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O efeito do tamanho de grão austenítico no número de orientaçõesdas variantes de martensita em ligas inoxidáveis com efeito dememória de formaJorge OtuboDoutor, Prof. Adjunto, ITA/CTA, jotubo@ita.brPaulo Roberto MeiDoutor, Prof. Titular, UNICAMP/FEM/DEMA, pmei@fem.unicamp.brNelson Batista de LimaDoutor, IPEN/CCTM, nblima@ipen.brMarilene Morelli SernaDoutor, CCTM/IPENEguiberto GallegoDoutor, CCTM/IPENResumoO Efeito de Memória de Forma em ligas inoxidáveis está associado àtransformação martensítica não termoelástica γ (cfc) ↔ ε (hc).Trabalhos recentes do grupo têm demonstrado que o tamanho de grãoda fase austenítica é um dos parâmetros importantes no grau derecuperação de forma bem como em outras propriedades como a tensãode escoamento, dureza e teor de martensita induzida. Usando atécnica de EBSD, este trabalho mostra que além dos parâmetrosacima mencionados, o número de orientações das variantes damartensita decresce com o decréscimo do tamanho de grão.Palavra Chave: Ligas Inoxidáveis, Tamanho de Grão, Efeito deMemória de Forma, Difração de Elétrons Retro­espalhados, EBSDAbstractThe shape memory effect of stainless shape memory alloy isassociated to non­thermolastic g (CFC) ↔ e (HCP) martensitictransformation. Recent results by authors group have demonstratedthat the parent austenite grain size is a important parameter onthe degree of shape recovery and also in some others propertiessuch as yield stress, hardness and volume fraction of thermalmartensite. Using EBSD, this work shows that beside the abovementioned parameters, the number of martensite variant orientationalso depends on the grain size decreasing as the grain sizedecreases.Key Word: Stainless shape memory alloy, Grain size, Shape Memory,Electron Back Scattering Diffraction, EBSD

O <strong>efeito</strong> <strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> <strong>austenítico</strong> <strong>no</strong> <strong>número</strong> <strong>de</strong> <strong>orientações</strong>das variantes <strong>de</strong> martensita em ligas i<strong>no</strong>xidáveis com <strong>efeito</strong> <strong>de</strong>memória <strong>de</strong> formaJorge OtuboDoutor, Prof. Adjunto, ITA/CTA, jotubo@ita.brPaulo Roberto MeiDoutor, Prof. Titular, UNICAMP/FEM/DEMA, pmei@fem.unicamp.brNelson Batista <strong>de</strong> LimaDoutor, IPEN/CCTM, nblima@ipen.brMarilene Morelli SernaDoutor, CCTM/IPENEguiberto GallegoDoutor, CCTM/IPENResumoO Efeito <strong>de</strong> Memória <strong>de</strong> Forma em ligas i<strong>no</strong>xidáveis está associa<strong>do</strong> àtransformação martensítica não termoelástica γ (cfc) ↔ ε (hc).Trabalhos recentes <strong>do</strong> grupo têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> que o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>da fase austenítica é um <strong>do</strong>s parâmetros importantes <strong>no</strong> grau <strong>de</strong>recuperação <strong>de</strong> forma bem como em outras proprieda<strong>de</strong>s como a tensão<strong>de</strong> escoamento, dureza e teor <strong>de</strong> martensita induzida. Usan<strong>do</strong> atécnica <strong>de</strong> EBSD, este trabalho mostra que além <strong>do</strong>s parâmetrosacima menciona<strong>do</strong>s, o <strong>número</strong> <strong>de</strong> <strong>orientações</strong> das variantes damartensita <strong>de</strong>cresce com o <strong>de</strong>créscimo <strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>.Palavra Chave: Ligas I<strong>no</strong>xidáveis, Tamanho <strong>de</strong> Grão, Efeito <strong>de</strong>Memória <strong>de</strong> Forma, Difração <strong>de</strong> Elétrons Retro­espalha<strong>do</strong>s, EBSDAbstractThe shape memory effect of stainless shape memory alloy isassociated to <strong>no</strong>n­thermolastic g (CFC) ↔ e (HCP) martensitictransformation. Recent results by authors group have <strong>de</strong>monstratedthat the parent austenite grain size is a important parameter onthe <strong>de</strong>gree of shape recovery and also in some others propertiessuch as yield stress, hardness and volume fraction of thermalmartensite. Using EBSD, this work shows that besi<strong>de</strong> the abovementioned parameters, the number of martensite variant orientationalso <strong>de</strong>pends on the grain size <strong>de</strong>creasing as the grain size<strong>de</strong>creases.Key Word: Stainless shape memory alloy, Grain size, Shape Memory,Electron Back Scattering Diffraction, EBSD


1. IntroduçãoO <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ligas i<strong>no</strong>xidáveis com <strong>efeito</strong> <strong>de</strong> memória <strong>de</strong>forma (EMF) iniciou­se na década <strong>de</strong> 90 basea<strong>do</strong>s em trabalhosanteriores sobre Fe­Mn e Fe­Mn­Si [Sato, 1982, 1986 e 1988, Enami,1975 e Shiming, 1991]. Em comum essas ligas apresentam atransformação martensítica não termoelástica γ (cfc) ↔ ε (hc) queé a base <strong>do</strong> EMF. A liga Fe­Mn­Si é uma liga <strong>de</strong> baixo custo comrecuperação <strong>de</strong> forma em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2% e portanto apenas razoável.Além disso, tem a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> difícil trabalhabilida<strong>de</strong> e baixaresistência à corrosão o que inviabiliza muitas aplicações. Nadécada <strong>de</strong> 90 iniciaram­se as pesquisas <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ligasi<strong>no</strong>xidáveis <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> sanar os problemas acima cita<strong>do</strong>s a umcusto razoável [Inagaki, 1992, Moriya, 1991 e Yang, 1992a, 1992b e1992c]. No Brasil, o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> ligas i<strong>no</strong>xidáveis com EMF iniciouseem mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 90 ten<strong>do</strong> gera<strong>do</strong> i<strong>número</strong>s trabalhos [Otubo, 1994a,1994b, 1995a, 1995b, 1996a, 1996b, 1996c, 1999 e 2002, Nascimento,1999, 2002 e 2003 e Bue<strong>no</strong>, 2006].Otubo, na sua tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, verificou que a recuperação <strong>de</strong>forma e outras proprieda<strong>de</strong>s mecânicas eram muito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong><strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>. Para um mesmo tratamento termomecânico, omaterial com <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> me<strong>no</strong>r sempre apresentava melhorrecuperação <strong>de</strong> forma. Para uma <strong>de</strong>formação inicial <strong>de</strong> 4% portração, a recuperação <strong>de</strong> forma <strong>do</strong> material com me<strong>no</strong>r <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong><strong>grão</strong> era <strong>de</strong> praticamente 80% enquanto para a liga comgranulometria grosseira, a recuperação <strong>de</strong> forma, para a mesmaporcentagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, era <strong>de</strong> 65%. Após alguns ciclos <strong>de</strong>treinamento, o primeiro apresentava uma recuperação <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>95%, comparável aos melhores resulta<strong>do</strong>s publica<strong>do</strong>s na literatura ea segunda <strong>de</strong> 90%, que também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um bomresulta<strong>do</strong>. Posteriormente, para confirmar as hipóteses <strong>do</strong> <strong>efeito</strong><strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> nas proprieda<strong>de</strong>s acima citadas, uma série <strong>de</strong>trabalhos foram feitos, <strong>de</strong>sta feita fixan<strong>do</strong>­se a composiçãoquímica. Verificou­se que quanto me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>, maiorera a recuperação <strong>de</strong> forma após <strong>de</strong>formação e posterioraquecimento. A fração volumétrica da martensita ε induzidamecanicamente era tanto maior quanto me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> e queapós o aquecimento para recuperação <strong>de</strong> forma, a fração volumétricada martensita residual era tanto maior quanto maior o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong><strong>grão</strong>. Além disso, verificou­se que a tensão <strong>de</strong> escoamento a 0,2%<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>de</strong>crescia com o <strong>de</strong>créscimo <strong>no</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>. Istoé, apresenta o comportamento inverso <strong>do</strong>s materiais convencionaisditadas pela equação <strong>de</strong> Hall­Pech. Estes fatos levam a concluirque a indução e a conseqüente reversão da martensita ε éfacilitada com a diminuição <strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> comprovan<strong>do</strong> ashipóteses iniciais [Nascimento, 2002 e 2003 e Otubo, 2002]. Nestetrabalho comprova­se a hipótese <strong>de</strong> que a facilida<strong>de</strong> ou não <strong>de</strong>induzir a martensita termicamente ou mecanicamente estárelacionada ao aparecimento ou não <strong>de</strong> diversas variantes <strong>de</strong>martensita <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mesmo <strong>grão</strong> e que o <strong>número</strong> <strong>de</strong> variantes<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>.


2. Procedimento ExperimentalPara este trabalho foram utilizadas duas composições: Amostra A– Fe­9Cr­5Ni­14Mn­5,5Si e amostra B – Fe­13Cr­6Ni­8Mn­5,5Si­12Co.Os lingotes <strong>de</strong> dimensões 65x65mm 2 foram elabora<strong>do</strong>s em um for<strong>no</strong> <strong>de</strong>indução a vácuo, aqueci<strong>do</strong>s a 1180°C/2h e forja<strong>do</strong>s a quente para40x40mm 2 , secciona<strong>do</strong>s longitudinalmente para 20x20mm 2 , reaqueci<strong>do</strong>sa 1100°C/1h e lamina<strong>do</strong>s a quente para vergalhão <strong>de</strong> 6x6mm 2 <strong>de</strong> cantosarre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>s. Após a laminação, os vergalhões foram solubiliza<strong>do</strong>sa 1050°C por 40 minutos e resfria<strong>do</strong>s em água.Os materiais <strong>de</strong> partida para este trabalho são os vergalhões <strong>no</strong>esta<strong>do</strong> solubiliza<strong>do</strong> a 1040°C/40min. e amostras retiradas na suassecções transversais para análise microestrutural.Para análise metalográfica, as amostras foram polidas em pasta<strong>de</strong> diamante até 1µm, atacadas em solução <strong>de</strong> HNO 3 + HF + H 2 O.Posteriormente, para aumentar a fração volumétrica da martensita εinduzida termicamente, as amostras foram imersas em nitrogêniolíqui<strong>do</strong> por 1h e polidas em sílica coloidal para difração <strong>de</strong> raiosX e análise por elétrons retro­espalha<strong>do</strong>s.A difração <strong>de</strong> raios X para <strong>de</strong>terminação das frações volumétricasdas fases γ e ε foi realizada em um difratômetro Rigaku, mo<strong>de</strong>loMulitplex com radiação CuKα com mo<strong>no</strong>croma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Si.A análise por difração <strong>de</strong> elétrons retro­espalha<strong>do</strong>s foirealizada com sistema <strong>de</strong> aquisição e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>pela TexSEM Laboratories Inc e acopla<strong>do</strong> ao microscópio <strong>de</strong>varredura mo<strong>de</strong>lo XL­30 da Fei­Philips utilizan<strong>do</strong> tensão <strong>de</strong>aceleração <strong>de</strong> 20kV. A varredura para amostra A foi <strong>de</strong> 1µm/passocom a média <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> confiança da imagem <strong>de</strong> 0,33 e média <strong>de</strong>índice <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 107.96 e para a amostra B foi <strong>de</strong> 2µm/passocom a média <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> confiança da imagem <strong>de</strong> 0,58 e média <strong>de</strong>índice <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 140,32.3. Resulta<strong>do</strong>s e discussõesAs figuras 1 e 2 apresentam micrografias <strong>de</strong> amostrassimplesmente solubilizadas a 1050°C por 40 minutos com <strong>tamanho</strong>médio <strong>de</strong> <strong>grão</strong>s <strong>de</strong> 60µm e 180µm respectivamente para as amostras Ae B, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> uma primeira diferença. A amostra A é aquela queem trabalhos anteriores sempre apresentou melhor recuperação <strong>de</strong>forma em comparação com a amostra B para um mesmo tratamentotermomecânico. Resulta<strong>do</strong>s anteriores mostraram que as fraçõesvolumétricas medidas por difração <strong>de</strong> raios X da martensita ε eram<strong>de</strong> 5% e 3% respectivamente para as amostras A e B [Otubo, 1996c].


A figura 3 apresenta imagens <strong>de</strong> elétrons retro­espalha<strong>do</strong>s para aamostra A, após imersão em nitrogênio líqui<strong>do</strong> por uma hora,apresentan<strong>do</strong> fração volumétrica <strong>de</strong> martensita ε induzidatermicamente <strong>de</strong> 67% e austenita γ residual <strong>de</strong> 33% medida pordifração <strong>de</strong> raios X. As fases ε (hc) e γ (cfc) estão tambémindicadas simbolicamente com suas respectivas <strong>orientações</strong>. Afigura 4 correspon<strong>de</strong> à amostra B cujo teor <strong>de</strong> martensita εinduzida termicamente é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 22% e austenita nãotransformada <strong>de</strong> 78%, <strong>de</strong><strong>no</strong>tan<strong>do</strong> uma segunda gran<strong>de</strong> diferença. Istoé, material <strong>de</strong> granulometria mais fina, amostra A, com <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong><strong>grão</strong> médio <strong>de</strong> 60µm apresenta uma transformação martensítica muitomais pronunciada que a amostra B. Uma terceira observação, objeto<strong>de</strong>sse trabalho, se refere aos mo<strong>do</strong>s da transformação martensítica.Como previsto anteriormente [Otubo, 2002], na amostra A quan<strong>do</strong> um<strong>grão</strong> se transforma, a transformação é geralmente completa e o <strong>grão</strong>como um to<strong>do</strong> apresenta orientação única, isto é, uma únicavariante <strong>de</strong> martensita aparece como indica<strong>do</strong> pela coloraçãouniforme. Já a amostra B, <strong>de</strong> granulometria mais grossseira, com<strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> médio <strong>de</strong> 180µm, além <strong>de</strong> induzir me<strong>no</strong>s martensita,quan<strong>do</strong> induz, apresenta diversas variantes num mesmo <strong>grão</strong>,principalmente naqueles maiores. Por exemplo, o <strong>grão</strong> <strong>de</strong> coralaranjada, próximo ao canto superior direito, com dimensão maiorda or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 200µm, apresenta três variantes <strong>de</strong> martensita <strong>de</strong> coreslilás, rosa e vermelha e com fun<strong>do</strong> alaranja<strong>do</strong> <strong>de</strong> austenita nãotransformada com as respectivas estruturas cristalinas associadas.Alem disso, as variantes <strong>de</strong> martensita ε não “varrem” toda aextensão <strong>do</strong> <strong>grão</strong> e apresentam­se truncadas. Outros <strong>grão</strong>s maiores,<strong>de</strong>ssa mesma amostra, apresentam também diversas variantes <strong>de</strong>martensita em direções diferenciadas e truncadas. Poucas são asvariantes <strong>de</strong> martensita que atravessam <strong>de</strong> um contor<strong>no</strong> a outro. Poroutro la<strong>do</strong>, a amostra A, cujo maior <strong>grão</strong> (na área analisada), <strong>de</strong>cor lilás localizada na região central inferior, <strong>de</strong> dimensões daor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 45µm, apresenta­se completamente transformada e com umaúnica orientação (cor única). O <strong>grão</strong> vizinho superior, um poucome<strong>no</strong>r, apresenta duas variantes <strong>de</strong> martensita (lilás escura erosa) esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>­se praticamente <strong>de</strong> um contor<strong>no</strong> a outro. Outros<strong>grão</strong>s me<strong>no</strong>res nesta mesma amostra apresentam­se completamentetransformadas, cada uma com uma única orientação. Um outro fatoque po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong>, a partir das figuras geométricas daestrutura cristalina associada, é a relação <strong>de</strong> orientação entre asduas fases γ (cfc) e ε (hc). A interface entre as duas fasesapresenta a relação <strong>de</strong> Shoji­Nishiyama, ou seja, a direção//, isto é, o pla<strong>no</strong> {111} da estrutura CFC coinci<strong>de</strong> como pla<strong>no</strong> basal {0001} da estrutura HC justifican<strong>do</strong> a formação daestrutura hexagonal a partir da estrutura CFC através da passagemdas discordâncias parciais <strong>de</strong> Schockley a cada <strong>do</strong>is pla<strong>no</strong>satômicos [Nishiyama, 1978].


Figura 1. Amostra A,1050°C/40min.; TG=60µmFigura 2. Amostra B,1050°C/40min.; TG=180µm.Figura 2. Amostra A, imagens <strong>de</strong> elétrons retroespalha<strong>do</strong>s,Tamanho <strong>de</strong> Grão 60µ


Figura 4. Amostra B, imagem <strong>de</strong> elétrons retroespalha<strong>do</strong>s,<strong>tamanho</strong> <strong>grão</strong> 180µmEm trabalhos anteriores havia si<strong>do</strong> mostra<strong>do</strong> que materiais comgranulometria mais fina comparadas àquelas com granulometriagrosseira apresentavam: (1) a tensão <strong>de</strong> escoamento a 0,2% <strong>de</strong><strong>de</strong>formação (tensão necessária para induzir a martensita emecanicamente) era tanto me<strong>no</strong>r quanto me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>; (2)a fração volumétrica da martensita ε induzida mecanicamente parauma mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação macroscópica era tanto maiorquanto me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> e que a reversão <strong>de</strong>sta martensita<strong>no</strong> aquecimento (para recuperação <strong>de</strong> forma) era tanto maior quanto


me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> e (3) sem contar o <strong>efeito</strong> <strong>do</strong> treinamento,tinha­se uma recuperação <strong>de</strong> forma, após 4% <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação portração e posterior aquecimento, <strong>de</strong> praticamente 80% e 65%respectivamente para as amostras A e B [Otubo, 1995a, 1995b,1996c, 2002 e Nascimento, 2002]. A esses da<strong>do</strong>s vem se somar osda<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s neste trabalho mostran<strong>do</strong> que a amostra A comgranulometria me<strong>no</strong>r (média <strong>de</strong> 60µm) apresenta fração <strong>de</strong> martensitatérmica induzida termicamente, após imersão em nitrogênio líqui<strong>do</strong>,3 vezes superior que a amostra B <strong>de</strong> granulometria grosseira (média<strong>de</strong> 180µm). Ogawa e Kajiwara [Ogawa, 1993] trabalhan<strong>do</strong> com ligasimilar a amostra A, através <strong>de</strong> um tratamento termomecânicoespecial, obteve recuperação <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> 80% após <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> 4%por tração e atribuiu o bom resulta<strong>do</strong> à formação <strong>de</strong> falhas <strong>de</strong>empilhamento <strong>de</strong> estrutura hc, em escala na<strong>no</strong>métrica, espalha<strong>do</strong>s <strong>de</strong>maneira uniforme <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>grão</strong> que funcionariam como núcleos <strong>de</strong>estrutura hc durante a <strong>de</strong>formação mecânica. Otubo, trabalhan<strong>do</strong> comamostras simplesmente solubilizadas, sem o tratamentotermomecânico especial cita<strong>do</strong> por Ogawa e Kajiwara, obteve osmesmos resulta<strong>do</strong>s para a amostra A. Uma das razões para esse bom<strong>de</strong>sempenho, além da composição química, seria a amostra Aapresentar granulometria fina [Otubo, 1996c]. Posteriormente,fixan<strong>do</strong>­se a composição química e varian<strong>do</strong>­se a granulometria <strong>do</strong>material, para uma amostra com adição <strong>de</strong> cobalto, semelhante àamostra B, os resulta<strong>do</strong>s se repetiram, isto é, amostras comgranulometria mais fina apresentaram melhores resulta<strong>do</strong>s em termos<strong>de</strong> indução da martensita mecanicamente, melhor recuperação <strong>de</strong>forma, etc. [Nascimento, 2002].A transformação martensítica direta se dá pela movimentação dasdiscordâncias parciais <strong>de</strong> Shockley que geram <strong>de</strong>formações <strong>de</strong>cisalhamento que <strong>de</strong>vem ser acomodadas elasticamente <strong>no</strong>s contor<strong>no</strong>s<strong>de</strong> <strong>grão</strong>. Essa acomodação po<strong>de</strong> ser favorecida em amostras comgranulometria mais fina que disponibiliza maior área superficial.Além disso, para que a transformação ocorra, as parciais <strong>de</strong>Shockley <strong>de</strong>vem percorrer <strong>de</strong> um contor<strong>no</strong> a outro e se varrerlateralmente. Segun<strong>do</strong> Otubo, quanto me<strong>no</strong>r o <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>, me<strong>no</strong>ré distância que as parciais <strong>de</strong> Shockley <strong>de</strong>vem percorrer paraatingir os contor<strong>no</strong>s <strong>de</strong> <strong>grão</strong>s. Se a granulometria é grosseira, adistância a ser percorrida pelas parciais <strong>de</strong> Shockley é maior emuitas vezes, é energeticamente favorável nuclear uma outravariante para aliviar a tensão <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação gerada pelatransformação [Otubo, 2002]. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s neste trabalhocomprovam essas hipóteses preliminares. A amostra A, comgranulometria média <strong>de</strong> 60µm, apresenta­se com quase 70% <strong>de</strong>martensita induzida termicamente, com a maioria <strong>do</strong>s <strong>grão</strong>sapresentan<strong>do</strong> variante com orientação única enquanto, aquela comgranulometria grosseira, amostra B com 180µm, apresenta <strong>grão</strong>s,principalmente os maiores, com várias variantes <strong>de</strong> martensita <strong>de</strong>diferentes <strong>orientações</strong> e, muitas vezes sem atingir o contor<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>grão</strong>. Além disso, a fração volumétrica <strong>de</strong> martensita induzidatermicamente foi apenas <strong>de</strong> 22%. Po<strong>de</strong>­se concluir, portanto, quegranulometria fina favorece o movimento <strong>de</strong> ida e volta dasdiscordâncias parciais <strong>de</strong> Shockley, portanto, favorecen<strong>do</strong> umamelhor recuperação <strong>de</strong> forma.


4. ConclusõesUtilizan<strong>do</strong> a técnica <strong>de</strong> retro­espalhamento <strong>de</strong> elétrons,microscopia ótica e difração <strong>de</strong> raios X, pô<strong>de</strong>­se complementar ecomprovar hipóteses levantadas em trabalhos anteriores explican<strong>do</strong>as razões <strong>do</strong> melhor ou pior <strong>de</strong>sempenho em termos <strong>de</strong> <strong>efeito</strong> <strong>de</strong>memória <strong>de</strong> forma em função <strong>do</strong> <strong>tamanho</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong> <strong>do</strong> material.Amostra <strong>de</strong> granulometria mais fina, amostra A, apresentou fraçãovolumétrica <strong>de</strong> martensita ε induzida termicamente por imersão emnitrogênio líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> 67% contra 22% da amostra B <strong>de</strong> granulometriamais grosseira.Dentro <strong>de</strong> um mesmo <strong>grão</strong>, quan<strong>do</strong> ocorre, a transformaçãomartensítica geralmente é completa e com a variante apresentan<strong>do</strong>uma única orientação para material com granulometria fina enquantoaquela com granulometria grosseira, quan<strong>do</strong> se transforma, aparecemvárias variantes e as mesmas muitas vezes são truncadas nãoalcançan<strong>do</strong> o contor<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>grão</strong>.Observou­se também que a interface austenita martensita obe<strong>de</strong>cea relação <strong>de</strong> Shoji­Nishiyama, ou seja, //. Amovimentação <strong>de</strong>ssa interface faz aparecer ou <strong>de</strong>saparecer a fasemartensítica, seja ela induzida termica ou mecanicamente.Agra<strong>de</strong>cimentosÀ FAPEPSP pelo apoio financeiro a esse projeto, processo00/09730­1, CT INFRA 03/2003, CT PROINFRA 01/2005/153.Ao CNPq, à Villares Metals SA, à UNICAMP e ao CTA/ITA pelo apoioao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ligas com Efeito <strong>de</strong> Memória <strong>de</strong> Forma.ReferênciasBue<strong>no</strong>, J. C., Nascimento, F. C., Otubo, J., Lepienski, C. M., andMei, P. R.; 2006, “Phase i<strong>de</strong>ntification by optical metallographywith na<strong>no</strong>in<strong>de</strong>ntation in stainless shape memory alloys”, Advancesin Materials and Processing Tech<strong>no</strong>logies – AMPT 2006, July 30 –August 03, 2006, Las Vegas, Nevada, USA.Enami, K., Nagasawa, A. e Nen<strong>no</strong>, S.; “Reversible shape memoryeffect in Fe­base alloys”, Scripta Metallurgica, 9, 941­948,1975.


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