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Oficina de Aconselhamento em DST/HIV/Aids no Contexto do DSEl

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<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>no</strong><strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial Indígena


Ministério da Saú<strong>de</strong>Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong><strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>no</strong><strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaSérie Manuais nº 65Organiza<strong>do</strong>ras:Vera Lopes <strong>do</strong>s SantosDenise SerafimBrasília, DF2005


© 2005. Ministério da Saú<strong>de</strong>É permitida a reprodução parcial ou total <strong>de</strong>sta obra,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que citada a fonte.Tirag<strong>em</strong>: 2.000 ex<strong>em</strong>plaresPRESIDENTE DA REPÚBLICALuiz Inácio Lula da SilvaMINISTRO DE ESTADO DA SAÚDESaraiva FelipeSECRETÁRIO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDEJarbas BarbosaProdução, distribuição e informaçõesMINISTÉRIO DA SAÚDESecretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>Av. W3 Norte, SEPN 511, Bloco CCEP 70750-543 – Brasília, DFDisque Saú<strong>de</strong> / Pergunte aids: 0800 61 1997Home page: www.aids.gov.brSérie Manuais nº 65 – PN-<strong>DST</strong>/AIDSPublicação financiada com recursos <strong>do</strong> Projeto UNODC AD/BRA/03/H34Diretor <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>Pedro ChequerDiretor-adjunto <strong>do</strong> Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>Mariângela SimãoRicar<strong>do</strong> Pio MarinsAssessor <strong>de</strong> Comunicação/PN-<strong>DST</strong>/AIDSAlexandre Mag<strong>no</strong> <strong>de</strong> A. AmorimEditorDario NoletoEditoras-assistentesNágila Paiva e Telma SousaProjeto Gráfico, capa e diagramaçãoAlexsandro <strong>de</strong> Brito AlmeidaFICHA CATALOGRÁFICABrasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>. Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>. <strong>Oficina</strong><strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial Indígena. /Ministério da Saú<strong>de</strong>, Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>, Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>. Brasília:Ministério da Saú<strong>de</strong>. 2005.56p. Série Manuais n. o 651.Índios. 2. Síndrome da Imu<strong>no</strong><strong>de</strong>ficiência Adquirida. 3. Distritos Sanitários. 4. SUS.I. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. II. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>. Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e<strong>Aids</strong>. III. Título. IV. Série.Impresso <strong>no</strong> Brasil / Printed in Brazil


SumárioApresentação ....................................................................................................................... 5<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS................................................................... 9Objetivos ......................................................................................................................... 9Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Apresentação .................................................................................................. 11Sequência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s .................................................................................................... 12Unida<strong>de</strong> Didática I ........................................................................................................ 12Unida<strong>de</strong> Didática II ....................................................................................................... 13Unida<strong>de</strong> Didática III ...................................................................................................... 15Unida<strong>de</strong> Didática IV ...................................................................................................... 17Unida<strong>de</strong> Didática V ....................................................................................................... 19Textos Utiliza<strong>do</strong>s ................................................................................................................. 21Escute ............................................................................................................................. 23Principais vulnerabilida<strong>de</strong>s e riscos para a infecção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> ....................................... 25Prerrogativas éticas da oferta <strong>do</strong> teste anti-<strong>HIV</strong> ......................................................... 31Estrelas <strong>do</strong> Mar .............................................................................................................. 35Comunicação, Informação e Ação Social ..................................................................... 37Relato <strong>de</strong> Experiência <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> Prevenção <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/AIDS ................................ 45Prevenção das <strong>DST</strong>/AIDS ............................................................................................... 53Referências Bibliográficas .................................................................................................. 59


9<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>Objetivo Geral:• Capacitar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s DSEI- Distrito Sanitário Especial Indígena<strong>em</strong> aconselhamento para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>.Objetivos Específicos:• Discutir mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção às <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> e a realização <strong>do</strong> aconselhamento para<strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> <strong>no</strong>s DSEI.• Discutir o contexto atual das populações indígenas: aspectos epi<strong>de</strong>miológicosrelaciona<strong>do</strong>s às <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> e especificida<strong>de</strong>s culturais• Sensibilizar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s DSEI para a importância da<strong>de</strong>scentralização e inserção <strong>do</strong> aconselhamento para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> na rotina <strong>do</strong>sserviços;• Discutir o aconselhamento como uma estratégia <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>;


10<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


11Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ApresentaçãoDuração:01 horaObjetivos:• Proporcionar o conhecimento e integração <strong>do</strong>s participantes;• Levantar as expectativas <strong>do</strong> grupo <strong>em</strong> relação a oficina;• Apresentar a programação da oficina;• I<strong>de</strong>ntificar habilida<strong>de</strong>s necessárias ao profissional para a prática <strong>do</strong>aconselhamento;Ativida<strong>de</strong>s:• Abertura e apresentação <strong>do</strong>s objetivos da oficina• Dinâmica <strong>de</strong> apresentação (além <strong>do</strong> <strong>no</strong>me, categoria profissional, instituição aoqual está inseri<strong>do</strong>, solicitar aos participantes que escrevam <strong>em</strong> uma folha <strong>de</strong> papeluma habilida<strong>de</strong> importante para a realização <strong>do</strong> aconselhamento e pregu<strong>em</strong> napare<strong>de</strong>);• Levantamento das expectativas <strong>do</strong>s participantes;• Distribuição <strong>do</strong> ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> da oficina, seguida da apresentação <strong>do</strong> programa eleitura da introdução.• Elaboração <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> convivência


12<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>UNIDADE DIDÁTICA IObjetivos:• Discutir a organização <strong>do</strong>s serviços <strong>no</strong> Distrito Sanitário Especial Indígena;• I<strong>de</strong>ntificar as atribuições <strong>em</strong> relação a prevenção, diagnóstico e assistência das<strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> <strong>no</strong> Distrito Sanitário Especial Indígena ;• Apresentar o contexto atual <strong>do</strong>s povos indígenas: aspectos epi<strong>de</strong>miológicos eespecificida<strong>de</strong>s culturais.Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s IT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res9:30 h Discuta <strong>no</strong> subgrupo quais asatribuições <strong>do</strong>s serviços <strong>do</strong>DSEI relacionadas às ações<strong>de</strong> diagnóstico, prevençãoe assistência às <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>,consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as especificida<strong>de</strong>sculturais da população atendida.Sist<strong>em</strong>atize a discussão paraapresentação <strong>em</strong> plenária.11:00h Apresente <strong>em</strong> plenária asconclusões da ativida<strong>de</strong> anteriorAlmoçoDividir os participantes <strong>em</strong> 3 subgrupos<strong>de</strong> forma a obter umacomposição heterogênea.Oriente a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formaque os sub-grupos i<strong>de</strong>ntifique asatribuições <strong>do</strong>s serviços <strong>do</strong> DSEIrelacionadas às ações <strong>de</strong> diagnósticoe prevenção e assistência as <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>Coor<strong>de</strong>nar a plenária, discutir comos participantes a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>para as <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> <strong>no</strong> contexto <strong>do</strong>DSEI quanto a:• Promoção à saú<strong>de</strong> sexual eprevenção das <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>• <strong>Aconselhamento</strong> e diagnóstico<strong>do</strong> <strong>HIV</strong>• Abordag<strong>em</strong> sindrômica• Apresentar uma síntese<strong>do</strong>s aspectos relevantes daprevenção, constantes naproposta para Implantação <strong>do</strong>Programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>no</strong>sDSEI• Apresentar o contexto atualdas populações indígenas:aspectos epi<strong>de</strong>miológicos ,especificida<strong>de</strong>s culturais


13UNIDADE DIDÁTICA IIObjetivos:• Discutir o aconselhamento pré-teste anti-<strong>HIV</strong>, coletivo e individual;• Refletir acerca <strong>do</strong>s conceitos e objetivos <strong>do</strong>s aconselhamentos coletivo eindividual.• I<strong>de</strong>ntificar e compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> comunicação na prática <strong>do</strong>aconselhamento;• I<strong>de</strong>ntificar as <strong>DST</strong> e suas implicações como probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> publica;Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s IT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res14:00h Discuta <strong>no</strong> sub-grupo e conceitue:INTERVALO• <strong>Aconselhamento</strong> individual• <strong>Aconselhamento</strong> coletivo• Defina os objetivos <strong>do</strong>aconselhamento para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>.• A<strong>no</strong>te as conclusões paraapresentação <strong>em</strong> plenária.Apresente <strong>em</strong> plenária oresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s trabalhos.Participe <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>teorização:<strong>Aconselhamento</strong> para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>16:30 h Discuta <strong>no</strong> sub-grupo e elaboreuma dramatização <strong>de</strong> umaconselhamento pré-teste anti-<strong>HIV</strong> (individual e coletivo).Avaliação <strong>do</strong> diaApresente a dramatização <strong>em</strong>plenária e participe das discussõesdas apresentações.Manter os sub-grupos e orientar aativida<strong>de</strong>.• Sub-grupo 1 e 2 - Conceitos eobjetivos <strong>do</strong> aconselhamentoindividual;• Sub-grupo 3 – Conceitos eobjetivos <strong>do</strong> aconselhamentocoletivo.Coor<strong>de</strong>nar a plenáriaRealizar uma teorização sobreaconselhamento para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>.Retome os 3 sub-grupos:Os casos <strong>de</strong>verão ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s apartir da vivência <strong>do</strong> grupo.• Sub-grupo 1 e 2: Dramatização<strong>do</strong> aconselhamento pré-testeindividual.• Sub-grupo 3: Dramatização<strong>do</strong> aconselhamento coletivo.Estimular a construção dadramatização, orientan<strong>do</strong>que <strong>de</strong>ve ser um recorte <strong>do</strong>atendimento e com curtaduração.Coor<strong>de</strong>nar a plenária.


14<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s IIT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res8:30h Participe <strong>de</strong> uma dinâmica <strong>de</strong>grupo sobre comunicaçãoFaça <strong>em</strong> sub-grupos a leitura <strong>do</strong>texto:Comunicação, Informação eAção Social.Destaque pontos importantes <strong>do</strong>texto correlacionan<strong>do</strong>-o com adramatização da ativida<strong>de</strong> I daseqüência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> I.Sist<strong>em</strong>atize as conclusões paradiscussão <strong>em</strong> plenária.Apresente <strong>em</strong> plenária asconclusões da ativida<strong>de</strong> anterior.Em plenária leia o texto“ESCUTE”Coor<strong>de</strong>nar a dinâmica, ressaltan<strong>do</strong>o processo <strong>de</strong> comunicação e os seuscomponentes.Manter os sub-grupos e orientar aativida<strong>de</strong>, ressaltan<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os aspectosfacilita<strong>do</strong>res e dificulta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>processo <strong>de</strong> comunicação.Coor<strong>de</strong>nar a plenária <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>pontos relevantes que facilitam/dificultam a comunicação.Coor<strong>de</strong>nar a leitura <strong>do</strong> texto.INTERVALO10:30h No sub-grupo, liste as <strong>DST</strong> queconhec<strong>em</strong> ou mais comuns <strong>no</strong>serviço que atua e relacioneos conteú<strong>do</strong>s importantesque <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser discuti<strong>do</strong>s <strong>no</strong>aconselhamento individualManter os sub-grupos e orientar aativida<strong>de</strong>Sist<strong>em</strong>atize a discussão paraapresentação <strong>em</strong> plenária.Apresente <strong>em</strong> plenária asconclusões da ativida<strong>de</strong> anterior.Coor<strong>de</strong>nar a plenária:O primeiro grupo apresenta oproduto <strong>do</strong> trabalho na íntegra e os<strong>de</strong>mais compl<strong>em</strong>entam a discussão.Sist<strong>em</strong>atizar os conteú<strong>do</strong>s dasapresentações utilizan<strong>do</strong> aabordag<strong>em</strong> sindrômica.Caso necessário, convi<strong>de</strong> umespecialista <strong>no</strong> assunto para darsuporte nas discussõesLeia o texto ou participe <strong>de</strong>exposição dialogada sobre:“<strong>Aconselhamento</strong> para <strong>DST</strong>”Coor<strong>de</strong>nar a leitura <strong>do</strong> texto ouacompanhar a exposição dialogadaAlmoço


15UNIDADE DIDÁTICA IIIObjetivos:• Compreen<strong>de</strong>r o aconselhamento <strong>de</strong>ntro das especificida<strong>de</strong>s das <strong>DST</strong>;• Discutir avaliação <strong>de</strong> risco para as <strong>DST</strong> e o <strong>HIV</strong> dirigida aos gruposindígenas• Sensibilizar sobre a estratégia <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s para sua inserção <strong>no</strong>sDSEI;• Discutir os aspectos éticos e legais da testag<strong>em</strong> anti-<strong>HIV</strong>;Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s IIT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res14:00h Participe da dinâmica <strong>de</strong>aquecimentoNos sub-grupos, retome os casosjá dramatiza<strong>do</strong>s sobre <strong>HIV</strong>,<strong>DST</strong> e o caso <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> álcooldistribuí<strong>do</strong>.Reflita sobre vulnerabilida<strong>de</strong>,e realize avaliação <strong>de</strong> risco para<strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>.A partir das discussões <strong>no</strong> grupo:• Conceitue risco evulnerabilida<strong>de</strong>• Conceitue Redução <strong>de</strong>Da<strong>no</strong>s• I<strong>de</strong>ntifique principaiscaracterísticas quediferenciam a educação <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> e o aconselhamento• Quais as perguntaspertinentes para realizaçãoda avaliação <strong>de</strong> risco?• Liste algumasrecomendações preventivaspara as <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> <strong>do</strong>s casosdramatiza<strong>do</strong>s.• Sist<strong>em</strong>atize paraapresentação <strong>em</strong> plenária.Proporcionar momento <strong>de</strong>aquecimento <strong>do</strong> grupo.Manter os sub-grupos e orientar aativida<strong>de</strong>.O grupo que dramatizou oaconselhamento coletivo, <strong>de</strong>verárepresentar um caso sobre uso <strong>de</strong>álcool, forneci<strong>do</strong> nesta ativida<strong>de</strong>pelo instrutor .Os grupos que dramatizaram opré-teste individual, apresentarãoa sist<strong>em</strong>atização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>scasos específicos dramatiza<strong>do</strong>s


16<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Avaliação <strong>do</strong> DiaApresente o resulta<strong>do</strong> dasdiscussões <strong>em</strong> plenária.Coor<strong>de</strong>nar a plenária sist<strong>em</strong>atizan<strong>do</strong>a discussão, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as questõesfundamentais para a avaliação <strong>de</strong>risco e recomendações preventivasimportantes para redução <strong>de</strong>riscos relacionadas às infecçõesconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a realida<strong>de</strong> local,observan<strong>do</strong> alguns aspectos:• Singularida<strong>de</strong> <strong>do</strong> usuário <strong>em</strong>sua cultura• O papel <strong>do</strong> usuário <strong>no</strong>momento <strong>do</strong> aconselhamento• Especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s diversossegmentos populacionaiscorrelacionan<strong>do</strong> comas diversas práticas nascomunida<strong>de</strong>s indígenas• Realizar uma teorização sobre aestratégia <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> da<strong>no</strong>s• Ler o texto: PrincipaisVulnerabilida<strong>de</strong>s para aInfecção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s IIIT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res8:30h Retorne ao sub-grupo e discuta asquestões éticas e aspectos legaisrelacionadas a testag<strong>em</strong> <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>,consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>:• Sigilo e confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> dasinformações• Testag<strong>em</strong> <strong>em</strong> jovens egestantes• Busca ativa/consentida.• Comunicação <strong>do</strong>sparceiros(as)• Sist<strong>em</strong>atize os conteú<strong>do</strong>spara apresentação <strong>em</strong>plenária.• Leia e discuta o texto:Prerrogativas Éticas daOferta <strong>do</strong> Teste Anti-<strong>HIV</strong>10:00h Apresente <strong>em</strong> plenária os aspectosrelevantes surgi<strong>do</strong>s <strong>no</strong> subgrupo.ALMOÇODiscuta <strong>no</strong> grupo os aspectosrelativos a testag<strong>em</strong> <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>:• Janela imu<strong>no</strong>lógica;• Possíveis resulta<strong>do</strong>s;• Exames confirmatórios;• Realização da 2a. amostraManter os sub-grupos e orientar aativida<strong>de</strong>.Coor<strong>de</strong>nar a discussão plenária.Coor<strong>de</strong>ne a discussão <strong>em</strong> grupo eapresente ao final as orientaçõestécnicas relativas ao fluxo datestag<strong>em</strong> <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>Caso necessário, convi<strong>de</strong> umespecialista <strong>no</strong> assunto para darsuporte nas discussões.


17UNIDADE DIDÁTICA IVObjetivos:• Discutir conceitos <strong>de</strong> sexo e sexualida<strong>de</strong> <strong>no</strong> contexto das comunida<strong>de</strong>sindígenas;• Promover reflexão sobre os sentimentos, valores e tabus que interfer<strong>em</strong> <strong>no</strong>exercício da sexualida<strong>de</strong>;• Discutir o uso <strong>de</strong> preservativos;Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong> IT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res14:00h Participe <strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong>aquecimentoINTERVALO16:30h-Discuta <strong>no</strong> sub-grupo e sist<strong>em</strong>atizeas percepções <strong>do</strong> grupo a respeitoda vivência da sexualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>sgrupos indígenas da sua área <strong>de</strong>atuação.Apresente <strong>em</strong> plenária asconclusões da ativida<strong>de</strong> anteriorLeia e discuta <strong>em</strong> sub-grupo otexto: “Os valores a gente nãopercebe quan<strong>do</strong> per<strong>de</strong> e toma osvalores <strong>do</strong> Juruá”Discuta:sub-grupo I: vantag<strong>em</strong> <strong>do</strong> uso<strong>do</strong> preservativo para os gruposindígenas <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> atuação.sub-grupo II: <strong>de</strong>svantagens <strong>do</strong> uso<strong>do</strong> preservativo para os gruposindígenas <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> atuação.Sist<strong>em</strong>atize as conclusões paraapresentação <strong>em</strong> plenáriaApresente <strong>em</strong> plenária asconclusões da ativida<strong>de</strong> anterior.Proporcionar momento <strong>de</strong>aquecimento <strong>do</strong> grupo e resgate<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>dia anteriorOrientar o grupo e coor<strong>de</strong>nar aativida<strong>de</strong>Coor<strong>de</strong>nar a plenária <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>:• a diversida<strong>de</strong> na sexualida<strong>de</strong>• troca <strong>de</strong> flui<strong>do</strong>s corporais• concepção e reprodução• diferença <strong>de</strong> sexo esexualida<strong>de</strong>• parcerias sexuais• ritos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>/ casamento• arranjos matrimoniaisOrientar a ativida<strong>de</strong> esclarecen<strong>do</strong>duvidas <strong>no</strong>s sub-grupos.Redividir o grupo <strong>em</strong> <strong>do</strong>is subgrupose orientar as ativida<strong>de</strong>s.Coor<strong>de</strong>nar a plenária, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>as vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>do</strong> uso<strong>do</strong> preservativo.


18<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Avaliação <strong>do</strong> diaParticipe <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>do</strong>uso <strong>do</strong> preservativo masculi<strong>no</strong> ef<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>.Coor<strong>de</strong>nar a plenária solicitan<strong>do</strong>a <strong>do</strong>is participantes que façama <strong>de</strong>monstração <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>preservativo f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong> e masculi<strong>no</strong>.Discutir o uso correto <strong>do</strong>preservativo


19UNIDADE DIDÁTICA VObjetivos:· Rediscutir a prática <strong>do</strong> aconselhamento coletivo pré-teste.· Discutir o aconselhamento pós-teste anti-<strong>HIV</strong> individual.Seqüência <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s lT Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Participantes Ativida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Facilita<strong>do</strong>res8:00h Retome a seqüência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>I da unida<strong>de</strong> didática I e prepareuma dramatização <strong>de</strong> 10’ <strong>do</strong>aconselhamento individual póstestee coletivo:INTERVALOSub-grupo I: reagenteSub-grupo II: não reagenteSub-grupo III: aconselhamentocoletivo pré-teste.Apresente as dramatizações <strong>em</strong>plenária.Participe das discussões dasapresentações.11:00 h Participe da discussão <strong>em</strong> gruposobre estratégias para a inserção<strong>do</strong> diagnóstico e aconselhamentona rotina <strong>do</strong> serviço.Avaliação da <strong>Oficina</strong>Dividir o grupo e orientar aapresentação da dramatização,incorporan<strong>do</strong> os conhecimentos dasativida<strong>de</strong>s anteriores.Destacar as características <strong>do</strong>aconselhamento coletivo pré-testepara o trabalho <strong>do</strong> sub-grupo:• Valorizar a interação <strong>do</strong>profissional com o grupo;• D<strong>em</strong>andas e necessida<strong>de</strong>strazidas pelos usuários;• Esclarecimento <strong>de</strong> dúvidas;• Orientações preventivasCoor<strong>de</strong>nar a plenária <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> oscomponentes <strong>do</strong> aconselhamento:• Informação• Apoio <strong>em</strong>ocional e• Avaliação <strong>de</strong> risco.• Recomendações preventivaspara as <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>Orientar e sist<strong>em</strong>atizar a discussão<strong>no</strong> grupo sobre as estratégiaspara a inserção <strong>do</strong> diagnóstico eaconselhamento <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong> narotina <strong>do</strong>s serviços, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>:• Referência/Contra-referência;• Fluxo <strong>de</strong> usuários;• Fluxo das amostras;• Previsão <strong>de</strong> insumos;• Recursos huma<strong>no</strong>s;• Monitoramento e supervisão.


20<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


Foto: Bento Viana - CTI Centro <strong>de</strong> Trabalho IndigenistaTextos Utiliza<strong>do</strong>s


23ESCUTEQUANDO EU LHE PEÇO QUE ME ESCUTE E VOCÊ COMEÇA A ME DARCONSELHOS VOCÊ JÁ NÃO FEZ O QUE EU LHE PEDÍ.QUANDO EU LHE PEÇO QUE ME ESCUTE E VOCÊ COMEÇA A ME DIZER“PORQUE EU NÃO DEVO ME SENTIR DAQUELA MANEIRA, OU COISAPARECIDA”, VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO O MEU PEDIDO.QUANDO EU LHE PEÇO QUE VOCÊ ME ESCUTE E VOCÊ SENTE QUE “TEM DEFAZER ALGO PARA RESOLVER OS MEUS PROBLEMAS” VOCÊ CONTINUA SEMENTENDER MEUS SENTIMENTOS.ESCUTE. TUDO O QUE PEDÍ FOI PARA VOCÊ ME ESCUTAR, NÃO FALAR OUFAZER NADA; SÓ ME OUVIR.QUANDO VOCÊ FAZ POR MIM UMA COISA QUE EU POSSO E PRECISO FAZER,VOCÊ CONTRIBUI PARA O MEU MEDO E A MINHA FRAQUEZA.MAS QUANDO VOCÊ ACEITA O FATO DE QUE “EU SINTO O QUE SINTO”,MESMO QUE PARA VOCÊ SEJA ALGO ABSURDO É BOM. AÍ, EU DESISTO DETENTAR ENTENDER O QUE ESTÁ POR TRÁS DESTE MEU “SENTIMENTOABSURDO”, POIS “SENTIMENTOS ABSURDOS” FAZEM SENTIDO QUANDOENTENDEMOS O QUE SIGNIFICAM.POR ISSO, POR FAVOR, ESCUTE E SÓ ME OUÇA. E, SE VOCÊ QUISER FALAR,ESPERE UM MINUTO PELA SUA VEZ: E EU ESCUTAREI VOCÊ


24<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


25Principais vulnerabilida<strong>de</strong>s e riscospara a infecção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>A avaliação <strong>de</strong> risco pressupõe um diálogo com o cliente sobre a necessida<strong>de</strong> da a<strong>do</strong>çãoe medidas preventivas. Nesse senti<strong>do</strong> é preciso que as orientações para a prevenção<strong>de</strong>vam levar <strong>em</strong> conta a vivência <strong>do</strong> paciente, suas experiências, dificulda<strong>de</strong>s e dúvidas.Dessa forma, evi<strong>de</strong>ncia-se a importância <strong>de</strong> atentarmos para a vulneralibida<strong>de</strong> e riscospresentes na vida <strong>do</strong>s sujeitos.O que é vulnerabilida<strong>de</strong> ?É o conjunto <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> natureza biológica, epi<strong>de</strong>miológica, social e cultural, cujainteração amplia ou reduz o risco ou a proteção <strong>de</strong> um grupo populacional, frente auma <strong>de</strong>terminada <strong>do</strong>ença, condição ou da<strong>no</strong>.A falta <strong>de</strong> acesso a ações e serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação é um fator <strong>de</strong> ampliação davulnerabilida<strong>de</strong>. Fatores como ida<strong>de</strong> gênero, condições <strong>de</strong> vida, escolarida<strong>de</strong>, acessoaos meios <strong>de</strong> informação, entre outros, influencia tanto <strong>no</strong> comportamento quanto navulnerabilida<strong>de</strong>.Quan<strong>do</strong> falamos <strong>em</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> estamos não apenas i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> as situações <strong>em</strong>que as pessoas corr<strong>em</strong> maior ou me<strong>no</strong>r risco <strong>de</strong> se expor às <strong>DST</strong>, <strong>Aids</strong> ou fazer uso <strong>de</strong>drogas, mas sim, procuran<strong>do</strong> fornecer informações <strong>de</strong> forma que cada pessoa percebase t<strong>em</strong> maior ou me<strong>no</strong>r chance <strong>de</strong> se infectar ou <strong>de</strong> proteger.De forma geral, todas as pessoas que se expõ<strong>em</strong> a uma relação sexual s<strong>em</strong> proteção,receb<strong>em</strong> sangue não testa<strong>do</strong> ou compartilham agulhas e seringas corr<strong>em</strong> o risco <strong>de</strong>se infectar. Entretanto fatores individuais e coletivos (social e institucional) apontamgraus varia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ao qual cada indivíduo está exposto.Vulnerabilida<strong>de</strong> individual: está relacionada, principalmente com os comportamentosa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelo individuo e que po<strong>de</strong>m favorecer a infecção. Alguns fatores <strong>de</strong>terminama vulnerabilida<strong>de</strong> pessoal para a infecção por <strong>DST</strong>:a) falta <strong>de</strong> informação e medidas educativas sobre as formas <strong>de</strong> transmissão eprevenção das <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>.b) Pouca motivação ou sensibilização pessoal para aceitar os riscos <strong>de</strong> infecção;c) Baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> confiança ou estima para a<strong>do</strong>tar medidas preventivas, incluin<strong>do</strong>hábitos <strong>de</strong> vida mais seguros.


26<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Vulnerabilida<strong>de</strong> coletiva: está relacionada com a vulnerabilida<strong>de</strong> tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong>vista social quanto institucional.a) Vulnerabilida<strong>de</strong> social: questões sociais e econômicas influenciam <strong>no</strong> aumentoda violência sexual, prostituição e tráfico <strong>de</strong> drogas, tornan<strong>do</strong> os indivíduosmais vulneráveis que outras, especialmente os jovens que, além <strong>de</strong> vivenciar<strong>em</strong>as mudanças próprias da ida<strong>de</strong>, ainda se <strong>de</strong>param com mudanças relacionadascom a estrutura familiar e condições <strong>de</strong> vida, como pobreza, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego falta<strong>de</strong> moradia, baixa escolarida<strong>de</strong> e violência, além da falta <strong>de</strong> acesso aos meios<strong>de</strong> comunicação, serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e aos meios <strong>de</strong> prevenção (preservativos eseringas <strong>de</strong>scartáveis).b) Vulnerabilida<strong>de</strong> institucional: diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> açõesvoltadas para a prevenção e assistência aos porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>DST</strong>, envolven<strong>do</strong>instituições governamentais, não-governamentais e socieda<strong>de</strong> civil, buscan<strong>do</strong> aintegração <strong>de</strong>sses serviços na promoção da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo.A informação precisa é freqüent<strong>em</strong>ente confundida com crenças locais. Certas crençaspo<strong>de</strong>m até gerar falsos sentimentos <strong>de</strong> segurança e. se as ig<strong>no</strong>ramos per<strong>de</strong>mos a chance<strong>de</strong> esclarece-las, assim como <strong>de</strong> pensarmos com as clientes alternativas viáveis para<strong>no</strong>vos hábitos.Para assegurar maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas seguras, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os <strong>em</strong>primeiro lugar, saber <strong>no</strong> que o paciente acredita e procurar <strong>de</strong>smistificar o que se fizernecessário, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>squalifica-lo e sim procuran<strong>do</strong> faze-lo compreen<strong>de</strong>r as informaçõescientíficas, relacionan<strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong> atual (sinais e sintoma) e seus comportamentos.A seguir apresentamos as principais vulnerabilida<strong>de</strong>s para a infecção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>:Práticas sexuais s<strong>em</strong> preservativosNo Brasil, as ações <strong>de</strong>senvolvidas para a prevenção das <strong>DST</strong>/aids e a promoção dasaú<strong>de</strong> primam pela recomendação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> preservativo <strong>em</strong> todas as relações sexuais.Abordagens que recomendam a diminuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> parceiros, a abstinência e afi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> não têm ti<strong>do</strong> impacto entre as pessoas sexualmente ativas.Abordar as diversas práticas sexuais (anal, vaginal, oral), <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as diferençasvulnerabilida<strong>de</strong>s masculinas e f<strong>em</strong>ininas (biológica e <strong>de</strong> gênero) é fundamental paraque homens e mulheres percebam as situações <strong>de</strong> risco que vivenciam, não apenasa partir <strong>do</strong> seu comportamento sexual, mas também <strong>de</strong> suas parcerias (homo e/ouheterossexual).Destaca-se a vulnerabilida<strong>de</strong> das mulheres, que se encontram <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> submissãona relação com os homens para negociar o uso <strong>do</strong> preservativo, principalmente comseus parceiros fixos.Uso <strong>de</strong> DrogasO uso, o abuso e a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> substâncias psicoativas s<strong>em</strong>pre estiveram atrela<strong>do</strong>sao julgamento moral. Por isso, é necessário reforçar o acolhimento <strong>no</strong> serviço daspessoas que usam drogas e consi<strong>de</strong>rar sua escolha um direito <strong>de</strong> cidadania.


27Orientação para a abstinência das drogas, <strong>no</strong> primeiro contato com o usuário <strong>de</strong>drogas, não t<strong>em</strong> se mostra<strong>do</strong> efetivo, uma vez que esta prática, quan<strong>do</strong> revelada, v<strong>em</strong>acompanhada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> receio <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias à polícia e a família. Quan<strong>do</strong> se senteacolhi<strong>do</strong>, o usuário acaba solicitan<strong>do</strong> orientação para o tratamento da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>drogas. Este momento é fundamental para encaminhá-lo a um serviço especializa<strong>do</strong>.Na maioria das vezes, a pessoa não revela seus hábitos sobre drogas e é preciso perguntarobjetivamente sobre isso, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ida<strong>de</strong>.Deve-se abordar o efeito <strong>de</strong> substâncias relacionadas às práticas sexuais inseguras. Ocompartilhamento <strong>de</strong> agulhas, seringas e recipientes para a diluição da droga (cocaína)são práticas <strong>de</strong> altíssimo risco para a infecção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>. Deve-se recomendar a utilização<strong>de</strong> equipamentos individuais e o sexo seguro, pois se observa que <strong>em</strong>bora os usuários<strong>de</strong> drogas sejam capazes <strong>de</strong> mudar seu comportamento <strong>em</strong> relação ao uso <strong>de</strong> drogas(não compartilhar por ex<strong>em</strong>plo), isto não ocorre na mesma proporção <strong>em</strong> relação àspráticas sexuais.Para o público que faz uso <strong>de</strong> drogas, a solicitação <strong>do</strong> teste <strong>de</strong> hepatites B e C, b<strong>em</strong>como as orientações sobre vacinas e prevenção são fundamentais.No caso <strong>do</strong>s usuários <strong>de</strong> drogas soropositivos, com indicação para tratamento comanti-retrovirais, reforçar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao tratamento e esclarecer sobre a nãointerferência <strong>no</strong> efeito <strong>de</strong>stes medicamentos.Presença <strong>de</strong> outras Doenças Sexualmente Transmissíveis - <strong>DST</strong>É importante o diagnóstico e informações sobre as outras <strong>DST</strong> e orientar sobre arelação com o <strong>HIV</strong>/aids. Ter ti<strong>do</strong> uma <strong>DST</strong> significa que a pessoa não está usan<strong>do</strong>a camisinha e, portanto, está se expon<strong>do</strong> ao <strong>HIV</strong>. É necessários avaliar o histórico <strong>de</strong>repetições <strong>de</strong> <strong>DST</strong>, a necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong> (a) parceiro (a) e a orientação <strong>do</strong>uso <strong>do</strong> preservativo <strong>em</strong> todas as relações sexuais.No caso das mulheres, <strong>em</strong> especial, é preciso alertar para a prevenção e tratamento dasífilis e as conseqüências <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z.O que é risco ?È a exposição <strong>de</strong> indivíduos ou grupo <strong>de</strong> pessoas a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s contextos queenvolv<strong>em</strong> comportamentos, mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, orientação sexual e aspectos culturais esociais <strong>em</strong> relação à construção e representação da sexualida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> drogas<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, torna<strong>do</strong>-os suscetíveis aos agravos à saú<strong>de</strong>.Abaixo estão algumas questões objetivas para uma avaliação <strong>de</strong> risco junto ao paciente.Cabe ao profissional verificar a pertinência <strong>de</strong>stas questões <strong>em</strong> cada atendimento.Este roteiro não é uma “camisa <strong>de</strong> força”, e para que assim não pareça é fundamentalpromover um diálogo que permita a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong>stes assuntos <strong>de</strong> forma que fiqueclaro para o paciente qual foi a situação <strong>de</strong> risco que o levou a adquirir a <strong>do</strong>ençaatual. A partir <strong>de</strong>sta compreensão ele po<strong>de</strong>rá refletir sobre estratégias viáveis paraprevenção <strong>do</strong>s riscos por ele vivencia<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>cidir se fará o exame sorológico anti-<strong>HIV</strong>.


28<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Comportamento sexual pessoal1. Quantos parceiros sexuais teve <strong>no</strong> último a<strong>no</strong> ?2. Praticou sexo com um parceiro <strong>no</strong>vo ou diferente <strong>no</strong>s últimos três meses ?3. tipo <strong>de</strong> relação sexual: sexo anal, vaginal e oral. Com ou s<strong>em</strong> proteção ?4. teve qualquer outra <strong>DST</strong> <strong>no</strong> último a<strong>no</strong> ?Uso <strong>de</strong> droga1. Usou álcool ou outras drogas antes ou durante o sexo? Quais? (Esta é umaquestão importante pelo fato das drogas po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> alterar a percepção <strong>de</strong>risco e atitu<strong>de</strong> preventiva).2. Usa droga injetável? Compartilha seringa e/ou equipamentos? (No uso <strong>de</strong>droga injetável, compartilhar seringas e os <strong>de</strong>mais equipamentos representaum alto risco <strong>de</strong> infectar-se ou transmiti-lo).Outros fatores <strong>de</strong> risco pessoal1. Recebeu transfusão <strong>de</strong> sangue e/ou <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s ? Quan<strong>do</strong> ?2. T<strong>em</strong> alguma tatuag<strong>em</strong>? Foi feita com material <strong>de</strong>scartável ?3. Outros fatores <strong>de</strong> risco.Comportamentos <strong>do</strong>s parceiros (as) sexuais1. Faz<strong>em</strong> sexo com outras pessoas ?2. Têm ou já tiveram alguma <strong>DST</strong> ?3. São porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> ?4. Usam drogas ?Atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> cliente1. O que o cliente faz para proteger-se <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>HIV</strong> ?2. Usa preservativo ? Quan<strong>do</strong> e como ? Com que freqüência ? Com qu<strong>em</strong> ?3. Quais ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixo ou <strong>de</strong> sexo seguro o cliente pratica ? Com quefreqüência ? Com qu<strong>em</strong> ? Por que ?Bibliografia:MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ações <strong>de</strong> Prevenção ao <strong>HIV</strong> e outras <strong>DST</strong> na Atenção Básica à Saú<strong>de</strong>. In:Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Atenção Básica – Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> da Atenção Básica as <strong>DST</strong> eInfecção pelo <strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>. Brasília, DF, 2003MINISTÉRIO DA SAÚDE. <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong> para a Atenção Básica. PN–<strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>:Brasília, DF, 2003.


29Avaliação <strong>de</strong> risco para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>UsuárioComportamento sexual• Nº <strong>de</strong> parceiro(a)(s) sexual(is) <strong>no</strong> último a<strong>no</strong>.• Prática sexual com parceiro(a)(s) <strong>no</strong>vo(a)(s) oudiferente <strong>no</strong>s últimos três meses.• Tipo <strong>de</strong> práticas sexuais: anal, vaginal, oral.• T<strong>em</strong> ou teve relações com pessoas <strong>do</strong> mesmo sexo?Uso <strong>de</strong> drogas• Usa álcool ou outras drogas antes ou durante o sexo?• Usa droga injetável?• Compartilha seringa e/ou equipamentos?Outros fatores <strong>de</strong> risco• Têm ou já teve alguma <strong>DST</strong>?• Recebeu transfusão <strong>de</strong> sangue e/ou h<strong>em</strong>o<strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s?Quan<strong>do</strong>?• T<strong>em</strong> alguma tatuag<strong>em</strong>? Foi feita com material<strong>de</strong>scartável?Parceiro(a)(s) sexual(is)Comportamento sexualAvaliação <strong>de</strong> risco para <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>• Faz<strong>em</strong> sexo com outras pessoas?• Têm ou já tiveram relações sexuais com pessoas <strong>do</strong>mesmo sexo?• Têm ou já tiveram alguma <strong>DST</strong>?Uso <strong>de</strong> drogas• Usam drogas? Compartilham seringas e/ouequipamentosOutros fatores <strong>de</strong> risco• Têm ou já tiveram alguma <strong>DST</strong>?• São porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>?


30<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


31Prerrogativas éticas da oferta <strong>do</strong> teste anti-<strong>HIV</strong>Uma das pr<strong>em</strong>issas básicas para que um cidadão possa realizar o seu exame ant-<strong>HIV</strong> éa voluntarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão. Supõe-se que o teste, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista as repercussõesque o seu resulta<strong>do</strong> traz para a vida <strong>do</strong> indivíduo, <strong>de</strong>va ser um ato voluntário, uma<strong>de</strong>cisão pessoal tomada com base <strong>em</strong> informações consistentes. Para tanto, algumasprerrogativas éticas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser levadas <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, para que esse processoaconteça <strong>de</strong> forma a garantir a cidadania e o respeito à pessoa humana.A correta informação, transmitida por meio <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> aconselhamento, além <strong>de</strong>permitir uma <strong>de</strong>cisão consciente e auxiliar <strong>no</strong> apoio <strong>em</strong>ocional, po<strong>de</strong> fazer com que oindivíduo avalie a necessida<strong>de</strong> ou não da realização <strong>do</strong> teste.Além disto, como explicitamos neste Manual, os princípios <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>sexames, agilida<strong>de</strong> <strong>no</strong> encaminhamento para os serviços <strong>de</strong> referência, gratuida<strong>de</strong> econfiabilida<strong>de</strong> , alia<strong>do</strong>s à correta informação e apoio <strong>em</strong>ocional, oferta<strong>do</strong>s por meiodas ações <strong>de</strong> aconselhamento, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> constituir os pilares éticos <strong>do</strong>s serviços queoferec<strong>em</strong> o diagnóstico para o <strong>HIV</strong>. No momento vamos <strong>no</strong>s ater ao princípio <strong>de</strong>confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> e suas implicações na flexibilização <strong>do</strong> a<strong>no</strong>nimato.To<strong>do</strong> e qualquer profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve manter sigilo sobre as informações prestadasaos usuários <strong>do</strong>s serviços, e este só po<strong>de</strong> ser rompi<strong>do</strong> com o consentimento expresso<strong>do</strong> usuário. No caso da realização <strong>do</strong>s exames anti-<strong>HIV</strong>, esta prerrogativa é essencial.E isso não somente por causa <strong>do</strong> preconceito que ainda existe <strong>em</strong> <strong>no</strong>ssa socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>relação ao porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>HIV</strong>/AIDS. Mas também, para reforçar perante os usuários,a confiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> serviço presta<strong>do</strong> e para que o trabalho <strong>de</strong> aconselhamento sejagaranti<strong>do</strong> na sua forma mais abrangente.T<strong>em</strong>os conhecimento <strong>de</strong> que não é somente uma dúvida ou ansieda<strong>de</strong> geradas pelaexposição ao risco da infecção , que levam uma pessoa a procurar os serviços querealizam o exame anti-<strong>HIV</strong>. Admissão <strong>em</strong> <strong>em</strong>pregos, procedimentos cirúrgicos, visitasíntimas aos presídios, internações <strong>em</strong> clínicas para recuperação <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> drogas,são algumas das situações <strong>em</strong> que, implícita ou explicitamente, o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> testeanti-hiv é solicita<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma compulsória. Portanto, ao cidadão só resta apresentar seuexame, sob pena <strong>de</strong> se ver priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> um benefício.


32<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Neste senti<strong>do</strong>, cabe-<strong>no</strong>s formular algumas questões, cujas respostas irão <strong>no</strong>rtear otrabalho <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os profissionais que se <strong>de</strong>param <strong>em</strong> seu cotidia<strong>no</strong> com as <strong>de</strong>mandaséticas geradas pela epi<strong>de</strong>mia <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>/AIDS, seja qual for o <strong>no</strong>sso ambiente <strong>de</strong> atuação;e, <strong>em</strong> especial <strong>no</strong>s serviços públicos <strong>de</strong> testag<strong>em</strong> e aconselhamento:Qu<strong>em</strong> é o benenficiário <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste?A flexibilização <strong>do</strong>a<strong>no</strong>nimatopreten<strong>de</strong>garantir umdireitoconstitucional(ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral, artigo 5º incisos XXXIII e XXXIV), além <strong>de</strong> visar à ampliação <strong>do</strong> acessoda população à realização <strong>do</strong> teste anti-hiv, ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista os benefícios, oriun<strong>do</strong>s<strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> status sorológico. Os avanços científicos verifica<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s campos<strong>do</strong> tratamento e diagnóstico <strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação precoce dainfecção pelo <strong>HIV</strong>, com vistas a propiciar o acesso imediato <strong>do</strong>s indivíduos infecta<strong>do</strong>sao monitoramento e /ou tratamento, para que a intervenção médica produza resulta<strong>do</strong>smais eficazes.Reconhec<strong>em</strong>os que a realização <strong>do</strong> teste sob a<strong>no</strong>nimato <strong>do</strong> usuário é um sist<strong>em</strong>a aindamuito importante para grupos específicos da população, e ao mantê-lo, preten<strong>de</strong>-s<strong>em</strong>anter o acesso <strong>de</strong>stes à realização <strong>do</strong> teste. No entanto, a entrega por escrito <strong>de</strong>um resulta<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> parece cont<strong>em</strong>plar as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras parcelas dapopulação, além <strong>de</strong>, como referi<strong>do</strong> anteriormente, garantir um direito constitucional.Em qualquer um <strong>do</strong>s casos, isto é anônimo ou i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>,agarantia<strong>do</strong>encaminhamentoaos serviços assistenciais <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>ve ser assegurada, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma,que o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste é <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para qu<strong>em</strong> o realiza. Somente ao indivíduoque é testa<strong>do</strong> interessa o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu exame e, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s positivos, aoprofissional que irá conduzir o tratamento <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>HIV</strong>.Fica clara, com essas pontuações, a nulida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> exames anti-hiv, parasituações <strong>de</strong> admissão <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego, por ex<strong>em</strong>plo. O que se garante , nesses casos éapenas a manutenção <strong>do</strong> preconceito e a exclusão das hostes trabalhistas <strong>do</strong>s indivíduosporta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>HIV</strong>, com o explícito propósito <strong>de</strong>, por parte <strong>do</strong>s <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>res, ver<strong>em</strong>-se<strong>de</strong>sobriga<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s compromissos sociais e previ<strong>de</strong>nciários <strong>em</strong> relação a estas pessoas.Um outro ex<strong>em</strong>plo que toca mais <strong>de</strong> perto a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> damulher, talvez seja o caso das mulheres gestantes. E também um ponto mais complexo.A oferta <strong>do</strong> exame anti-hiv para gestantes t<strong>em</strong> se mostra<strong>do</strong> como uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> Pública, para reduzir os riscos da transmissão vertical. O uso <strong>de</strong> anti-retroviraldurante a gestação t<strong>em</strong> se mostra<strong>do</strong> um meio extr<strong>em</strong>amente eficaz para evitar que afutura criança nasça com a infecção pelo <strong>HIV</strong>. No entanto, <strong>de</strong> forma geral, os programas<strong>de</strong> pré-natal não se mostram habilita<strong>do</strong>s a oferecer o teste <strong>de</strong>ntro das prerrogativaséticas preconizadas pelo Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ AIDS. Assim, a integração entreos programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da mulher e os programas <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS torna-se uma estratégiaimportante para respon<strong>de</strong>r a estas questões. Seja, por ex<strong>em</strong>plo, mediante a a referência<strong>do</strong>s serviços que realizam exames anti-hiv , ou <strong>do</strong> treinamento <strong>em</strong> aconselhamentopara os profissionais da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços <strong>do</strong> SUS.Qual a “utilida<strong>de</strong> “ <strong>de</strong> um exame anti-<strong>HIV</strong>?Esta é uma pergunta que po<strong>de</strong> ser generalizada <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> to<strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção.


33O resulta<strong>do</strong> negativo <strong>do</strong> teste anti-<strong>HIV</strong> substitui medidas <strong>de</strong>prevenção?No trabalho <strong>de</strong> aconselhamento <strong>no</strong> contexto das <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>, os usuários sãoestimula<strong>do</strong>s, a a<strong>do</strong>tar práticas mais seguras <strong>no</strong> que diz a respeito à infecção pelo <strong>HIV</strong>e outras <strong>DST</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> exame. Um resulta<strong>do</strong> negativo nãoimplica <strong>em</strong> segurança <strong>de</strong>finitiva , isto é, t<strong>em</strong> a ver com um momento específico da vida <strong>do</strong>indivíduo, “janela imu<strong>no</strong>lógica”, <strong>no</strong>vas oportunida<strong>de</strong>s e imprevistos <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong> são sóalguns <strong>do</strong>s fatores que apontam para a circunstância <strong>do</strong> da<strong>do</strong> laboratorial. Repetimos: oque se <strong>de</strong>ve estimular é a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas mais seguros, seja qual for o “status sorológico”<strong>do</strong> indivíduo. A articulação entre resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> teste e prevenção <strong>de</strong>ve ser esclarecida, ea orientação <strong>de</strong>ve focar sobre a vulnerabilida<strong>de</strong> que cada usuário vivencia e estimular areflexão e mudanças <strong>de</strong> práticas. A atenção e abordag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s sentimentos contraditórios,adversos , como me<strong>do</strong>, angústia e inseguranças potencializa a promoção da saú<strong>de</strong> ea<strong>de</strong>são das pessoas aos cuida<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s às infecções das <strong>DST</strong> e ao a<strong>do</strong>ecimento.Assim, só v<strong>em</strong>os senti<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>mandar aos cidadãos que apresent<strong>em</strong> seus resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>exame anti-hiv <strong>em</strong> casos on<strong>de</strong> o indivíduo necessita <strong>de</strong> tratamento para a infecção pelovírus, ou <strong>em</strong> casos on<strong>de</strong> é possível prevenir a infecção <strong>de</strong> terceiros, como é a situação <strong>de</strong>gestantes porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> virus da imu<strong>no</strong><strong>de</strong>ficiência humana.O que diferencia o trabalho <strong>de</strong> diagnóstico <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>no</strong> âmbito <strong>do</strong>s CTAS e,mais recent<strong>em</strong>ente, na re<strong>de</strong> básica <strong>do</strong> SUS <strong>do</strong>s laboratórios particulares, é a prática <strong>do</strong>aconselhamento pré e pós-teste com a competência <strong>de</strong> avaliar risco , consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> asvulnerabilida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> cada usuário, e abordag<strong>em</strong> preventiva e integral da saú<strong>de</strong>.A relação que se estabelece, nesta circunstância , entre os profissionais e os usuários,permit<strong>em</strong> a i<strong>de</strong>ntificação da natureza da <strong>de</strong>manda pelo teste anti-hiv, possibilitan<strong>do</strong>,<strong>de</strong>sta forma, evi<strong>de</strong>nciar – se o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> teste é uma <strong>de</strong>cisão voluntária ou não. Recusaro teste para o usuário (e consequent<strong>em</strong>ente, os seus benefícios), não se constitui, comomuitas vezes se alega, <strong>em</strong> proteção <strong>do</strong> indivíduo contra os riscos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>mandacompulsória. Ao contrário, se ele não pu<strong>de</strong>r realizar o exame <strong>no</strong> SUS, irá fazê-lo<strong>em</strong> lugar, s<strong>em</strong> o apoio <strong>do</strong> aconselhamento e s<strong>em</strong> que uma ação efetiva por parte <strong>do</strong>sprofissionais, <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar a arbitrarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal situação.Assim o trabalho <strong>de</strong> aconselhamento, tanto <strong>no</strong> pré-teste, como <strong>no</strong> pós-teste, <strong>de</strong>veassegurar, coletiva ou individualmente, os significa<strong>do</strong>s da realização <strong>do</strong> teste para oindivíduo que toma esta <strong>de</strong>cisão por conta própria. O resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu teste é algo quepertence ao usuário, e a comunicação <strong>de</strong>ste resulta<strong>do</strong> para terceiros t<strong>em</strong> implicaçõeséticas, legais e psicológicas que a pessoa <strong>de</strong>ve estar preparada para enfrentar. Cabeao aconselha<strong>do</strong>r <strong>no</strong> momento da entrega <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>, explicitá-las <strong>de</strong> forma a seevitar que a procura pelo teste tenha um caráter compulsório, e <strong>de</strong>nunciar aos órgãoscompetentes, quan<strong>do</strong> for o caso, a natureza ilegítima <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda.Texto <strong>do</strong> Manual <strong>de</strong> Diretrizes <strong>do</strong>s Centros <strong>de</strong> Testag<strong>em</strong> e <strong>Aconselhamento</strong> ( CTA ) – 1999- Ministério daSaú<strong>de</strong>O texto original sofreu alterações <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar informações da atualida<strong>de</strong>.


34<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


35ESTRELAS DO MAREra uma vez um escritor que morava <strong>em</strong> uma tranqüila praia, junto <strong>de</strong> uma colônia <strong>de</strong>pesca<strong>do</strong>res. Todas as manhãs ele caminhava à beira mar para se inspirar, e à tar<strong>de</strong> ficava<strong>em</strong> casa escreven<strong>do</strong>. Certo dia, caminhan<strong>do</strong> na praia, ele viu um vulto que pareciadançar. Ao chegar perto, ele reparou que se tratava <strong>de</strong> um jov<strong>em</strong> que recolhia estrelas<strong>do</strong>-marda areia para, uma por uma, jogá-las <strong>no</strong>vamente <strong>de</strong> volta ao ocea<strong>no</strong>.- Por que estás fazen<strong>do</strong> isso? Perguntou o escritor- Você não vê? Explicou o jov<strong>em</strong>. A Maré está baixa e o sol está brilhan<strong>do</strong>. Elesirão secar e morrer se ficar<strong>em</strong> aqui na areia.O escritor espantou-se.- Meu jov<strong>em</strong>, exist<strong>em</strong> milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> praias por este mun<strong>do</strong> afora ecentenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> estrelas <strong>do</strong> mar espalhadas pela praia. Que diferença faz?Você joga umas poucas <strong>de</strong> volta ao ocea<strong>no</strong>, a maioria vai perecer <strong>de</strong> qualquerforma.O jov<strong>em</strong> pegou mais uma estrela na praia, jogou <strong>de</strong> volta ao ocea<strong>no</strong> e olhou para oescritor.- Para essa fiz a diferença!Naquela <strong>no</strong>ite o escritor não conseguiu <strong>do</strong>rmir, n<strong>em</strong> sequer escrever. Pela manhãvoltou à praia e uniu-se ao jov<strong>em</strong> e juntos começaram a jogar estrelas <strong>do</strong> mar <strong>de</strong> voltaao ocea<strong>no</strong>.Sejamos, portanto, mais um <strong>do</strong>s que quer<strong>em</strong> fazer <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> um lugar melhor.SEJAMOS A DIFERENÇA!( Autor <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> )


36<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>


37Comunicação, Informação e Ação SocialValdir <strong>de</strong> Castro OliveiraHoje, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala sobre a importância da comunicação e da informação. Osorganismos nacionais e internacionais as invocam <strong>em</strong> <strong>do</strong>cumentos oficiais. Asautorida<strong>de</strong>s públicas diz<strong>em</strong> que a comunicação é fundamental para que a populaçãofique saben<strong>do</strong> sobre o que estão planejan<strong>do</strong> e que tipo <strong>de</strong> ação ou política preten<strong>de</strong>mimpl<strong>em</strong>entar <strong>em</strong> seu benefício . O político pleiteia concessões <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> rádio etelevisão para divulgar o que julga importante para o público. O Movimento <strong>do</strong>sS<strong>em</strong> Terra -MST investe na criação <strong>de</strong> rádios comunitárias, publicação <strong>de</strong> jornais e<strong>de</strong>senvolve estratégias comunicacionais para aparecer na televisões e <strong>no</strong>s jornais.As secretarias e os conselhos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> começam a implantar setores especializa<strong>do</strong>spara melhorar a comunicação com os usuários. Hoje, dificilmente , implanta-se umprograma <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> s<strong>em</strong> cuida<strong>do</strong>sa estratégia <strong>de</strong> comunicação ou, quan<strong>do</strong> assim o faz,os resulta<strong>do</strong>s costumam ser <strong>de</strong>sastrosos e os prejuízos credita<strong>do</strong>s a conta social.Mas, o que será mesmo que estas pessoas, instituições e programas enten<strong>de</strong>m porcomunicação e informação? Será que estão falan<strong>do</strong> a mesma coisa?Para respon<strong>de</strong>rmos a esta questão vamos pensar, conceitualmente, estas duas palavrinhase <strong>de</strong>pois tentar relacioná-las ao que acontece com uma equipe que <strong>de</strong>senvolve algumtipo <strong>de</strong> ação social. Vamos começar falan<strong>do</strong> da comunicação.A comunicação po<strong>de</strong> ser entendida sob um duplo senti<strong>do</strong>. O primeiro, a partir daorig<strong>em</strong> da palavra, oriunda <strong>do</strong> latim comunicare, quer dizer comunhão, estar com,compartilhar <strong>de</strong> alguma coisa. O segun<strong>do</strong>, <strong>em</strong>bora também seja <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> da mesmaraiz etimologica, é entendi<strong>do</strong> na perspectiva <strong>de</strong> dar conhecimento às pessoas <strong>de</strong> algumacoisa informar.Os <strong>do</strong>is entendimentos não são, necessariamente, divergentes. Entretanto, na práticaeles costumam revelar diferenças fundamentais e servir para diferentes propósitos<strong>do</strong>s agentes da comunicação. Por ex<strong>em</strong>plo, na perspectiva da comunhão e <strong>do</strong>compartilhamento (primeiro entendimento), a comunicação é entendida como umprocesso horizontal <strong>no</strong> qual o diálogo é sua principal característica. Em conseqüência,os diferentes interlocutores po<strong>de</strong>m <strong>em</strong>itir e receber mensagens, interpretá-las e


38<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>reinterpretá-las na construção <strong>de</strong> um significa<strong>do</strong>. Tanto o <strong>em</strong>issor po<strong>de</strong> ser receptorquanto o receptor po<strong>de</strong> ser <strong>em</strong>issor <strong>no</strong> processo comunicacional.Já <strong>no</strong> outro entendimento a idéia da comunicação como informar ou dar conhecimento<strong>de</strong> alguma coisa a alguém – a relação entre <strong>em</strong>issor e receptor é mais hierarquizadae me<strong>no</strong>s mutável. Geralmente o <strong>em</strong>issor <strong>de</strong>tém o papel ativo <strong>de</strong> selecionar e <strong>em</strong>itirmensagens, caben<strong>do</strong> o receptor a tarefa passiva <strong>de</strong> interpretá-las, como um recipientevazio que vai ser enchi<strong>do</strong> pelos conteú<strong>do</strong>s informacionais <strong>do</strong> primeiro, <strong>no</strong> processocomunicacional. Esta perspectiva é preferencialmente a<strong>do</strong>tada pelos sist<strong>em</strong>as autoritáriose verticais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou pelas ações sociais e políticas <strong>de</strong>stinadas a <strong>do</strong>utrinar ou a fazercom que o receptor a<strong>do</strong>te, s<strong>em</strong> muita discussão, às idéias e prescrições <strong>do</strong> <strong>em</strong>issor.Segun<strong>do</strong> o educa<strong>do</strong>r Paulo Freire, esta modalida<strong>de</strong> comunicacional e educacional po<strong>de</strong>ser chamada <strong>de</strong> invasão cultural, cujo resulta<strong>do</strong> é o <strong>de</strong> promover a <strong>do</strong>mesticação e nãoa educação das pessoas.Mas para enten<strong>de</strong>rmos melhor o que seja comunicação e como ela funciona, é tambémimportante analisá-la sobre o prisma <strong>do</strong> conflito,poisnenhum processocomunicacionalé <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong> <strong>de</strong> um maior ou me<strong>no</strong>r grau <strong>de</strong> tensão entre os interlocutores, pois cadaum t<strong>em</strong> uma história diferente, ocupa um lugar diferente na hierarquia social e têmdiferentes competências comunicativas (<strong>do</strong>mínio técnico e autorida<strong>de</strong> para falar e serescuta<strong>do</strong>). Assim, muitas vezes ocorre, por ex<strong>em</strong>plo, que a palavra <strong>de</strong> um médicovalha mais que a <strong>de</strong> um usuário <strong>no</strong> serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, com isso, impor commais facilida<strong>de</strong> suas or<strong>de</strong>ns, sugestões ou prescrições.Também po<strong>de</strong>mos prescrever que as instituições (públicas, privadas ou culturais)funcionam como um conjunto <strong>de</strong> símbolos que comunicam às pessoas como elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong>comportar-se. Por ex<strong>em</strong>plo, pelo seu funcionamento, po<strong>de</strong>mos nela reconhecer váriasregras que presi<strong>de</strong>m o seu jogo hierárquico: qu<strong>em</strong> manda, qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer, comomandar e como obe<strong>de</strong>cer, s<strong>em</strong> que ninguém fique <strong>no</strong>s l<strong>em</strong>bran<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas coisas. Estejogo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>codifica<strong>do</strong> pela maneira <strong>de</strong> falar ou pelas roupas usadas pelas pessoas(macacão significa trabalho braçal e ter<strong>no</strong> significa gerente e proprietário, sen<strong>do</strong> que oprimeiro <strong>de</strong><strong>no</strong>ta inferiorida<strong>de</strong> na hierarquia organizacional e o outro significa o po<strong>de</strong>r<strong>de</strong> man<strong>do</strong>) e, a partir <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa interpretação, ter<strong>em</strong>os o comportamento altera<strong>do</strong> <strong>em</strong>relação a elas. Assim, <strong>no</strong>sso olhar po<strong>de</strong> tornar-se mais baixo se estivermos diante <strong>de</strong>uma autorida<strong>de</strong> e, mais alto, se for um subalter<strong>no</strong> e, horizontal, se estivermos diante <strong>de</strong>pessoas <strong>do</strong> mesmo nível ou classe social.Assim, gran<strong>de</strong> parte da comunicação que promov<strong>em</strong>os ou somos induzi<strong>do</strong>s apromover, está, portanto, relacionada à posição e hierarquia das pessoas <strong>no</strong>s grupos ouna socieda<strong>de</strong>. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso, elas, po<strong>de</strong>m impor ou fazer valer melhor as suasidéias, propostas e ações. Quan<strong>do</strong> isto acontece, diz<strong>em</strong>os que tais pessoas ou grupost<strong>em</strong> uma competência política, social e cultural maior e, por esta razão, são <strong>de</strong>tentoras<strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r. É o velho dita<strong>do</strong>: “manda qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>, obe<strong>de</strong>ce qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>juízo”. Significa, portanto, que o contexto da comunicação, s<strong>em</strong>pre se dá, também, <strong>em</strong>um contexto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o que influi diretamente <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> comunicação.Além disso, a comunicação e a informação envolv<strong>em</strong> o significa<strong>do</strong> ou a interpretaçãodas mensagens, mas estas só adquir<strong>em</strong> senti<strong>do</strong> para o público ou receptor se estiver<strong>em</strong>relacionadas ás questões práticas e cotidianas das pessoas. Por ex<strong>em</strong>plo to<strong>do</strong>s os diassomos obriga<strong>do</strong>s a tomar centenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões: que roupa vestir, para on<strong>de</strong> viajar, com


39qu<strong>em</strong> conversar ou ig<strong>no</strong>rar, participar ou não <strong>de</strong> uma reunião, estudar ou ir ao campo<strong>de</strong> futebol, comprar ou não um aparelho <strong>de</strong> som, votar neste ou naquele candidato,e assim por diante. S<strong>em</strong> informação, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong>mos tomar uma <strong>de</strong>cisão maisconsciente e, por esta razão, ela torna-se parte indispensável da formação <strong>do</strong> cidadãoe possibilita a ele ter maior acesso a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s bens culturais, políticos ou serviçosdisponibiliza<strong>do</strong>s pela socieda<strong>de</strong>.Entretanto, como exist<strong>em</strong> infindáveis modalida<strong>de</strong>s e processos <strong>de</strong> comunicação, estesse apresentam diferentes <strong>em</strong> cada caso. Vamos ater-<strong>no</strong>s aqui <strong>em</strong> <strong>do</strong>is casos específicos,mas que julgamos relevantes para o entendimento da importância da comunicação parao grupo <strong>em</strong> treinamento. O primeiro se refere ao processo <strong>de</strong> comunicação existente <strong>no</strong>interior <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada equipe <strong>de</strong> trabalho; o segun<strong>do</strong> se refere ao processo <strong>de</strong>comunicação <strong>de</strong>ssa equipe com um grupo exter<strong>no</strong>, mas que com ela mantém algumaforma <strong>de</strong> relação social, humana ou profissional. Vamos ver, por or<strong>de</strong>m, o primeirocaso e <strong>de</strong>pois o segun<strong>do</strong>.AS VARIÁVEIS QUE DIFICULTAM OU FACILITAM ACOMUNICAÇÃOVerticalida<strong>de</strong> e horizontalida<strong>de</strong> <strong>no</strong> contexto da comunicação grupalQuanto mais estivermos <strong>em</strong> um contexto vertical <strong>de</strong> comunicação, maiores serãoos conflitos e os <strong>de</strong>sentendimentos entre as pessoas, o que compromete e dificultaos trabalhos e a integração das pessoas <strong>em</strong> um grupo ou equipe <strong>de</strong> trabalho. Aseparação rígida entre qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong> falar e mandar e qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve calar-se e obe<strong>de</strong>cergera diferentes formas <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> entre seus m<strong>em</strong>bros, a respeito<strong>do</strong>s objetivos e das ações impl<strong>em</strong>entadas. Como alguns se tornam mais responsáveispelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> trabalho, outros se vê<strong>em</strong> me<strong>no</strong>s compromissa<strong>do</strong>s com oesforço coletivo na consecução <strong>do</strong>s objetivos.A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> ou hierarquização <strong>no</strong> processo comunicacional faz com quealguns se julgu<strong>em</strong> mais competentes para falar e agir, não só pela competência <strong>em</strong>si, mas também porque se julgam <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r que os separam <strong>do</strong>s<strong>de</strong>mais, como por ex<strong>em</strong>plo <strong>em</strong> uma estrutura militar, que nega a individualida<strong>de</strong> ea comunhão das pessoas na construção <strong>de</strong> um projeto social coletivo. A hierarquiapo<strong>de</strong> até ter seus pontos positivos, mas aí já não estamos mais falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> equipe esim <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> objetivos estranhos ao grupo, já que a maioria <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros<strong>de</strong> uma corporação militar não é convocada a participar das <strong>de</strong>cisões, apenas aobe<strong>de</strong>cer.Em um contexto verticaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> comunicação é muito comum a presença <strong>de</strong>formas <strong>de</strong> interdição (proibição) das falas, <strong>de</strong> silêncios e <strong>de</strong> passivida<strong>de</strong> das pessoas,o que po<strong>de</strong> comprometer o trabalho <strong>de</strong> uma equipe. Po<strong>de</strong>mos distinguir algumas<strong>de</strong>ssas formas:• o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir ou <strong>de</strong> agir é tão concentra<strong>do</strong> que as pessoas nãose sent<strong>em</strong> responsáveis <strong>em</strong> participar ativamente das <strong>de</strong>cisões e prefer<strong>em</strong>cumprir apenas as or<strong>de</strong>ns;• a opinião dissonante (diferente) t<strong>em</strong> um custo <strong>em</strong>ocional e político paraas pessoas e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um clima <strong>de</strong> comunicação verticalizada, tornas<strong>em</strong>ais vantajoso, para o indivíduo, calar a sua opinião e restringir a suaparticipação;


40<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>• a comunicação, ainda nesse contexto, concentra o po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> pessoas<strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> cargo ou <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong> saber (o médico, o chefe, ogerente, por ex<strong>em</strong>plo) <strong>de</strong> tal maneira que inibe os outros m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> s<strong>em</strong>anifestar<strong>em</strong>, por insegurança ou intuição <strong>de</strong> que sua opinião terá poucovalor ou credibilida<strong>de</strong>;• também a ausência <strong>de</strong> condições reais <strong>de</strong> participação (instrução, dificulda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> acesso e entendimento da informação) inibe as pessoas e <strong>de</strong>termina umaintegração pouco produtiva entre os m<strong>em</strong>bros da equipe.A partir das variáveis levantadas po<strong>de</strong>-se dizer que a comunicação, por um la<strong>do</strong>,envolve to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s e ações das pessoas (falar, ouvir, sentir avaliar, <strong>de</strong>cidir,julgar, opinar agir, compartilhar) e, por outro la<strong>do</strong>, envolve um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>contexto comunicacional <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que po<strong>de</strong> facilitar ou dificultar a integração<strong>de</strong> um grupo ou equipe <strong>de</strong> trabalho. É assim que as variáveis citadas <strong>no</strong> parágrafoanterior, o contexto verticaliza<strong>do</strong> da comunicação, po<strong>de</strong>m transformar-se <strong>em</strong> umterre<strong>no</strong> propício para geração <strong>de</strong> cochichos, mal-entendi<strong>do</strong>s, fofocas e conflitos qu<strong>em</strong>inam a coesão e compromet<strong>em</strong> o trabalho da equipe.O contraponto a este processo vertical é a forma <strong>de</strong> comunicação horizontal na qualas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> falar, intervir e participar po<strong>de</strong>m ser estendidas igualmente ato<strong>do</strong>s os m<strong>em</strong>bros da equipe. Isto não significa a quebra <strong>de</strong> todas as hierarquiasou <strong>de</strong> diferentes competências <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> uma equipe e sim o reconhecimento<strong>de</strong> que seus m<strong>em</strong>bros, consient<strong>em</strong>ente, cumpr<strong>em</strong> diferentes funções <strong>em</strong> tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>objetivos claros e comuns para to<strong>do</strong>s. Em conseqüência torna-se mais fácil asincronização das ações e o estabelecimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfio coletivo <strong>em</strong> tor<strong>no</strong> dasfinalida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>.Para mediar essa forma <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>ve haver disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações,diferentes formas <strong>de</strong> capacitação e ampla possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestação e expressãopor parte <strong>de</strong> cada m<strong>em</strong>bro da equipe, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da hierarquia ou <strong>do</strong>s cargos.Embora seja <strong>de</strong>snecessário dizer, gostaríamos <strong>de</strong> frisar que esse processo é b<strong>em</strong>mais difícil <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> que aquele que pre<strong>do</strong>mina na forma verticalizada<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e comunicação.b) Comunicação e Po<strong>de</strong>rComo acontece <strong>em</strong> qualquer agrupamento huma<strong>no</strong>, incluin<strong>do</strong> equipes <strong>de</strong> trabalho,é muito comum o surgimento <strong>de</strong> variadas formas <strong>de</strong> disputa pelo po<strong>de</strong>r que s<strong>em</strong>preinterfer<strong>em</strong>, direta ou indiretamente, <strong>no</strong>s processos comunicacionais, influencian<strong>do</strong>ou alteran<strong>do</strong> os processos <strong>de</strong> codificação e interpretação <strong>de</strong> mensagens. Se umapessoa está envolvida nesse tipo <strong>de</strong> disputa, ela passará, fatalmente, a restringir acirculação <strong>de</strong> algumas mensagens e, por outro la<strong>do</strong>, a promover a circulação e acodificação <strong>de</strong> outras, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu interesse.Já as outra pessoas, também envolvidas na disputa, mas s<strong>em</strong> possibilida<strong>de</strong>s ouacesso àqueles recursos, passam a produzir e fazer circular suas mensagens <strong>no</strong>slabirintos ou margens <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, transforman<strong>do</strong>-as <strong>em</strong> uma fonte permanente<strong>de</strong> boatos, <strong>de</strong> gestação <strong>de</strong> “panelinhas” e <strong>de</strong> táticas grupais para <strong>de</strong>sestabilizar o“inimigo” e influenciar <strong>no</strong> jogo <strong>de</strong> posições políticas, portanto <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, <strong>no</strong>interior da equipe.


41A permanência prolongada <strong>de</strong> pessoas ou grupos <strong>no</strong> po<strong>de</strong>r também po<strong>de</strong>contribuir para gerar este clima e suscitar comportamentos e atitu<strong>de</strong>s passiva <strong>do</strong>sm<strong>em</strong>bros da equipe <strong>no</strong>s processos <strong>de</strong>cisórios e nas ações <strong>de</strong>senvolvidas. Como nãocompartilham das <strong>de</strong>cisões sent<strong>em</strong>-se <strong>de</strong>scompromissa<strong>do</strong>s com os erros ou acertos<strong>do</strong> trabalho, neste caso a responsabilida<strong>de</strong> é invariavelmente atribuída a um núcleorestrito <strong>de</strong> pessoas que ocupa espaços estratégicos na equipe. Quan<strong>do</strong> isso acontece,<strong>no</strong>rmalmente instaura-se um processo intensivo <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> tipo aclamativa,isto é, a participação se resume a puros atos <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> apoio e concordânciacom as <strong>de</strong>cisões <strong>do</strong>s mandatários da equipe.É muito difícil evitar as disputas pelo po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo ou equipe,pois elas faz<strong>em</strong> parte da essência política <strong>do</strong> ser huma<strong>no</strong>. Também, muitas vezes,é difícil distinguir o que são disputas provocadas por ressentimentos, vaida<strong>de</strong>s ousimples probl<strong>em</strong>as e interesses pessoais, daquelas formas legítimas <strong>de</strong> disputas pelaimpl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas propostas ou estilos na condução <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong>um grupo ou equipe. De qualquer forma n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre o resulta<strong>do</strong> costuma ser positivo<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> coesão <strong>do</strong> grupo e, muitas vezes, po<strong>de</strong> mesmo ameaçar a existência daprópria equipe.O melhor r<strong>em</strong>édio para evitar os efeitos nefastos <strong>de</strong> qualquer disputa é que elaseja claramente colocada para o conjunto da equipe e que possa ser amplamentediscutida por to<strong>do</strong>s.c) Comunicação, informação e experiência culturalEmbora não sejam coisas separadas, didaticamente, po<strong>de</strong>mos dizer que acomunicação é diferente da informação. Informação é o conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma mensag<strong>em</strong>,enquanto comunicação seria o processo que ajuda a promover a circulação e acompreensão <strong>de</strong>sta informação. Mas qual é o significa<strong>do</strong> da informação <strong>no</strong> processocomunicacional?Po<strong>de</strong>mos dizer, <strong>em</strong> primeiro lugar, que informação é algo <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo que po<strong>de</strong> serincorpora<strong>do</strong> ao <strong>no</strong>sso conhecimento e comportamento. É por isso que diz<strong>em</strong>osquan<strong>do</strong> t<strong>em</strong>os informação, aumentam as <strong>no</strong>ssas probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conhecimentoacerca <strong>de</strong> alguma coisa, tornan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os mais familiar e <strong>do</strong>mável.Entretanto, a informação não po<strong>de</strong> ser compreendida como algo que diante <strong>de</strong> suapresença, tu<strong>do</strong> se resolveria.Com isso quer<strong>em</strong>os dizer que a informação não se processa <strong>em</strong> um vazio. Ela existeà medida <strong>em</strong> que existe também um conhecimento latente, uma dada percepçãosobre o valor da informação. Quan<strong>do</strong> há um excesso <strong>de</strong> informações po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s<strong>de</strong>frontar com o que chamamos <strong>de</strong> saturação informacional, ou seja, como umvaso <strong>de</strong> flores que recebe mais água <strong>do</strong> que necessita, matan<strong>do</strong>, com isso, a planta.Também, quer<strong>em</strong>os dizer qu<strong>em</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo ou equipe coexist<strong>em</strong>diferentes pessoas, com diferentes experiências educativas e <strong>de</strong> vida e, portantotambém com diferentes cargas e <strong>de</strong>mandas informacionais. Uma comunicaçãosomente po<strong>de</strong>rá tornar-se eficaz se levar <strong>em</strong> conta estas diferenças, pois para alguns,uma <strong>de</strong>terminada informação po<strong>de</strong> ser reduntante (repetitiva), mas para outrossignifica uma <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> e uma <strong>no</strong>va possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e <strong>do</strong>próprio trabalho <strong>em</strong> questão. A<strong>de</strong>mais, cada pessoa faz uso também diferencia<strong>do</strong>


42<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>da informação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da expectativa que mantém <strong>em</strong> relação ao trabalho e<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas experiências anteriores. Alguns são mais atira<strong>do</strong>s, pois s<strong>em</strong>preinterpretam utopicamente o mun<strong>do</strong>. Outros são mais cépticos, pois experiênciasanteriores ou análise da atualida<strong>de</strong> estão dizen<strong>do</strong>-lhes que “mais uma vez, nadavai dar certo”. Já outros são diferentes e apenas cumpr<strong>em</strong>, <strong>de</strong> maneira positiva ounegativa, o seu <strong>de</strong>ver.Para cada um, a informação terá um senti<strong>do</strong> diferente, pois os m<strong>em</strong>bros da equipesão porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> diferentes histórias <strong>de</strong> vida e perfis culturais, profissionais,i<strong>de</strong>ológicos ou políticos. Mas isto não significa dizer que as funções da comunicaçãoe da informação <strong>de</strong>veriam ser, eliminar essas diferenças, mas sim fazer com queelas se transform<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma variável positiva para o trabalho da equipe, s<strong>em</strong><strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar o perfil específico e a individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus m<strong>em</strong>bros.Isto implica <strong>em</strong> aten<strong>de</strong>r que o processo comunicacional e informacional, além <strong>de</strong>levar <strong>em</strong> conta as diferenças entre os interlocutores, <strong>de</strong>ve buscar enten<strong>de</strong>r tambémcomo cada m<strong>em</strong>bro se vê e vê os outros <strong>no</strong> conjunto da equipe. É <strong>de</strong>sta avaliaçãoque po<strong>de</strong>-se buscar formas eficazes <strong>de</strong> comunicação e circulação <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>sinformacionais relevantes para os seus m<strong>em</strong>bros.2. A Comunida<strong>de</strong> e o trabalho <strong>de</strong> equipeSe o trabalho <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> um equipe é difícil, mais difícil é quan<strong>do</strong> tratamos <strong>do</strong>relacionamento <strong>de</strong>sta com o grupo social com o qual ela se relaciona para prestarserviços ou promover alguma forma <strong>de</strong> intervenção externa. Isto porque os probl<strong>em</strong>asque mencionamos anteriormente são ampliadas e a eles são acrescenta<strong>do</strong>s outros quen<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estão sob o controle da equipe ou que ela tenha a sensibilida<strong>de</strong> necessáriapara interpretá-los <strong>em</strong> um quadro dinâmico que marca as relações sociais.Apesar das boas intenções e propósitos <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> ação, a intevenção da equipese dá <strong>em</strong> um universo culturalmente estrutura<strong>do</strong>, isto é, as comunida<strong>de</strong>s t<strong>em</strong> história,universos simbólicos <strong>de</strong> referência e formas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r específicas. A entrada <strong>de</strong> um<strong>no</strong>vo ator social ( a equipe, por ex<strong>em</strong>plo) por um da<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sestrutura esse universo e,por outro la<strong>do</strong>, provoca a entrada <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos conteú<strong>do</strong>s culturais e i<strong>de</strong>ológicos gera<strong>do</strong>spela instância institucional, principalmente pelo Esta<strong>do</strong>. As consequências são as maisvariadas possíveis.Além disso as diferentes expectativas existentes entre a equipe e a comunida<strong>de</strong> geramdiferentes formas <strong>de</strong> comportamento. Inicialmente, as comunida<strong>de</strong>s esperam mais <strong>do</strong>que a equipe promete ou po<strong>de</strong> dar, e por essa avaliação, participam ativamente dasprimeiras ativida<strong>de</strong>s. Por meio <strong>de</strong>sse processo são introduzidas <strong>no</strong>vas relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r, concentradas tanto <strong>no</strong>s m<strong>em</strong>bros da equipe quanto <strong>em</strong> algumas pessoas daprópria comunida<strong>de</strong> que se transforma <strong>em</strong> interlocutores privilegia<strong>do</strong>s da equipe.Essa situação po<strong>de</strong> ser claramente percebida durante reuniões com a comunida<strong>de</strong> nasquais o uso da palavra e a iniciativa da ação ficam concentradas <strong>em</strong> alguns indivíduosespecíficos que oferec<strong>em</strong> maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> “diálogo” com a equipe, hierarquizan<strong>do</strong> ouexcluin<strong>do</strong> pessoas <strong>do</strong> processo comunicacional.Se por um la<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong>stes media<strong>do</strong>res comunitários po<strong>de</strong> ser entendidacomo uma maneira <strong>de</strong> facilitar a relação da equipe com a comunida<strong>de</strong>, por outrola<strong>do</strong>, ela cria uma <strong>no</strong>va estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que inibe a participação <strong>do</strong> restante da


43comunida<strong>de</strong>, que ficou fora <strong>do</strong> círculo <strong>de</strong>cisório. Muitas vezes, apenas tardiamente aequipe toma conhecimento <strong>de</strong>stes probl<strong>em</strong>as e, quan<strong>do</strong> assim acontece, as relaçõesentre as pessoas já estão <strong>de</strong>terioradas e os conflitos irreversivelmente instala<strong>do</strong>s, comgraves conseqüências para o trabalho. E não custa l<strong>em</strong>brar que essa questão está ligadaà disputa por supostos benefícios a ser<strong>em</strong> auferi<strong>do</strong>s e distribuí<strong>do</strong>s para a comunida<strong>de</strong>e, como sab<strong>em</strong>os, qu<strong>em</strong> distribui alguma coisa é <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.Mas não po<strong>de</strong>mos esquecer também que a equipe é uma estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dianteda comunida<strong>de</strong> e que esta estrutura se revela pelo comportamento e <strong>no</strong>s diversossímbolos ostenta<strong>do</strong>s pelos seus m<strong>em</strong>bros. A competência para convocar uma reunião,dirigir a palavra aos m<strong>em</strong>bros da comunida<strong>de</strong>, interpelar por seus hábitos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> epromover um discurso prescritivo (o que fazer, como fazer) são formas concretas <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r. O processo comunicacional <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa situação passa a ser unilateral, <strong>no</strong>qual a equipe se transforma <strong>em</strong> produtora <strong>de</strong> mensagens e a comunida<strong>de</strong> apenas <strong>em</strong>receptora, com poucas condições <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão.Mesmo quan<strong>do</strong> damos um caráter didático e pedagógico ao processo comunicacional,para evitar essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre o pólo <strong>em</strong>issor e o pólo receptor, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>preas mensagens produzidas surt<strong>em</strong> o efeito espera<strong>do</strong> junto a comunida<strong>de</strong>, pois osreferenciais <strong>de</strong> interpretação impe<strong>de</strong>m que elas sejam entendidas e compreendidaspela comunida<strong>de</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, o uso excessivo <strong>de</strong> siglas, termos técnicos e conceitosabstratos funcionam como verda<strong>de</strong>iras barreiras culturais pois diz<strong>em</strong> respeito a umareflexão feita fora <strong>do</strong> contexto comunitário. Por ex<strong>em</strong>plo, quan<strong>do</strong> um agente diz: “ apartir <strong>de</strong> agora vamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> trabalhar com a medicina curativa e trabalhar maiscom a medicina preventiva” está promoven<strong>do</strong> uma espécie <strong>de</strong> terrorismo cultural poisa comunida<strong>de</strong> não consegue absorver facilmente este conceito, já que ele foi objetivo <strong>de</strong>reflexão realizada <strong>em</strong> outro contexto. Para que ele possa ser efetivamente apreendi<strong>do</strong>,<strong>de</strong>ve ser transmiti<strong>do</strong> por uma mediação educativa levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta os conteú<strong>do</strong>sculturais existentes na comunida<strong>de</strong>, isto é, ele t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser apreendi<strong>do</strong> criticamente, damesma forma como foi inicialmente produzi<strong>do</strong>.Assim, para sabermos o que po<strong>de</strong> fazer ou não senti<strong>do</strong> para uma comunida<strong>de</strong> e avaliarsua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento diante <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s da ação social, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os aguçara <strong>no</strong>ssa sensibilida<strong>de</strong> para escutá-la e auscultá-la. Escutar é ouvir os sons , <strong>de</strong>cifrar oseu significa<strong>do</strong>: mas auscultar é uma maneira mais cuida<strong>do</strong>sa e sensível <strong>de</strong> ouvir, poisaté mesmo o silêncio é porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s. E como o médico com o estetoscópio,ao ouvir os sons <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> um paciente. Ele t<strong>em</strong> <strong>de</strong> interpretá-los, avaliar o que estão“dizen<strong>do</strong>”, principalmente enten<strong>de</strong>r os intervalos <strong>de</strong> silêncio entre uma batida cardíacae outra, por ex<strong>em</strong>plo. Mas para fazer isso, o médico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> muito treinamento,atenção e sensibilida<strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong>, ou agrupamento social, oprocesso não é muito diferente. Nós t<strong>em</strong>os que auscultá-la, pois os sons que <strong>em</strong>it<strong>em</strong>,por meio <strong>de</strong> várias formas <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>: o corpo, a forma <strong>de</strong> vestir, a ação coletiva, ossilêncios, o <strong>do</strong>mínio da fala, os termos utiliza<strong>do</strong>s, a compreensão e a atitu<strong>de</strong> diante <strong>do</strong>sacontecimentos, etc.., refer<strong>em</strong>-se a variáveis culturais complexas, que s<strong>em</strong>pre estão <strong>no</strong>sdizen<strong>do</strong> alguma coisa. Por ex<strong>em</strong>plo, por meio das festas, multirões, conversas formaise informais, rituais religiosos, ritos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>, po<strong>de</strong>mos perceber uma espécie <strong>de</strong>gramática sobre as experiência <strong>de</strong> vida acumuladas e maneiras <strong>de</strong> resolver probl<strong>em</strong>as,inclusive os <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, antes da chegada da equipe. E t<strong>em</strong>os <strong>de</strong> levar isso <strong>em</strong> conta, sequer<strong>em</strong>os produzir um comunicação mais horizontalizada e respeita<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s valorescomunitários.


44<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Nesse processo <strong>de</strong> ausculta, t<strong>em</strong>os <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que uma comunida<strong>de</strong> nunca étotalmente passiva e muda, diante <strong>do</strong>s “invasores”, <strong>em</strong>bora suas palavras e gestos n<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre tenham o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> alterar o jogo político institucional. Também n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>preela se manifesta por um discurso racional e linear. Ela <strong>no</strong>s diz muitas coisas, mas n<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre estamos prepara<strong>do</strong>s para ouví-la, ou melhor auscultá-la, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua própriahistória ou lógica <strong>de</strong> funcionamento.É apenas quan<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>mos a complexida<strong>de</strong> cultural, histórica e política <strong>em</strong> que estáenvolvida é que po<strong>de</strong>mos estabelecer melhor uma comunicação me<strong>no</strong>s hierarquizadae me<strong>no</strong>s artificial com a comunida<strong>de</strong>, evitan<strong>do</strong>-se assim, torná-la um objetivo passivo<strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas ações.É por estas razões que po<strong>de</strong>mos concluir aqui que o <strong>de</strong>safio da comunicação não seresume apenas <strong>em</strong> produzir material educativo ou persuasivo, mas sim <strong>em</strong> contribuirpara que a equipe perceba as variáveis políticas, culturais e humanas presentes nacomunida<strong>de</strong> ou grupo com o qual preten<strong>de</strong> atuar, possibilitan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa maneira, umverda<strong>de</strong>iro diálogo entre uma instância e outra. A ausculta a qual fiz<strong>em</strong>os referênciaé fundamental neste processo para sabermos o que po<strong>de</strong> ou não fazer senti<strong>do</strong> paraa comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> que maneira o trabalho da equipe po<strong>de</strong> ser dialogicamenteconduzi<strong>do</strong>.


45Relato <strong>de</strong> Experiência <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> Prevenção <strong>em</strong><strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>“Os valores a gente não percebe quan<strong>do</strong> per<strong>de</strong> e toma os valores <strong>de</strong>Juruá”Este trabalho apresenta o relato da experiência <strong>de</strong> um projeto para prevenção <strong>de</strong> DoençasSexualmente Transmissíveis (<strong>DST</strong>) e Síndroma <strong>de</strong> Imu<strong>no</strong><strong>de</strong>ficiência Adquirida (AIDS),junto aos indígenas da etnia Guarani-Mbya que resi<strong>de</strong>m <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.O trabalho para prevenção <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS com este grupo se inicia a partir <strong>de</strong> uma<strong>de</strong>manda <strong>do</strong>s próprios índios junto a Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (FUNASA) <strong>em</strong>mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1999, logo após esta assumir as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong> indígenaanteriormente <strong>de</strong>legada a Fundação Nacional <strong>do</strong> Índio (FUNAI).Com o apoio <strong>no</strong>Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS) através da Secretaria <strong>de</strong> Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SPS), Coor<strong>de</strong>naçãoNacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS (PN/<strong>DST</strong>/AIDS) e financiamento da Organização das NaçõesUnidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) <strong>de</strong>u-se início a um projetocoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Assessoria <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS da Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio<strong>de</strong> Janeiro (SES/RJ) que contou <strong>em</strong> todas as suas etapas com a parceria <strong>de</strong> váriasinstituições e <strong>de</strong> representantes das comunida<strong>de</strong>s indígenas a ser<strong>em</strong> trabalhadas. Diante<strong>do</strong> <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se trabalhar com uma população culturalmente diferenciada buscou-secomo parceiras instituições com trabalhos já reconheci<strong>do</strong>s na área como a FundaçãoOswal<strong>do</strong> Cruz (Fiocruz), a FUNAI, a FUNASA e as Secretarias Municipais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><strong>do</strong>s Municípios <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis e <strong>de</strong> Paraty, on<strong>de</strong> estão localizadas as al<strong>de</strong>ias.Para a equipe <strong>do</strong> projeto, trabalhar a questão das <strong>DST</strong> e da AIDS, que r<strong>em</strong>eteobrigatoriamente a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as como a sexualida<strong>de</strong>, gravi<strong>de</strong>z, sexo, questões <strong>de</strong>gênero, prazer, preconceitos e morte, assuntos tabus para muitos <strong>de</strong> nós e <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>spor nós sobre a população a ser trabalhada, significou uma re-orientação <strong>de</strong> valores eum mergulho <strong>de</strong>spi<strong>do</strong> <strong>de</strong> preconceito <strong>no</strong> universo <strong>do</strong> outro.Os guarani-Mbyá provê<strong>em</strong> <strong>do</strong> tronco lingüistico tupi e da gran<strong>de</strong> família Tupi Guarani(Mellati, 1993). Embora contata<strong>do</strong>s há mais <strong>de</strong> quatrocentos a<strong>no</strong>s preservam sua língua,sua medicina tradicional e sua religião, ten<strong>do</strong> sua concepção sobre saú<strong>de</strong>-<strong>do</strong>ença, vidae morte, alicerçada <strong>em</strong> outra visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>no</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser Guarani. Sob o ponte <strong>de</strong>vista antropologia, para os guaranis muitas <strong>do</strong>enças são provocadas por espíritos.


46<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Em território brasileiro os indígenas da etnia Guarani se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> três subgruposque são: os guaranisKaiowá, os guarani Na<strong>de</strong>va que, na sua maioria, estão <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> sul, e os Guarani-Mbya que se espalham pelos Esta<strong>do</strong>s das RegiõesSul, Su<strong>de</strong>ste e Centro-Oeste (Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo, Espirito Santo, Paraná, SantaCatarina, Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e Mato Grosso <strong>do</strong> Sul).Os guarani-Mbya <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> janeiro viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> três al<strong>de</strong>ias, localizadasuma <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis (Al<strong>de</strong>ia Sapukai) e duas <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Paraty(Al<strong>de</strong>ias Araponga e Paraty Mirim). Nestas comunida<strong>de</strong>s viv<strong>em</strong> aproximadamente 500pessoas. O uso <strong>de</strong> roupas, utensílios <strong>de</strong> cozinha e alguns outros hábitos da socieda<strong>de</strong>envolvente, com a qual t<strong>em</strong> intenso convívio, foram absorvi<strong>do</strong>s, por estas que, <strong>no</strong>entanto preservam sua medicina tradicional, sua línguas, sua cosmologia e sua cultura.Estes indígenas são s<strong>em</strong>inôma<strong>de</strong>s e o intenso movimento migratório entre as al<strong>de</strong>iasda mesma etnia é um traço cultural que os torna vulneráveis as <strong>do</strong>enças infectocontagiosas,ou seja aquelas que eles classificam como <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> branco. Para estesindígenas, o conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong>ença não são da<strong>do</strong>s in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> to<strong>do</strong>. Cada<strong>do</strong>ença t<strong>em</strong> a sua orig<strong>em</strong>, segun<strong>do</strong> a concepção <strong>do</strong>s Guarani-Mbya: <strong>do</strong>enças comogripe, catapora, tuberculose, entre outras são classificadas como “<strong>do</strong>enças <strong>de</strong> branco”que “v<strong>em</strong> <strong>de</strong> fora da al<strong>de</strong>ia”. Quanto as <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/ADIS, apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> <strong>do</strong>enças <strong>de</strong>contágio, os indígenas refer<strong>em</strong>-se a elas como tal, porém percebe-se que ainda nãoestão b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas segun<strong>do</strong> a visão Guarani-Mbyá. Faltam el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> associação<strong>de</strong>ntro da cultura que possibilit<strong>em</strong> este elo.As <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> transcen<strong>de</strong>ntal (espiritualida<strong>de</strong>) e a saú<strong>de</strong> estão ligadas a posse daterra. Segun<strong>do</strong> Chamorro (1999) citan<strong>do</strong> Garlet, “ os Guarani interpretam as <strong>do</strong>ençasadquiridas com contato, sobre as quais sua medicina tradicional não t<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r, comosintomas <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> mal que <strong>de</strong>teriora o equilíbrio da socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> ecossist<strong>em</strong>acomo um to<strong>do</strong>”. Outras classificações são: a) <strong>do</strong>enças espirituais são as causadas pordivinda<strong>de</strong>s ou pelo diabo, po<strong>de</strong>m ser castigos aplica<strong>do</strong>s por maus comportamentossejam <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> seio familiar ou junto a comunida<strong>de</strong>; b) <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> são causadapelos <strong>do</strong><strong>no</strong>s da natureza, por espíritos (angue); c) <strong>do</strong>enças internas são os peque<strong>no</strong>sa<strong>do</strong>ecimentos na mulher grávida; d) <strong>do</strong>enças por feitiço são aquelas enviadas por umfeiticeiro. Quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença é classificadas por eles como <strong>do</strong>ença <strong>de</strong> contágio, procuramo tratamento da medicina oci<strong>de</strong>ntal, porém se o caso for classifica<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>alguma outra orig<strong>em</strong> só o pajé po<strong>de</strong>rá curar.O avanço <strong>do</strong> processo civilizatório, com a introdução <strong>de</strong> hábitos culturais e religiosos, daviolência e, principalmente <strong>de</strong> patologia inexistentes <strong>no</strong> seu meio, expôs esta populaçãoa diversos agravos a sua saú<strong>de</strong>. Dentre estes, as <strong>DST</strong> e a AIDS.OS INDÍGENAS E A AIDSEm 1987 foi <strong>no</strong>tifica<strong>do</strong> o primeiro caso <strong>de</strong> <strong>Aids</strong> <strong>em</strong> indígena brasileiro. Até abril/2000 somavam 36 casos, sete <strong>de</strong>stes na população Guarani. Do total <strong>de</strong> casos, 23 jáforma a óbito, sen<strong>do</strong> que a razão hom<strong>em</strong>-mulher é <strong>de</strong> 1:1.Embora não se conheça nenhum caso <strong>de</strong> <strong>Aids</strong> entre os guarani-Mbyá <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Rio <strong>de</strong> Janeiro, algumas <strong>de</strong> suas características sócio-culturais e geográficas tornameste grupo potencialmente vulnerável à infecção pelas <strong>DST</strong>/AIDS. A flutuaçãopopulacional é uma característica que permite que através <strong>do</strong> intenso fluxomigratório, os indígenas estejam <strong>em</strong> constante contato com a socieda<strong>de</strong> envolventee com indígenas <strong>de</strong> outras al<strong>de</strong>ias que já apresentaram casos <strong>de</strong> <strong>Aids</strong> (ex: laranjinha/


47PR). Também a iniciação sexual precoce permite que eles, após o ritual <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>,busqu<strong>em</strong> a relação sexual, pois casam muito ce<strong>do</strong>, aos 13 a<strong>no</strong>s a maiorias das indiassão mães. Al<strong>em</strong> disto vários matrimônios favorec<strong>em</strong> uma rotativida<strong>de</strong> entre os casaisfazen<strong>do</strong> com que eles (homens e mulheres) troqu<strong>em</strong> <strong>de</strong> cônjuge com freqüência seexpon<strong>do</strong> a cada troca <strong>de</strong> parceiro, fato que acontece entre os mais jovens. E por fim,características geográficas como a proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> centros urba<strong>no</strong>s os expõ<strong>em</strong> afatores como alcoolismo e drogas entre outros. (marinho, 2000)O ProjetoO objetivo <strong>do</strong> projeto foi o <strong>de</strong> fornecer conhecimentos básicos sobre as formas <strong>de</strong>transmissão e prevenção das <strong>DST</strong>/ADIS para um grupo <strong>de</strong> homens e mulheresindígenas a fim <strong>de</strong> instrumentalizá-los como multiplica<strong>do</strong>res junto aos seus pares.Neste senti<strong>do</strong> procuramos fornecer-lhes el<strong>em</strong>entos para avaliar objetivamenteas diferentes chances que os indivíduos <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s têm <strong>de</strong> se infectar,consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o conjunto forma<strong>do</strong> por certas características individuais e sociais <strong>do</strong>seu cotidia<strong>no</strong> que sejam relevantes para que se exponham mais ou tenham me<strong>no</strong>smecanismos <strong>de</strong> proteção diante <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a. (Aires, 1999). Paralelamente buscamosenvolver a equipe multidisciplinasr <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que iria aten<strong>de</strong>r as três al<strong>de</strong>ias b<strong>em</strong>como profissionais <strong>de</strong> diversas instituições (bombeiros, plantonistas e técnicos <strong>de</strong>hospitais <strong>do</strong>s municípios envolvi<strong>do</strong>s) oferecen<strong>do</strong> treinamento para atualização <strong>de</strong>conhecimentos sobre as <strong>DST</strong>/AIDS e aspectos sócio-culturais e política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>indígena objetivan<strong>do</strong> qualificá-los para o resulta<strong>do</strong> para o trabalho intercultural.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que a lógica t<strong>em</strong>poral <strong>do</strong>s indígenas, suas tradições, seusconhecimentos e sua visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>veriam permear todas as ações, escolh<strong>em</strong>ostrabalhar com meto<strong>do</strong>logia participativa, através <strong>de</strong> oficinas, para possibilitar seuenvolvimento, a construção <strong>do</strong> conhecimento coletivo pela valorização <strong>do</strong> seusaber, respeitan<strong>do</strong> as suas especificida<strong>de</strong>s na perspectiva <strong>de</strong> se apropriar<strong>em</strong> <strong>de</strong>informações para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações preventivas.Dentro <strong>de</strong>sta lógica, procuramos obe<strong>de</strong>cer a algumas etapas: encontros e reuniõesentre técnicos da equipe <strong>do</strong> projeto e li<strong>de</strong>ranças indígenas foram realiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ntro efora das al<strong>de</strong>ias, <strong>em</strong> espaços institucionais; uma oficina específica <strong>de</strong> sensibilização<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças para o t<strong>em</strong>a das <strong>DST</strong>/ADIS procurou obter um diagnóstico <strong>do</strong> nível<strong>de</strong> informações e significa<strong>do</strong>s referentes a <strong>Aids</strong> que permitisse uma avaliação <strong>no</strong>senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar recursos meto<strong>do</strong>lógicos para as etapas seguintes, que seria a <strong>do</strong>treinamento. Alguns conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta oficina foram ex<strong>em</strong>plifica<strong>do</strong>s <strong>em</strong> algumas falasque <strong>de</strong> certa forma <strong>no</strong>rtearam a concepção da dinâmica <strong>do</strong> treinamento. Alguns termostambém foram incorpora<strong>do</strong>s como por ex<strong>em</strong>plo, “armadilhas” – usa<strong>do</strong> para <strong>de</strong>signarlugares e situações <strong>de</strong> exposição ao risco <strong>de</strong> contato com <strong>DST</strong> ou mesmo <strong>Aids</strong>.A avaliação <strong>de</strong>sta oficina <strong>no</strong>s <strong>de</strong>u a dimensão da difícil tarefa que seria a introdução<strong>de</strong> t<strong>em</strong>as sobre uma <strong>do</strong>ença que não se vê e <strong>de</strong> como eles a percebiam através <strong>de</strong>seus sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> representações, valores e práticas relativas ao a<strong>do</strong>ecer. Partin<strong>do</strong><strong>de</strong>sta dificulda<strong>de</strong> foi montada um dinâmica on<strong>de</strong> o “monstro da <strong>Aids</strong>”, termo quetambém surgiu a partir <strong>do</strong> imaginário <strong>de</strong>les expresso por um <strong>do</strong>s caciques, pu<strong>de</strong>sseser visualiza<strong>do</strong>.A idéia <strong>do</strong> cacique era ter o “retrato” <strong>do</strong> monstro para afixar na pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> posto <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> da al<strong>de</strong>ia, para que sua comunida<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse se assustar e então vir perguntar


48<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>coisas sobre o monstro, quan<strong>do</strong> ele, cacique então falar da prevenção. Trabalhouseentão as fantasias que o grupo tinha <strong>em</strong> relação a <strong>do</strong>ença, ou seja o que estava<strong>no</strong> seu imaginário. Foram dadas informações sobre o virus causa<strong>do</strong>r da <strong>do</strong>ençae <strong>de</strong> suas formas <strong>de</strong> transmissão e prevenção a partir <strong>de</strong> conhecimentos que ogrupo já dispunha, <strong>de</strong> suas vivências tanto <strong>do</strong> cotidia<strong>no</strong> quanto <strong>do</strong> contato com oconhecimento científico. Trabalhou-se o “monstro” <strong>de</strong> forma lúdica, solicitan<strong>do</strong> queum <strong>do</strong>s participantes se aproximasse e fingisse ser o <strong>HIV</strong>(virus causa<strong>do</strong> da <strong>Aids</strong>).Através <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong>ssa pessoa (cobrin<strong>do</strong>-lhe a cabeça) os <strong>de</strong>mais expressaram comoimaginavam ser o virus. Na seqüência pedi-se que trabalhass<strong>em</strong> com massinha ou<strong>de</strong>senho a forma <strong>do</strong> <strong>HIV</strong>. To<strong>do</strong>s participaram, inclusive as mulheres <strong>do</strong> grupo, que<strong>no</strong> inicio da ativida<strong>de</strong> relutaram um pouco.A pouca participação das mulheres foi percebida, tanto <strong>em</strong> número que foi bastanteinferior ao <strong>do</strong>s homens (16 homens e 06 mulheres) quanto nas suas falas, bastantetímidas, característica observada durante as etapas <strong>do</strong> projeto.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> esta característica e, como sexualida<strong>de</strong> é um assunto <strong>de</strong> difícilabordag<strong>em</strong>, partimos <strong>de</strong> sua própria <strong>de</strong>manda, trabalhan<strong>do</strong> este t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> grupos<strong>de</strong> homens e mulheres, separadamente. Em ambos os grupos, foram feitas ascaracterizações <strong>do</strong> corpo huma<strong>no</strong> sen<strong>do</strong> suas partes <strong>no</strong>meadas <strong>em</strong> Português e <strong>em</strong>guarani.No grupo f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong> foi observa<strong>do</strong> um comportamento mais reserva<strong>do</strong>. Os<strong>de</strong>poimentos das índias foram pontuais, haven<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulosconstantes. Estimuladas, falaram sobre troca <strong>de</strong> cônjuges, ou seja, os casais seseparam e contra<strong>em</strong> <strong>no</strong>vo matrimônio com índios <strong>de</strong> outras al<strong>de</strong>ias, mas damesma etnia. Esta prática, segun<strong>do</strong> os mais velhos, é <strong>do</strong>s jovens já que os maisvelhos consi<strong>de</strong>ram o casamento para s<strong>em</strong>pre.As Índias não afirmaram se há relação sexual antes <strong>do</strong> casamento, <strong>em</strong>bora após oritual da passag<strong>em</strong>, que ocorre por ocasião da menarca (por volta <strong>do</strong>s 12 a<strong>no</strong>s) elasjá possam casar e estejam aptas para ter<strong>em</strong> relações sexuais. A escolha <strong>do</strong> parceiro élivre, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pedir o consentimento <strong>do</strong>s pais da moça. O namoroé <strong>de</strong>ntro da al<strong>de</strong>ia, on<strong>de</strong> o casal passeia até o casamento. Pelo seu relato, não exist<strong>em</strong>beijos na boca, n<strong>em</strong> algumas carícias comuns entre os não indios, como toques pelocorpo, por ex<strong>em</strong>plo. Ainda segun<strong>do</strong> elas a relação sexual é uma escolha <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>,ele é qu<strong>em</strong> manifesta o <strong>de</strong>sejo e elas aceitam, nunca toman<strong>do</strong> a iniciativa.No grupo masculi<strong>no</strong> i<strong>de</strong>ntificou-se alguns hábitos culturais sobre a sexualida<strong>de</strong>, daspráticas habituais da etnia é uma reunião que o cacique faz um vez por s<strong>em</strong>ana comos jovens a partir <strong>de</strong> oito a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, para relatar ensinamentos <strong>de</strong> formas simplessobre práticas sexuais, dança, reza e cuida<strong>do</strong>s com a família. São aconselha<strong>do</strong>s anão ter<strong>em</strong> relações sexuais com mulheres <strong>de</strong> fora da etnia. Mas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre osconselhos são segui<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> eles, a mãe proíbe a masturbação. A vida sexualcomeça na faixa etária <strong>de</strong> 10 a 12 a<strong>no</strong>s.As <strong>DST</strong> também foram trabalhas <strong>em</strong> grupos separa<strong>do</strong>s por gênero. Foi utiliza<strong>do</strong>material educativo específico para o trabalho <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS com populaçõesindígenas. No caso das mulheres, ao ser<strong>em</strong> perguntadas se conheciam algumas das<strong>DST</strong> mostradas <strong>no</strong> álbum, as repostas foram negativas, assim como para a percepção<strong>de</strong> sintomas ou relatos <strong>de</strong> casos. Sabe-se <strong>no</strong> entanto que, exist<strong>em</strong> casos <strong>de</strong> <strong>DST</strong> entreeles e que são trata<strong>do</strong>s com r<strong>em</strong>édios da medicina tradicional.


49Durante to<strong>do</strong> o treinamento as formas <strong>de</strong> transmissão e prevenção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> e das <strong>DST</strong>foram evi<strong>de</strong>nciadas correlacionan<strong>do</strong>–as com as práticas diárias <strong>de</strong>ssa populaçãocomo por ex<strong>em</strong>plo: utilização <strong>de</strong> espinhos, agulhas, tatuagens, utensílios cortantes,relações sexuais <strong>de</strong>sprotegidas, uso <strong>de</strong> drogas, basicamente bebidas alcóolicas,transfusão <strong>de</strong> sangue e transmissão da mãe para o bebê, durante a gravi<strong>de</strong>z, o parto ea amamentação. A transmissão vertical foi pouco aprofundada pelos tabus e valoresculturais a que r<strong>em</strong>ete, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se mais uma vez a dificulda<strong>de</strong> expressão porparte das mulheres e a pouca literatura sobre o assunto: “são obscuras as idéiasentre relações sexuais e concepção <strong>em</strong> vários autores, porém são unanimes <strong>em</strong>afirmar que relações sexuais representa, um papel coadjuvante na idéia Mbya. Depreferência ela ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a causas sobrenaturais, por intermédio <strong>do</strong> sonho: acriança é enviada pelos <strong>de</strong>uses-herois ou parentes faleci<strong>do</strong>s ao pai que a recebe <strong>em</strong>sonho e conta à mãe que engravida...” na <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> concepção guarani está presentea idéia <strong>de</strong> reencarnação... – “<strong>no</strong> caso da reencarnação é s<strong>em</strong>pre o espírito <strong>de</strong> umacriança falecida que renasce pela mesma mãe logo após ou mais tar<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> relaçõessexuais, por intermédio <strong>de</strong> sonhos ou mesmo danças religiosas. Os adultos nuncarenasc<strong>em</strong>” (Verani e Farias, 1997).O uso <strong>do</strong> preservativo como recurso para prevenção <strong>de</strong> <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong> foi trabalha<strong>do</strong><strong>em</strong> ambos os grupos, a princípio com alguma relutância sen<strong>do</strong> que os mais jovensapresentaram um pouco mais <strong>de</strong> interesse. Ao final <strong>de</strong> treinamento to<strong>do</strong>s osparticipantes utilizaram a camisinha <strong>no</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> borracha para <strong>de</strong>monstração<strong>do</strong> seu uso correto. Este insumo, <strong>no</strong> entanto, como recurso <strong>de</strong> prevenção, não foirecebi<strong>do</strong> com muito entusiasmo principalmente por parte <strong>do</strong>s mais velhos quepreferiram referenciar valores da cultura enquanto fatores <strong>de</strong> proteção. O caciqueJoão Vera Mirim afirma <strong>em</strong> sua fala que “eu estu<strong>de</strong>i essa camisinha, essa camisinhaé que estragou nós, se usar camisinha tu<strong>do</strong> livra<strong>do</strong>, não se cuida mais, o que querfaz, já t<strong>em</strong> camisinha, já t<strong>em</strong> segurança para ele”. O professor indígena Alg<strong>em</strong>iroVera Mirim afirma que “hoje é muito difícil a gente recebe muita gente <strong>de</strong> fora,não sabe como está esse controle. Em primeiro lugar manter o jov<strong>em</strong> na al<strong>de</strong>ia. Oeduca<strong>do</strong>r t<strong>em</strong> que se reunir e estudar maneira <strong>do</strong> jov<strong>em</strong> não sair muito da al<strong>de</strong>ia,não esquecen<strong>do</strong> da religião, <strong>do</strong> ser Guaraní.QUE TEMAS TRABALHAMOS?Os t<strong>em</strong>as trabalha<strong>do</strong>s <strong>no</strong> treinamento com os indígenas foram: a HistóriaNatural da <strong>Aids</strong>, Da<strong>do</strong>s Epi<strong>de</strong>miológicos, <strong>Aids</strong> <strong>no</strong> Imaginário Indígena, Formas <strong>de</strong>Transmissão e Prevenção das <strong>DST</strong> e AIDS, Sexualida<strong>de</strong>, Saú<strong>de</strong> e Doença na visão<strong>do</strong>s não índios e Gênero. No treinamento <strong>do</strong>s profissionais, os mesmos t<strong>em</strong>as foramaborda<strong>do</strong>s, incuin<strong>do</strong>-se Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Indígena, Saú<strong>de</strong> e Doença na Visão <strong>do</strong>sIndios e Aspectos Sócio Culturais da Etnia Guarani Mbya.QUE RESULTADOS TIVEMOS E A QUE CONCLUSÕES CHEGAMOS?O treinamento realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> três dias contou com a participação <strong>de</strong> 22 indígenas.Como <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong> mesmo foram realizadas cinco oficinas <strong>em</strong> al<strong>de</strong>ias damesma etnia, três al<strong>de</strong>ias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e duas <strong>em</strong> al<strong>de</strong>ias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>de</strong> São Paulo, todas pertencentes ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI)<strong>do</strong> litoral Sul. Estas oficinas tiveram a participação <strong>de</strong> <strong>do</strong>is técnicos da equipe, naqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> supervisores, e multiplica<strong>do</strong>res indígenas escolhi<strong>do</strong>s por eles mesmosdurante o treinamento.


50<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Algumas lições pu<strong>de</strong>ram ser aprendidas durante to<strong>do</strong> o processo. Consi<strong>de</strong>ramosque a confiança mútua estabelecida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras reuniões foi possível graçasa maturida<strong>de</strong> da equipe que procurou to<strong>do</strong> o t<strong>em</strong>po pautar o trabalho <strong>no</strong> respeitoa diversida<strong>de</strong> cultural <strong>do</strong> grupo, a<strong>de</strong>quan<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s conforme o “t<strong>em</strong>poindígena” na perspectiva da construção <strong>do</strong> conhecimento com e não para. Já umaanálise das avaliações realizadas ao final <strong>de</strong> ambos os treinamentos mostrou quet<strong>em</strong>as dinamiza<strong>do</strong>s foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s mais produtivos e melhor assimila<strong>do</strong>s queos <strong>de</strong> exposição oral. Por permitir envolvimento <strong>do</strong>s participantes e construir apartir <strong>de</strong> suas próprias necessida<strong>de</strong>s uma proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalhocom a incorporação <strong>do</strong>s seus próprios conceitos <strong>de</strong> prevenção foi possível a suaa<strong>de</strong>são para outras etapas.A atualização <strong>do</strong>s profissionais nas questões relativas a <strong>DST</strong> e AIDS, sua qualificaçãopara o trabalho intercultural e, a participação <strong>de</strong> alguns indígenas que já haviamsi<strong>do</strong> treina<strong>do</strong>s anteriormente participan<strong>do</strong> <strong>do</strong> treinamento <strong>de</strong>stes profissionaiscontribuiu com suas vivências e ensinamentos e se constituiu num fator facilita<strong>do</strong>rpara a compreensão da visão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong>ença <strong>de</strong> ambos os grupos, indíos e nãoindíos. Neste senti<strong>do</strong>, os treinamentos foram compl<strong>em</strong>entares entre si mostran<strong>do</strong>como se po<strong>de</strong> trabalhar a prevenção a partir <strong>de</strong> diferentes visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> ediferentes inserções culturais.Em toda as etapas <strong>do</strong> Projeto as falas <strong>do</strong>s instrutores não indios eram trazidas paralíngua guarani pelos indígenas com o objetivo <strong>de</strong> fazer com que as informaçõespu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser atendidas por to<strong>do</strong>s os indígenas presentes, pois n<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s enten<strong>de</strong>ma língua portuguesa. Os treinamentos e as oficinas foram filmadas por umacenegrafista <strong>do</strong> Museu <strong>do</strong> Indio/RJ/FUNAI e resultaram <strong>em</strong> <strong>do</strong>is ví<strong>de</strong>os, sen<strong>do</strong> o<strong>do</strong> treinamento um <strong>do</strong>cumentário e o das oficinas com conteú<strong>do</strong> educativo.A partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>manda <strong>do</strong>s próprios indios e <strong>de</strong> material produzi<strong>do</strong> duranteas oficinas está sen<strong>do</strong> estudada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong> uma cartilha eoutro tipo <strong>de</strong> material educativo (a ser discuti<strong>do</strong> com eles) com conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> suasproprias concepções relativas às situações <strong>de</strong> maior risco <strong>de</strong> contato com <strong>DST</strong> eAIDS. Nos <strong>de</strong>senhos o uso <strong>de</strong> bebidas alcóolicas b<strong>em</strong> como os fatores <strong>de</strong> proteçãoda en<strong>do</strong>gamia guarani, mostraram um associação bastante importante com asinformações trabalhadas nas várias etapas <strong>do</strong> projeto.Ao final <strong>do</strong> projeto, foi contratada uma consultoria especializada para uma avaliaçãoa fim <strong>de</strong> que pudéss<strong>em</strong>os reorientar as ações <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/AIDS <strong>de</strong>ntro daperspectiva da promoção à saú<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong>.Algumas reflexões e respostas <strong>do</strong>s indígenas (li<strong>de</strong>ranças e multiplica<strong>do</strong>res) duranteo processo <strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong> Projeto situam ex<strong>em</strong>plarmente a sofrida, mas ao mesmot<strong>em</strong>po rica contradição a que está exposto o povo guarany Mbys <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<strong>de</strong> Janeiro. Pela sua condição <strong>de</strong> população <strong>em</strong>pobrecida e com dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>acesso a ações integrais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ela se ass<strong>em</strong>elha a tantos outros segmentos dasocieda<strong>de</strong> brasileira. No entanto, se diferencia <strong>de</strong>sta população pela manutenção<strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as tradicionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> basea<strong>do</strong>s <strong>em</strong> uma abordag<strong>em</strong> holistica cujoprincipio é a harmonia <strong>de</strong> indivíduos, famílias e comunida<strong>de</strong>s com o universo queos ro<strong>de</strong>ia e a sua coesão enquanto povo indígena.Uma primeira leitura <strong>do</strong> relatório <strong>de</strong> avaliação <strong>no</strong>s r<strong>em</strong>ete a uma questão queperpassou todas as etapas <strong>do</strong> Projeto, a <strong>de</strong> que <strong>em</strong>bora a compreensão técnica <strong>do</strong>s


51conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> curso e das oficinas tivesse si<strong>do</strong> bastante correto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vistasanitário”(relatório <strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong> Projeto), gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> grupo foi fort<strong>em</strong>enteinfluenciada pela li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s caciques que privilegiou valores tradicionaisda en<strong>do</strong>gamia Guarani como forma <strong>de</strong> prevenção as <strong>DST</strong>/AIDS; evitação dasrelações extraconjuguais e virginda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s jovens. Relacionamentos conjugais eextraconjugais com os não indios são <strong>de</strong>sestimula<strong>do</strong>s mesmo através da coersãosocial. Algumas condições favorec<strong>em</strong> e facilitam a força politica <strong>do</strong> cacique. A suaal<strong>de</strong>ia é a mais populosa das três, possuin<strong>do</strong> as melhores condições <strong>de</strong> acesso aserviços públicos como posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e escola bilingue funcionan<strong>do</strong> ambos <strong>de</strong>ntroda al<strong>de</strong>ia, b<strong>em</strong> como melhores condições <strong>de</strong> saneamento e transporte. Estes fatoressoma<strong>do</strong>s a ênfase na preservação <strong>de</strong> valores sócio-culturais e religiosos contribu<strong>em</strong>para a fixação das famílias nas al<strong>de</strong>ias e diminu<strong>em</strong> a sua vulnerabilida<strong>de</strong> frente aepi<strong>de</strong>mia da <strong>Aids</strong>. No entanto, o fatos <strong>do</strong>s casamentos ser<strong>em</strong> realiza<strong>do</strong>s <strong>no</strong> territórioguarani como to<strong>do</strong>, pela mobilida<strong>de</strong> constituitiva da sua cultura e, por estar<strong>em</strong>todas as al<strong>de</strong>ias <strong>no</strong> mesmo processo <strong>de</strong> proteção , pela a<strong>do</strong>ção da estratégia <strong>de</strong>resgate da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural os torna também vulneráveis. Acrescente-se a estesfatores outros, como a própria localização geográfica das al<strong>de</strong>ias. Embora numa<strong>de</strong> suas falas o cacique ironizasse o fato da <strong>do</strong>ença ter percorri<strong>do</strong> um caminho tãolongo, ter vin<strong>do</strong> parar b<strong>em</strong> <strong>no</strong> bairro on<strong>de</strong> está a al<strong>de</strong>ia, mas ter “passa<strong>do</strong> por cima<strong>de</strong>la” não a atingin<strong>do</strong>, o fato é que a proximida<strong>de</strong> com a população fixa e flutuante(turistas, profissionais <strong>do</strong> sexo, trabalha<strong>do</strong>res portuários, entre outros) <strong>em</strong> ambosos municípios e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com os núcleos urba<strong>no</strong>s uma vez quenão são auto-suficientes os expõe <strong>de</strong> várias maneiras ao risco <strong>de</strong> contato com váriaspatologias, incluin<strong>do</strong>-se <strong>DST</strong> e <strong>Aids</strong>.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as diversas situações que po<strong>de</strong>ria, expor a população <strong>de</strong> al<strong>de</strong>iasao contato com <strong>do</strong>enças sexualmente transmissíveis, inclusive a <strong>Aids</strong>, foi cria<strong>do</strong>pelo cacique o termo “armadilhas” para referi-las. O termo “culturalmente maisa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>” e logo incorpora<strong>do</strong> pelos participantes refere-se basicamente a presençaindígena <strong>em</strong> núcleos urba<strong>no</strong>s (bares, estradas, bor<strong>de</strong>is, festas, ponto <strong>de</strong> vendas<strong>de</strong> artesanato, ponto <strong>de</strong> ônibus, ro<strong>do</strong>viária, locais estes on<strong>de</strong> estariam expostos,principalmente estimula<strong>do</strong>s pelo uso <strong>de</strong> bebida alcóolica a comportamentos <strong>de</strong>risco <strong>de</strong> contrair <strong>DST</strong>/AIDS).Embora se saiba que muitas mulheres indígenas também faz<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> bebidaalcóolica este fator foi mais evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> para os homens, estan<strong>do</strong> elas expostasconforme expressam através <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e <strong>de</strong>poimentos, mais pela sedução e falsaspromessas <strong>do</strong> Juruá. homens e mulheres <strong>de</strong> uma das al<strong>de</strong>ias me<strong>no</strong>res relataram queas jovens solteiras têm liberda<strong>de</strong> sexual, vão bastante a cida<strong>de</strong> e frequentam forrós,expon<strong>do</strong>-se muitas vezes ao risco <strong>de</strong> contrair <strong>do</strong>enças. Neste grupo, foi admitida aindaa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações extraconjugais, mesmo por parte das mulheres. Não foiconfirma<strong>do</strong> pelo homens o hábito <strong>de</strong> relações sexuais mo<strong>no</strong>gâmicas <strong>no</strong> casamento.Embora li<strong>de</strong>ranças e multiplica<strong>do</strong>res concor<strong>de</strong>m com mecanismos da cultura têmcomo evitar a propagação das <strong>DST</strong> e prevenir a entrada da <strong>Aids</strong>, admit<strong>em</strong> que o fatoe os Juruás estar<strong>em</strong> <strong>em</strong> contato muito intenso com os Guaranis po<strong>de</strong> trazer <strong>do</strong>ençase eles não têm como saber. Enfatizam a preocupação com as mulheres que vão aosforrós e ficam com os Juruas, minimizan<strong>do</strong> as “bebe<strong>de</strong>iras <strong>do</strong>s homens”.Atribu<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte da responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e da proteção (ou a falta<strong>de</strong>la) às mulheres jovens e solteiras, haven<strong>do</strong> restrições a sua mobilida<strong>de</strong> pelaproibição <strong>de</strong> sair da al<strong>de</strong>ia.


52<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>Questionadas, as mulheres entrevistadas relataram que as moças solteiras namorammais com os Juruá <strong>do</strong> que com os rapazes índios. Depois <strong>de</strong> casadas passam a ser“<strong>do</strong>nas <strong>de</strong> casa” e t<strong>em</strong> que cuidar da família. A mulher t<strong>em</strong> compromisso com ohom<strong>em</strong> e vice-versa.NOVOS CAMINHOS APONTADOSComo organizar o trabalho <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>ntro da própria comunida<strong>de</strong> é umapreocupação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, homens e mulheres das distintas al<strong>de</strong>ias. Uma da estratégiassugeridas é a <strong>de</strong> reunir só as mulheres para se falar <strong>de</strong> higiene corporal até se chegar<strong>no</strong> assunto das <strong>DST</strong>/AIDS e <strong>no</strong> uso da camisinha porque têm a preocupação coma <strong>do</strong>ença e também com o planejamento familiar. Consi<strong>de</strong>ram que aos homensnão compete falar <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, n<strong>em</strong> os jovens: “porque <strong>no</strong>sso costume só os velhosfalam. Fica esquisito falar sobre essas <strong>do</strong>enças na frente das mulheres” (referin<strong>do</strong>-sea jovens) . ( Pedro Benite – Agente Indígena <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>)O aprofundamento das reflexões visan<strong>do</strong> uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da populaçãoGuarani para mudanças <strong>de</strong> hábitos e comportamentos que po<strong>de</strong>m ser se risco paraas <strong>DST</strong>/ADIS, foi recomenta<strong>do</strong> durante o processo <strong>de</strong> avaliação <strong>do</strong> projeto b<strong>em</strong>como um redirecionamento da estratégia inicialmente utilizada para sensibilização,privilegian<strong>do</strong>-se na continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção um interface com oPrograma <strong>de</strong> Atenção Integral a Saú<strong>de</strong> da Mulher, Criança e ao A<strong>do</strong>lescenteconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a vulnerabilida<strong>de</strong> das mulheres e jovens. A discussão <strong>em</strong> gruposhomogêneos <strong>de</strong> classes, <strong>de</strong> gênero e ida<strong>de</strong>s e a conversa <strong>de</strong> casa <strong>em</strong> casa foi outra dasestratégias apontadas pelos indígenas como facilita<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> mudança.Participaram da elaboração <strong>do</strong> texto:Jane Portella, assistente social, técnica da Área <strong>de</strong> Prevenção da Assessoria <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/AIDS, da Secretaria <strong>de</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sau<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto.Diana Pinheiro Marinho, assistente social, tec<strong>no</strong>logista senior, Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública – ENPS/FIOCRUZ, supervisora técnica <strong>do</strong> Projeto.Bibliografia:AIRES, J. R.C. M., 1999. O jov<strong>em</strong> que buscamos e o encontro que quer<strong>em</strong>os ser. IN: Prevenção naEscola, Relatos <strong>de</strong> experiência. FDE São paulo/SPCa<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>do</strong> COMIN 1999. Conselho <strong>de</strong> Missão entre ìndios n. 9, São Leopol<strong>do</strong> – RS.CONFALONIERI U. & MARINHO d. 1993. As populações Indígenas <strong>no</strong> Brasil, in Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> PopulaçõesIndígenas – Uma introdução para profissionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – PARES – Rio <strong>de</strong> JaneiroMARINHO D. P 2000. Indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> à AIDS através <strong>de</strong> um SIG: os Guarani Mbyá <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> – IME, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.MELATTI, J.C.1993. Quantos são os íni<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil in Indios <strong>do</strong> Brasil, São Paulo.PRESIDENCIA DA REPÚBLICA, 1996. Indios <strong>do</strong> Brasil, in Socieda<strong>de</strong>s Indígenas e Ação <strong>do</strong> Gover<strong>no</strong>– Brasilia pp. 9-11.VERANI C. A . Medicina Indígena, 1993. In Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Populações Indígenas – Uma Introdução paraProfissionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – PARES – Rio <strong>de</strong> JaneiroVERANI C. SOARES I., Componente antropológico. Relatório final Projeto <strong>de</strong> Antropologia e Saú<strong>de</strong>para a Etinia Guarani <strong>de</strong> Paraty


53Prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>*O trabalho <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>ve partir das percepções <strong>de</strong> cada comunida<strong>de</strong> indígenasobre o <strong>HIV</strong>, sobre as formas <strong>de</strong> transmissão e prevenção. A presença <strong>de</strong> porta<strong>do</strong>res<strong>do</strong> <strong>HIV</strong> <strong>em</strong> algumas comunida<strong>de</strong>s indígenas traz <strong>no</strong>vos <strong>de</strong>safios e ainda é motivo <strong>de</strong>muitas dúvidas, ten<strong>do</strong> acarreta<strong>do</strong>, <strong>em</strong> algumas situações, atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exclusão da vidasocial e afastamento t<strong>em</strong>porário ou <strong>de</strong>finitivo da comunida<strong>de</strong>. 1Ampliar o acesso ao diagnóstico t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelas próprias comunida<strong>de</strong>scomo uma estratégia compl<strong>em</strong>entar importante. No entanto, t<strong>em</strong>-se observa<strong>do</strong> queo aconselhamento <strong>no</strong> oferecimento da testag<strong>em</strong> é, ainda, uma prática pouco utilizadapelos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, resultan<strong>do</strong> numa precarieda<strong>de</strong> da avaliação <strong>de</strong> riscos ecomprometen<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> práticas mais seguras.Garantir o sigilo sobre o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s exames <strong>de</strong> <strong>HIV</strong> t<strong>em</strong>, também, diferentessignifica<strong>do</strong>s nas comunida<strong>de</strong>s indígenas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> gerar situações <strong>em</strong> que se pleiteiaa testag<strong>em</strong> <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong>. Também nesses casos, <strong>de</strong>bater amplamente com acomunida<strong>de</strong>, respeitan<strong>do</strong>-se seus interlocutores e media<strong>do</strong>res faz a diferença para quenão se leve à falsa percepção <strong>de</strong> proteção diante <strong>de</strong> um resulta<strong>do</strong> negativo. Organizaro DSEI para trabalhar com o oferecimento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> da testag<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ajudar a evitarsituações <strong>de</strong>sta natureza.Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> registrar a interferência exercida pelas missões religiosas <strong>no</strong>trabalho <strong>de</strong> prevenção junto às populações indígenas e o acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>pelos indígenas nas áreas que têm presença missionária. Este t<strong>em</strong>a precisa ser melhordimensiona<strong>do</strong> <strong>em</strong> conjunto com a FUNASA.Com base na Experiência acumulada pelos projetos <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pororganizações indígenas e indigenistas, <strong>de</strong>stacamos aspectos a ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>no</strong>trabalho <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/AIDS <strong>no</strong>s DSEI:• Conhecimento das populações indígenas sobre <strong>DST</strong> <strong>Aids</strong> – as referências queestão disponíveis são resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> áreas indígenasque revelam ainda gran<strong>de</strong> lacuna <strong>de</strong> diferentes povos quanto as formas <strong>de</strong>transmissão e prevenção das <strong>DST</strong> <strong>Aids</strong>.1 Em algumas comunida<strong>de</strong>s indígenas, é muito difícil preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>HIV</strong>.


54<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>• Cada cultura e sua cosmovisão contêm el<strong>em</strong>entos que po<strong>de</strong>m influenciar <strong>no</strong>resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção• O trabalho <strong>de</strong>ve ser realiza<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> da comunida<strong>de</strong> e asolidarieda<strong>de</strong>• No planejamento e na realização das ações <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a importânciada participação <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res comunitários (pajés, caciques, etc) pois eles sãoreferencia para a comunida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>m facilitar o processo, contribuin<strong>do</strong> nasensibilização e na viabilização das ações• A transmissão <strong>de</strong> conhecimentos sobre prevenção <strong>de</strong>ve ser feita com a utilização<strong>de</strong> formas <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> culturalmente a<strong>de</strong>quadas, por ex<strong>em</strong>plo, através <strong>de</strong>imagens e símbolos• Visão holística da medicina: ao introduzir a t<strong>em</strong>ática da prevenção <strong>de</strong>v<strong>em</strong>oss<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>rar os saberes tradicionais• Valorizar o potencial criativo <strong>do</strong>s jovens, incluin<strong>do</strong>-os <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>material educativo, programação <strong>de</strong> rádio, etc• Compreen<strong>de</strong>r e valorizar os contextos sociais e culturais <strong>do</strong> grupo• Buscar meto<strong>do</strong>logias que possam dar respostas eficazes aos trabalhoseducacionais• Promover a participação efetiva da comunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> questão, el<strong>em</strong>entofundamental para o sucesso <strong>do</strong>s programas• Estabelecer um cro<strong>no</strong>grama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que garanta a continuida<strong>de</strong> das açõesimpl<strong>em</strong>entadas• Consi<strong>de</strong>rar que to<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> mudança ocorre a médio e longo prazo, a partir<strong>de</strong> ações sist<strong>em</strong>áticas• Consi<strong>de</strong>rar que o uso <strong>de</strong> preservativo continua sen<strong>do</strong> uma prática não habitualentre as comunida<strong>de</strong>s indígenas,• Ao tratar a t<strong>em</strong>ática da sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se atentar para as crenças locais econsi<strong>de</strong>rar que a saú<strong>de</strong> reprodutiva das comunida<strong>de</strong>s indígenas merece atençãoespecial• Desmistificar a concepção segun<strong>do</strong> a qual a <strong>do</strong>ença esta fora e não <strong>de</strong>ntro daal<strong>de</strong>ia, já que ainda existe, <strong>no</strong>s grupos, a crença <strong>de</strong> que a <strong>do</strong>ença acontece láfora, ou na cida<strong>de</strong>, ou <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> risco, e que a al<strong>de</strong>ia estariaprotegida <strong>do</strong> exter<strong>no</strong>;• Capacitar e instrumentalizar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que estão atuan<strong>do</strong> nasáreas indígenas, b<strong>em</strong> como os profissionais da re<strong>de</strong> <strong>do</strong> SUS <strong>de</strong> referência, paraque possam lidar <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada com toda essa diversida<strong>de</strong>;• Ao planejar as ações <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os atentar para a presença <strong>de</strong> missões religiosas nasáreas indígenas que não concordam com a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> preservativo como forma<strong>de</strong> prevenção;• As ações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar o consumo abusivo <strong>de</strong> álcool e outras drogas comoum <strong>do</strong>s principais produtores <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> na população indígena• A Pauperização das condições <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> algumas comunida<strong>de</strong>s vêm trazen<strong>do</strong>uma série <strong>de</strong> transformações <strong>no</strong>s hábitos cotidia<strong>no</strong>s que <strong>de</strong>ixam as comunida<strong>de</strong>smais vulneráveis à infecção pelo vírus <strong>HIV</strong> e outras <strong>DST</strong>• A intrusão das terras indígenas e os conflitos fundiários• Relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e a construção cultural <strong>de</strong> gênero


55• A violência <strong>do</strong>méstica e sexual <strong>de</strong>ixa as mulheres <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> maiorvulnerabilida<strong>de</strong>, pois sent<strong>em</strong>-se ameaçadas e com me<strong>do</strong> <strong>de</strong> expor aos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> as situações que viv<strong>em</strong> com me<strong>do</strong> <strong>de</strong> represália <strong>do</strong>s parceiros, esteciclo interminável <strong>de</strong>ixa-as bastante vulneráveis já que a situação as impe<strong>de</strong> <strong>de</strong>negociar o uso <strong>do</strong> preservativo• Nas comunida<strong>de</strong>s indígenas ainda t<strong>em</strong>os a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> como um fator importante<strong>de</strong> proteção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>• Exist<strong>em</strong> poucas pesquisas que relatam as concepções culturais sobre corpo,flui<strong>do</strong>s corporais e concepção, haven<strong>do</strong>, portanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maiorconhecimento <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>as saú<strong>de</strong> sexual e reprodutiva <strong>em</strong> populações indígenas• As ações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> garantir a toda comunida<strong>de</strong> o acesso ao preservativo e promoção<strong>do</strong> uso consistente• Consi<strong>de</strong>rar as dificulda<strong>de</strong>s das mulheres para negociar o preservativo• O Aleitamento cruza<strong>do</strong> é uma prática muito comum na população indígena, paraque esta prática não seja um vetor <strong>de</strong> transmissão <strong>do</strong> vírus <strong>HIV</strong> a comunida<strong>de</strong><strong>de</strong>ve estar a<strong>de</strong>quadamente informada sobre as formas <strong>de</strong> transmissão, teracesso ao diagnóstico e receber assistência <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que possa garantir oacompanhamento das gestantes soropositivas durante to<strong>do</strong> o pré-natal e <strong>no</strong>momento <strong>do</strong> parto• O sucesso das ações <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito da existência <strong>de</strong> açõeseducativas que trabalh<strong>em</strong> os t<strong>em</strong>as com linguag<strong>em</strong> a<strong>de</strong>quada aos diferenteshábitos culturais e com envolvimento <strong>do</strong>s diferentes atores sociais <strong>no</strong> processo<strong>de</strong> organização, <strong>de</strong>finição e realização• Em algumas situações as comunida<strong>de</strong>s indígenas assum<strong>em</strong> a postura <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificar as pessoas viven<strong>do</strong> com <strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>, ven<strong>do</strong> neste gesto um mecanismoprotetor para o resto <strong>do</strong> grupo, esta questão <strong>de</strong>ve ser trabalhada com bastantecuida<strong>do</strong> e s<strong>em</strong>pre reforçan<strong>do</strong> as informações necessárias, pois este gesto po<strong>de</strong><strong>de</strong>ixar as pessoas viven<strong>do</strong> com <strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong> mais vulneráveis• Os sujeitos indígenas que vivenciam sua sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira diferente datradicional são estigmatiza<strong>do</strong>s e sofr<strong>em</strong> com os inúmeros gestos <strong>de</strong> discriminação,esta situação po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-los mais vulneráveis, neste senti<strong>do</strong> as ações <strong>de</strong>v<strong>em</strong>procurar colocar a t<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> discussão e produzir estratégias cuja abordag<strong>em</strong>possa respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informação e acesso aos serviços <strong>de</strong>stapopulação.• Nova geração s<strong>em</strong> perspectivas• Barreira lingüisticaEixos <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>:Das equipes <strong>do</strong>s DSEI:1. De acor<strong>do</strong> com as diretrizes da Política <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Povos Indígenas,cabe a FUNASA, promover a sensibilização cultural <strong>do</strong>s profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>e preparação <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s para a atuação <strong>em</strong> contexto intercultural, <strong>em</strong>processo <strong>de</strong> educação permanente;2. Consi<strong>de</strong>rar, <strong>no</strong> planejamento <strong>do</strong> trabalho, a perspectiva da interculturalida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntificação das necessida<strong>de</strong>s até a avaliação <strong>do</strong> impacto das ações nasaú<strong>de</strong> da população enfocada. 22 Dominique Buchillet. Levantamento e avaliação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> áreas indígenas da Amazônia Legal – suporte aprojetos culturalmente sensíveis. 1998.


56<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>3. Ter profissionais <strong>de</strong> referência para cada DSEI – antropólogos, lingüistas epedagogos. Estes profissionais po<strong>de</strong>rão contribuir com os profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> quanto a: acesso a literatura sobre as etnias da área <strong>de</strong> abrangência <strong>de</strong>cada DSEI, orientação sobre como realizar levantamento <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s que possam<strong>em</strong>basar o planejamento das ações educativas <strong>de</strong> prevenção e saú<strong>de</strong>, contribuirna organização e realização das oficinas <strong>de</strong> prevenção com os multiplica<strong>do</strong>resda comunida<strong>de</strong> e oficinas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> material educativo culturalmentesensíveis. Os agentes indígenas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m dar um amplo apoio a estetrabalho, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se, inclusive, o <strong>do</strong>mínio da língua materna.4. Garantir uma equipe <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>res composta por educa<strong>do</strong>res (AIS, lingüistasou pedagogos) e antropólogos <strong>em</strong> cada DSEI. Essa equipe atuará junto à equip<strong>em</strong>ultidisciplinar com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar suporte às ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s técnicose auxiliares nas áreas indígenas e nas CASAI, fazen<strong>do</strong> acompanhamento eavaliação.Das ações educativas - <strong>Oficina</strong>s Pedagógicas e construção <strong>de</strong> materiaiseducativos culturalmente a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s• Organizar oficinas pedagógicas para os interlocutores/multiplica<strong>do</strong>res dasdiferentes etnias.• Quan<strong>do</strong> necessário, construir materiais culturalmente sensíveis com aparticipação da comunida<strong>de</strong>, que possam ser utiliza<strong>do</strong>s <strong>no</strong> trabalho contínuo.• Público das oficinas:• Interlocutores - AIS, AISAN, Auxiliares <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, professores,funcionários da FUNAI, parteiras, li<strong>de</strong>ranças, pajés etc.• Comunida<strong>de</strong> indígena.• Equipe necessária:• Equipe <strong>de</strong> forma<strong>do</strong>res.• Equipe multidisciplinar.• Antropólogo, lingüista, pedagogoA forma <strong>de</strong> realizar estas discussões com a comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> coma realida<strong>de</strong> local:• Muitas comunida<strong>de</strong>s prefer<strong>em</strong> que as oficinas reunam homens e mulheresseparadamente pois sent<strong>em</strong>-se mais a vonta<strong>de</strong> para expor questões relacionadasà sexualida<strong>de</strong>• Na elaboração das oficinas <strong>de</strong> prevenção é importante consi<strong>de</strong>rar asespecificida<strong>de</strong>s, organizan<strong>do</strong> os grupos por classe <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> casa<strong>do</strong>s e nãocasa<strong>do</strong>s, por ex<strong>em</strong>plo.• L<strong>em</strong>bramos que a maioria <strong>do</strong>s agentes indígenas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são homens, este é um<strong>do</strong>s fatores que faz<strong>em</strong> com que muitas mulheres não fal<strong>em</strong> sobre <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> comos agentes indígenas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por isso <strong>de</strong>ve-se estimular as mulheres para queatu<strong>em</strong> como agentes indígenas, especialmente realizan<strong>do</strong> ações <strong>de</strong> prevenção• Há situações <strong>em</strong> que a abordag<strong>em</strong> individual é a melhor estratégia para oestabelecimento <strong>do</strong> vinculo com as mulheres• Quan<strong>do</strong> o profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> leva informações pontuais até a comunida<strong>de</strong>por meio <strong>de</strong> palestras a população muitas vezes não se sente à vonta<strong>de</strong> e não t<strong>em</strong>espaço para elaborar suas dúvidas, neste senti<strong>do</strong>, não é recomenda<strong>do</strong> a utilização<strong>de</strong>sta prática para trabalhar ações <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>.


57• As especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada povo <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser respeitadas, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmoDSEI po<strong>de</strong>-se optar pela construção <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> cada etnia ou <strong>de</strong> ummaterial <strong>do</strong> DSEI que cont<strong>em</strong>ple as concepções <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong>ença <strong>de</strong> cada etnia.Nos locais on<strong>de</strong> houver materiais educativos já produzi<strong>do</strong>s, estes <strong>de</strong>verão seravalia<strong>do</strong>s quanto a sua eficácia enquanto instrumento <strong>de</strong> comunicação, para quese consi<strong>de</strong>re a real necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros materiais.Do PreservativoNo Brasil, as ações <strong>de</strong>senvolvidas para a prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> e a promoção dasaú<strong>de</strong> primam pela recomendação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> preservativo <strong>em</strong> todas as relações sexuais.Abordagens que recomendam a diminuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> parceiros, a abstinência ea fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> não têm ti<strong>do</strong> impacto entre as pessoas sexualmente ativas.Abordar as diversas práticas sexuais (anal, vaginal, oral), <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as diferentesvulnerabilida<strong>de</strong>s masculinas e f<strong>em</strong>ininas (biológicas e <strong>de</strong> gênero) é fundamentalpara que homens e mulheres percebam as situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, não apenasa partir <strong>do</strong> seu comportamento sexual, mas também <strong>de</strong> suas parcerias – homo e/ouheterossexuais.Avalian<strong>do</strong>-se a intensificação das relações das populações indígenas com a socieda<strong>de</strong>envolvente, t<strong>em</strong>-se observa<strong>do</strong> a orientação interna <strong>em</strong> diversas comunida<strong>de</strong>s sobrea necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> preservativo, nas relações sexuais estabelecidas fora dacomunida<strong>de</strong>. No entanto, percebe-se que este mecanismo po<strong>de</strong>, ainda, ser limita<strong>do</strong>como estratégia <strong>de</strong> prevenção, principalmente nas comunida<strong>de</strong>s que têm contatomais intenso e antigo com a socieda<strong>de</strong> envolvente.Para abordar o uso <strong>do</strong> preservativo como prática sexual segura, há então que serefletir sobre as particularida<strong>de</strong>s culturais <strong>no</strong> campo da sexualida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>se,também, as práticas a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> contato <strong>do</strong>s povos indígenas com asocieda<strong>de</strong> envolvente. Neste senti<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública visan<strong>do</strong> mudarcomportamentos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como <strong>de</strong> risco, <strong>de</strong>ve levar <strong>em</strong> conta a cultura que lhe ésubjacente. 3Usar o preservativo nas relações <strong>de</strong>ntro das al<strong>de</strong>ias e/ou fora <strong>de</strong>las? Esta é uma perguntaque v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> feita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se iniciaram as intervenções junto às populações indígenaspara se prevenir das <strong>DST</strong> e <strong>HIV</strong>/AIDS. Influenciam na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão quanto aouso <strong>do</strong> preservativo, as representações indígenas sobre corpo e seus flui<strong>do</strong>s, o processo<strong>de</strong> reprodução, a concepção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, os namoros conjugais e extra-conjugais.Os conselhos locais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser envolvi<strong>do</strong>s na discussão sobre as ações <strong>de</strong> prevençãoe disponibilização <strong>de</strong> preservativos. Experiências recentes <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> prevenção,que inclu<strong>em</strong> a capacitação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, têm aponta<strong>do</strong> algumas daspercepções <strong>de</strong>stes sobre o uso <strong>do</strong> preservativo pelos indígenas e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>não ser pensa<strong>do</strong> isoladamente da ação permanente <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Propostas• Abordar o uso <strong>do</strong> preservativo nas ações educativas e <strong>no</strong> momento <strong>do</strong>aconselhamento.3 Dominique Buchillet. Levantamento e avaliação <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> áreas indígenas da Amazônia Legal. 1998.


58<strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/<strong>HIV</strong>/AIDS <strong>no</strong> <strong>Contexto</strong> <strong>do</strong> Distrito Sanitário Especial IndígenaMinistério da Saú<strong>de</strong> - SVS - Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/ <strong>Aids</strong>• Disponibilizar preservativo masculi<strong>no</strong> para as ativida<strong>de</strong>s educativas e atendimentodas necessida<strong>de</strong>s das comunida<strong>de</strong>s <strong>no</strong> contexto das ações educativas, respeitan<strong>do</strong>seas especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada povo.• Os DSEI e os programas estaduais <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> planejar <strong>em</strong> conjunto eestabelecer logística para garantir o oferecimento <strong>de</strong> preservativos à comunida<strong>de</strong>,<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com suas necessida<strong>de</strong>s, <strong>no</strong>s postos indígenas, pólos-base, CASAI eassociações indígenas. Consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disponibilizar preservativosf<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>s.Diagnóstico e aconselhamento<strong>Aconselhamento</strong> é um diálogo basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> relação <strong>de</strong> confiança que visaproporcionar à pessoa condições para que ela avalie seus próprios riscos, tome<strong>de</strong>cisões e encontre maneiras realistas <strong>de</strong> enfrentar as situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>relaciona<strong>do</strong>s às <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>.O papel <strong>do</strong> profissional <strong>no</strong> aconselhamento:• Ouvir as preocupações <strong>do</strong> indivíduo;• Propor questões que facilit<strong>em</strong> a reflexão e a superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s;• Prover informação, apoio <strong>em</strong>ocional e auxiliar na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para a<strong>do</strong>ção<strong>de</strong> medidas preventivas na busca <strong>de</strong> uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidaO aconselhamento <strong>de</strong>ve estar presente <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os momentos da atenção à saú<strong>de</strong>, eletranscen<strong>de</strong> o âmbito da testag<strong>em</strong> e contribui para a qualida<strong>de</strong> das ações educativas<strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Fundamenta-se <strong>em</strong> prerrogativas éticas que reforçam e estimulam aa<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> prevenção das <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> e que orientam os indivíduos <strong>no</strong>caminho da cidadania e na plena utilização <strong>do</strong>s seus direitos.Os programas estaduais <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> po<strong>de</strong>rão organizar, <strong>em</strong> conjunto com os DSEIe Pólos <strong>de</strong> educação permanente, cursos <strong>de</strong> aconselhamento para os profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que atuam com a população indígena –médicos, enfermeiros, auxiliares<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e agentes indígenas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> lota<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s postos indígenas, pólos-base eCASAI.O manual e a meto<strong>do</strong>logia para aconselhamento <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s para a atenção básica<strong>de</strong>verão ser utiliza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> treinamentos para profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> indígena paraincorporação das recomendações que atendam às especificida<strong>de</strong>s da populaçãoindígena.* IN Diretrizes para implantar o programa <strong>de</strong> <strong>DST</strong> <strong>Aids</strong> <strong>no</strong>s Distritos Sanitários Especiais Indígena – PN<strong>DST</strong> AIDS/SVS/MS e DESAI/FUNASA - 2005


59Referências BibliográficasTextos Utiliza<strong>do</strong>s:DAVINI, M.C. Comunicação, Informação e Ação Social, in Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s das <strong>Oficina</strong>s <strong>de</strong> CapacitaçãoPedagógica. Programa Nacional <strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong>, Ministério da Saú<strong>de</strong>, 2001.MINISTÉRIO DA SAÚDE. Prerrogativas éticas da oferta <strong>do</strong> teste anti-<strong>HIV</strong>. In: Diretrizes básicas paraos CTA. Brasília, DF, 1999.MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ações <strong>de</strong> Prevenção ao <strong>HIV</strong> e outras <strong>DST</strong> na Atenção Básica à Saú<strong>de</strong>. In:Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Atenção Básica – Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família, Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> 13 – Atenção Básica às <strong>DST</strong>e Infecção pelo <strong>HIV</strong>/<strong>Aids</strong>. Brasília, DF, 2003Texto <strong>do</strong> Professor. Indígena Alg<strong>em</strong>iro Verá Mirim constante <strong>do</strong> relatório final <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> prevenção<strong>de</strong> <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com os índios guarani <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro : “ Os valores a gentenão percebe quan<strong>do</strong> per<strong>de</strong> e toma os valores <strong>do</strong> Juruá”Leitura compl<strong>em</strong>entar:ARAÚJO, C.L.F. - A Prática <strong>do</strong> <strong>Aconselhamento</strong> <strong>em</strong> <strong>DST</strong>/AIDS e a Integralida<strong>de</strong>. In: Mattos, R. ePinheiro, R. (org). Construção da Integralida<strong>de</strong>: cotidia<strong>no</strong>, saberes e práticas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro:UERJ, IMS:ABRASCO, 2003. (pag 145 - 168)CAMARGO Jr. K. R. – Prevenções <strong>de</strong> <strong>HIV</strong>/AIDS: <strong>de</strong>safios múltiplos. In: Divulgação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> paraDebate, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n.27, p. 70-80, ago 2003.GARNELO, L.; Sampaio, Suly; Solva, Raimunda e Rocha, Esron – Representações indígenas sobre <strong>DST</strong>/<strong>Aids</strong> <strong>no</strong> Alto Rio Negro – aspectos preliminaresLANGDON, E. J.- As relações entre saú<strong>de</strong> e cultura: implicações para as estratégias <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> aids– Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa CatarinaPAIVA, Vera. - S<strong>em</strong> mágicas soluções: a prevenção <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> e da AIDS como um processo <strong>de</strong> EmancipaçãoPsicossocial. In: Divulgação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> para Debate, Rio <strong>de</strong> Janeiro, n.27, p. 58-69, agosto 2003.VASCONCELOS, E. M. - Introdução. In: Educação popular e a atenção à saú<strong>de</strong> da família. São Paulo:HUCITEC/Ministério da Saú<strong>de</strong>, 1999.WIIK, F. B. - Contato, epi<strong>de</strong>mias e corpo como agentes <strong>de</strong> transformação: um estu<strong>do</strong> sobre a aids entreos índios Xokleng <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil – Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública – Rio <strong>de</strong> Janeiro- março/abril <strong>de</strong> 2001GONÇALVES, M. A. – A essência <strong>do</strong> cosmo: etoibii, “o sangue <strong>do</strong> sexo” – in O Mun<strong>do</strong> Inacaba<strong>do</strong> – açãoe criação <strong>em</strong> uma cosmologia amazônica – Et<strong>no</strong>grafia Pihahã – Editora UFRJ, 2001MINDLIN, B. – Mito e Sexualida<strong>de</strong> – s<strong>em</strong> informação


Esta publicação é uma adaptação <strong>de</strong> proposta<strong>de</strong> capacitação elaborada para o processo <strong>de</strong><strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> diagnóstico <strong>do</strong> <strong>HIV</strong> na re<strong>de</strong> básica<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> SUS.Organiza<strong>do</strong>rasVera Lopes <strong>do</strong>s Santos – PN <strong>DST</strong> AIDSDenise Serafim – PN <strong>DST</strong> AIDSOrganiza<strong>do</strong>ra da <strong>Oficina</strong> <strong>de</strong> ValidaçãoMaria Dulcimer Del Castilo – DESAI/FUNASAConsultoria para esta ediçãoMarlene Oliveira- socióloga/SMS LondrinaMaria Gorete Me<strong>de</strong>iros – Enfermeira CTA/DFColabora<strong>do</strong>res na validação da propostaProfissionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Distritos SanitáriosEspeciais IndígenaAna Maria Nóbrega <strong>de</strong> Góes – DSEI Litoral SulRosangela Borges Giubin – DSEI Litoral SulElaine Ferreira Farias Ktzwinkel – DSEI Alto SolimõesVeronica Maria Vasconcelos <strong>de</strong> Almeida - DSEI AltoSolimõesGerliane Sousa Moura – DSEI Alto Rio NegroSizinan<strong>do</strong> Joel Pontes Lobato – DSEI Alto Rio NegroLuciola Maroa Inacio Belfort – DSEI AraguaiaJanaina Alves Sato – DSEI AraguaiaGisele Gomes Barbosa – DSEI AP/PASuely Costa Oliveira – DSEI AP/PAMaria Nazare Correia <strong>de</strong> Menezes – DSEI PELucia Maria Sobral Macha<strong>do</strong> – DSEI PEZELIK TRABJER – DSEI Mato Grosso <strong>do</strong> SulErika Kaneta Ferri - DSEI Mato Grosso <strong>do</strong> SulAlayna <strong>de</strong> Araujo Costa – DSEI MAMonica Elsy Coelho – DSEI MACelso Possobom Mafa – DSEI Kayapó PAMaria das Graças Pamplona – DSEI Kayapó PAIsolda Gerlane Dantas <strong>de</strong> Freitas – DSEI Leste <strong>de</strong>RoraimaAlgiane <strong>de</strong> Cassia Aragão Reis – DSEI Leste <strong>de</strong>RoraimaRevisão finalVera Lopes <strong>do</strong>s SantosDenise SerafimAssessor Responsável Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PrevençãoIvo BritoAssessora Adjunta Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PrevençãoHenriette Ahrens

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