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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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comprova que a ingerência militar na política traduz baixos níveis <strong>de</strong> profissionalização; 3º)intensida<strong>de</strong> dos problemas conjunturais que po<strong>de</strong>m conduzir rapidamente ao saudosismo dociclo autoritário. Entre os vários exemplos que suscita, sobressaem os da Alemanha eEspanha. Nos anos cinqüenta, a li<strong>de</strong>rança da reconstrução (A<strong>de</strong>nauer, sobretudo) não tinhaqualquer espécie <strong>de</strong> sustentação interna, situação que se prolongou por um largo período.Huntington louva-se da opinião <strong>de</strong> estudiosos que concluíram ter a sustentação daRepública Fe<strong>de</strong>ral resultado basicamente do ingresso na vida política das novas gerações. Ointerregno foi, portanto, muito dilatado. Na Espanha, em contrapartida, apesar doagravamento dos problemas (notadamente inflação e <strong>de</strong>semprego), a opinião encaminhouseno sentido <strong>de</strong> apostar em mudanças segundo o próprio mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>mocrático e não numavolta ao franquismo; 4º) a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> florescer uma cultura favorável à <strong>de</strong>mocracia.Huntington não o diz expressamente mas, po<strong>de</strong>-se inferir do mo<strong>de</strong>lo em que situa o Brasil ea Argentina, que esta é uma circunstância <strong>de</strong>sfavorável <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> peso nos dois países,on<strong>de</strong> as tradições culturais mais arraigadas não ajudam a <strong>de</strong>mocracia; e, 5º) ainstitucionalização do comportamento político <strong>de</strong>mocrático. Tal resultado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>reformas que a própria beneficiária (a elite política) reluta em empreen<strong>de</strong>r, como se dá noBrasil em relação ao sistema eleitoral, para citar um exemplo afeiçoado ao que o autor temem vista.O livro conclui numa análise das possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reversão, a exemplo das quesurgiram nas ondas anteriores. Desse ângulo atribui certa importância à duração do ciclo<strong>de</strong>mocrático subseqüente à segunda guerra, bem como o relacionamento externo com omundo <strong>de</strong>mocrático. No que se refere ao último aspecto, consi<strong>de</strong>ra extremamente favorávela situação dos países que vieram a integrar um bloco <strong>de</strong>mocrático, a exemplo do MercadoComum Europeu. Situa o Brasil entre aquelas nações em que tais circunstâncias sãoindiferentes ou <strong>de</strong>sfavoráveis, isto é, não há uma influência externa po<strong>de</strong>rosa capaz <strong>de</strong> criaruma situação irreversível (como seria, por exemplo, o caso da criação do mercadoamericano, resultante do que se está formando entre EE.UU., México e Canadá, ao quala<strong>de</strong>ríssemos). Contém ainda uma apreciação das chances (remotas) dos países africanos eislâmicos virem a engrossar a onda <strong>de</strong>mocrática.Alguns ensinamentos po<strong>de</strong>m ser extraídos do posicionamento que Huntingtonatribui ao Brasil, nas ondas <strong>de</strong>mocráticas que tipificou, mas também na consi<strong>de</strong>raçãoespecífica das dificulda<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m turbar o sucesso da abertura <strong>de</strong>mocrática.Talvez seja pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>talharmos em que situação fica o Brasil nos fluxos erefluxos <strong>de</strong>mocráticos, examinando a sua situação <strong>de</strong> per si.Na primeira onda, o Brasil não conseguiu consolidar minimamente a<strong>de</strong>mocracia. O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do nosso sistema político começa com a LeiSaraiva (1881), ao liberalizar o censo na cida<strong>de</strong> e permitir que se firmasse a li<strong>de</strong>rança doPartido Liberal, nas áreas urbanizadas do país, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do apoio que pu<strong>de</strong>ssereceber do sistema. No fim da década, com a proclamação da República, <strong>de</strong>cidiu-secomeçar da estaca zero, optando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo por uma solução autoritária (partido único).Veio <strong>de</strong>pois o sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>golas dos eleitos que po<strong>de</strong>riam enfraquecer a maioria,<strong>de</strong>sfigurando inteiramente a representação. Na década <strong>de</strong> trinta, após a Revolução, criam-seas condições para que ingressássemos plenamente no refluxo que passou a grassar nomundo, com a imposição do Estado Novo.Estivemos presentes na segunda onda, na qual tivemos aqui o interregno<strong>de</strong>mocrático 1945/1964. Tanto em nosso caso como nos <strong>de</strong>mais países, essa onda duroupouco (em torno <strong>de</strong> vinte anos, na hipótese <strong>de</strong> Huntington).9

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