998. A budgerigar Melopsittacus undulatus from the Pliocene of Rivers Leigh, northwesternQueensland. EMU 98, 32-35.Brereton, J.L., 1963. Evolution within the Psittaciformes. Proc. Internatl. Ornitol. Congr. 13, 499-517.Bromham, L., Penny, D., 2003. The modern molecular clock. Nature 4, 216-224.Brown, W.M., George, M.J., Wilson, A.C., 1979. Rapid evolution of animal mitochondrial DNA. Proc.Natl. Acad. Sci. USA 361, 119-134.Chauviré, C.M., 1992. Une nouvelle famille de Perroquetes (Aves, Psittaciformes) <strong>da</strong>ns l`Eocenesupérieour des phosphorites du Qherci, France. Geobios 14, 169-177.Clarke, J.A., Tambussi, C.P., Noriega, J.I., Erickson, G.M, Ketcham, R.A., 2005. Definitive fossilevidence for the exant avian radiation in the Cretaceous. Nature 433, 305-308.Collar, N.J., 1997. Family Psittaci<strong>da</strong>e (Parrots). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.)Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to Coockos. Lynx Edicións, Barcelona.Pp. 679.22


Capítulo 1Collar, N.J., Gonzaga, L.P., Krabbe, N., Madroño-Nieto, A., Naranjo, L.G., Parker III, T.A., Wege, D.C.,1992. Theathened birds of the Americas, terceira edição. Smithsonian Institution Press,Cambridge. Pp. 280-479.Cooper, A., Penny, D., 1997. Mass survival of birds across the Cretaceous-Tertiary boun<strong>da</strong>ry:molecular evidence. Science 275:1109–1113.Cracraft, J. 1973. Continental drift, palaeoclimatology, and the evolution and biogeography of birds. J.Zool. 169, 455-545.Cracraft, J., 2001. Avian evolution, Gondwana biogeography and the Cretaceous–Tertiary massextinction event. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 459–469.de Kloet, R.S., de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis ofan intron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol.Phylogenet. Evol. (in press).del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J., 1997. Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse toCoockos. Lynx Edicións, Barcelona.Doolittle, R, Feng, D, Tsang, S, Cho, G., Little, E., 1996. Determining divergence times of the majorkingdoms of living organisms with a protein clock. Science 271, 470–77.Dyke, G.J., Mayr, G., 1999. Did parrots exist in the Creteaceous period? Nature 399, 317-318.Ericson, P.G.P., Irestedt, M., Johansson, U.S., 2003. Evolution, biogeography, and patterns ofdiversification in passerine birds. J. Avian Biol. 34, 3-15.Felsenstein, J., 1988. Phylogenies from molecular sequences. Ann. Rev. Ecol. Syst. 19, 445-471.Felsenstein, J., 2004. Inferring Phylogenies. Sinauer Associates, Sunderland.Fleischer, R.C. McIntosh, C.E., Tarr, C.L., 1998. Evolution on a volcanic conveyor belt: usingphylogeographyc reconstructions and K-Ar-based ages of the Hawaiian Islands to estimatemolecular evolutionary rates. Mol. Ecol. 7, 533-545.Forshaw, J., 1989. Parrots of the World, terceira ed. Landsdowne Editions, Melbourne.García-Moreno, J., Sorenson, M.D., Mindell, D.P., 2003. Congruent avian phylogenies inferred frommitochondrial and nuclear DNA sequences. J. Mol. Evol. 57, 27-37.Glenny, F.H. 1954. Antarctica as a center of origins of birds. Ohio J. Sci. 54, 307-314.Graur, D., Li, W.H., 2000. Molecular phylogenetics. In: Grau, D., Li, W.H. (Eds.). Fun<strong>da</strong>mentals ofMolecular Evolution, segun<strong>da</strong> edição. Sinauer Associates, Sunderland. Pp.23


Capítulo 1Haddrath, O., Baker., A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds:ratite phylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. B 268,939–945.Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Philips, M.J. Slack, K.E. Cooper A., Penny, D., 2004. Four newavian mitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous.Mol. Biol. Evol. 21, 974–983.Hedges, S.B., Parker, P.H., Sibley, C.G., Kumar, S., 1996. Continental breakup and the ordinaldiversification of birds and mammals. Nature 381, 226–29.Holder, M., Lewis, P.O., 2003. Phylogeny estimation: traditional and Bayesian approaches. Naturereviews 4, 275-284.Huelsenbeck, J.P, Rannala, B., 1997. Phylogenetic methods come of age: testing hypothesis in anevolutionary context. Science 276, 227-232.Huelsenbeck, J.P., Ronquist, F., Nielsen, R., Bollback, J.P., 2001. Bayesian inference of phylogeny andits impact on evolutionary biology. Science 294, 2310-2314.Kishino, H., Thorne, JL. Bruno, W.J., 2001. Performance of a divergence time method under aprobabilistic model of rate evolution. Mol. Biol. Evol. 18, 352-361.Klicka J, Zink, R.M., 1997. The importance of recent ice ages in speciation: a failed paradigm. Science277, 1666–69.Livezey, B.C., Zusi, R.L., 2001. Higher-order phylogenetics of modern aves based on comparatveanatomy. Netherlands J. Zool. 51, 179-205.Lovette, I.J., 2004. Mitochondrial <strong>da</strong>ting and mixed support for the “2% rule” in birds. Auk, 121, 1-6.Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version1.05 http://mesquiteproject.org.Margoliash, E., 1963. Primary structure and evolution of cytochrome c. Proc. Natl. Acad. Sci USA 50,672-679.Mayr, G., Clarke, J., 2003. The deep divergences of neornithine birds: a phylogenetic analysis ofmorphological characters. Cladistics, 19, 553.Metropolis, N., Rosenbluth, A.W., Rosenbluth, M.N., Teller, A.H., Teller, E., 1953. Equation of statecalculations by fast computing machines. J. Chem. Phys. 21, 1087-1092.Miran<strong>da</strong> Ribeiro, A., 1920. Revisão dos psitacídeos brasileiros. Rev. Mus. Paulista 12, 3-83.Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and palaeographical events:mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.24


Capítulo 1Moritz, C. Hillis, D.M., 1996. Molecular Systematics: context and controversies. In: Hillis, D.M., Moritz,C., Mable, B.K. (Eds.) Molecular Systematics. Sinauer Associates, Sunderland, Pp. 1-13.Nahum, L.A., Pereira, S.L, Fernandes, F.M.C., Matioli, S.R., Wajntal, A., 2003. Diversification ofRamphastinae (Aves, Ramphasti<strong>da</strong>e) prior to the Cretaceous/Tertiary boun<strong>da</strong>ry as shown bymolecular clock of mtDNA sequences. Genet. Mol. Biol. 26, 411-418.Nei, M. e Kumar, S. 2000. Molecular evolution and phylogenetics, primeira edição. Oxford UniversityPress, New York.Owens, I.P.F., Bennett, P.M., 2000. Ecological basis of extinction risk in birds: habitat loss versushuman persecution and introduced pre<strong>da</strong>tors. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 12144-12148.Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show thatmodern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. B 269,839–846.Penhallurick, J., 2001. Primolius Bonaparte, 1857 has priority over Propyrrhura Ribeiro, 1920. Bull. Brit.Orn. C. 121, 38-39.Pereira, S.L., Baker, A.J., Wajntal, A., 2002. Combined nuclear and mitochondrial DNA sequencesresolve generic relationships within the Craci<strong>da</strong>e (Galliformes, Aves). Syst. Biol. 51, 946–958.Peters, J. L. 1937. Checklist of the Birds of the World, volume 3. Harvard University Press, Cambridge.Pinto, O. O. 1937. Catálogo de aves do Brasil. Rev. Mus. Paulista 22, 181-215.Pinto, O. O. 1978. Novo Catálogo <strong>da</strong>s Aves do Brasil, volume 1. Empresa Gráfica <strong>da</strong> Revista dosTribunais S. A., São Paulo.Posa<strong>da</strong>, D., 2003. Selecting models of evolution. In: Salemi, M., Van<strong>da</strong>mme, A.M. The PhylogeneticHandbook: a Practical Approach to DNA and Protein Phylogeny. Cambridge University Press,Cambridge. Pp. 256-282.Posa<strong>da</strong>, D., Cran<strong>da</strong>ll, K.A., 1998. Modeltest: testing the model of DNA substitution. Bioinformatics 14,817-818.Ribas, C.C., 2004. Filogenias Moleculares e Biogeografia Histórica em Psitacídeos (Aves; Psittaci<strong>da</strong>e):Padrões e Processos de Diversificação no Neotrópico. Tese de Doutorado, Instituto deBiociências, Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, São Paulo.Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits andhistorical biogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nan<strong>da</strong>yusnen<strong>da</strong>y. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 663–675.25


Capítulo 1Ribas. C.C., Gaban-Lima, R., Miyaki, C.Y., Cracraft, J., 2005. Historical biogeography anddiversification within the Neotropical parrot genus "Pionopsitta" (Aves; Psittaci<strong>da</strong>e). J. Biogeog.32, 1409-1427.Ronquist, F., 2004. Bayesian inference of character evolution. Trends. Ecol. Evol. 19, 475-481.Rowley, I., 1997. Family Cacatui<strong>da</strong>e (cockatoos). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J. (Eds.)Handbook of the Birds of the World, vol. 4, Lynx Editions, Barcelona, Pp. 246-279.Russello, M.A., Amato, G., 2004. A molecular phylogeny of Amazona: implications for Neotropicalparrot biogeography, taxonomy, and conservation. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 421-437.Salvadori, T., 1891. Catalogue of the Psittaci, or parrots, in the Collection of the British Museum.Longman and Co., London.Sanderson, M.J., 1997. A nonparametric approach to estimating divergence times in the absence ofrate constancy. Mol. Biol. Evol. 14, 1218-1231.Sanderson, M.J., 2002. Estimating absolute rates of molecular evolution and divergence times: apenalized likelihood approach. Mol. Biol. Evol. 19, 101–109.Sarich, V.M., Wilson, A.C., 1973. Generation time and genomic evolution in primates. Science 179,1144-1147.Schwarz, M.P., Bull, N.J., Cooper, S.J.B., 2003. Molecular phylogenetics of allo<strong>da</strong>pine bees withimplications for the evolution of sociality and progressive rearing. Syst. Biol. 52, 1-14.Shields, G.F., Wilson, A.C., 1987. Calibration of mitochondrial DNA evolution in geese. J. Mol. Evol. 24,212-217.Shoemaker, J.S., Painter, I.S., Weir, B.S., 1999. Bayesian statistics in genetics. Trends Genet. 15, 354-358.Sibley, C.G., Alquist, J.E., 1990. Phylogeny classification of birds: a study in molecular evolution. YaleUniversity Press, New Haven.Sick, H., 1997. Ornitologia Brasileira, segun<strong>da</strong> ed., Editora Nova Fronteira S. A., Rio de Janeiro.Smith, G.A., 1975. Systematics of parrots. Ibis 117, 18-68.Stidham, T.A., 1998. A lower jaw from a Cretaceous parrot. Nature 39, 29-30.Swofford, D.L., Olsen, G.J., Waddell, P.J., Hills, D.M., 1996. Phylogenetic inference. In: Hillis, D.M.,Moritz, C., Mable, B.K. (Eds.) Molecular Systematics. Sinauer Associates, Sunderland, Pp. 407-514.Takezaki, N., Rzhetsky, A., Nei, M., 1995. Phylogenetic test of molecular clock and linearized trees.Mol. Biol. Evol. 12, 823-833.26


Capítulo 1Tavares, E.S. 2001. Estudo filogenético entre gêneros de psitacídeos (Psittaci<strong>da</strong>e, Aves) baseado emseqüências de DNA mitocondrial. Dissertação de mestrado. Instituto de Biociências,Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, São Paulo.Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004. Phylogenetic relationships among some Neotropicalparrot genera (Psittaci<strong>da</strong>e) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.Thorne, J.L., Kishino, H., 2002. Divergence time and evolutionary rate estimation with multilocus DNA<strong>da</strong>ta. Syst. Biol. 51, 689-702.Thorne, J.L., Kishino, H., Painter, I.S., 1998. Estimating the rate of evolution of the rate of molecularevolution. Mol. Biol. Evol. 15, 1647-1657.Thornton, J.W., Need, E., Crews, D., 2003. Resurrecting the ancestral steroid receptor: ancient origin ofestrogen signalling. Science 301,1714-1717.Van Tuinen, M., Hedges,S.B., 2001. Calibration of Avian molecular clocks. Mol. Biol. Evol. 18, 206-213.Verheyen, R., 1956. Analyse du potentiel morphologique et projet d’une nouvelle classification desPsittaciformes. Bull. Inst. R. Sci. Nat. Belg. 32, 54pp.Wang, D., Kumar, S., Hedges, S., 1999. Divergence time estimates for the early history of animal phylaand the origin of plants, animals and fungi. Proc. R. Soc. London. B 266, 163– 171.Waters, J.M. Roy, M.S., 2004. Out of Africa: the slow train to Australasia. Syst. Biol. 53, 18-24.Yoder, A., Yang, Z., 2000. Estimation of primate speciation <strong>da</strong>tes using local molecular clocks. Mol.Biol. Evol. 17, 1081–1090.Zuckerkandl, E., Pauling, L., 1965. Evolutionary divergence and convergence in proteins. In: Bryson, V.Vogel, H.J. (Eds.) Evolving Genes and Proteins. Academic Press, New York. Pp. 97-166.27


Capítulo 2<strong>Relações</strong> <strong>filogenéticas</strong> e <strong>biogeografia</strong> <strong>histórica</strong> dospsitacídeos neotropicais (tribo Arini) com base emseqüências de DNA mitocondrial e nuclear


2.1. IntroduçãoCapítulo 2Os psitacídeos neotropicais formam o grupo de espécies mais numeroso <strong>da</strong> ordemPsittaciformes (150 <strong>da</strong>s 330 espécies reconheci<strong>da</strong>s) e inclui 30 gêneros (Collar, 1997, Rowley, 1997).Apresentam uma grande variação de tamanho, preferência de hábitat, distribuição geográfica ecomportamento (Forshaw, 1989). A sistemática do grupo tem sido discuti<strong>da</strong> há muito tempo. Ossistematas mais antigos, com base em morfologia externa e anatomia (Salvadori, 1891; Boetticher,1943, 1959; Verheyen, 1956), e comportamento (Brereton, 1963) distribuíam os gêneros neotropicaisem dois grupos de composição variável, em alguns casos incluindo táxons de outras regiõesgeográficas. Verheyen (1956) agrupou exclusivamente táxons neotropicais nas famílias Amazoninae eArinae e sugeriu que esses grupos compartilham características morfológicas (presença de quatrovértebras dorsais, uma única caróti<strong>da</strong> dorsal, entre outras) que os distinguem dos psitacídeos <strong>da</strong>sdemais regiões geográficas, mas não sugeriu uma categoria para agrupá-los. Em uma revisãoabrangente <strong>da</strong> sistemática <strong>da</strong> ordem Psitaciformes, Smith (1975) agrupou todos os táxons neotropicaisna tribo Arini (família Psittaci<strong>da</strong>e) com base em dois caracteres exclusivos (eclosão dos filhotes comcanal auditivo imperfurado e postura copulatória em uma perna) e considerou artificial osagrupamentos internos até então propostos na tribo. Na falta de estudos mais abrangentes, essaproposta foi aceita em to<strong>da</strong>s as classificações posteriores (por exemplo, Forshaw, 1989; Collar, 1997).Atualmente, o monofiletismo <strong>da</strong> tribo Arini vem sendo corroborado por estudos de filogenia molecularincluindo diversos gêneros representantes <strong>da</strong> ordem (Barrowclough e col., 2004; de Kloet e de Kloet,2005).Em uma análise de 1.771 pares de bases (pb) de genes mitocondriais realizados comrepresentantes de nove gêneros <strong>da</strong> tribo Arini dois grupos monofiléticos foram recuperados e referidospelos autores como psitacídeos de cau<strong>da</strong> longa e psitacídeos de cau<strong>da</strong> curta (Miyaki e col. 1998), oque estaria de acordo com uma chave de identificação proposta por Sick (1997). Exceto para omonofiletismo29


Capítulo 22005). Além disso, alguns estudos também apontaram ausência de monofiletismo nos gênerosneotropicais Aratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello eAmato, 2004; Ribas e col., 2005).Apesar de ser muito questionado, <strong>da</strong>dos moleculares podem ser usados para estimar <strong>da</strong>tas dedivergência entre os táxons (Arbobast e col., 2002). Tendo tais estimativas, pode-se tentar associá-lasa eventos paleogeoclimáticos registrados no período de diversificação <strong>da</strong>s linhagens. Em relação aospsitacídeos, a <strong>da</strong>ta estima<strong>da</strong> de separação entre o periquito australiano (Melopsittacus undulatus) ealguns táxons neotropicais por volta de 76 milhões de anos atrás (ma; Miyaki e col., 1998) estaria deacordo com a hipótese de que a separação dos continentes teve um papel importante na diversificaçãodesses grupos. Além disso, a divergência entre os gêneros de psitacídeos neotropicais foi estima<strong>da</strong>entre o Eoceno-Oligoceno e durante o Mioceno (16-27 ma) e poderia estar associa<strong>da</strong> a mu<strong>da</strong>nçasambientais em consequência de mu<strong>da</strong>nças no nível do mar, orogenia dos Andes e expansão deambientes de floresta e de áreas secas (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004). Já o intervalo dedivergências entre espécies do mesmo gênero de psitacídeos foi estimado entre 0,5 e 1,3 ma(Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005).No presente trabalho foram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s as relações <strong>filogenéticas</strong> <strong>da</strong> maioria dos gêneros <strong>da</strong>tribo Arini, incluindo representantes de diferentes linhagens de gêneros não-monofiléticos. Foi utilizadoum grande conjunto de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial totalizando 6.461 pb. A informaçãofilogenética de alguns caracteres morfológicos, comportamentais e genético também foi analisa<strong>da</strong> combase na filogenia obti<strong>da</strong>. Além disso, o tempo de divergência entre as linhagens de psitacídeosneotropicais foi estimado por métodos que levam em conta a taxa de variação nas substituições denucleotídeos entre as linhagens e hipóteses biogeográficas sobre a diversificação do grupo forampropostas com base nesses resultados.2.2. Material e Métodos2.2.1. AmostragemForam obti<strong>da</strong>s amostras de 29 espécies representantes de 25 dos 30 gêneros <strong>da</strong> tribo Arini(Tabela 2.1). Como estudos filogenéticos anteriores sugerem a ausência de monofiletismo dos gênerosAratinga, Amazona e Pionopsitta (Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004;Ribas e col., 2005), foram amostrados dois ou três táxons de ca<strong>da</strong> um desses gêneros, representandoas diferentes linhagens aponta<strong>da</strong>s por esses trabalhos.30


Capítulo 2Tabela 2.1. Táxons amostrados. Razão entre comprimento <strong>da</strong> asa e comprimento <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>,espécimen analisado e estados <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>, narinas e anel perioftálmico.Espécies Amostra a asa/cau<strong>da</strong> bVoucherMZUSP cFormaAnelNarinas fcau<strong>da</strong> d perioftálmico gAmazona farinosa 3683 1,9 6731 A E NAmazona xanthops 1876 2,6 4330 A E NAnodorhynchus hyacinthinus 5281 0,8 32290 C C NAra ararauna 13 0,8 13992 C E NAratinga aureaAratinga leucophthalmusAratinga solstitialis346209020421,21,21,114893106536490Bolborhynchus lineola 4393 1,9 13080 C E CBrotogeris chiriri 5486 1,3 74601 C E NCacatua goffini 4582 - - - - -Cyanoliseus patagonus 4967 1,0 2272 C E CCyanopsitta spixii 409 0,8 76154 C E NDeroptyus accipitrinus 395 1,4 44059 A E NDiopsittaca nobilis 973 1,2 15897 C E NEnicognathus leptorhynchus 5173 1,2 21754 C C CForpus crassirostris 501 2,1 39569 A E CGraydi<strong>da</strong>scalus brachyurus 1624 2,9 22573 A E CGuarouba guarouba 69 1,4 43982 C E NMelopsittacus undulatus 4999 - - - - -Myiopsitta monachus 2821 1,1 2277 C C CNan<strong>da</strong>yus nen<strong>da</strong>y 143 1,2 13083 C E NNanopsittaca <strong>da</strong>chilleae 5495 2,3 - A e E e C eOrthopsittaca manilata 1852 1,1 38318 C E NPionites leucogaster 2377 2,1 12226 C E NPionopsitta pileataPionopsitta barrabandi34673896932,12,4694413501Pionus maximiliani 1219 2,2 14015 A E NPrimolius auricollis 1742 1,1 44077 C E NPyrrhura leucotis 3921 1,0 34495 C E NRynchopsitta pachyryncha 5237 1,6 - C e C e N eTriclaria malachitacea 415 1,4 28102 A E NaRegistro na coleção do Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA),Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, exceto 389693 registrado no Field Museum of Natural History; b Razãoobti<strong>da</strong> a partir de espécimens machos, (Forshaw, 1989); c Museu de Zoologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de SãoPaulo; d A- arredon<strong>da</strong><strong>da</strong>, C – acunea<strong>da</strong>; e Dados obtidos de literatura (Salvadori, 1890; Forshaw, 1989;Collar, 1997); f E - expostas, C- cobertas por penas; g N- nu e evidente, C- coberto por penas.CCCAAEEEEENNNNN31


Capítulo 2Para compor o grupo externo mais próximo foram selecionados os psitacídeos australianosMelopsittacus undulatus (tribo Platycercini) e Cacatua goffini (família Cacatui<strong>da</strong>e) e o psitacídeo <strong>da</strong>Nova Zelândia Strigos habroptilus (tribo Strigopini, família Psittaci<strong>da</strong>e, NC_005931; Harrison e col.,2004). Falco peregrinus (NC_000878; Mindell e col., 1998; AY461399, Griffiths e col., 2004), Aburriaaburri (AF165466, AY143680, AY140740, AY140768, AY165454, AF165442; Pereira e col., 2002) eGallus gallus (X52392, Desjardins e Morais, 1990; AF143730, Groth e Barrowclough, 1999) foramselecionados como grupos externos mais distantes para enraizar a topologia. A classificação dospsitacídeos adota<strong>da</strong> nesse trabalho segue Collar (1997), exceto por Propyrrhura, para o qual adotamosPrimolius de acordo com Penhallurick (2001).2.2.2. Extração de DNA e sequenciamentoO DNA foi extraído a partir de tecido sangüíneo em solução contendo 0,1% de SDS, Tris-HCl100mM (pH 8.0), EDTA 10 mM e 10 mg/mL de proteinase K mantido a 55 o C por aproxima<strong>da</strong>mente 4horas. O DNA foi purificado por procedimento padrão com fenol: clorofórmio: álcool isoamílico (Bruforde col., 1992). A amplificação dos segmentos de DNA foi realiza<strong>da</strong> por “Polymerase Chain Reaction”(PCR) em 25 µL de reação com solução tampão 1x (Tris-HCl 10 mM pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 22,5mM, gelatina a 0,01%, 160 µg/ mL de BSA), 2 µM de ca<strong>da</strong> dNTP, 1µM de ca<strong>da</strong> “primer”, 1 U de Taqpolimerase (Pharmacia) e 25-50 ng de DNA. As condições <strong>da</strong> reação de PCR foram: desnaturaçãoinicial a 95ºC por 5 minutos (min.), seguido de 30 ciclos de 95 o C por 60 segundos (seg.), 50 o C por 25seg., 72 o C por 80 seg., e uma extensão final de 72 o C por 7 min. Os segmentos amplificados forampurificados por corte de ban<strong>da</strong> do gel de agarose e centrifugação através de uma ponteira com filtro.As seqüências foram obti<strong>da</strong>s nos seqüenciadores automáticos Li-Cor 4200 bi-direcional e ABI3100 deacordo com protocolo sugerido pelos fabricantes. Foram obti<strong>da</strong>s as seqüências de DNA do genenuclear RAG-1, e dos genes mitocondriais citocromo b, NADH2, ATPase 6, ATPase 8, COIII, DNAr12S e DNAr 16S. Os “primers” usados foram R1 (5’- GACAAACATCATCTCAGGAAGAAGAT -3’), R11(5’- GGACCAGTAGATGATGAAACTCCT -3’), R13 (5’- TCTGAATGGAAATTCAAGATGTT -3’), R14(5’- TTCCTGTGGATACTCCAGCA -3’), R17 (5’- CCCTCCTGCTGGTATCCTTGCTT -3’), R18 (5’-GATGCTGCCTCGGTCGGCCACCTTT -3’), R19 (5’- GTCACTGGGAGGCAGATCTTCCA -3’), R21 (5’-GGATCTTTGAGGAAGTAAAGCCCAA -3’), R20 (5’- CCATCTATAATTCCCACTTCTGT -3’), R22 (5’-GAATGTTCTCAGGATGCCTCCCAT -3’), R24 (5’- GCCTCTACTGTCTCTTTGGACAT -3’) e R2B (5’-GAGGTATATAGCCAGTGATGCTT -3’) para o RAG-1 (Groth e Barrowclough, 1999); b1 (5’- CCATCCACCATCTCAGGATGATGAAA - 3’), b52 (5’- GNAAATCYCACCCNCTWCTHAAAAT -3’) e b6 (5’- GTC32


Capítulo 2TTCAGTTTTGGTTTACAAGAC -3’) para o citocromo b (Kocher e col., 1989); MetL (5’- AAGCTATCGGGCCCATACCCG –3’), ND2H (5’- CCTTGAAGCACTTCTGGGAATCAGA -3’), ND2-54H (5’- GGGGTGGTGAGATTTTGCGA- 3’) e ASNH (5’- GATCRAGGCCCATCTGTCTAG -3’) para o NADH2; LysL(5’- CAGCACTAGCCTTTTAAGCT -3’), COIIIRH (5’- ATTATTCCGTATCGNAGNCCYTTTTG -3’), A5(5’- TAGGAGTGTGCTTGGTGTGCCATT- 3’) e ATP6L (5’- AAAYATYTAATGGCACACCAAGC- 3’)para os genes ATPase 6, ATPase 8 e COIII; L1537 (5’- AATCTTGTGCCAGCCACCGCGG -3’) e12Send (5’- GTGCACCTTCCGGTACACTTACC -3’) para o DNAr 12S; 16Sa (5’- AAGCCWANCGAGCYGGGTGATAGCTGG -3’), 16Sb (5’- CATAGATAGAAACCGACCTGG -3’), 16Sc (5’- TTCTTCAAGGTCGCCCCAACC -3’) e 16Se (5’- GCACGGTTAGGATACCGCGGCCG -3’) para o RNAr 16S (OliverHaddrath, comunicação pessoal). As seqüências de DNA foram deposita<strong>da</strong>s no GenBank com osnúmeros de acesso: DQ143281-DQ143297 para citocromo b; DQ143298-DQ143324 para NADH2;DQ143250-DQ143280 para os genes ATPase 6, ATPase 8 e COIII; DQ143208-DQ143228 para 12SrDNA; e DQ143229-DQ143249 para o 16S rDNA. Foram obti<strong>da</strong>s do GenBank as seqüências decitocromo b para Diopsittaca nobilis (AF370769, Tavares e col., 2004), Pionopsitta barrabandi,Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (AY669424, AY669437 e AY669439; Ribas e col., 2005) ede NADH2 para Amazona farinosa (AY194461; Eberhard e Bermingham, 2004), Pionopsittabarrabandi, Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (AY669468, AY669481 e AY669486; Ribas ecol., 2005).2.2.3. Análise <strong>da</strong>s seqüências de DNAAs ambigüi<strong>da</strong>des nas fitas complementares de DNA foram verifica<strong>da</strong>s com o Sequencher 4.1.2(GeneCodes Corp., Ann Arbor, Michigan). O alinhamento dos genes foi verificado visualmente noMacClade 4.0 (Maddison e Maddison, 2000). As lacunas de alinhamento, as regiões com alinhamentoambíguo e as regiões de sobreposição entre as ATPases 8 e 6, e a ATPase 6 e o COIII foramexcluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong> matriz de <strong>da</strong>dos. A composição de bases, as taxas de transição e transversão e adistância genética entre seqüências de nucleotídeos foram calcula<strong>da</strong>s no PAUP* 4.0b10 (Swofford,2002). O grau de saturação <strong>da</strong>s seqüências foi avaliado para ca<strong>da</strong> gene pela relação entre o númerode transições e o número de transversões pelas distâncias par a par corrigi<strong>da</strong>s entre os táxons.Diferenças de composição de base entre táxons não são corrigidos pela maior parte dosmétodos de reconstrução filogenética e topologias inadequa<strong>da</strong>s podem ser escolhi<strong>da</strong>s quando asdiferenças de composição são expressivas (Penny e col., 1990; Lockhart e col., 1994; Foster e Hickey,1999; Chang e Champbell, 2000; Haddrath e Baker, 2001; Paton e col., 2002). Por isso, os sítios33


Capítulo 2variáveis de ca<strong>da</strong> gene foram avaliados quanto ao desvio de composição de bases usando oTreepuzzle 5.0 (Schmidt e col., 2002). Nessa análise, os sítios invariáveis foram excluídos já quepodem mascarar a detecção de desvio composicional entre os táxons (Foster e Hickey, 1990). Apressão de mutação simétrica direcional atuando nos genes que codificam para proteínas foi estima<strong>da</strong>com o programa DMP 2.0 (Jermin e col., 1996).2.2.4. Análises <strong>filogenéticas</strong>O modelo mais adequado para ca<strong>da</strong> partição de <strong>da</strong>dos foi selecionado pelo teste de razão deverossimilhança (“hierarchical likelihood ratio tests”- LRT) implementado no Modeltest 3.6 (Posa<strong>da</strong> eCran<strong>da</strong>ll, 1998). As análises bayesianas foram realiza<strong>da</strong>s no MrBayes 3.0 (Ronquist e Huelsenbeck,2003), utilizando a amostragem pela “Markov Chain Monte Carlo” (MCMC), inicialmente para ca<strong>da</strong>gene em separado, para a partição nuclear, para a partição mitocondrial e para a matriz totalconcatena<strong>da</strong>, para verificar se as diferentes partições suportam resultados incongruentes e paraverificar se a adoção de modelos independentes para ca<strong>da</strong> partição é mais adequa<strong>da</strong>. A análisebayesiana final foi realiza<strong>da</strong> para a matriz combina<strong>da</strong> dos genes, assumindo diferentes modelos erespectivos parâmetros para ca<strong>da</strong> gene considerado. Foram executa<strong>da</strong>s quatro buscas independentes,ca<strong>da</strong> uma com 2 milhões de gerações, uma cadeia fria e quatro quentes, uma topologia amostra<strong>da</strong> aca<strong>da</strong> 1000 gerações e o descarte (“burnin”) determinado pela convergência nos valores deverossimilhança <strong>da</strong>s topologias. As probabili<strong>da</strong>des posteriores dos ramos foram computa<strong>da</strong>s parato<strong>da</strong>s as análises bayesianas descartando-se as topologias amostra<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> convergência dosvalores de verossimilhança na cadeia de Marcov. O modelo evolutivo e seus respectivos parâmetrosestimados por LRT no Modeltest 3.6 (Posa<strong>da</strong> e Cran<strong>da</strong>ll, 1998) foram usados como estimativas iniciaisna busca por máxima verossimilhança (MV) realiza<strong>da</strong> no PAUP* 4.0 b10 (Swofford, 2002), por buscaheurística a partir de 5 árvores iniciais gera<strong>da</strong>s por adição aleatória de táxons (“stepwise addition”) ealgoritmo “tree bisection and reconnection” (TBR) para gerar diferentes topologias. O suporte dos nós<strong>da</strong> busca por MV foi estimado por “bootstrap” não paramétrico (Effron, 1979; Felsenstein, 1985) com100 réplicas, ca<strong>da</strong> uma inicia<strong>da</strong> por uma topologia gera<strong>da</strong> por adição aleatória de táxons no programaPAUP* 4.0b10 (Swofford, 2002), usando o mesmo modelo e valores de parâmetros assumidos nabusca por MV.Adicionalmente, foi realiza<strong>da</strong> uma busca por MV utilizando um modelo não-homogêneo desubstituição de nucleotídeos no programa NHML 3.0 (Galtier e Gouy, 1998), utilizando a correção parataxa de substituição entre os sítios HKY+G (Hasegawa e col., 1985). Devido ao grande número de34


Capítulo 2terminais (n=32), o tempo computacional para realização de uma busca mais abrangente seria muitogrande, portanto os nós que apresentaram valores de “bootstrap” superiores a 90% na busca por MVforam fixados.2.2.5. Comparação <strong>da</strong>s diferentes topologiasPara comparar as topologias obti<strong>da</strong>s pelos diferentes métodos foi utilizado o testeaproxima<strong>da</strong>mente não enviesado (AU, “approximately unbiased”; Shimo<strong>da</strong>ira, 2002) implementado noprograma CONSEL (Shimo<strong>da</strong>ira e Hasegawa, 2001). O teste AU utiliza uma técnica de “bootstrap”multi-escalonado, na qual vários conjuntos de réplicas <strong>da</strong> matriz de <strong>da</strong>dos inicial são gerados, podendoter alteração no tamanho <strong>da</strong> matriz. O número de vezes que a hipótese é suporta<strong>da</strong> pelas réplicas écalculado para ca<strong>da</strong> conjunto de <strong>da</strong>dos para obter valores de “bootstrap” a partir <strong>da</strong>s matrizes detamanho variável (Shimo<strong>da</strong>ira, 2002).2.2.6. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genético na filogeniamolecularOito caracteres que foram utilizados para agrupar ou diagnosticar gêneros de psitacídeosneotropicais em classificações (Salvadori, 1891; Brereton e Immelmann, 1961; Forshaw, 1989), queforam considerados em estudos sistemáticos (Smith, 1975), ou que foram apontados como exclusivosde um grupo (Miyaki e col., 1997) foram mapeados na topologia consenso <strong>da</strong> análise bayesiana noprograma Mesquite 1.05 (Maddison e Maddison, 2004), para avaliar a informação filogenética dosmesmos. O mapeamento foi realizado por verossimilhança assumindo a mesma probabili<strong>da</strong>de demu<strong>da</strong>nça entre os estados. Os caracteres e seus respectivos estados são: 1) o tamanho <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>(Salvadori, 1891); como a definição original desse estado não é clara e envolvia a forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>também, separamos o tamanho e a forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> e redefinimos os estados do tamanho <strong>da</strong> seguinteforma: longa (razão entre comprimento <strong>da</strong> asa e comprimento <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> menor que 1,7) ou curta(razão entre comprimento <strong>da</strong> asa e comprimento <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> maior do que 1,8); 2) forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>(Salvadori, 1891, redefinido como caracter independente do tamanho <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> no presente trabalho):acunea<strong>da</strong> (penas gradualmente maiores <strong>da</strong>s bor<strong>da</strong>s em direção ao centro), ou arredon<strong>da</strong><strong>da</strong> (to<strong>da</strong>s aspenas com aproxima<strong>da</strong>mente o mesmo tamanho) (Salvadori, 1891); 3) dimorfismo sexual aparente:presente ou ausente (Smith, 1975); 4) íris bi-colori<strong>da</strong>: presente ou ausente (Smith, 1975); 5) coçar acabeça com o pé: colocando a perna diretamente para frente por baixo <strong>da</strong> asa, ou passando o péindiretamente sobre a asa (Brereton e Immelmann, 1961); 6) narinas: expostas ou não expostas35


Capítulo 2(Salvadori, 1891); 7) anel perioftálmico: nu e evidente, ou coberto por penas (Forshaw, 1989); 8)minissatélites ligados ao cromossomo W: presente ou ausente (Miyaki e col., 1997). A inferência dosestados ancestrais não foi realiza<strong>da</strong> para o caráter 8, já que o mesmo não foi estu<strong>da</strong>do para algunsdos táxons considerados na presente hipótese filogenética. Os comprimentos <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> e <strong>da</strong> asa foramobtidos de Forshaw (1989). Os estados para forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>, narinas e anel perioftálmico foramobtidos <strong>da</strong> literatura (Salvadori, 1891; Forshaw, 1989) e confirmados em peles de museu (Tabela 2.1).2.2.7. Tempos de divergênciaA hipótese de existência de relógio molecular entre as linhagens de psitacídeos neotropicaisfoi testa<strong>da</strong> através do teste de razão de verossimilhança (LRT, “likelihood ratio test”; Posa<strong>da</strong> eCran<strong>da</strong>ll, 1998) comparando os valores de verossimilhança, <strong>da</strong> topologia assumindo e não assumindoo relógio molecular (valores obtidos no PAUP* 4.0b10; Swofford, 2002). Para verificar se as diferençasnos valores de MV nas diferentes situações é significativa, foi utilizado o teste c 2 , onde o número degrau de liber<strong>da</strong>de foi definido como o número de táxons menos 2. As estimativas dos tempos dedivergência foram obti<strong>da</strong>s pelos métodos “penalized likelihood” (PL; Sanderson, 2002) e bayesiano(Thorne e col., 1998; Kishino e col., 2001), que não pressupõem a existência de taxa de <strong>evolução</strong>constante ao longo <strong>da</strong>s linhagens. O PL está implementado no programa r8s 1.5 (Sanderson, 2003) eassume um modelo paramétrico que permite a existência de diferentes taxas de substituição em ca<strong>da</strong>ramo e uma penali<strong>da</strong>de não paramétrica (“roughness penality”) que aumenta o custo <strong>da</strong> taxa demu<strong>da</strong>nça se as taxas variarem de forma abrupta entre os ramos (Sanderson, 2002). Antes de estimaros tempos de divergência, uma análise de vali<strong>da</strong>ção cruza<strong>da</strong> (Sanderson, 2002) foi realiza<strong>da</strong> no r8s1.5 (Sanderson, 2003) para determinar o melhor valor do parâmetro de suavização (“smoothing”) paraa penali<strong>da</strong>de. Os tamanhos de ramo usados foram <strong>da</strong> topologia obti<strong>da</strong> pela análise bayesiana,computa<strong>da</strong> apenas com os genes mitocondriais, pois a seqüência de RAG-1 para Strigops não estádisponível. A estimativa de tempo de divergência por inferência bayesiana foi realiza<strong>da</strong> no multidivtime(pacote multidistribute, http:// statgen.ncsu.edu/thorne/multidivtime.html), que usa um modeloprobabilístico para descrever as mu<strong>da</strong>nças de taxa de <strong>evolução</strong> ao longo do tempo e usa aaproximação MCMC para obter as distribuições posteriores <strong>da</strong>s taxas e tempos (Thorne e col., 1998;Kishino e col., 2001). Esse método permite que ca<strong>da</strong> gene seja analisado com um modelo evolutivoindependente (Thorne e Kishino, 2002). Inicialmente o programa baseml no pacote PAML 2.0 (Yang,1997) foi usado para obter as taxas de transição/ transversão, valores dos parâmetros de substituiçãopelo modelo evolutivo HKY85g (Hasegawa e col., 1985), e valores do parâmetro a para distribuição36


Capítulo 2gama de ca<strong>da</strong> gene. Esses <strong>da</strong>dos foram convertidos pelo paml2modelinf do pacote multidistribute paraum formato reconhecido pelo estbranches do pacote multidistribute, que estima os tamanhos de ramoe seus respectivos valores de variância-covariância. Análises de MCMC foram realiza<strong>da</strong>s nomultidivtime para aproximar os valores de distribuição posterior <strong>da</strong>s taxas de substituição e tempos dedivergência. Os parâmetros iniciais <strong>da</strong> distribuição a priori foram 9,0 e 0,2 para rttm (média a priori <strong>da</strong><strong>da</strong>ta <strong>da</strong> raiz do grupo interno) e rttmsd (desvio padrão <strong>da</strong> rttm), respectivamente e 0,094 para rtrate(média a priori <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong> taxa de <strong>evolução</strong> molecular na raiz do grupo interno, aqui estima<strong>da</strong>pelo valor <strong>da</strong> mediana dos tamanhos de ramo de ca<strong>da</strong> terminal até a raiz sobre o valor <strong>da</strong> rttm) ertratesd (desvio padrão <strong>da</strong> rtrate). Um grande valor de desvio padrão (rttmsd e rtrates) foi escolhidopara permitir que os genes apresentem uma grande variação nas taxas ao longo do tempo, já que ainformação <strong>da</strong>s taxas a priori é desconheci<strong>da</strong> (Thorne e Kishino, 2002). Várias simulações foramrealiza<strong>da</strong>s para verificar a convergência do algoritmo MCMC comparando os valores de distribuiçãoposterior dos tempos de divergência, tamanho de ramo e proporção de mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong>s diferentescorri<strong>da</strong>s. Esse método aceita amostragem incompleta dos táxons para os diferentes genes, por issoRAG-1 foi incluído na análise mesmo sem a seqüência de Strigops habroptilus.Diversos estudos independentes de <strong>da</strong>tação molecular em linhagens de aves apontam aorigem de várias ordens de Neoaves37


Capítulo 22.3. Resultados2.3.1. Análise <strong>da</strong>s seqüênciasAs amplificações para ca<strong>da</strong> gene resultaram em segmentos de ban<strong>da</strong>s únicas em gel deagarose, de tamanhos entre 800 a 1.300 pares de bases (pb), que são maiores que a maioria <strong>da</strong>spossíveis cópias de genes mitocondriais incorporados no núcleo encontrados no genoma de Gallusgallus (Pereira e Baker, 2004). Além disso, a análise <strong>da</strong>s seqüências codificadoras de proteínas nãoindicou códons de para<strong>da</strong> de leitura dentro dos genes, ou mutações que alterassem o código de leiturados aminoácidos. Da<strong>da</strong> a baixa ocorrência de NUMTs em aves, é improvável que pseudogenes foramamplificados nesse estudo.As seqüências concatena<strong>da</strong>s totalizaram 6.416 pb de comprimento, sendo 2.703 pb de DNAnuclear e 3.713 pb de DNA mitocondrial (DNAmt). Substituições acumularam de modo proporcional àsdistâncias corrigi<strong>da</strong>s nas matrizes dos genes RAG-1, DNAr 12S e DNAr 16S. Ocorre saturação emgenes mitocondriais nas comparações entre psitacídeos e grupos externos de outras ordens de aves enas transições dos genes codificadores mitocondriais entre os psitacídeos.A média entre as distâncias par a par não corrigi<strong>da</strong>s (distância-p) calcula<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>mentepara ca<strong>da</strong> região, sugere que RAG-1 apresenta a taxa de <strong>evolução</strong> mais lenta (distância-p entrepsitacídeos neotropicais entre 0,04-4%), o que é esperado para um éxon de um gene nuclearcodificador de proteína. Entre os genes mitocondriais, os genes que apresentaram taxa de <strong>evolução</strong>mais lenta foram os DNAr 12S (457 pb) e DNAr 16S (518 pb), nos quais a variação foi em torno de 1,1a 9,2%; seguido dos genes codificadores de proteínas citocromo oxi<strong>da</strong>se III (191 pb) e citocromo b(888 pb), os quais variaram entre 3,1 a 16,3%; e NADH 2 (892 pb), com variação entre 5 a 20%. Osgenes cujas taxas de substituição foram mais rápi<strong>da</strong>s dentre os estu<strong>da</strong>dos são a ATPase 6 (673 pb) ea ATPase 8 (92 pb), cuja variação foi de 4,3 a 26,1%. As taxas de transição e transversão para ostáxons do grupo interno foram 3,15, 4,33 e 4,26 para o RAG-1, os genes mitocondriais e ambosconcatenados, respectivamente.A composição de bases de RAG-1 de psitacídeos neotropicais foi: A=31,6-31,9; C=19,7-20,2;T=24,4-24,9 e G=23,5-23,8. Para a matriz de genes mitocondriais combinados a composição de basesfoi: A=29,8-32,5; C=31,2-34,6; T=21,2-24,5 e G=12,3-14,2. Esses valores estão de acordo com asporcentagens encontra<strong>da</strong>s para genes nucleares e mitocondriais de outras aves.Dentre os genes mitocondriais codificadores de proteínas foi detectado um desvio significativo(p < 0,05) na composição de bases <strong>da</strong> terceira posição do códon em 14 táxons incluídos na análise38


Capítulo 2(Tabela 2.2), enquanto as seqüências de RAG-1 não apresentam desvio na composição de bases paranenhum táxon. A pressão de mutação simétrica39


Capítulo 2Tabela 2.2. Pressão de mutação direcional simétrica (m D ) para os genes mitocondriais codificadores deproteínas. m D < 0,5 e m D > 0,5 representam maior quanti<strong>da</strong>de de A+T e maior quanti<strong>da</strong>de de G+C,respectivamente. Os valores representam as % de GC observa<strong>da</strong> na seqüência total (Pobs), nos sítiosnão sinônimos (Pnon), nos sinônimos (Psin) e na terceira posição do códon (P 3 ). Táxons queapresentam variação na composição de bases estão representados em negrito.Táxon m D Pobs Pnon Psin P 3Ara a 0,519 0,460 0,412 0,534 0,474Primolius 0,523 0,460 0,410 0,537 0,479Orthopsittaca 0,540 0,472 0,418 0,554 0,489Cyanopsitta 0,539 0,466 0,409 0,553 0,491Nan<strong>da</strong>yus 0,508 0,452 0,406 0,524 0,463Aratinga solstitialis b 0,502 0,447 0,402 0,517 0,459Aratinga leucophthalmus 0,533 0,467 0,414 0,548 0,493Aratinga aurea 0,525 0,460 0,408 0,540 0,475Guarouba 0,519 0,454 0,400 0,535 0,467Diopsittaca 0,522 0, 458 0,406 0,537 0,470Cyanoliseus b 0,502 0,448 0,403 0,517 0,462Anodorhynchus c 0,529 0,462 0,408 0,543 0,479Enicognathus 0,541 0,468 0,410 0,559 0,489Rhynchopsitta a, b 0,485 0,444 0,406 0,500 0,435Pyrrhura a 0,572** 0,481 0,413 0,585 0,523Deroptyus 0,556** 0,473 0,410 0,570 0,501Pionites 0,563*** 0,475 0,409 0,577 0,513Forpus d 0,514 0,455 0,406 0,529 0,458Graydi<strong>da</strong>scalus a 0,540 0,465 0,407 0,555 0,487Amazona xanthops 0,535 0,467 0,412 0,549 0,480Amazona b 0,563*** 0,474 0,406 0,576 0,512Pionus 0,551** 0,473 0,413 0,565 0,491Pionopsitta barrabandi 0,519 0,457 0,407 0,534 0,478Triclaria b 0,520 0,460 0,412 0,535 0,466Pionopsitta pileata 0,528 0,463 0,411 0,543 0,479Myiopsitta a 0,470** 0,434 0,402 0,483 0,417Brotogeris b 0,565*** 0,475 0,408 0,578 0,513Bolborhynchus 0,541 0,469 0,412 0,555 0,486Nannopsittaca 0,537 0,466 0,411 0,551 0,477Cacatua e 0,540 0,470 0,414 0,555 0,486Melopsittacus d 0,511 0,455 0,409 0,526 0,457Falco 0,500 0,454 0,415 0,515 0,455a ATP 6, b citocromo b, c ATP 8, d NADH2, e COIII, * p < 0.05, **p < 0.01, *** p < 0.001.40


Capítulo 2A análise bayesiana <strong>da</strong>s regiões nuclear e mitocondrial concatena<strong>da</strong>s, assumindo ca<strong>da</strong> genecomo uma partição independente, resultou em uma topologia consenso muito pareci<strong>da</strong> com a obti<strong>da</strong>apenas com os genes mitocondriais. Em ambas as topologias três grandes clados foram recuperadosdentre os psitacídeos <strong>da</strong> região neotropical (Figura 2.2): clado A – periquitos pequenos (Bolborhynchuse Nannopsittaca), clado B- papagaios, caturritas, curicas e afins (Amazona, Pionus, Graydi<strong>da</strong>scalus,Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta e Brotogeris) e clado C – araras, marianinhas, tiribas e afins (Ara,Primolius, Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diopsittaca, Guarouba, Nan<strong>da</strong>yus, Aratinga, Anodorhynchus,Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura, Deroptyus, Pionites e Forpus). A única diferençafoi observa<strong>da</strong> nas relações entre Ara, Primolius e Orthopsittaca. Os primeiros dois gêneros parecemser mais proximamente relacionados na matriz combina<strong>da</strong>, enquanto considerando apenas a partiçãode DNAmt, Ara e Orthopsittaca aparecem como grupos irmãos e Primolius agrupa com esse clado. Noentanto, como esperado, o suporte dos nós aumenta significantemente com a inclusão de RAG-1.A busca por MV recuperou uma topologia muito semelhante à topologia consenso obti<strong>da</strong> apartir <strong>da</strong> análise bayesiana (Figura 2.2), diferindo somente na posição de Pyrrhura que ficou comogrupo irmão de um clado que inclui Rhynchopsitta, Enicognathus, Cyanolyseus, Anodorhynchus,Guarouba, Diopsittaca, Aratinga, Nan<strong>da</strong>yus, Cyanopsitta, Orthopsittaca, Primolius e Ara e as relaçõesentre Enicognathus, Rhynchopsitta, Cyanoliseus e Pyrrhura. Ambos “bootstrap” e probabili<strong>da</strong>desposteriores apresentaram suporte alto para a maioria dos clados.No entanto, alguns nós com baixos valores de suporte por “bootstrap” nas análises de MVapresentam altos valores de probabili<strong>da</strong>de posterior na análise bayesiana. Por exemplo, o clado queune Forpus às demais linhagens do grupos <strong>da</strong>s araras, marianinhas e afins apresenta suporte por“bootstrap” de 61% e probabili<strong>da</strong>de posterior de 100%. Análises de MV homogênea e não-homogênearecuperaram a mesma árvore, apenas diferindo nas relações entre Primolius, Ara e Orthopsittaca. Noentanto, as diferenças nas topologias obti<strong>da</strong>s pelos três métodos não são significativas ao nível 5% deacordo com o teste AU.41


Capítulo 2a) b)Figura 2.1. Reconstrução filogenética por análise bayesiana de psitacídeos neotropicais com base em: a) 2703 pb do gene nuclear RAG-1; b) 3713 pb dosgenes mitocondriais; táxons com desvio significativo na composição de bases dos genes codificadores mitocondriais estão sublinhados. As probabili<strong>da</strong>desposteriores estão indica<strong>da</strong>s nos nós.42


Capítulo 2Figura 2.2. Reconstrução filogenética por análise bayesiana de psitacídeos neotropicais com base em6416 pares de bases de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Os números nos nós correspondemaos valores de porcentagem de “bootstrap” de MV acima de 50 % e aos valores de probabili<strong>da</strong>de posteriordos nós na análise bayesiana, respectivamente. Clados: A- pequenos periquitos; B- papagaios, caturritascuricas e afins; C- araras, marianinhas, tiribas e afins. Ilustrações dos psitacídeos de del Hoyo ecolaboradores (1997).43


Capítulo 22.3.3. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genético na filogenia molecularOs caracteres morfológicos e comportamentais selecionados apresentam homoplasia quandomapeados na hipótese filogenética apresenta<strong>da</strong> no presente trabalho (Tabela 2.1; Figura 2.3). A cau<strong>da</strong>curta presente nos táxons do clado A, em muitos do clado B e em Forpus e Pionites do clado C, e a cau<strong>da</strong>longa presente em Myiopsitta, Brotogeris e Triclaria (clado B) e em muitos táxons do clado C, sãoconvergentes quando mapea<strong>da</strong>s na filogenia molecular (Figura 2.3a). A forma arredon<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>(presente em Deroptyus e Pionites) e o dimorfismo sexual (presente em Pionopsitta, Triclaria e Forpus)provavelmente surgiram independentemente por paralelismo em mais de uma linhagem (Figuras 2.3b e2.3c). A inferência para o estado ancestral <strong>da</strong> íris bi-colori<strong>da</strong> é ambígua e ambos estados ocorrem emdiferentes grupos ao longo <strong>da</strong> topologia, de forma que esse caráter por si só apresenta pouco valorsistemático (Figura 2.3d). O estado comportamental de coçar a cabeça passando o pé indiretamente sobrea asa parece ter surgido em paralelo em Bolborhynchus, Pionopsitta pileata e Forpus (Figura 2.3e). Oestado aparentemente derivado <strong>da</strong>s narinas cobertas por penas surgiu convergentemente, uma vez noclado B e várias vezes independentemente no clado C (Figura 2.3f). O mapeamento sugere que o anelperioftálmico nu parece ser o estado ancestral do caráter nos clados, mas o estado coberto por penasparece ter surgido em paralelo nos três principais clados (Figura 2.3g).Os minissatélites ligados ao cromossomo W estão presentes nos táxons do grupo <strong>da</strong>s araras,marianinhas e afins com exceção dos táxons mais basais Pionites, Deroptyus e Pyrrhura e estão ausentesnos táxons estu<strong>da</strong>dos no grupo dos papagaios e afins (Figura 2.3h). No entanto, o estado desse caracternão é conhecido no grupo mais basal (clado A), em dois táxons do grupo de papagaios e afins (clado B) equatro táxons do grupo <strong>da</strong>s araras, marianinhas e afins (clado C).44


Capítulo 2a) b)b) d)Figura 2.3. Mapeamento dos caracteres morfológicos, comportamentais e genéticos na hipótesefilogenética obti<strong>da</strong> no presente trabalho: a) comprimento <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>; b) forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>; c) dimorfismosexual aparente; d) íris bi-colori<strong>da</strong>; e) posição <strong>da</strong> perna ao coçar a cabeça; f) narinas; g) anel perioftálmico;e h) minissatélites ligados ao cromossomo W. Os círculos coloridos nos nós representam a probabili<strong>da</strong>dedo estado ancestral (Figuras a-g). Os círculos coloridos nos terminais representam os estados do caráternos táxons atuais.45


Capítulo 2e) f)g) h)Figura 2.3. continuação.46


Capítulo 22.3.4. Tempos de divergênciaA hipótese de existência de relógio molecular entre os psitacídeos neotropicais foi rejeita<strong>da</strong> peloteste LRT <strong>da</strong>s topologias assumindo e não assumindo taxa constante entre as linhagens, incluindo osgrupos externos Falco, Aburria e Gallus (log <strong>da</strong> verossimilhança <strong>da</strong> topologia com relógio= -39016,92; log<strong>da</strong> verossimilhança <strong>da</strong> topologia sem relógio molecular= -38962,05; 2∆= 109,73, gl=33; p < 0,001) eexcluindo os grupos externos (log <strong>da</strong> verossimilhança <strong>da</strong> topologia com relógio= -33714,15; log <strong>da</strong>verossimilhança <strong>da</strong> topologia sem relógio molecular= 33664,22; 2∆= 99,88; gl= 30; p < 0,001). O teste devali<strong>da</strong>ção cruza<strong>da</strong> resultou em um valor ótimo de penali<strong>da</strong>de 3,16 para estimar o tempo de divergênciapelo método PL. Os tempos de divergência estimados pelo método PL e método bayesiano foramcongruentes (Tabela 2.3) e a comparação com os eventos paleogeoclimáticos foi realiza<strong>da</strong> com base nométodo bayesiano, já que esse método leva em conta a incerteza nos tamanhos de ramo e nos tempos de47


Capítulo 2Tabela 2.3. Tempos de divergência estimado entre as linhagens de psitacídeos neotropicais (em milhõesde anos, ma). Dados obtidos com o método PL (com nó 1 fixado em 82 e 85 ma) e os respectivosintervalos de confiança (IC); e com o método bayesiano e os respectivos intervalos de credibili<strong>da</strong>de (ICr).Os nós estão indicados na figura 2.4.PL PL bayesianoNó Data IC 95% Data IC 95% Data ICr 95%1 82 fixado 85 fixado 82,9 (82,0; 84,6)2 69,8 (66,9; 72,3) 72,3 (69,3; 75,0) 67,6 (60,4; 74,8)3 62,1 (59,0; 65,1) 64,3 (60,8; 68,5) 59,0 (51,5; 66,8)4 52,6 (49,3; 59,0) 54,5 (51,0; 57,8) 49,7 (42,5; 57,3)5 20,3 (17,7; 23,2) 21,0 (18,1; 24,0) 18,4 (13,4; 24,2)6 50,9 (47,7; 54,1) 52,7 (49,3; 56,0) 48,3 (41,2; 55,9)7 49,4 (16,2; 52,7) 51,2 (47,7; 54,6) 46,1 (39,0; 53,8)8 36,7 (33,3; 40,0) 37,9 (34,5; 41,4) 32,5 (25,5; 40,2)9 40,1 (36,7; 43,6) 41,5 (36,8; 45,1) 39,2 (32,2; 46,6)10 37,4 (34,0; 40,9) 38,7 (35,2; 42,3) 36,2 (29,7; 43,4)11 35,7 (32,4; 39,2) 37,0 (33,4; 40,6) 33,2 (26,8; 40,2)12 28,9 (25,4; 32,4) 29,9 (26,3; 33,6) 24,9 (19,4; 31,1)13 24,9 (21,6; 28,4) 25,8 (22,4; 29,4) 22,4 (17,0; 28,7)14 19,7 (16,8; 22,9) 20,4 (17,4; 24,2) 16,6 (11,7; 22,1)15 48,3 (45,1; 51,6) 50,0 (46,6; 53,4) 46,2 (39,0; 53,8)16 30,4 (27,6; 33,3) 31,4 (28,6; 34,5) 28,2 (22,5; 34,8)17 23,1 (20,1; 26,1) 23,9 (20,0; 27,0) 22,3 (16,6; 28,7)18 25,4 (22,7; 28,3) 26,3 (23,5; 29,3) 25,2 (20,0; 31,2)19 25,1 (22,4; 28,1) 26,0 (23,1; 29,1) 23,4 (18,1; 29,6)20 23,3 (20,9; 26,7) 24,1 (21,7; 26,9) 23,4 (19,0; 29,2)21 22,1 (19,8; 24,6) 22,8 (21,0; 25,6) 22,1 (17,3; 27,5)22 20,2 (17,9; 22,6) 20,9 (18,7; 23,3) 20,6 (16,1; 25,7)23 9,4 (7,7; 11,3) 9,7 (7,9; 11,8) 8,9 (6,1; 12,3)24 18,7 (16,7; 21,1) 19,4 (17,3; 21,8) 19,9 (15,5; 24,9)25 16,2 (14,3; 18,4) 16,7 (14,7; 19,0) 18,3 (13,9; 23,2)26 17,8 (15,9; 20,1) 18,4 (16,3; 20,7) 19,0 (14,8; 24,0)27 4,9 (4,2; 5,8) 5,1 (4,3; 6,0) 5,5 (3,6; 7,7)28 16,3 (14,4; 18,4) 16,7 (14,9; 19,0) 17,2 (13,0; 22,0)29 13,9 (12,1; 15,9) 14,4 (12,5; 18,6) 15,0 (11,2; 19,5)30 12,8 (11,1; 14,8) 13,3 (11,4; 15,3) 13,6 (9,9; 18,0)48


Capítulo 2Figura 2.4. Cronograma mostrando os tempos de divergência entre linhagens de psitacídeos estimadospelo método bayesiano. As letras correspondem aos nós indicados na tabela 2.3 e seus respectivosintervalos de credibili<strong>da</strong>de estão indicados pelas barras horizontais. As barras verticais indicam eventospaleogeoclimáticos registrados nos respectivos períodos. A- pequenos periquitos; B- papagaios, caturritas,curicas e afins; C- araras, marianinhas, tiribas e afins.49


Capítulo 2Os resultados sugerem que essa estratégia melhorou a resolução <strong>da</strong> topologia e aumentou osuporte dos ramos, como foi sugerido em outros trabalhos (Poe e Swofford, 1999; Haddrath e Baker, 2001;Slowinski, 2001; Paton e col., 2002). Além disso, a combinação de partições nuclear e mitocondrial, queoferecem resolução em diferentes partes <strong>da</strong> topologia, resultou em uma topologia mais robusta, comosugerido em uma filogenia de gêneros de cracídeos (Pereira e col., 2002).A presente análise apontou três grandes clados dentre os psitacídeos neotropicais: pequenosperiquitos dos gêneros Nannopsittaca e Bolborhynchus (clado A); papagaios, caturritas, curicas e afins dosgêneros Amazona, Pionus, Graydi<strong>da</strong>scalus, Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta e Brotogeris (clado B) eararas, marianinhas, tiricas e afins dos gêneros Ara, Primolius, Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diopsittaca,Guarouba, Nan<strong>da</strong>yus, Aratinga, Anodorhynchus, Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura,Deroptyus, Pionites e Forpus (clado C). Apenas cinco gêneros não puderam ser incluídos, pois o DNAextraído de pele dos gêneros Touit e Ognorhynchus não resultaram em amplificações de boa quali<strong>da</strong>de eas amostras dos gêneros Hapalopsittaca, Leptosittaca e Psilopsiagon não estavam disponíveis.Embora os clados B e C são semelhantes aos obtidos em estudos filogenéticos anterioresempregando amostragem de táxons mais incompleta (Miyaki e col., 1998, Tavares e col., 2004, de Kloet ede Kloet, 2005), os resultados apresentados no presente trabalho sugerem que os pequenos periquitos sãogrupo irmão de todos os demais táxons. Adicionalmente, a ausência de monofiletismo de Aratinga,Amazona e Pionopsitta, aponta<strong>da</strong> em estudos anteriores, foi corrobora<strong>da</strong> no presente estudo (Tavares ecol., 2004; Ribas e Miyaki, 2004; Russello e Amato, 2004; Ottens-Wainright e col., 2004; Ribas e col.,2005).Em comparação com propostas de classificação mais antigas, que assumiam agrupamentos entregêneros de psitacídeos neotropicais, incluindo ou não táxons de outras regiões geográficas, nossosresultados não sustentam a proposta de classificação de Brereton (1963) que agrupa na família Forpi<strong>da</strong>eBolborhynchus, Nannopsittaca, Forpus e Psilopsiagon, porque na presente reconstrução, Forpus agrupacom táxons do clado C, que por sua vez agrupam com o clado B. Os clados B e C apresentam algumassimilari<strong>da</strong>des e diferenças com os grupos Pioninae/ Conurinae (Salvadori, 1891) e Amazoninae/ Arinae(Verheyen, 1956). Os grupos Pioninae (Salvadori, 1891) e Amazoninae (Verheyen, 1956) possuemcomposição semelhante e ambos incluem os táxons do clado dos papagaios e afins (clado B) com exceçãode Myiopsitta e Brotogeris. Além disso, tais grupos incluem os táxons Pionites, Deroptyus (incluídos noclado C), Touit e Hapalopsittaca (não amostrados no presente trabalho). Pioninae (Salvadori, 1891)também inclui o gênero africano Poicephalus. Conurinae (Salvadori, 1891) e Arinae (Verheyen, 1956)também são grupos de composição semelhante e ambos incluem os táxons do clado C, exceto Deroptyus50


Capítulo 2e Pionites. Além disso, Conurinae (Salvadori, 1891) e Arinae (Verheyen, 1956) incluem Nannopsittaca,Bolborhynchus (pertencentes ao clado A no presente trabalho), Psilopsiagon, Leptossitaca eOgnorhynchus (não amostrados no presente trabalho). Smith (1975) considerou que as sugestões degrupos de gêneros neotropicais propostos nas classificações anteriores (Salvadori 1890; Verheyeyen,1956; Brereton, 1963) não refletiam a <strong>evolução</strong> do grupo, e por falta de evidências, preferiu não aceitaragrupamentos dentre os gêneros <strong>da</strong> tribo Arini. Um dos argumentos citados pelo autor (Smith, 1975) foi ofato de Deroptyus e Pionites (família Pioninae e Amazoninae) apresentarem similari<strong>da</strong>des emcomportamento com Pyrrhura e Aratinga (família Conurinae e Arinae). Apesar de tais similari<strong>da</strong>descomportamentais não terem sido detalha<strong>da</strong>mente descritas e compara<strong>da</strong>s com os demais táxons, napresente reconstrução filogenética, Deroptyus e Piontes pertencem ao clado C, o qual inclui Pyrrhura eAratinga. O clado fomado por Deroptyus e Pionites, proposto no presente trabalho, está de acordo comobservações de campo que sugerem que ambos os gêneros apresentam o canto “keeya” e compartilhamaspectos no comportamento reprodutivo (McLoughlin e Burton, 1976), porém, esses caracteres ain<strong>da</strong> nãoforam estu<strong>da</strong>dos por uma abor<strong>da</strong>gem cladística.2.4.2. Mapeamento de caracteres morfológicos, comportamentais e genéticos na hipótesefilogenéticaNenhum dos caracteres morfológicos mapeados na hipótese filogenética proposta no presentetrabalho apresentou estados exclusivos para um único grupo. O tamanho e a forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> foram osprincipais caracteres adotados para definir grupos de gêneros dentre os psitacídeos neotropicais emclassificações mais antigas (Salvadori, 1890; Verheyen, 1990). Propostas mais recentes (Smith, 1975;Forshaw, 1989; Collar, 1997) não consideram os agrupamentos com base nesses caracteres. No entanto,a importância do tamanho e forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> foram levantados novamente em um estudo molecular, onde avariação dos estados de caráter <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> concor<strong>da</strong>ram com as relações <strong>filogenéticas</strong> inferi<strong>da</strong>s com baseem táxons de nove gêneros amostrados (Miyaki e col., 1998). Quando esses caracteres foram mapeadosna presente hipótese filogenética, que possui uma amostragem mais completa de táxons, elesapresentaram convergência (Figura 2.3a e 2.3b). Dessa forma, o uso desses caracteres na diagnose degrupos monofiléticos dentre os psitacídeos neotropicais deve ser descontinuado.Os minissatélites ligados ao cromossomo W podem ser informativos, uma vez que podem estarpresentes em um sub-clado do clado C, excluindo os táxons mais basais Forpus, Deroptyus, Pionites ePyrrhura (Figura 2.3h). No entanto, como o caracter não foi estu<strong>da</strong>do para alguns dos táxons pertencentesà tribo Arini, qualquer conclusão pode ser prematura.51


Capítulo 22.4.3. Tempos de divergência e <strong>biogeografia</strong> <strong>histórica</strong>A maneira mais adequa<strong>da</strong> de estimar os tempos de divergência por <strong>da</strong>dos moleculares é utilizando52


Capítulo 2florestas tropicais na América do Sul (Burnham e Johnson, 2004; Rull, 1999; Jaramillo e Dilcher, 2000; Wilfe col., 2003). Além disso, muitas <strong>da</strong>s linhagens atuais desse clado estão associa<strong>da</strong>s com ambientesflorestais. Portanto, os papagaios e afins podem ter evoluído exclusivamente na América do Sul,associados a esses ambientes.No início do Oligoceno, uma expansão de áreas abertas e savanas pode ter acontecido naAmérica dos Sul. As evidências dessa aridificação são o registro de diversificação de plantas de ambientessecos nesse período (Pennington e col., 2004) e o registro fóssil animal com uma fauna de mamíferosdomina<strong>da</strong> por herbívoros hipsodontes, que em geral são associados a ambientes de savana (Flynn eWyss, 1997). A aridificação <strong>da</strong> América do Sul foi atribuí<strong>da</strong> ao soerguimento <strong>da</strong> porção central dos Andes,que impediu a passagem <strong>da</strong>s correntes úmi<strong>da</strong>s do Pacífico para o interior do continente (Hooghiemstra evan der Hammer, 1998). Possivelmente, a grande diversificação (entre 22-34 ma) do grupo <strong>da</strong>s araras,maracanãs e afins (clado C), ocorreu em resposta a essa diversificação de ambientes secos, uma vez quemuitas linhagens atuais desse grupo ocupam ambientes com características semelhantes.Apesar de não haver evidências a partir dos <strong>da</strong>dos apresentados aqui, ou a partir de outras fontes,membros dos clados dos pequenos periquitos (clado A) e do clado <strong>da</strong>s araras, maracanãs e afins (clado C)poderiam estar ocupando o sul <strong>da</strong> América do Sul e não dispersaram para a porção norte do continente atéo Oligoceno, devido à presença de um mar transcontinental formado no sul <strong>da</strong> Argentina e do Chile(Romero, 1986; Smith e col., 1994), que poderia ter atuado como uma barreira para a sua dispersão.Alternativamente, os ancestrais desses dois grupos poderiam ser remanescentes de linhagens queinicialmente ocorriam na Antártica e que teriam sido impulsionados para a América do Sul, à medi<strong>da</strong> que aAntártica migrou mais para o sul e se tornou um continente incrustrado por gelo (Shevenall e col., 2004;Dingle e Lavelle, 1998). Uma redução drástica do nível do mar aconteceu em conseqüência <strong>da</strong> formação<strong>da</strong> calota polar Antártica, o que poderia ter facilitado a invasão <strong>da</strong> América do Sul, como foi sugerido paraalguns grupos de mamíferos (Flynn e Wyss, 1997). Um padrão muito semelhante de cladogênesediferencia<strong>da</strong> entre dois grupos também foi descrito para Passeriformes neotropicais suboscines (Ericson ecol., 2003). A família Furnarii<strong>da</strong>e apresenta uma filogenia bem resolvi<strong>da</strong>, enquanto os internós emTyranni<strong>da</strong>e são muito curtos, indicando indicando uma rápi<strong>da</strong> radiação (Ericson e col., 2003).Apesar de não ter sido possível incluir amostras de psitacídeos africanos no presente estudo, asua posição filogenética não afeta a interpretação biogeográfica <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> dos psitacídeos neotropicais.Estudos anteriores sugeriram que os psitacídeos africanos não são monofiléticos e podem ter invadido aÁfrica duas vezes, uma via sudoeste <strong>da</strong> Ásia e outra, via América do Sul (de Kloet, de Kloet, 2005). Ogrupo que teria dispersado para a África a partir <strong>da</strong> América do Sul seria grupo irmão dos psitacídeos53


Capítulo 2neotropicais (Barrowclough e col., 2004; de Kloet, de Kloet, 2005). Como estimamos a separação de umgênero do clado australasiático (Melopsittacus undulatus) dos neotropicais entre 51-66 ma e primeiracladogênese dentre os neotropicais entre 42-57 ma (Tabela 2.3), a invasão <strong>da</strong> África pelas linhagens <strong>da</strong>América do Sul pode ter ocorrido entre 42-66 ma, período no qual a África já se encontrava isola<strong>da</strong> dosupercontinente formado pela Antártica-Austrália-América do Sul. Além disso, reforçaria a hipótese de quelinhagens dos psitacídeos encontravam-se distribuídos ao longo do supercontinente, antes <strong>da</strong> primeiradiversificação do grupo neotropical.As estimativas de tempo de divergência entre psitacídeos neotropicais realiza<strong>da</strong>s anteriormenteempregavam métodos que não levam em conta a taxa de variação entre as linhagens. Por exemplo, Miyakie colaboradores (1998) e Tavares e colaboradores (2004) utilizaram o método de linearização de árvore(Takezaki e col., 1995), que avalia a presença de táxons que evoluem sob uma taxa significantementediferente <strong>da</strong> média <strong>da</strong> amostra sendo estu<strong>da</strong><strong>da</strong> e exclui esses táxons <strong>da</strong> análise. A calibração utiliza<strong>da</strong>para o relógio molecular nesses estudos foi a separação entre Galliformes e Anseriformes dos demaisneognatos, estima<strong>da</strong> em 100 ma. Tavares e colaboradores (2004) também empregaram a taxa padrãoestima<strong>da</strong> para o genoma mitocondrial de aves, de 2% de substituição de nucleotídeos/ ma. O mesmoprocesso foi utilizado para estimar tempos de divergência entre espécies de psitacídeos, porém aplicandotaxas de 1,6-2,0% de substituição de nucleotídeos/ ma (Ribas e Miyaki, 2004; Ribas e col., 2005). Emgeral, essas estimativas resultaram em tempos de divergência mais recentes do que os tempos estimadosno presente estudo. Acreditamos que a aproximação realiza<strong>da</strong> no presente trabalho é mais adequa<strong>da</strong> doque as realiza<strong>da</strong>s anteriormente (Miyaki e col., 1998; Tavares e col., 2004) porque não assume a hipótesede existência de um relógio molecular estrito, permitindo haver variação de taxa ao longo <strong>da</strong>s linhagens.Além disso, incorpora na análise a incerteza nos tamanhos de ramo e tempos estimados e foi realiza<strong>da</strong>com base em uma hipótese filogenética cujos nós são melhor resolvidos. A utilização de um ponto decalibração geológico independente (a separação <strong>da</strong> Nova Zelândia dos demais continentes <strong>da</strong> Gondwana)permite que as taxas sejam estima<strong>da</strong>s a partir dos <strong>da</strong>dos, ao invés de assumir taxas estima<strong>da</strong>s a partir deoutras linhagens de aves (Lovette, 2004).54


Capítulo 22.5. ReferênciasArbobast, B.S, Edwards, S.V., Wakeley, J., Beerli, P. ,Slowinski, J.B., 2002. Estimating divergence timesfrom molecular <strong>da</strong>ta on phylogenetic and population genetic timescales. Annu. Rev. Ecol. Syst. 33,707–740.Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. One Hundre<strong>da</strong>nd Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologist’s Union. 16 – 21 August, Laval,Quebec.Boetticher, H.von, 1943. Ge<strong>da</strong>nken “uber die systematic Stellung einiger Papagaien. Zool. Anz. 143, 191-200.Boetticher, H.von, 1959. Papagaien. Wittenberg Lutherstadt, A. Ziemsen.Brereton, J.L., 1963. Evolution within the Psittaciformes. Proc. Internatl. Ornitol. Congr. 13, 499-517.Brereton, J.L., Immelmann, K., 1962. Head-scratching in the Psittaciformes. Ibis 104, 169-174.Brodkorb, P. 1964. Catalogue of fossil birds, part 2 (Anseriformes through Galliformes). Bull. Flori<strong>da</strong> StateMus. Biol. Sci. 8, 195-335.Bruford, M.W., Hanotte, O. Brookfield, J.F.Y., Burke, T., 1992. Single-locus and multilocus DNAfingerprinting. In: Hoelzel, A.R. (Ed.), Molecular Genetic Analysis of Populations- A PracticalApproach, IRL Press, Oxford University Press, New York, Pp. 225-269.Burnham, R.J., Johnson, K.R., 2004. South American paleobotany and the origins of neotropicalrainforests. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B 359, 1595-1600.Chang, B.S.W., Campbell, D.L., 2000. Bias in phylogenetic reconstruction of vertebrate rhodopsinsequences. Mol. Biol. Evol. 17, 1220–1231.Collar, N.J., 1997. Family Psittaci<strong>da</strong>e (Parrots). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.) Handbook ofthe Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse to Coockos. Lynx Edicións, Barcelona, Pp. 280-477.Cooper, A., Penny, D., 1997. Mass survival of birds across the Cretaceous-Tertiary boun<strong>da</strong>ry: molecularevidence. Science 275:1109–1113.Cooper, R.A., Millener, P., 1993. The New Zealand biota: historical background and new research. TrendsEcol. Evol. 8, 429-433.Cracraft, J., 1973. Continental drift, paleoclimatology and the evolution and biogeography of birds. J. Zool.169, 455-545.Cracraft, J., 2001. Avian evolution, Gondwana biogeography and the Cretaceous–Tertiary mass extinctionevent. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 459–469.55


Capítulo 2Crowe TM, Short LL. 1992. A new gallinaceous bird from the Oligocene of Nebraska, with comments on thephylogenetic position of the Gallinuloidi<strong>da</strong>e. Contrib. Sci. Natl. Hist. Museum Los Angeles County 36,179–185.de Kloet, R.S. e de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis of anintron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol. Phylol.Evol. (in press).del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J.(Eds.), 1997. Handbook of the Birds of the World, vol. 4. Sandgrouse toCoockos. Lynx Edicións, Barcelona.Desjardins, P., Morais, R., 1990. Sequence and gene organization of the chicken mitochondrial genome: anovel gene order in higher vertebrates. J. Mol. Biol. 212, 599-634.Dingle, R.V., Lavelle, M., 1998. Late Cretaceous- Cenozoic climatic variations of the northern AntarcticaPeninsula: new geochemical evidence and review. Paleogeog. Paleoclimat. Paleoecol. 141, 215-232.Dyke, G.J., 2001. The evolutionary radiation of modern birds: systematics and patterns of diversification.Geol. J. 36, 305-315.Eberhard, J.R., Bermingham, E., 2004. Phylogeny and biogeography of the Amazona ochrocephala (Aves:Psittaci<strong>da</strong>e) complex. Auk 121, 318-332.Effron, B., 1979. Bootstrap methods: another look at the jackknife. Ann. Statistics 7, 1-26.Ericson, P.G.P., Irestedt, M., Johansson, U.S., 2003. Evolution, biogeography, and patterns ofdiversification in passerine birds. J. Avian Biol. 34, 3-15.Felsenstein, J., 1985. Confidence limits on phylogenies: an approach using the bootstrap. Evolution 39,783-791.Flynn, J.J., Wyss, A.R., 1998. Recent advances in South American mammalian paleontology. Trends Ecol.Evol. 13, 449-454.Forshaw, J., 1989. Parrots of the World, third ed. Landsdowne Editions, Melbourne.Foster, P.G., Hickey., D.A., 1999. Compositional bias may affect both DNA-based and protein-basedphylogenetic reconstructions. J. Mol. Evol. 48, 284–290.Galtier, N., Gouy, M., 1998. Inferring pattern and process: maximum likelihood implementation of anonhomogenous model of DNA sequence evolution for phylogenetic analysis. Mol. Biol. Evol. 15,871–879.56


Capítulo 2Griffiths, C.S., Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L., 2004. Phylogeny of the Falconi<strong>da</strong>e (Aves): acomparison of the efficacy of morphological, mitochondrial, and nuclear <strong>da</strong>ta. Mol. Phylogenet. Evol.32, 101-109.Groth, J.G., Barrowclough, G.F., 1999. Basal divergence in birds and the phylogenetic utility of the nuclearRAG-1 gene. Mol. Phylogenet. Evol. 12, 115–123.Haddrath, O., Baker., A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds: ratitephylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. B 268, 939–945.Hagelberg, E., 1994. Mitochondrial DNA from ancient bones. In: Herrmann, B., Hummel, S., (Eds.) AncientDNA, New York, Pp. 195-204.Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Phillips, M.J., Slack, K.E., Cooper, A., Penny, D., 2004. Four new avianmitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous. Mol. Biol.Evol. 21, 974-983.Hasegawa, M., Kishino H., Yano, T., 1985. Dating of the human-ape splitting by a molecular clock ofmitochondrial DNA. J. Mol. Evol. 22, 160-174.Hedges, S.B., Parker, P.H., Sibley, C.G., Kumar, S., 1996. Continental breakup and the ordinaldiversification of birds and mammals. Nature 381, 226–229.Hooghiemstra H., van der Hammen, T., 1998. Neogene and Quaternary development of the Neotropicalrain forest: the forest refugia hypothesis, and a literature overview. Earth Sci. Rev. 44, 147–183.Irestedt, M., Johansson, U.S., Parsons, T.J., Ericson, P.G.P., 2001. Phylogeny of the major lineages ofsuboscines (Passeriformes) analysed by nuclear DNA sequence <strong>da</strong>ta. J. Avian. Biol. 32, 15-25.Jaramillo, C.A., Dilcher, D.L., 2000. Microfloral diversity patterns of the late Paleocene–Eocene interval inColombia, northern South America. Geology 28, 815-818.Jermiin, L.S., Foster, P.G., Graur, D., Lowe, R.M., Crozier, R.H., 1996. Unbiased estimation of symmetricaldirectional mutation pressure from protein-coding DNA. J. Mol. Evol. 42, 476-480.Kishino, H., Thorne, JL. Bruno, W.J., 2001. Performance of a divergence time method under a probabilisticmodel of rate evolution. Mol. Biol. Evol. 18, 352-361.Kocher, T.D., Thomas, W.K., Meyer, A., Edwards, S.V., Paabo, S., Villablanca, F.X., Wilson, A.C., 1989.Dynamics of mitochondrial DNA evolution in animals: amplification and sequencing with conservedprimers. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 86, 6196–6200.Lockhart, P.J., Steel, M.A., Hendy, M.D., Penny, D., 1994. Recovering evolutionary trees under a morerealistic model of sequence evolution. Mol. Biol. Evol. 11, 605–612.Lovette, I.J., 2004. Mitochondrial <strong>da</strong>ting and mixed support for the “2% rule” in birds. Auk, 121, 1-6.57


Capítulo 2Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2000. MacClade 4: Analysis of phylogeny and character evolution.Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts.Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version 1.05http://mesquiteproject.org.MacLoughlin, E., Burton, P.J.K., 1976. Notes on the Hawk-headed parrot Deroptyus accipitrinus. Bull. B. O.C. 96, 68-72.Mindell, D.P, Sorenson, M.D., Dimcheff. D.E., 1998. Multiple independent origins of mitochondrial geneorder in birds. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95, 10693-10697.Miyaki, C.Y., Duarte, M.B., Caparroz, R, Nunes, A.L., Wajntal, A., 1997. Sex identification of SouthAmerican parrots (Psittaci<strong>da</strong>e, Aves) using the human minisatellite probe 33.15. AUK 114, 516-520.Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and paleogeographical events:mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.Nahum, L.A., Pereira, S.L, Fernandes, F.M.C., Matioli, S.R., Wajntal, A., 2003. Diversification ofRamphastinae (Aves, Ramphasti<strong>da</strong>e) prior to the Cretaceous/Tertiary boun<strong>da</strong>ry as shown bymolecular clock of mtDNA sequences. Gen. Mol. Biol. 26, 411-418.Ottens-Wainright, P., Halanych, K.M., Eberhard, J.R., Burke, R.I., Wiley, J.W., Gnam, R.S., Aquilera, X.G.,2004. Independent origins of the genus Amazona in the West Indies. J. Caribbean Ornit. (specialissue), 23-49.Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show thatmodern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. B 269, 839–846.Penhallurick, J., 2001. Primolius Bonaparte, 1857 has priority over Propyrrhura Ribeiro, 1920. Bull. Brit.Orn. C. 121, 38-39.Pennington, R.T., Lavin, M. Prado, D.E. Pendry, C.A, Pell, S.K., Butterworth, C.A., 2004. Historical climatechange and speciation: neotropical seasonally dry forest plants show patterns of both Tertiary andQuaternary diversification. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B. 359, 515-537.Penny, D., Hendy, M.D., Zimmer, E.A, Hamby, R.K., 1990. Trees from sequences: Panacea or Pandora’sbox? Aust. Syst. Bot. 3, 21-38.Pereira, S.L., Baker, A.J., 2004. Low number of mitochondrial pseudogenes in the chicken (Gallus gallus)nuclear genome: implications for molecular inference of population history and phylogenetics. BMCEvol. Biol. 4, 17.Pereira, S.L., Baker, A.J., Wajntal, A., 2002. Combined nuclear and mitochondrial DNA sequences resolvegeneric relationships within the Craci<strong>da</strong>e (Galliformes, Aves). Syst. Biol. 51, 946–958.58


Capítulo 2Poe, S., Swofford D.L., 1999. Taxon sampling revisited. Nature 398, 299-300.Poole, I., Hunt, R.J., Cantrill, D.J., 2001. A fossil wood flora from King George Island: ecological implicationsfor an Antarctic Eocene vegetation. Ann. Bot. 88, 33-54.Posa<strong>da</strong>, D., Cran<strong>da</strong>ll, K.A., 1998. Modeltest: testing the model of DNA substitution. Bioinformatics 14, 817-818.Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits and historicalbiogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nan<strong>da</strong>yus nen<strong>da</strong>y. Mol.Phylogenet. Evol. 30, 663–675.Ribas. C.C., Gaban-Lima, R., Miyaki, C.Y., Cracraft, J., 2005. Historical biogeography and diversificationwithin the Neotropical parrot genus "Pionopsitta" (Aves; Psittaci<strong>da</strong>e). J. Biogeog. 32, 1409-1427.Romero, E.J., 1986, Paleogene phytogeography and climatology of South America. Miss. Bot. Gard. Ann.73, 449–461.Ronquist F.R., Huelsenbeck, J.P.H., 2003. MRBAYES: Bayesian inference of phylogeny. Bioinformatics 19,1572–1574.Rowley, I., 1997. Family Cacatui<strong>da</strong>e (cockatoos). In: del Hoyo, J., Elliot, A.E., Sargatal, J. (Eds.) Handbookof the Birds of the World, vol. 4, Lynx Editions, Barcelona, Pp. 246-279.Rull, V., 1999. Palaeofloristic and palaeovegetational changes across the Paleocene-Eocene boun<strong>da</strong>ry innorthern South America. Rev. Palaeobot. Palynol. 107, 83-95.Russello, M.A., Amato, G., 2004. A molecular phylogeny of Amazona: implications for Neotropical parrotbiogeography, taxonomy, and conservation. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 421-437.Salvadori, T., 1891. Catalogue of Psittaci, or Parrots, in the Collection of the British Museum. Longman andCompany, London.Sanderson, M.J., 2002. Estimating absolute rates of molecular evolution and divergence times: a penalizedlikelihood approach. Mol. Biol. Evol. 19, 101–109.Sanderson, M.J., 2003. r8s: inferring absolute rates of molecular evolution and divergence times in theabsence of a molecular clock. Bioinformatics 19, 301-302.Schmidt, H.A., Strimmer, K., Vingron, M., von Haeseler, A., 2002. Maximum likelihood phylogenetic analysisusing quartets and parallel computing. Bioinformatics 18, 502-504.Shevenall, A.E., Kennett, J.P., Lea, D.W., 2004. Middle Miocene Southern ocean cooling and Antarcticacryosphere expansion. Science 305, 1766-1770.Shimo<strong>da</strong>ira, H., 2002. An approximately unbiased test of phylogenetic tree selection. Syst. Biol. 51, 492-508.59


Capítulo 2Shimo<strong>da</strong>ira, H., Hasegawa, M., 2001. CONSEL: for assessing the confidence of phylogenetic treeselection. Bioinformatics 17, 1246-7.Sick, H., 1997. Ornitologia Brasileira, segun<strong>da</strong> ed., Editora Nova Fronteira S. A., Rio de Janeiro.Slowinski, J.B., 2001. Molecular polytomies. Mol. Phylogenet Evol. 19, 114-120.Smith, A.G., Smith, D.G., Funnell, B.M., 1994. Atlas of Mesozoic and Cenozoic coastlines, Cambridge,Cambridge University Press.Smith, G.A., 1975. Systematics of parrots. Ibis 117, 18-68.Swofford, D.L., 2002. PAUP*: Phylogenetic analysis using parsimony (*and related methods). Version 4.Sinauer Associates, Sunderland, MA.Takezaki, N., Rzhetsky, A., Nei, M., 1995. Phylogenetic test of molecular clock and linearized trees. Mol.Biol. Evol. 12, 823-833.Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004. Phylogenetic relationships among some Neotropicalparrot genera (Psittaci<strong>da</strong>e) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.Thorne, J.L., Kishino, H., 2002. Divergence time and evolutionary rate estimation with multilocus DNA <strong>da</strong>ta.Syst. Biol. 51, 689-702.Thorne, J.L., Kishino, H., Painter, I.S., 1998. Estimating the rate of evolution of the rate of molecularevolution. Mol. Biol. Evol. 15, 1647-1657.Van Tuinen, M., Dyke, G.J., 2004. Callibration of Galliform molecular clocks using multiple fossils andgenetic partitions. Mol. Phylogenet. Evol. 30, 74-86.Van Tuinen, M., Hedges, S.B., 2001. Calibration of avian molecular clocks. Mol. Biol. Evol. 18, 206-213.Verheyen, R., 1956. Analyse du potentiel morphologique et projet d’une nouvelle classification desPsittaciformes. Bull. Inst. R. Sci. Nat. Belg. 32, 54pp.Wilf, P. Cúneo, N.R., Johnson, K.R., 2003. High plant diversity in Eocene South America: evidence fromPatagonia. Science 300, 122-125.Woodburne, M.O., Case J.A., 1996. Dispersal, vicariance, and the Late Cretaceous to early Tertiary landmammal biogeography from South America to Australia. Jour. Mamm. Evol. 3, 121-161.Yang, Z., 1997. Phylogenetic analysis by maximum likelihood (PAML), version 2.0. Univ. Carlifornia,Berkeley.60


Capítulo 3Evolução <strong>da</strong> organização dos genes mitocondriais aoredor <strong>da</strong> região controladora em psitacídeosneotropicais (tribo Arini)


Capítulo 33.1. IntroduçãoA maioria dos genomas mitocondriais de vertebrados inclui 22 genes para RNA transportadores(RNAt), 13 genes codificadores de proteínas, dois genes para RNA ribossomal (RNAr) e uma região nãocodificadora (região controladora, RC) e inicialmente se acreditava que a organização desses genes(Figura 3.1a) era extremamente conserva<strong>da</strong> (Quinn, 1997; Boore, 1999). No entanto, o aumento donúmero de genomas sequenciados revelou variações dessa organização em várias linhagens devertebrados, principalmente envolvendo RNAt, como por exemplo, em marsupiais, cobras cegas, rãs elagartos (Pääbo e col., 1991; Kumazawa e Nishi<strong>da</strong>, 1995; Macey e col., 1997; Saccone e col, 1999; Booree col., 1995; Boore, 1999). O primeiro genoma mitocondrial de uma ave a ser completamente sequenciado(Gallus gallus; Desjardins e Morais, 1990) revelou um arranjo único dentre os vertebrados (Figura 3.1b).Com o aumento no número de seqüências determina<strong>da</strong>s, esse arranjo de genes (aqui denominado“comum”) foi evidenciado ser muito freqüente em aves (Marshall e Baker, 1997; Mindell e col. 1998; Härlide col., 1998; Haddrath e Baker 2001; Paton e col., 2002; Slake e col., 2003). No entanto, um outro arranjogênico (aqui denominado “alternativo”; Figura 3.1c) foi descrito em alguns táxons (Mindell e col., 1998;Bensch e Härlid, 2000).Mecanismos distintos podem explicar diferentes processos de rearranjo gênico. Por exemplo, eminsetos Hymenoptera alguns rearranjos de genes são melhor explicados por recombinação (Dowton e col.,2003), para vários rearranjos em vertebrados foi proposto um mecanismo de duplicação e deleçãoaleatória de genes (Moritz e col., 1986, 1987; Macey e col. 1997; Holt e col., 1997). Posteriormente, paradois gêneros de Diplopo<strong>da</strong> foi proposto um mecanismo de duplicação e deleção não aleatória de genes(Lavrov e col., 2002).O mecanismo pelo qual a organização dos genes comum em aves sugiu a partir <strong>da</strong> ordem típicaem vertebrados não foi eluciado, mas dois modelos foram propostos. O arranjo comum em aves (Figura3.1b), poderia ter surgido a partir do arranjo de genes comum em vertebrados (Figura 3.1a) pelomecanismo de RNAt atuando como primer ilícito na recombinação, onde o RNAt Glu ou o RNAt Pro ligaria-sena origem <strong>da</strong> replicação <strong>da</strong> molécula e não seria isolado na nova fita de DNA sintetiza<strong>da</strong> no processo,junto com os genes adjacentes. O segmento NADH6/ RNAt Glu ou o citocromo b/ RNAt Thr / RNAt Pro , seriaincorporado no próximo ciclo de replicação em uma posição diferente (Desjardins e Morais, 1990).62


Capítulo 3Figura 3.1. Ordem dos genes ao redor <strong>da</strong> região controladora (fora de escala). a) ordem comum emvertebrados (Boore, 1999) ; b) ordem comum em aves (Desjardins e Morais, 1990); c) ordem alternativa emaves (Mindell e col. 1998); d) ordem nos gêneros de psitacídeos Amazona e Pionus (Eberhard e col.,2001); e e) possível ordem nos gêneros de psitacídeos Deroptyus e Pionites. Os “primers” usados paraamplificação estão indicados nos mapas <strong>da</strong> ordem gênica correspondente. Os segmentos numeradoscorrespondem a regiões amplifica<strong>da</strong>s nos táxons indicados na Tabela 2.1. NADH5- nicotinami<strong>da</strong> adeninadinucleotídeo desidrogenase subuni<strong>da</strong>de 5; NADH6- nicotinami<strong>da</strong> adenina dinucleotídeo desidrogenasesubuni<strong>da</strong>de 6; GLU- RNAt Glu ; cit. b – citocromo b, THR- RNAt Thr , PRO- RNAt Pro , RC – região controladora;nc – região não codificadora, PHE - RNAt Phe , nc- região não-codificadora; ψ ND6- pseudo NADH6, ψ GLUpseudoRNAt Glu ; ψ PRO- pseudo RNAt Pro .Alternativamente, pelo modelo de duplicação e per<strong>da</strong> subseqüente de genes, o segmento NADH6/RNAt Glu / citocromo b/ RNAt Thr / RNAt Pro<strong>da</strong> ordem típica em vertebrados seria duplicado durante areplicação, por formação de estrutura secundária na nova fita sintetiza<strong>da</strong> durante o processo, ou por errode pareamento no início ou final <strong>da</strong> replicação. Essa duplicação seria então incorpora<strong>da</strong> na molécula porum novo ciclo de replicação. A deleção de um segmento NADH6/ RNAt Gluentre os genes NADH5 e63


Capítulo 3citocromo b e um segmento de citocromo b/ RNAt Thr / RNAt Pro antes <strong>da</strong> RC geraria a ordem comum emaves (Figura 3.1b; Desjardins e Morais, 1990; Quinn, 1997).A organização alternativa em aves (Figura 3.1c) poderia ter se originado a partir <strong>da</strong> organizaçãomais comum de aves pela duplicação em tandem do segmento RNAt Pro / NADH6/ tRNA Glu / RC, seguido deper<strong>da</strong>s subsequentes de uma <strong>da</strong>s cópias dos genes tRNA Pro / NADH6/ e RNAt Glu e, na maioria dos casos,<strong>da</strong> RC ou parte <strong>da</strong> mesma (Mindell e col., 1998; Boore e col., 1999; Bensch e Härlid, 2000). A presença deuma região não codificadora que apresenta grande similari<strong>da</strong>de com a RC (Figura 3.1c), sugere que esseevento deve ser relativamente recente, reforçando a hipótese de que essa organização de genes em avesteria origem a partir de eventos de duplicação e subsequente per<strong>da</strong> de segmentos duplicados (Mindell ecol., 1998; Bensch e Härlid, 2000). Essa idéia foi ain<strong>da</strong> mais reforça<strong>da</strong> com a caracterização dessa mesmaregião em psitacídeos neotropicais dos gêneros Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001). Esses táxonstambém apresentam a ordem alternativa em aves, mas nesse caso, ambas as RC sequencia<strong>da</strong>sapresentam as regiões conserva<strong>da</strong>s como os blocos F, D, C e CBS-1, e antes <strong>da</strong> primeira RC, apresentampseudogenes que são similares às seqüências de RNAt Glu e NADH6 (Figura 3.1d).Assumir que organização alternativa se originou a partir de um único evento de rearranjo de genesimplicaria em aceitar a existência de um grupo monofilético de aves formado por Falconiformes, Cuculi<strong>da</strong>e(Cuculiformes), Pici<strong>da</strong>e (Piciformes) e Suboscines (Passeriformes), excluindo desse grupo outras famíliasdessas mesmas ordens como Musophagi<strong>da</strong>e (Cuculiformes), Buceroti<strong>da</strong>e (Piciformes) e Oscines(Passeriformes), o que estaria em desacordo com reconstruções <strong>filogenéticas</strong> bem sustenta<strong>da</strong>s obti<strong>da</strong>scom <strong>da</strong>dos morfológicos e moleculares diversos (Mindell e col., 1998). Assim, foi proposto que o arranjogênico alternativo (Figuras 3.1c e 3.1d) se originou por vários eventos em linhagens independentes(Mindell e col., 1998). A princípio, acreditou-se que a ordem gênica poderia ser um caráter diagnóstico emníveis taxonômicos como subordens ou famílias, por exemplo, para as subordens Oscines (ordem comum)e Suboscines de Passeriformes (Mindell e col., 1998). No entanto, <strong>da</strong>dos mais recentes evidenciaram aexistência do arranjo alternativo em várias espécies gênero Phylloscopus (Oscines), sugerindo que esseseventos também acontecem em níveis taxonômicos mais baixos e portanto, a vali<strong>da</strong>de do carácter parainferência filogenética é questionável (Bensch e Härlid, 2000). Em Phylloscopus a similari<strong>da</strong>de entre a RCe a região não-codificadora de ca<strong>da</strong> espécie é menor que a similari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s RC entre espécies próximas,o que corrobora a hipótese de ter ocorrido um único evento de rearranjo gênico em um ancestral comumdo grupo (Bensch e Härlid, 2000). A similari<strong>da</strong>de entre ambas as RC do mesmo táxon em espécies esubespécies do gênero Amazona e no táxon Pionus chalcopterus, em geral, foi maior do que entre asregiões homólogas de táxons diferentes, com exceção de três subespécies de Amazona ochrocephala.64


Capítulo 3Nesse caso, também foi sugerido que houve um único evento de rearranjo gênico no ancestral dessesgrupos, porém, as RCs de ca<strong>da</strong> táxon estariam evoluindo em concerto (Eberhard e col., 2001).No presente trabalho, determinamos a ordem dos genes mitocondriais em diversos gêneros depsitacídeos neotropicais e evidenciamos a convergência desse caráter no grupo. Propomos modelos paraexplicar a origem dos eventos independentes e testamos essas hipóteses através de elementos exclusivosidentificados nas seqüências de ca<strong>da</strong> linhagem. Com base em uma estimativa de tempo de divergênciaentre as linhagens, estimamos períodos de tempo nos quais teriam acontecido eventos de duplicação eper<strong>da</strong> de genes ao longo <strong>da</strong>s linhagens estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s.3.2. Material e métodos3.2.1. Amostragem e sequenciamentoForam estu<strong>da</strong>dos 34 indivíduos de 25 dos 30 gêneros de psitacídeos neotropicais (Tabela 3.1).Amostras de DNA foram extraí<strong>da</strong>s a partir de sangue por digestão padrão com proteinase K e purifica<strong>da</strong>scom fenol: clorofórmio: álcool isoamílico na proporção 25:24:1 (Bruford e col., 1992).Os “primers” utilizados nas amplificações e sequenciamento foram: CBL15637 (5’-AACCTCCTAGGAGACCCAGAAAACTTC-3’; Miyaki e col., 1998), LThr (5’-TGGTCTTGTAAACCAAAAGA-3’; Eberhard ecol., 2001), H16065 (5’-AACTGCAGTCATCTCCGGTTTACAAGAC-3’; Kornegay e col. 1993), Tpro16150(5’-ATCACCAACTCCCAAAGCTGG -3’, presente trabalho), ND6H16252 (5’-TTRTGAYTGTTTGTTGT -3’,presente trabalho), ND6L16384 (5’-CACCYCACCCYCAAACAA -3’, presente trabalho), ND6L 852 (5’- CCATAAAGAGTACTAGCGACA C-3’, presente trabalho), ND6H16522 (5’-GGGATGTTGGTGGTTTTTGT-3’,presente trabalho), LGlu (5’-GCCCTGAAAARCCATCGTTG-3’; Eberhard e col., 2001), HgluRev (5’-GCGTTCTTATAGTTGAGATACC-3’; Eberhard e col., 2001), CRL380 (5’-GCCCATAAYTGGCCCGGGAACTT-3’; Tavares e col. 2004), CRL456 (5’- CACGAGAGATCAYCAACCCGGTGT-3’, Tavares e col., 2004),CR522Rb (5’-TGGCCCTGACYTAGGAACCAG-3’; Eberhard e col., 2001), CRL827 (5’-TCATTTTMRCACTGATGCACTTG-3’; Tavares e col. 2004), CRH1028 (5’- AGGTGTAAAACAAAGTGCATCAGGGT-3’;Tavares e col. 2004), Hphe1248 (5’-TCTTGGCAKCTTCAGTACCATGCTTT-3’, Eberhard, com. pess.),12SH1357 (5’-GCGGATACTTGCATGTATATG-3’, presente trabalho).65


Capítulo 3Tabela 3.1. Táxons analisados, número de registro, segmentos amplificados de acordo com a numeraçãocorrespondente indica<strong>da</strong> na Figura 3.1.Espécie LGEMA a Segmentos amplificadosAmazona xanthops 1876 7Anodorhynchus hyacinthinus 114 1, 3, 4, 5, 6Anodorhynchus hyacinthinus 117 1, 3, 4, 5, 6Ara ararauna 13 1, 3, 4, 5, 6Aratinga aurea 346 3Aratinga leucophthalmus 2090 3Aratinga solstitialis 2042 3Bolborhynchus lineola 4393 3Brotogeris chiriri 5486 3Cyanolyseus patagonus 1837 3Cyanopsitta spixii 409 3, 4, 5Cyanopsitta spixii 498 2, 3, 4, 5Deroptyus accipitrinus 395 14, 15Deroptyus accipitrinus 396 14, 15Diopsittaca nobilis 973 2, 3, 4, 5Diopsittaca nobilis 1126 2, 3, 4, 5Enicognathus leptorhynchus 5173 3Forpus crassirostris 501 7, 13Guarouba guarouba 4 2, 3, 4, 5Guarouba guarouba 69 2, 3, 4, 5Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus 1623 7, 9, 10, 11, 12Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus 1624 7, 9, 10, 11, 12Myiopsitta monachus 1737 1, 3, 4Nan<strong>da</strong>yus nen<strong>da</strong>y 143 1, 3, 4Nannopsittaca <strong>da</strong>chileae 5495 3Orthopsittaca manilata 2383 3Pionites leucogaster 2377 15, 16Pionopsitta barrabandi 5006 7, 8, 13Pionopsitta pileata 3467 7, 13Primolius auricollis 2345 3Pyrrhura picta 397 3Rhynchopsitta pachyryncha 5237 3Triclaria malachitacea 415 7, 8, 12, 13Triclaria malachitacea 416 7, 8, 12, 13aRegistro na coleção do Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA), Universi<strong>da</strong>de deSão Paulo.66


Capítulo 3A primeira amplificação realiza<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> táxon foi entre os “primers” LThr e CR522Rb(segmentos 3, 7 e 15 <strong>da</strong> Figura 3.1; Tabela 3.1). A seqüência obti<strong>da</strong> a partir do segmento amplificado poresse conjunto de “primers” é diagnóstica <strong>da</strong> organização gênica em psitacídeos (Figura 3.1). Foramamplificados segmentos adicionais para vários táxons, em geral com sobreposição, sempre levando emconta a sua organização gênica (Figura 3.1; Tabela 3.1).As amplificações foram realiza<strong>da</strong>s em 10 µL, com tampão 1x (Pharmacia ou Biotools), 2 µM de deca<strong>da</strong> dNTP, 1µM de ca<strong>da</strong> “primer”, 0,5 U de Taq polimerase (Pharmacia) e 20-50 ng de DNA, oualternativamente, em 25 µL, com tampão 1x (Biotools), 2 µM de ca<strong>da</strong> dNTP, 1µM de ca<strong>da</strong> “primer”, 1 U deTaq polimerase (Pharmacia) e 25-50 ng de DNA. As condições <strong>da</strong> reação de PCR foram: desnaturaçãoinicial a 95ºC por 5 minutos (min.), seguido de 30 ciclos de 95 o C por 60 segundos (seg.), 50-54 o C por 25seg. e 65 o C por 40 – 80 seg., e uma extensão final de 65 o C por 5 min. Uma alíquota (2 µL) dos produtos foiaplica<strong>da</strong> em gel de agarose para verificar a quali<strong>da</strong>de e tamanho dos produtos.Os produtos de PCR foram purificados com exonuclease I (5 U, USB) e fosfatase alcalina decamarão (0,5 U, USB). Alternativamente, a ban<strong>da</strong> foi recupera<strong>da</strong> de gel de agarose e o produto foi isoladopor centrifugação do fragmento de gel em ponteira com filtro. A reação de sequenciamento foi prepara<strong>da</strong>com Big Dye Terminator (Perkin Elmer) de acordo com protocolo sugerido pelo fabricante. As seqüênciasforam obti<strong>da</strong>s em sequenciadores automáticos (ABI 377 ou ABI 3100, Applied Biosystems).3.2.2. Alinhamento e análise <strong>da</strong>s seqüênciasAmbigui<strong>da</strong>des entre fitas complementares e regiões de sobreposição foram verifica<strong>da</strong>s e corrigi<strong>da</strong>susando os programas Sequence Navigator (Applied Biosystems) e Sequencher 4.1.2 (GeneCodes Corp.).Os arranjos e seqüências foram comparados com as seqüências homólogas dos genomas mitocondriaiscompletos de galinha (Gallus gallus; GenBank NC_001323; Desjardins e Morais, 1990) e de um psitacídeo<strong>da</strong> Nova Zelândia (Strigops habropptilus; NC_005931; Harrison e col., 2004), com a seqüência de 4709 pbentre o final do citocromo b e início do RNAr 12S do psitacídeo neotropical Amazona farinosa (GenBankAF338821; Eberhard e col., 2001) e duas seqüências de tamanhos 735 e 574 pb correspondentesrespectivamente aos segmentos 7 e 13 (Figura 3.1) do psitacídeo neotropical Pionus chalcopterus(AF338317 e AF338318; Eberhard e col., 2001).As seqüências obti<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s extremi<strong>da</strong>des 3’ do citocromo b foram compara<strong>da</strong>s com as seqüênciaspraticamente completas do gene descritas em trabalhos anteriores e obti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> amplificação desegmentos diferentes (Figura 3.2; U70761, U70763, U70764, U70766, AY286205, AY286206, AY286209,AF370769 e AF370778; Miyaki e col. 1998; Tavares e col., 2004; Tavares e col. in prep.). As seqüências67


Capítulo 3obti<strong>da</strong>s <strong>da</strong> porção 5’ <strong>da</strong> região controladora foram compara<strong>da</strong>s, ou complementa<strong>da</strong>s com seqüênciasobti<strong>da</strong>s em trabalhos anteriores (Figuras 3.2 e 3.3; AF430809, AF430810, AF430811, AF430813,AF430814, AF430816, AF430817, AF430818, AF430822, AF430825, AF430826, AF430828, AF430830,AF430833, AF430836, AF430837 e AY208250; Tavares e col., 2004; Ribas e Miyaki, 2004). Alinhamentosautomáticos foram gerados no Clustal X 1.81 (Thompson, 1997) e corrigidos manualmente no MacClade4.0 (Maddison e Maddison, 2000). O alinhamento <strong>da</strong>s seqüências de DNA de genes codificadores deproteínas foi confirmado com a seqüência de aminoácidos correspondente, simula<strong>da</strong> no MacClade 4.0(Maddison e Maddison, 2000). Composição de bases, valores de distância e demais <strong>da</strong>dos estatísticosforam obtidos nos programas PAUP* 4.0 (Swofford e col., 2002) e MEGA 2.1 (Kumar e col., 2001). Asimulação <strong>da</strong> estrutura secundária dos RNAt foi realiza<strong>da</strong> no tRNAscan-SE (Lowe e Eddy, 1997). Acaracterização <strong>da</strong> região controladora (RC), foi realiza<strong>da</strong> por comparação com outras seqüências de RC deaves (Desjardins e Morais, 1989; Mindell e col., 1998; Marshall e Baker, 1999; Eberhard e col., 2001;Delport e col., 2002). O início dos domínios foi definido pela posição dos blocos conservados (Sbisà e col.,1997; Marshaw e Baker, 1999) como definido por Pereira e col. (2004).3.2.3. Mapeamento de hipótesesOs diferentes estados de organização gênica em aves (comum ou alternativa) foram mapeados emuma proposta filogenética <strong>da</strong>s relações entre os gêneros de psitacídeos neotropicais (topologia comtamanho de ramos, Tavares e col., in prep.) no programa Mesquite 1.05 (Maddison e Maddison, 2004)utilizando o método de Máxima Verossimilhança. A partir <strong>da</strong> organização alternativa com duplicação <strong>da</strong> RC(Figura 3.1d) é possível recuperar a organização comum dos genes em aves (Figura 3.1b), caso ospseudogenes e a RC 1 sejam deletados, e a partir <strong>da</strong> ordem comum é possível resultar na ordemalternativa por duplicação e deleção posterior de genes, portanto, consideramos que a mu<strong>da</strong>nça entreesses dois estados (ordem comum e ordem alternativa) possui a mesma probabili<strong>da</strong>de.3.3. ResultadosApesar de o DNA ter sido extraído a partir de sangue, tecido relativamente pobre em mitocôndrias,acreditamos que as seqüências são de origem mitocondrial com base nos seguintes resultados: (1) algunsdos segmentos amplificados são maiores que o tamanho <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s possíveis cópias de genesmitocondriais incorporados no genoma nuclear de Gallus gallus e na maioria dos genomas de vertebradossequenciados até o momento (Pereira e Baker, 2004); (2) os segmentos com sobreposição parcialamplificados com diferentes combinações de “primers” são congruentes; (3) as seqüências dos genes68


Capítulo 3codificadores não apresentam códons de para<strong>da</strong> inesperados ou alteração no quadro de leitura ealinharam com as correspondentes dos mesmos indivíduos amplifica<strong>da</strong>s previamente com diferentecombinação de primers (Miyaki e col. 1998, Tavares e col., 2004, Tavares e col., in prep.); e (4) asimulação <strong>da</strong> estrutura secundária dos DNAt sugere que os mesmos devem ser funcionais.As seqüências obti<strong>da</strong>s no presente trabalho (números de acesso em processo de submissão aoGenBank), assim como o conjunto analisado incluindo seqüências de trabalhos anteriores estãorepresentados nas figuras 3.2 e 3.3. A amplificação com o par de primers CBL15637 e ND6H16522resultou em mais de uma ban<strong>da</strong> (de aproxima<strong>da</strong>mente 600 e 900 pb) para os táxons Diopsittaca nobilis,Guarouba guarouba e Cyanopsitta spixii. Portanto, para esses táxons, os “primers” CBL15637 e CR522Rbforam usados para obter cerca de 2 kb de produto. As amplificações com os “primers” Lthr16064 eCR522Rb em amostras de Amazona xanthops e Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus, sempre resultou emseqüências ambíguas e ilegíveis, portanto, não foi possível comparar essa região com as homólogas nosdemais grupos. No entanto, em ambos os táxons o segmento amplificado de 700 pb entre esses “primers”possui tamanho incompatível com a ordem comum, cujo tamanho esperado seria em torno de 1300 pb, jáque inclui todo o gene NADH6 e uma porção de 500 pb <strong>da</strong> RC, sugerindo que esses táxons apresentam aordem alternativa (Figura 3.1d). Além disso, outras seqüências de Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus foramobti<strong>da</strong>s (Figuras 3.1 e 3.3), confimando a existência <strong>da</strong> ordem de genes alternativa nesse táxon.Em casos onde mais de um indivíduo <strong>da</strong> mesma espécie foi seqüenciado, a variação encontra<strong>da</strong>entre os indivíduos <strong>da</strong> mesma espécie foi menor do que aquela encontra<strong>da</strong> na comparação entre gêneros.Portanto, nas análises subseqüentes, foi utiliza<strong>da</strong> a seqüência consenso para ca<strong>da</strong> gênero, exceto paraAratinga, cujas espécies amostra<strong>da</strong>s são representantes de linhagens independentes (Tavares e col.,2004; Ribas e Miyaki, 2004).Os resultados obtidos sugerem que os táxons que apresentam a organização comum dos genes aoredor <strong>da</strong> região controladora são: Anodorhynchus hyacinthinus, Ara ararauna, Aratinga aurea, Aratingaleucophthalmus, Aratinga solstitialis, Bolborhynchus lineola, Brotogeris chiriri, Cyanoliseus patagonus,Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis, Enicognathus leptorhynchus, Guarouba guarouba, Myiopsittamonachus, Nan<strong>da</strong>yus nen<strong>da</strong>y, Nannopsittaca <strong>da</strong>chileae, Orthopsittaca manilata, Primolius auricollis,Pyrrhura picta e Rhynchopsitta pachyryncha (Figuras 3.1b e 3.2). Os táxons que apresentam aorganização alternativa dos genes ao redor <strong>da</strong> região controladora são: Amazona xanthops, Deroptyusaccipitrinus, Forpus crassirostris, Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus, Pionites leucogaster, Pionopsitta barrabandi,Pionopsitta pileata e Triclaria malachitacea (Figuras 3.1d, 3.1e e 3.3).69


Capítulo 3Figura 3.2. Seqüências obti<strong>da</strong>s (representa<strong>da</strong>s por linhas e seus tamanhos) para ca<strong>da</strong> táxon de psitacídeoneotropical com a ordem comum em aves e seqüências de trabalhos anteriores (em cinza; número deacesso no GenBank e tamanho abaixo dos segmentos; Miyaki e col., 1998; Tavares e col. 2004; Ribas eMiyaki, 2004). As posições dos “primers” usados nas reações de sequenciamento estão representa<strong>da</strong>s nomapa.Figura 3.3. Seqüências obti<strong>da</strong>s (representa<strong>da</strong>s por linhas e seus tamanhos) para ca<strong>da</strong> táxon de psitacídeoneotropical com a ordem alternativa em aves, seqüências obti<strong>da</strong>s de outro trabalho (em cinza; número deacesso no GenBank e tamanho abaixo do segmento; Tavares e col. 2004). a) mapa <strong>da</strong> ordem alternativade Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001); b) mapa <strong>da</strong> ordem alternativa de Deroptyus e Pionites. Aposição dos “primers” usados nas reações de sequenciamento estão representa<strong>da</strong>s nos mapas.70


Capítulo 3Não foram identificados pseudogenes nas seqüências dos táxons que apresentam a organizaçãocomum dos genes. Para esses táxons, em geral a seqüência obti<strong>da</strong> inclui parte do RNAt Thr , o RNAt Pro , ogene NADH6, o RNAt Glu e parte <strong>da</strong> RC. Para nove indivíduos foi obti<strong>da</strong> a seqüência entre o final docitocromo b e o início do RNAr 12S (Figura 3.2). Para a maioria dos táxons estu<strong>da</strong>dos que apresentam aorganização alternativa foram obti<strong>da</strong>s as seqüências do início <strong>da</strong> RC 1 e <strong>da</strong> RC 2, além do RNAt e depsedogenes anteriores à porção 5’ <strong>da</strong> RC 1. Deroptyus accipitrinus e Pionites leucogaster apresentam umpseudogene com cerca de 65 pb cuja seqüência se assemelha muito a do tRNA Pro e uma outra porção com230 e 264 pb, respectivamente, que apresenta alguma similari<strong>da</strong>de com NADH6 (Figuras 3.3b e 3.4),sugerindo que podem apresentar a organização dos genes semelhante à ordem alternativa (Figura 3.1e).Pionopsitta pileata, Pionopsitta barrabandi e Triclaria malachitacea apresentam um pseudogene que variade 40 a 92 pb cuja seqüência se assemelha a parte do NADH6 e uma outra porção entre 59 a 64 pb quese assemelha ao RNAt Glu (Figuras 3.3a e 3.5) e ambos são correspondentes aos pseudogenes descritosem espécies de Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001). Forpus crassirostris apresenta pseudogenesdesses mesmos genes com 68 e 43 pb, respectivamente (Figura 3.3a e 3.5).Pseudo RNAt ProDeroptyusPionitesA.farinosaTCAGAAAAAGAGGACTAAACCTCTATCACCAACTCCCAAAGCTGGCATTTTACATTAAACTATTCTCTCCAGAAAAAGAGGACCAAACCTC---CACCAACCCCCCAAAC-AACACCCCACATTAACCCCCCCCCCTCAGAAAAAGAGGACTAAACCTCCATCACCAGCTCCCAAAGCTGGCGTTTTAAATTAAACTATTTCCTPseudo NADH6Deroptyus ------------------------GCC-CACAAACAACCCCAACAAGACCCCCGTCTCCCACAGCCCCAGCACAACAGACAAAGCCAACPionites CCAACAGCAAACAACCYTTAAAATGCACCTCACAATGCACCAACCTTCTCCCRTTCAATAAGTAGAGGAATAAAGGCTATAGAGAGGAADeroptyus AACAGCCCCTACTCAGCATAACAGTAA-AAAGGGG-GGGAGGGGG-GAAGGGGAAAAAGAAAACACCCCACCAACTG---CACTAAGACPionites GATGTGTCGGGGGGAGGAGGTAGGGGG-AAAGGAA--GGTGGGGAAGGGGGGAAGAAAAAACAAACCCTACCAACAGTAACACTAAAGTDeroptyus CAACCCAAATAAACCGCCACAAAACCAACCT-CAAACCTCCACCCTACC-AATCCCGATTCAACTCCCTAATAAGCCACCACTCA----Pionites TAACCCTTAAAAAC-ACCACACAACCAACCT-TAGACCCTTACTCAACT-AATCATAAACCCACGGCCTAAAACCTCTATCCTCCCCTAFigura 3.4. Seqüência do pseudo RNAt pro , compara<strong>da</strong> com a seqüência funcional de RNAtPro em Amazonafarinosa (Eberhard e col. 2001), e do pseudo NADH6 antes <strong>da</strong> RC 1 de Deroptyus accipitrinus e Pionitesleucogaster. Regiões de maior homologia entre os táxons estão indica<strong>da</strong>s em negrito.71


Capítulo 3Pseudo NADH6Amazona ---CCCACCCAAAAACCCTCACCCTACAACCAATGAAGCCCCCAACACAACAACACCA-------------AGGCGCAAAForpus -AAC----CCAAAATTTCCCCAATAAACAACAGTAAACCCTAATTAC-AAATAAAACAC----------------CCAAAP.barrabandi TACCACCAACCCCCAAAA-CCACCCCAACCACCCC-ATTAAACCCACAAAGCACCCCA----------CAACACCAAAACP.pileata CACC------AGAAAGCT-AACCCCCAACAACACCCCATCAGCCCACCTAAAGCAAT------------------ACAAAPionus TCTCACCCCAAACTCCCCACCACAATAAGCAAGCCTAAACACAACAACACCACCAAATATTAACCCACCCCAAAAGCAAAtriclaria TCCC----GCTAAAAACACCACCC------------------------------------------------GACACAAAAmazona ATAGGCCATAAGForpus --AGGCCATAGAP.barrabandi AAAGGCCATAAGP.pileata ACAGGCCATAAGPionus ATAGGCCATAAGtriclaria ACAGGCCATAAGPseudo RNAt GluAmazona TTTCTCAGATCAAA--CCATCCAAAGCTTATGGCCTATTAACCGCCTC--AGCACATCAACCA-TAAForpus GTCC-CACCCAGA-C---CCCCTCACTCTATGGCCTAAAAGTCCACTC-------------------P.barrabandi CCTC-TACCCAAAAA-TCATCAAAGGCTTATGGCCAAAAAAGC-CAACCCAGCATTTAAACCA-C--P.pileata TCCC-CACTCAAAAA-TGACTGGGGACTTATGGCCTACAAACCACCACTATGTACTTCAACCA-TACPionus CTTT-CAGAGTCGCGTCTGTCCAAAGCTTATGGCCTAAACCATACCTA-GTGTACCTACCATAATAATriclaria CTTC-TACCC--AAA-CTATCTAAAGCTTATGGCCTA-AAACTTCC-CTTAGTACTCTTAACA-TGGFigura 3.5. Seqüência de pseudogenes dos táxons Amazona farinosa (Eberhard e col. 2001), Forpuscrassirostris, Pionopsitta barrabandi, Pionopsitta pileata, Pionus chalcopteris (Eberhard e col. 2001) eTriclaria malachitacea. Regiões de maior homologia entre os táxons estão indica<strong>da</strong>s em negrito.3.3.1. Mapeamento de hipótesesO mapeamento <strong>da</strong>s ordens gênicas de psitacídeos neotropicais em uma hipótese filogenética(Tavares e col., in prep.) sugere que há ambigui<strong>da</strong>de quanto ao estado ancestral de alguns grupos (Figura3.6a). A partir desse resultado e dos pseudogenes presentes nos grupos, dois modelos de <strong>evolução</strong> foramlevantados:a) Duplicações independentes do segmento dos genes RNAt Pro / NADH6/ RNAt Glu / RC teriam ocorridonas linhagens ancestrais dos clados B, D e F. Essas duplicações seriam segui<strong>da</strong>s de deleções dosgenes RNAt Pro / parte do NADH6 e do RNAt Glu nos clados B e D. No clado F teria ocorrido adeleção parcial dos genes RNAt Pro / NADH6 e total do gene RNAt Glu . Esse modelo presupõe aexistência de pelo menos seis eventos, sendo três de duplicação de genes e três de deleções degenes (Figura 3.6b).b) Um único evento de duplicação gênica teria ocorrido no ancestral dos clados B, C, D, E e F e cincoeventos de deleção de genes, sendo dois eventos convergentes. Nos clados C e E, a deleçãolevaria à organização comum em aves e nos clados C e D, a deleção resultaria em pseudogenesde RNAtGlu e NADH6. Um evento distinto de deleção de genes resultaria no padrão descrito emPionites e Deroptyus (Figura 3.6c).72


Capítulo 3a)b) c)Figura 3.6. a) Mapeamento dos estados <strong>da</strong> ordem gênica na inferência filogenética de Tavares e col. (inprep.); b) modelo considerando três eventos independentes de duplicação; c) modelo considerando umevento de duplicação. O período estimado para os eventos estão representados em milhões de anos, ma.73


Capítulo 33.3.2. Caracterização dos genesForam obti<strong>da</strong>s seqüências completas de NADH6 de Anodorhynchus, Ara, Aratingaleucophthalmus, Aratinga solstitialis, Bolborhynchus, Brotogeris, Cyanolyseus, Cyanopsitta, Diopsittaca,Enicognathus, Graydi<strong>da</strong>scalus, Guarouba, Nannopsittaca, Orthopsittaca, Primolius e Rhynchopsitta.Seqüências parciais do mesmo gene (incompletas na porção 3’) foram obti<strong>da</strong>s de Aratinga aurea,Myiopsitta, Nan<strong>da</strong>yus e Pyrrhura. Quando compara<strong>da</strong>s com as as seqüências homólogas de Amazonafarinosa, Pionus chalcopteris (Eberhard e col., 2001), Strigops habroptilus (Harrison e col., 2004) e Gallusgallus (Desjardins e Morais, 1990), verificamos uma variação no códon de para<strong>da</strong>, sendo esse TAA emGallus e Orthopsittaca, AGG em Bolborhynchus, Brotogeris e Nannopsittaca, e TAG nos demaispsitacídeos comparados. As lacunas de alinhamento ocorrem em trincas, de forma que não foi identifica<strong>da</strong>alteração no quadro de leitura em nenhum táxon. O alinhamento dessas seqüências sugere que emrelação à Gallus gallus, o número a menos de trincas é de: uma em Amazona farinosa, duas nos gênerosStrigops, Bolborhynchus, Nannopsittaca e Graydi<strong>da</strong>scalus, três nos gêneros Anodorhynchus, Ara, Aratinga,Cyanopsitta, Cyanoliseus, Diopsittaca, Enicognathus, Guarouba, Nan<strong>da</strong>yus, Orthopsittaca, Primolius,Pyrrhura e Rhynchopsitta, e seis nos gêneros Brotogeris e Myiopsitta.Foram obti<strong>da</strong>s as seqüências completas <strong>da</strong> RC para Anodorhynchus, Ara, Cyanopsitta,Diopsittaca, Graydi<strong>da</strong>scalus (RC2) e Guarouba, e as seqüências parciais <strong>da</strong> RC, RC1 e RC2 para osdemais táxons (Figuras 3.2 e 3.3). Essas seqüências foram alinha<strong>da</strong>s com a RC1 e RC2 de Amazonafarinosa e Pionus chalcopterus (Eberhard e col., 2001). Em alguns trechos do primeiro domínio ocorregrande variabili<strong>da</strong>de entre gêneros menos relacionados taxonomicamente, o que torna o alinhamentobastante incerto, principalmente nas comparações com os táxons Bolborhynchus, Nannopsittaca,Myiopsitta, Brotogeris e Forpus em relação aos demais e entre si. Apesar disso, para a maioria <strong>da</strong>sseqüências compara<strong>da</strong>s foi identificado o “goose hairpin”, uma região repetitiva de composição C 7 TAC 7 ,exceto em Amazona farinosa e Deroptyus accipitrinus cuja composição é C 8 TAC 7 (Eberhard e col., 2001) eATC 3 TAC 7 , respectivamente. O “goose hairpin” só não é presente no RC2 do táxon Graydi<strong>da</strong>scalusbrachyurus (seqüência dessa porção na RC1 não disponível). Comparações de distância-p sugerem que,em geral, nos táxons onde ocorrem duas cópias <strong>da</strong> RC (RC1 e RC2), elas são mais semelhantes entre sido que as cópias homólogas de táxons distintos, com exceção de Pionopsitta barrabandi. Como esperado,o segundo domínio é mais conservado, sendo possível identificar os blocos F, E, D e C para a maioria dostáxons compa<strong>da</strong>dos e também o “bird box” e o CSB-1 para os táxons que apresentavam a RC completa(Figura 3.7).74


Capítulo 3Bloco FBloco ENannopsittaca GGGCTACTCACGAGAAATCATCTACCCG Nannopsittaca CACGACTAGCTTCAGGATCATP.pileata rc1 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.pileata rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCTTP.pileata rc2 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.pileata rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCTTTriclaria rc1 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG Triclaria rc1 CGTTCCTAGCTTCAAGTCCTTTriclaria rc2 GGGCTACTCACGTGAAACCATCTACCCG Triclaria rc2 CGTTCCTAGCTTCAAGTCCTTP.barrabandi rc1 GGGCYACTCACGTGAAACCATCTACCCG P.barrabandi rc1 CATGACTAGGTTCAGGCCCTTP.barrabandi rc2 GGACTTCTCACGAGAAATCAGCAACCTG Graydi<strong>da</strong>scalus rc2 CGTTACTAGTTTCAGGCCCATGraydi<strong>da</strong>scalus rc2 TTACATCTCACGAGAAATCACCAACCCG A.farinosa rc2 CGTTCCTAGCTTCAGGTCCATA.farinosa rc2 GGTCATCTCACGTGAAATCATCTACCCG Pionus rc1 CACGCCCAGCGTCAGGTCCATPionus rc1 GGGCTACTCACGTGAAATCATCAACCCG Pionus rc2 CACGCCCAGCGTCAGGTCCATPionus rc2 GGGCTACTCACGTGAAATCATCAACCCG Myiopsitta CGTTACTAGCTTCAGGATCATMyiopsitta GAACCACTCACGAGAAACCATCAACCCG Brotogeris TGCTACTAGCGTCAGGAGCATBrotogeris GGGCAACTCACGAGAAATCACCTACCCC Forpus rc1 CATTCCTAGCTTCAGGTCCATForpus rc1 GGGCAACTCACGTGAAACCATCTACCCG Anodorhynchus CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATEnicognathus TGGCTACTC------------------- Guarouba CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATCyanolyseus TGGTTACTCGCGAGAGATCA-------- Diopsittaca CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATAnodorhynchus TGACTACTCACGAGAGATCACCAACCCG A.aurea CCCTCCCAGCGTCAGGTCCATGuarouba TGACAACTCACGAGAGATCATCAACCCG Cyanopsitta CCTTCCCAGCGTCAGGTCCATDiopsittaca TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Orthopsittaca TCTTCCCAGCGTCAGGTCCATA.solstitialis TGGCTACTCACGAGAGATCACCAATCCG Ara CGTTCCCAGCGTCAGGTCCATA.aurea TGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Primolius TATTCCCAGCGTCAGGTCCATCyanopsitta TGACTACTCACGAGAGATCACCAACCCG Nan<strong>da</strong>yus CGTTCCCAGCGTCAGGTCCATOrthopsittaca TGGCTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Pyrrhura CGTTCCTAGCGTCAGGTCCTTAra TGGCTACTCACGAGAGATCATCAACCCG Pionites rc2 CGTTCCTAGCGTCAAGTCCATPrimoliusTGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGNan<strong>da</strong>yusTGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGRhynchopsitta TGGCAACTCT------------------PyrrhuraTGACTACTCACGAGAGATCATCAACCCGDeroptyusTGGCTTCTCACGAGAAATCAGCAACCCAPionites rc1 TGGCTATTCGCGAGAAATCAGCA-CC--Pionites rc2 TGTCTATTCGCGAGAAATCAGCAACCGGBloco DBloco CNannopsittaca CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Nannopsittaca CCTTCACAGAGCCATCTCTGCTAGTCTGP.pileata rc1 CCTCTGGTTC--------------- P.pileata rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTAATATP.pileata rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Triclaria rc1 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGTriclaria rc1 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Triclaria rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGTriclaria rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Graydi<strong>da</strong>scalus rc2 TCACA-GAGACA--TTTCTCGTGGTTTGP.barrabandi rc1 CCTCTAG------------------ A.farinosa rc2 TCACT-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGGraydi<strong>da</strong>scalus rc2 CATTTGGTTAGTAGGTCAGGGACAT Anodorhynchus CTATC-GGGTCATCTGGTTCGCTATCCTA.farinosa rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Guarouba CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGMyiopsitta CCTCTGGTTCCTAGATTA------- Diopsittaca CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGBrotogeris CCTCTGGTTCCTAGG---------- A.aurea CTATC-AAGCCATCTGGTTCGCTATATGForpus rc1 CCTCTGGT----------------- Cyanopsitta CTATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGAnodorhynchus CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Ara CCATC-TGGTCATATGGTTCGCTATTATGuarouba CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Primolius CCATC-TGGCCATATGGTTCGCTATTTGDiopsittaca CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Nan<strong>da</strong>yus CCATC-TGGCCATCTGGTTCGCTATTTGA.aurea CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Pyrrhura TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTACyanopsitta CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Pionites rc2 TCACA-GAGTCATCTGGTTCGCTATTTGOrthopsittaca CCTCTGGTTCCTAGGTCAGGG----Ara CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAC Bloco de AvesPrimoliusCCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACATNan<strong>da</strong>yus CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Graydi<strong>da</strong>scalus rc2 CACTAATGTACTCCAPyrrhura CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT A.farinosa rc2 CACTGATGCACTTTGPionites rc2 CCTCTGGTTCCTCGGTCAGGCACAT Anodorhynchus CCCTGATGCACTTTGGuaroubaCCCTGATGCACTTTGDiopsittaca CCCTGATGCACTTTGCyanopsitta CCCTGATGCACTTTGAraCCCTGATGCACTTTGFigura 3.7. Blocos conservados no segundo domínio <strong>da</strong> região controladora. A ordem dos táxonscorresponde à ordem dos clados <strong>da</strong> Figura 3.6. Como não foi possível obter seqüências completas paratodos os blocos de todos os táxons, o sinal “-“ representa o final <strong>da</strong> seqüência.75


Capítulo 3A alta variabili<strong>da</strong>de apresenta<strong>da</strong> no terceiro domínio dos táxons com a RC completa, inviabilizou oalinhamento dessa região entre grupos menos relacionados taxonomicamente, como entre representantesdo clado B e do clado E (Figura 3.6). Nessa região os táxons Amazona e Triclaria do clado B compartilhamum bloco formado por TA 2 CA 3 CA 4 CA 3 CA 3 CCACA 3 CA 3 que não é presente em Graydi<strong>da</strong>scalus brachyurus.Os táxons Anodorhynchus hyacinthinus, Ara ararauna, Cyanopsitta spixii, Diopsittaca nobilis e Guaroubaguarouba compartilham similari<strong>da</strong>des nessa região, apesar de não apresentarem regiões repetitivas.3.4. DiscussãoAs organizações gênicas ao redor <strong>da</strong> região controladora descritas para os gêneros de psitacídeosneotropicais sugere que durante a <strong>evolução</strong> do grupo, ocorreram convergências ao longo <strong>da</strong>s linhagens, jáque táxons de clados diferentes apresentam a mesma organização (Figura 3.6). Apesar de eventos derearranjo dos genes serem considerados pouco freqüentes e únicos em algumas linhagens animais (Booree Brown, 1998; Morrison e col., 2001), a convergência múltipla na organização dos genes mitocondriais aoredor <strong>da</strong> região controladora foi evidencia<strong>da</strong> anteriormente em aves (Mindell e col., 1998; Bensch e Härlid,2000).O mecanismo de duplicação e posterior deleção de genes duplicados (Moritz e col., 1986, 1987;Macey e col., 1997; Holt e col., 1997) é o que melhor explica a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> ordem comum para a ordemgênica descrita dentre os grupos de aves, porque a mu<strong>da</strong>nça de ordem aconteceu entre genes fisicamentepróximos, além disso foram encontra<strong>da</strong>s regiões duplica<strong>da</strong>s e pseudogenes em Falco peregrinus (Mindelle col. 1998), Phylloscopus (Bensch e Härlid, 2000), Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001) queapresentam a organização alternativa. Assumindo esse mecanismo, duas possíveis maneiras para explicaras diferentes organizações gênicas nos psitacídeos neotropicais foram testa<strong>da</strong>s. Em ambas, consideramosque o ancestral dos psitacídeos neotropicais apresentava a organização comum dos genes em aves,porque não existe nenhuma evidência que sugere o contrário.Se a ordem alternativa fosse o estado ancestral, isso implicaria na necessi<strong>da</strong>de de haver maiseventos de mu<strong>da</strong>nça de ordem gênica no grupo, já que os representantes <strong>da</strong> linhagem de psitacídeosneotropicais que se separou inicialmente <strong>da</strong>s demais linhagens (Bolborhynchus e Nannopsittaca)apresentam a organização comum. Além disso, Strigops habroptilus, representante atual do primeiro clado<strong>da</strong> ordem Psittaciformes a se separar dos demais (Barrowclough e col. 2004; de Kloet e de Kloet, 2005)também apresenta a organização comum em aves. Finalmente, a inferência dos estados ancestrais por76


Capítulo 3máxima verossimilhança sugere maior probabili<strong>da</strong>de do ancestral dos neotropicais de apresentar aorganização comum (Figura 3.4a).A princípio, as duas hipóteses considera<strong>da</strong>s são igualmente prováveis para explicar a <strong>evolução</strong> docaráter no grupo, no entanto, o modelo que assume três eventos independentes de duplicação de genes edeleção posterior de cópias duplica<strong>da</strong>s (Figura 3.4b) parece mais provável, já que nenhuma <strong>da</strong>s linhagensde psitacídeos neotropicais que apresentam a organização comum dos genes em aves apresenta vestígiode genes duplicados, como acontece nas três linhagens que apresentam a organização alternativa. Comoos eventos de per<strong>da</strong> de genes em to<strong>da</strong>s as linhagens teriam acontecido em períodos próximosconsiderando o modelo apresentado na Figura 3.6c, seria esperado encontrar resquícios de genesduplicados nas linhagens C e E. Hipoteticamente, é possível imaginar a reversão para a ordem comum deaves a partir de uma duplicação de genes, ou mesmo a partir de uma ordem alternativa onde as duascópias <strong>da</strong> RC são potencialmente funcionais, como ocorre em Amazona e Pionus (Eberhard e col. 2001).No entanto, até o momento não foi descrito em nenhum dos grupos de aves que apresentam a ordem degenes comum (ex. Desjardins e Morais, 1990; Boore, 1999) vestígios de genes duplicados, como aconteceem alguns táxons que apresentam a ordem alternativa, portanto, não existe nenhuma evidência maisconcreta em psitacídeos ou mesmo em aves sugerindo que a ordem comum pode ser reverti<strong>da</strong> a partir deum processo de duplicação, ou mesmo a partir <strong>da</strong> ordem alternativa. De qualquer forma, o modelo nãopode ser desconsiderado.Forpus e táxons <strong>da</strong> linhagem de papagaios, curicas e afins (clado C), apresentam pseudogenescom alguma similari<strong>da</strong>de com as regiões de NADH6 e RNAt Glu . O interessante é que os pseudogenesencontrados em ambos os clados apresentam alguma similari<strong>da</strong>de, o que tornou possível seu alinhamento.No entanto, em ambos os modelos considerados, a deleção de genes nos dois grupos teria ocorridoindependentemente, ou seja por convergência. Alternativamente, poderiamos considerar um cenário ondeesses táxons compartilhassem um único evento de deleção. Isso sugeriria que a posição filogenéticadesses grupos seria um pouco diferente <strong>da</strong> proposta filogenética que estamos considerando (Tavares ecol., in prep.). O suporte de “bootstrap” <strong>da</strong>s análises de máxima verossimilhança dos ramos que definem aposição filogenética de Forpus no clado que inclui as araras, marianinhas e afins não é muito alto, apesarde a probabili<strong>da</strong>de posterior <strong>da</strong> análise bayesiana ser relativamente eleva<strong>da</strong> (Tavares e col., in prep.). Noentanto, um cenário alternativo onde Forpus seria grupo irmão dos táxons <strong>da</strong> linhagem B (Figura 3.6) nãofoi recuperado por nenhum dos métodos de inferência filogenética testados (Tavares e col, in prep.),sustentando a possibili<strong>da</strong>de de convergência nos eventos de deleção de genes. Isso poderia indicar que77


Capítulo 3um mecanismo de deleção não aleatória dos genes duplicados poderia atuar em aves, como propostoinicialmente para artrópodes dos gêneros Narceus e Thyropygus (Lavrov e col., 2002). Apesar de talmecanismo não ter sido testado em aves, a deleção não aleatória dos genes duplicados poderia explicar aconvergência para a ordem alternativa em várias linhagens independentes de aves (Mindell e col., 1998,Bensch e Härlid, 2000, Eberhard e col., 2001) a partir de uma duplicação hipotética que poderia levar aoutros arranjos gênicos nunca descritos, como por exemplo o posicionamento do gene NADH6 entre oRNAt Thr e RNAt Pro .Seria esperado supor que, se o rearranjo gênico ocorreu em uma linhagem ancestral comum entrealguns táxons, ca<strong>da</strong> uma de suas regiões controladoras deveria apresentar mais similari<strong>da</strong>de com asregiões controladoras homólogas <strong>da</strong>s demais linhagens (cópias ortólogas) do que com a segun<strong>da</strong> RCpresente no mesmo táxon (cópias parálogas). Nesse sentido, se assumirmos um único evento deduplicação e deleção na linhagem ancestral comum aos táxons do clado B, as RC 1 desses gênerosdeveriam ser mais próximas entre si, do que as RC 1 e RC 2 de ca<strong>da</strong> um desses grupos. No entanto, issonão acontece, as RC parálogas são mais próximas entre si. O mesmo acontece no clado F. Apesar de nãoter sido obti<strong>da</strong> seqüência <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> RC para Deroptyus, a distância entre RC 1 desse táxon e de Pionitesé maior do que a distância entre RCs de Pionites. A princípio, isso sugere que em ca<strong>da</strong> táxon dessalinhagem aconteceu um único evento de duplicação de genes, seguido de um único evento de deleção degenes. Entretando, isso não acontece apenas ao nível genérico. Entre espécies do gênero Amazona issotambém foi descrito (Eberhard e col., 2001). Portando, a existência de eventos independentes para ca<strong>da</strong>um desses casos, seria pouco provável. RCs duplica<strong>da</strong>s e que apresentam baixa taxa de divergência entreas cópias também foram descritas em pepinos do mar (Arndt e Smith, 1998), cobras (Kumazawa e col.,1998) e outros grupos (Black e Roehr<strong>da</strong>nz, 1998; Campbell e Barker, 1999; Kumazawa e col., 1995).Eberhard e col. (2001) levantaram três hipóteses pelas quais um ou mais mecanismos de conversãogênica poderiam estar atuando nas RCs parálogas, de forma a mantê-las semelhantes: 1) um mecanismode conversão gênica envolvendo apenas as porções convergentes; 2) um mecanismo de conversão gênicaenvolvendo a região controladora inteira com <strong>evolução</strong> extremamente rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s porções não- funcionais;e 3) seleção paralela para manter a funcionali<strong>da</strong>de de ambas as regiões. Nenhuma <strong>da</strong>s hipóteses por si sóexplica os <strong>da</strong>dos obtidos e os elementos para descartar qualquer uma delas são insuficientes. Portanto,seria interessante comparar a seqüência completa <strong>da</strong>s regiões parálogas de ca<strong>da</strong> táxon a fim de melhorentender o mecanismo que melhor explicaria os eventos de convergência de RC nos psitacídeosneotropicais. As regiões comuns presentes no terceiro domínio <strong>da</strong> RC de Amazona e Triclaria poderiam78


Capítulo 3estar presentes no ancestral do clado que une esses grupos e ter sido perdido em Graydi<strong>da</strong>scalus, já queesse clado estaria mais relacionado taxonomicamente a Amazona do que a Triclaria.Os <strong>da</strong>dos apresentados aqui contribuem para o melhor entendimento <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> do genomamitocondrial em aves. Os resultados obtidos são compatíveis com o modelo de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> ordemcomum em aves para a ordem alternativa por duplicação segui<strong>da</strong> de deleção de genes. Além disso, os<strong>da</strong>dos sugerem que vários eventos de rearranjo gênico podem ter ocorrido entre táxons filogeneticamentepróximos e que de algum modo pode haver convergência na maneira como os genes duplicados sãoperdidos em aves, o que torna ain<strong>da</strong> mais discutível o conteúdo filogenético desse caráter para estu<strong>da</strong>r a<strong>evolução</strong> de aves. Algum mecanismo de <strong>evolução</strong> em concerto também parece operar entre as regiõescontroladoras, como foi sugerido inicialmente para Amazona e Pionus (Eberhard e col., 2001).3.5. ReferênciasArndt, A., Smith, M.J., 1998.Mitochondrial gene rearrangement in sea cucumber genus Cucumalia. Mol.Biol. Evol. 15, 1009-1016.Barrowclough, G.F., Groth, J.G., Mertz, L.A., 2004. Phylogenetic relationships among parrots. One Hundre<strong>da</strong>nd Twenty-Second Stated Meeting of the American Ornithologists’ Union. 16 – 21 August, Laval,Quebec.Bensch, S., Härlid, A., 2000. Mitochondrial genomic rearrangements in songbirds. Mol. Biol. Evol. 17, 107-113.Black, W.C.I., Roehr<strong>da</strong>nz, R.L. 1998. Mitochondrial gene order is not conserved in arthropods: prostriateand metastriate tick mitochondrial genomes. Mol. Biol. Evol. 15, 1772-1785.Boore, J.L., 1999. Animal mitochondrial genomes. Nucl. Acids Res. 27, 1767-1780.Boore, J.L., Brown, W.M., 1998. Big trees from little genomes: mitochondrial gene order as a phylogenetictool. Curr. Opin. Genet. Dev. 8, 668-674.Boore, J.L., Collins, T.M., Stanton, D., Daehler, L.L., Brown, W.M., 1995. Deducing the pattern of arthropodphylogeny from mitochondrial DNA rearrangements. Nature 376, 163-165.Bruford, M.W., Hanotte, O., Brookfield, J.F.Y., Burke,T., 1992. Single-locus and multilocus DNAfingerprinting. Pages 255-269 in Molecular Genetic Analyses of Populations - a Practical Approach (A.R. Hoelzel, Ed.). Oxford University Press, New York.Campbell, N.J.H., Barker, S.C. 1999. The novel mitochondrial gene arrangements of the cattle tick,Boophilus microplus: fivefold tandem repetition of a coding region. Mol. Biol. Evol. 16, 732-740.79


Capítulo 3de Kloet, R.S., de Kloet, S.R., 2005. The evolution of the spindlin gene in birds: sequence analysis of naintron of the spindlin W and Z gene revealed four major divisions of the Psittaciformes. Mol.Phylogenet. Evol. (in press).Desjardins, P., Morais, R., 1990. Sequence and gene organization of the chicken mitochondrial genome - anovel gene order in higher vertebrates. J. Mol. Biol. 212, 599-634.Delport, W., Ferguson, J.W.H. Bloomer, P., 2002. Characterization and evolution of the mitochondrial DNAcontrol region in Hornbills (Bucerotiformes). J. Mol. Evol. 54, 794-806.Downton, M., Castro, L.R., Campbell, S.L., Bargon, S.D., Austin, A.D. 2003. Frequent mitochondrial generearrangements at the Hymenopteran nad3-nad5 junction. J. Mol. Evol. 56, 517-526.Eberhard, J.R., Wright, T.F., Bermingham, E., 2001. Duplication and concerted evolution of themitochondrial control region in parrot genus Amazona. Mol. Biol. Evol. 18, 1330–1342.Haddrath, O., Baker, A.J., 2001. Complete mitochondrial DNA genome sequences of extinct birds: ratitephylogenetics and the vicariance biogeography hypothesis. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B 268, 939–945.Härlid, A., Janke, A., Arnason, U., 1998. The complete mitochondrial genome of Rhea americana and earlyavian divergences. J. Mol. Evol. 46, 669-679.Harrison, G.L., McLenachan, P.A., Phillips, M.J., Slack, K.E., Cooper, A., Penny, D., 2004. Four new avianmitochondrial genomes help get to basic evolutionary questions in the Late Cretaceous. Mol. Biol.Evol. 21, 974-983.Holt, I.J., Dunbar, D.R., Jacobs, H.T., 1997. Behaviour of a population of partially duplicated mitochondrialDNA molecules in cell culture: segregation, maitenance and recombination dependent upon nuclearbackground. Hum. Mol. Genet. 6, 1251-1260.Kornegay, J.R., Kocher, T.D., Williams, L.A, Wilson, A.C., 1993. Pathways of lysozyme evolution inferredfrom the sequences of cytochrome b in birds. J. Mol. Evol. 37, 367-379.Kumar, S., Tamura, K., Jakobsen, I.B., Nei. M., 2001. Mega 2: Molecular Evolutionary Genetics Analysissoftware. Bioinformatics 17, 1244-1245.Kumazawa, Y., Nishi<strong>da</strong>, M., 1995. Variations in mitochondrial tRNA gene organization of reptiles asphylogenetic markers. Mol. Biol. Evol. 12, 759-772.Kumazawa, Y., Ota, H., Nishi<strong>da</strong>, M., Ozawa, T., 1998. Conservation of gene order: a fingerprint of proteinsthat physically interact. Trends Biochem. Sci. 23, 324-328.Lavrov, D.V., Boore, J.L., Brown, W.M., 2002. Complete mtDNA sequences of two millipedes suggest anew model for mitochondrial gene rearrangements: duplication and nonrandom loss. Mol. Biol. Evol.19, 163-169.80


Capítulo 3Lowe, T.M., Eddy, S.R., 1997. tRNAscan-SE: a program for improved detection of transfer RNA genes ingenomic sequences. Nucl. Acids Res. 25, 995-964.Macey, J.R., Larson, A., Ananjeva, N.B., Fang, Z., Papenfuss, T.J., 1997. Two novel gene orders and therole of light-strand replication in rearrangement of the vertebrate mitochondrial genome. Mol. Biol. Evol.14, 91-104.Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2000. MacClade 4: Analysis of phylogeny and character evolution.Sinauer Associates, Sunderland, Massachusetts.Maddison, W.P., Maddison, D.R., 2004. Mesquite: a modular system for evolutionary analysis. Version 1.05http://mesquiteproject.org.Marshall, H. D., Baker, A. J., 1997. Structural conservation and variation in the mitochondrial control regionof Fringilline finches (Fringilla spp.) and the greenfinch (Carduelis chloris). Mol. Biol. Evol. 14, 173-184.Marshall, H. D., Baker., A. J., 1999. Colonization history of Atlantic island common chaffinches (Fringillacoelebs) revealed by mitochondrial DNA. Mol. Phylogenet. Evol. 11, 201-222.Mindell, D.P, Sorenson, M.D., Dimcheff, D.E., 1998. Multiple independent origins of mitochondrial geneorder in birds. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 95, 10693-10697.Miyaki, C.Y., Matioli, S.R., Burke, T., Wajntal, A., 1998. Parrot evolution and paleogeographical events:mitochondrial DNA evidence. Mol. Biol. Evol. 15, 544–551.Moritz, C., Brown, W.M., 1986. Tandem duplications of D-loop and ribosomal RNA sequences in lizardmitochondrial DNA. Science 233, 1425-1427.Moritz, C., Dowling, T.E., Brown, W.M., 1987. Evolution of animal mitochondrial DNA: relevance forpopulation biology and systematics. Ann.Rev. Ecol. Syst, 18, 269-292.Morrison, C.L., Harvey, A.W., Lavery, S. Tieu, K. Huang, Y., Cunningham, C.W., 2002. Mitochondrial generearrangements confirm the parallel evolution of the crab-like form. Proc. R. Soc. Lond. B 269, 345-350.Pääbo, S., Thomas, W.K., Whitfield, K., Kumazawa, M., Wilson, A.C., 1991. Rearrangements ofmitochondrial transfer RNA genes in marsupials. J. Mol. Evol. 33, 426-430.Paton, T., Haddrath, O., Baker, A.J., 2002. Complete mitochondrial DNA genome sequences show thatmodern birds are not descended from transitional shorebirds. Proc. R. Soc. Lond. Ser. B 269,839–846.Pereira, S.L., Baker, A.J., 2004. Low number of mitochondrial pseudogenes in the chicken (Gallus gallus)nuclear genome: implications for molecular inference of population history and phylogenetics. BMCEvol. Biol. 4, 17.81


Capítulo 3Pereira, S.L., Graw, E.T., Wajntal, A., 2004. Molecular architecture and rates of DNA substitutions of themitochondrial control region of cracid birds. Genome 47, 535-545.Quinn, T. W., 1997. Molecular evolution of the mitochondrial genome. In Mindell, D.P. (Ed.), AvianMolecular Systematics and Evolution. Academic Press, San Diego. Pp. 3-26.Ribas, C.C., Miyaki, C.Y., 2004 Molecular systematics in Aratinga parakeets: species limits and historicalbiogeography in the solstitialis group, and the systematic position of Nan<strong>da</strong>yus nen<strong>da</strong>y. Mol.Phylogenet. Evol. 30, 663–675.Ruokonen, M., Kvist, L. 2002. Structure and evolution of the avian mitochondrial control region. Mol.Phylogenet. Evol. 23, 422-432.Saccone, C., De Giorgi, C., Gissi, C., Pesole, G., Reyes, A., 1999. Evolutionary genomics in Metazoa: themitochondrial DNA as model system. Gene 238, 195-290.Sbisà, E., Tanzariello, F., Reyes, A., Pesole, G., Saccone., C., 1997. Mammalian mitochondrial D-loopregion structural analysis: identification of new conserved sequences and their functional andevolutionary implications. Gene 205, 125-140.Slack, K. E., Janke, A., Penny, D., Arnason, U., 2003 Two new avian mitochondrial genomes (penguin andgoose) and a summary of bird and reptile mitogenomic features. Gene 302, 43-52.Swofford, D.L., 2002. PAUP*: Phylogenetic analysis using parsimony (*and related methods). Version 4.Sinauer Associates, Sunderland, MA.Tavares, E.S., Baker, A.J., Pereira, S.L., Miyaki, C.Y. Phylogenetic relationships and historicalbiogeography of Neotropical parrots (Psittaciformes: Psittaci<strong>da</strong>e: Arini) inferred from mitochondrial andnuclear DNA sequences. In prep. Manuscrito apresentado no capítulo 2.Tavares, E.S., Yamashita, C., Miyaki, C.Y., 2004, Phylogenetic relationships among some Neotropicalparrot genera (Psittaci<strong>da</strong>e) based on mitochondrial sequences. Auk 121, 230-242.Thompson, J.D., Gibson, T.J., Plewniak, F., Jeanmougin, J. Higgins, D.G., 1997. The Clustal X windowsinterface: flexible strategies for multiple sequence alignment aided by quality analysis tools. Nucl. AcidsRes. 25, 4876–4882.82


Capítulo 4Considerações finais


Capítulo 4A presente tese se insere no contexto <strong>da</strong> biologia evolutiva que busca inferir a história <strong>da</strong> <strong>evolução</strong>e eluci<strong>da</strong>r seus mecanismos. A filogenia tem por objetivo entender as relações de parentesco entre osorganismos pelo princípio <strong>da</strong> ancestrali<strong>da</strong>de comum. O estudo dessas relações fornece subsídios geraispara interpretar vários outros aspectos <strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>evolução</strong>, por exemplo, como ocorrem as modificaçõesfisiológicas, ecológicas, etológicas, morfológias, moleculares, dentre outras. Além disso, com base nasfilogenias, pode-se inferir o tempo de divergência entre as linhagens e levantar ou testar hipótesesbiogeográficas. Na presente tese, vários aspectos <strong>da</strong> biologia evolutiva dos psitacídeos neotropicais foramestu<strong>da</strong>dos. Inicialmente foi realiza<strong>da</strong> uma filogenia abrangente dos gêneros do grupo com base em 6.461pb de seqüências de DNA nuclear e mitocondrial. Essa análise recuperou:• Um clado de pequenos periquitos (Bolborhynchus e Nannopsittaca) como grupo irmão dos demaispsitacídeos neotropicais, que por sua vez se dividem em dois grupos, um formado por papagaios,caturritas, curicas e afins (Amazona, Pionus, Graydi<strong>da</strong>scalus, Pionopsitta, Triclaria, Myiopsitta eBrotogeris) e outro formado por araras, marianinhas, tiribas e afins (Ara, Primolius, Orthopsittaca,Cyanopsitta, Diopsittaca, Guarouba, Nan<strong>da</strong>yus, Aratinga, Anodorhynchus, Cyanoliseus,Enicognathus, Rhynchopsitta, Pyrrhura, Deroptyus, Pionites e Forpus).• No clado que inclui papagaios, caturritas, curicas e afins as relações internas são bem resolvi<strong>da</strong>s,enquanto no clado formado por araras, marianinhas tiribas e afins, a maior parte <strong>da</strong>s relaçõesforam bem resolvi<strong>da</strong>s, mas algumas relações permanecem pouco suporta<strong>da</strong>s ou não resolvi<strong>da</strong>s,padrão possivelmente decorrente de uma rápi<strong>da</strong> radiação que se reflete nos curtos tamanhos deramo entre essas linhagens nas topologias obti<strong>da</strong>s.• Os resultados descritos na presente tese aumentou muito o conhecimento <strong>da</strong>s relaçõessistemáticas e <strong>filogenéticas</strong> ao nível de gêneros dentre os psitacídeos <strong>da</strong> tribo AriniA história <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> de alguns caracteres morfológicos, comportamental e genético foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong>pelo mapeamento dos estados atuais na inferência filogenética proposta. O resultado dessas análises,sugere que:• Os caracteres morfológicos, (comprimento <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>, forma <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>, dimorfismo sexual aparente,íris bi-colori<strong>da</strong>, narinas expostas e anel perioftalmico nu) e comportamental (posição <strong>da</strong> perna aocoçar a cabeça) apresentaram convergência e portanto, não podem isola<strong>da</strong>mente ser usados paraa diagnose dos clados obtidos na presente inferência filogenética.• O caráter genético (minissatélites ligados ao cromossomo sexual W) pode apresentar sinalfilogenético, mas ain<strong>da</strong> não foi estu<strong>da</strong>do para todos os táxons incluídos na inferência filogenéticaproposta nessa tese, portanto essa conclusão seria prematura.84


Capítulo 4Foram realiza<strong>da</strong>s estimativas dos tempos de divergência dos clados obtidos na inferênciafilogenética. As divergências foram compara<strong>da</strong>s com fatores históricos que poderiam ter influenciado nadiversificação dos grupos:• O ancestral dos psitacídeos neotropicais se separou do ancestral australasiático entre 51-67milhões de anos (ma), portanto a separação <strong>da</strong> Austrália e Antártica possivelmente teve um papelimportante na separação ou isolamento desses grupos.• As linhagens mais antigas de psitacídeos neotropicais se diversificaram no início do Eoceno (entre42-57 ma), período no qual a América do Sul e a Antártica eram conecta<strong>da</strong>s.• Padrões de cladogênese bem distintos foram observados em dois grandes clados de psitacídeosneotropicais. Os gêneros de papagaios e afins diversificaram de forma contínua de 12-54 ma, coma maioria dos eventos acontecendo entre 20-46 ma. No entanto, no clado <strong>da</strong>s araras e afins, umalinhagem que deu origem ao atual gênero Forpus divergiu <strong>da</strong>s demais entre 39-54 ma, isso foiseguido de um período de cerca de 20 ma onde não é registra<strong>da</strong> diversificação no clado <strong>da</strong>sararas e afins, até que entre 4-34 ma ocorreu cladogênese de forma expressiva em uma <strong>da</strong>slinhagens.• Os papagaios e afins podem ter evoluído associados a ambientes florestais na América do Sul, jáque a cladogênese do grupo coincide com a reposição de flora e o aumento <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong>sflorestas tropicais dessa região. Além disso, muitas <strong>da</strong>s linhagens atuais desse clado ocorremnesses ambientes.• A grande diversificação (entre 22-34 ma) do grupo <strong>da</strong>s araras, maracanãs e afins, pode terocorrido em resposta a uma grande diversificação de ambientes secos ocorri<strong>da</strong> no Mioceno, umavez que muitas linhagens atuais desse grupo ocupam ambientes com características semelhantes.A falta de registro de diversificação antes desse período poderia ser explica<strong>da</strong> por uma extinção<strong>da</strong>s linhagens que teriam se diversificado.• Outras possibili<strong>da</strong>des envolvem a existência de uma barreira isolando membros dos clados dospequenos periquitos e do clado <strong>da</strong>s araras, maracanãs e afins e após a barreira ter desaparecido,houve uma dispersão do grupo para ambientes antes pouco explorados. Duas possíveis barreirasseriam: um mar transcontinental formado no sul <strong>da</strong> Argentina e do Chile durante o Oligoceno; oualgumas linhagens poderiam estar evoluindo na Antártica e teriam sido impulsionados para aAmérica do Sul, à medi<strong>da</strong> que a Antártica migrou mais para o sul e se tornou um continenteincrustrado por gelo.85


Capítulo 4A organização dos genes mitocondriais ao redor <strong>da</strong> região controladora foi determina<strong>da</strong> para amaioria dos gêneros de psitacídeos neotropicais. Esses resultados associados a outros obtidos emtrabalhos anteriores foram mapeados na inferência filogenética e alguns aspectos <strong>da</strong> <strong>evolução</strong> dessecaráter no grupo estu<strong>da</strong>dos estão apresentados a seguir:• Apresentam a ordem de genes comum de aves táxons do clado de pequenos periquitos(Bolborhynchus e Nannopsittaca), as primeiras linhagens a se diferenciar no grupo dos papagaiose afins (Myiopsitta e Brotogeris) e espécies do clado <strong>da</strong>s araras e afins (Ara, Primolius,Orthopsittaca, Cyanopsitta, Diopsittaca, Guarouba, Nan<strong>da</strong>yus, Aratinga, Anodorhynchus,Cyanoliseus, Enicognathus, Rhynchopsitta e Pyrrhura).• A ordem de genes alternativa está presente na maior parte dos representantes do clado dospapagaios e afins (Pionopsitta, Graydi<strong>da</strong>scalus,Triclaria, Amazona e Pionus) e em três gêneros doclado <strong>da</strong>s araras e afins (Deroptyus, Pionites e Forpus).• O mapeamento sugere convergência na mu<strong>da</strong>nça de ordem dos genes e a inferência dos estadosdesse caráter em alguns ancestrais foi ambígua, sugerindo mais de uma possibili<strong>da</strong>de paraexplicar a origem desses eventos. Duas hipóteses foram levanta<strong>da</strong>s:1. A primeira hipótese assume seis eventos independentes, sendo três de duplicação, seguido de trêsde deleção de genes, que teriam ocorrido após 54 ma, entre 32-54 ma e após 29 ma,respectivamente, levando três linhagens a apresentar a ordem alternativa.2. A segun<strong>da</strong> hipótese, assume um único evento de duplicação (entre 41-56 ma) seguido de cincoeventos independentes de deleção posterior de genes, sendo que dois reverteriam para a ordemcomum em aves (entre 26-54 ma e 20-35 ma) e três <strong>da</strong>riam origem à ordem alternativa (após 54ma, entre 32-54 ma e após 29 ma).• Como não dispomos de elementos para identificar se duplicações ou deleções de genes são maisprováveis de acontecer, não pudemos concluir qual o mecanismo mais provável para explicar osdiferentes arranjos nessa linhagem.• A presença de pseudogenes que representam resquícios dos eventos de duplicação somente nostáxons que apresentam o arranjo alternativo, não favorece nenhuma <strong>da</strong>s hipóteses, mas evidenciaelementos exclusivos de alguns clados e outros convergentes.• Sugerimos que a mu<strong>da</strong>nça de ordem gênica em Aves poderia envolver um mecanismo deduplicação e deleção não aleatória dos genes duplicados, modelo que foi proposto para explicaralteração de ordem gênica em Diplopo<strong>da</strong>.ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.128 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2005 – P. 586

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!