4 2fascinação magnética, que lhes daltoniza completamente a visão nacional dosnossos problemas. Sob esse fascínio inelutável, per<strong>de</strong>m a noção objetiva doBrasil real e criam para uso <strong>de</strong>les um Brasil artificial e peregrino, um Brasil <strong>de</strong>manifesto aduaneiro, ma<strong>de</strong> in Europe - sorte <strong>de</strong> cosmorama extravagante, sobrecujo fundo <strong>de</strong> florestas e campos, ainda por <strong>de</strong>scobrir e civilizar, passam erepassam cenas e figuras tipicamente européias".Essa caracterização encontra-se em sua primeira obra - Populaçõesmeridionais do Brasil (1920) - on<strong>de</strong> também se acha esboço <strong>de</strong> solução,amadurecida plenamente em Instituições políticas brasileiras (1949). OliveiraVianna expressa com clareza o ponto <strong>de</strong> vista que encontra crescentemente novosa<strong>de</strong>ptos: tornar o Estado um gran<strong>de</strong> centro aglutinador <strong>de</strong> transformação social,apto a "fundir moralmente o povo na consciência perfeita e clara <strong>de</strong> sua unida<strong>de</strong>nacional e no sentimento político <strong>de</strong> um alto <strong>de</strong>stino histórico". O caminho estátraçado. "Esse sentimento e essa clara e perfeita consciência só serão realizadospela ação lenta e contínua do Estado - um Estado soberano, incontrastável,centralizado, unitário, capaz <strong>de</strong> impor-se a todo o país pelo prestígio fascinante<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> missão nacional."Getúlio Vargas (1883-1954) <strong>de</strong>u curso a esse projeto, simbolizado peloato, que o Estado Novo patrocinaria, <strong>de</strong> queimar as ban<strong>de</strong>iras estaduais. No livroem que se dá conta das reformas levadas a cabo por aquela ditadura (7),justificam-se <strong>de</strong>sse modo as iniciativas centralizadoras: "O movimento renovador<strong>de</strong> 1930 encontrou as administrações estaduais sofrendo as conseqüências damaior <strong>de</strong>sorganização que se possa imaginar. Longe <strong>de</strong> constituírem unida<strong>de</strong>sadministrativas fiéis aos mesmos princípios seguidos pelo governo da União,cada estado constituía como que um país à parte, seguindo os métodos que melhorparecessem a seus dirigentes, os quais visavam apenas os interesses regionais ouda política partidária. Não há exagero em dizer que as unida<strong>de</strong>s da fe<strong>de</strong>ração seassemelhavam a verda<strong>de</strong>iros feudos, on<strong>de</strong> as conveniências da orientaçãoparticularista dos governos davam margem a empirismos e abusos lamentáveisnos serviços públicos".4, Negociar novo pacto fe<strong>de</strong>rativoAo que suponho, para avançarmos na busca <strong>de</strong> sistema fe<strong>de</strong>rativo quetenha algo que ver com o nome, creio que o melhor caminho seria nosinterrogarmos se não se trataria, sobretudo, <strong>de</strong> hipertrofia do Executivo da União.Vale dizer: o arranjo fe<strong>de</strong>rativo a<strong>de</strong>quado passa pela eliminação <strong>de</strong>ssahipertrofia. As tentativas até então empreendidas, como bem assinalou o Prof.Miguel Reale, têm consistido em enfraquecer o Executivo. O Prof. Reale quer sereferir às Constituições <strong>de</strong> 1946 e 1988. Esta última estabeleceu que oLegislativo tem ingerência em todos os assuntos, tão ampla que tem permitidosustentar que a intenção seria a <strong>de</strong> instaurar sistema parlamentar <strong>de</strong> governo. Ocerto é que, como o Legislativo não está aparelhado para dar a palavra final sobretudo, o Executivo passa a legislar também sobre tudo, com base na <strong>de</strong>nominadamedida provisória.A proposição do Senador Jorge Bornhausen consiste em, seguindo-seàs eleições presi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong> governadores, iniciar a negociação do que tem<strong>de</strong>nominado Novo Pacto Fe<strong>de</strong>rativo, <strong>de</strong> modo que, na eleição seguinte, tanto aUnião como os governos estaduais seguiriam as novas regras. Basicamente,consistiria numa revisão das respectivas atribuições. Limito-me ao exemploadiante.
4 3Com a emenda Constitucional nº 29, que <strong>de</strong>stinou à saú<strong>de</strong> aarrecadação proveniente da CPMF, os recursos colocados à disposição <strong>de</strong>sse setorpassaram <strong>de</strong> R$ 20,6 bilhões, em 2000. para R$ 28,2 em 2002, incremento daor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 40%. Ao mesmo tempo, estabeleceu-se que o sistema público único,introduzido pela Constituição <strong>de</strong> 88, <strong>de</strong>veria localizar0se no município. Em vez<strong>de</strong> terem as municipalida<strong>de</strong>s passado a dispor dos meios exigidos pelocumprimento <strong>de</strong>ssa disposição, a União <strong>de</strong>scobriu formas <strong>de</strong> apropriar-se domencionado incremento <strong>de</strong> recursos. O Ministério da Saú<strong>de</strong>, longe <strong>de</strong> sofrerqualquer tipo <strong>de</strong> enxugamento, hipertrofiou-se ainda mais, duplicando estruturas.Sem distinguir os Departamentos tradicionais, criou agências executivas (novasdiretorias; DAS; instalações; automóveis etc.) que, a rigor, correspon<strong>de</strong>m a formaalternativa <strong>de</strong> organização estatal.A partir da estrutura tributária fixada pela Constituição <strong>de</strong> 88,negociou-se que os resultados da arrecadação distribuir-se-iam <strong>de</strong>ste modo: 40%para a União; 40% para os estados e 20% para os municípios. A União introduziuo artifício <strong>de</strong> aumentar impostos rotulado-os <strong>de</strong> "contribuições", o que a dispensa<strong>de</strong> redistribuí-los, <strong>de</strong> que <strong>de</strong>corre a seguinte participação dos três níveis: União,58,4%; Estados, 25,2% e municípios, 16,4%.Por essa razão, adotei a tese <strong>de</strong> que a discussão é <strong>de</strong> natureza política enão jurídica. A tentativa a ser empreendida <strong>de</strong>veria consistir em evitarduplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuições, que servem apenas <strong>de</strong> pretexto para manter ahipertrofia da União. Seria este o primeiro passo a ser estabelecido por NovoPacto Fe<strong>de</strong>rativo.NOTAS(1) Ensaio sobre o direito administrativo, (1862) v. II, cap. XXX,parágrafo 8 - Descentralização que se seguiu entre nós em 7 <strong>de</strong> abril.(2) Cf. Evolução do pensamento político brasileiro. Belo Horizonte,Itatiaia/EDUSP, 1989.(3) O Senado Fe<strong>de</strong>ral promoveu reedição (fac-similar) do texto <strong>de</strong>sseautor que serviu para instruir a elite brasileira do período quanto à natureza darepresentação política (Manual do cidadão em um governo representativo (1834).Brasília, Senado Fe<strong>de</strong>ral, 1998, 3 v.).(4) Ver, a propósito, Ivan Lins, História do positivismo no Brasil, 2ªed., São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1927, p. 645-648.(5) O patrimonialismo luso-brasileiro - e as análises que veio amerecer - acha-se estudado, por Antônio Paim, no livro A querela do estatismo. Anatureza dos sistemas econômicos: o caso brasileiro. Rio <strong>de</strong> janeiro, TempoBrasileiro, 1994.(6) Castilhismo, uma filosofia da República. 2ª ed., Brasília, SenadoFe<strong>de</strong>ral, 2000.
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