4 0Muitos analistas atribuem ao sistema monárquico tal resultado, tese ameu ver insustentável, que me dispenso <strong>de</strong> discutir nesta oportunida<strong>de</strong> na medidaem que o fiz nos textos <strong>de</strong>dicados ao tema do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador (2). Entendo queo aludido <strong>de</strong>sfecho provém do que <strong>de</strong>nomino aprimoramento da representação,justamente o que tornou dispensável o recurso às armas. O fato <strong>de</strong> que o sistemafosse constituído a partir <strong>de</strong> sufrágio limitado não justifica que a Repúblicativesse primado por ignorar tão significativa experiência. Os países que lograramproce<strong>de</strong>r com sucesso à <strong>de</strong>mocratização do sistema seguiram a linha <strong>de</strong> fazê-loprogressivamente, tendo presente a lição <strong>de</strong> Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846) (3), isto é, sendo a representação <strong>de</strong> interesses, o essencial consiste emestruturá-la <strong>de</strong> modo a possibilitar a institucionalização dos mecanismos queassegurem a normalida<strong>de</strong> da negociação entre a diversida<strong>de</strong> daqueles interesses.A novida<strong>de</strong> do século XX - ignorada pela República brasileira - consiste natransformação dos blocos parlamentares nos partidos políticos contemporâneos.3. O monumental fracasso do fe<strong>de</strong>ralismo da Constituição <strong>de</strong> 1991A segunda questão a ser discutida seria, a meu ver, as razões domonumental fracasso do fe<strong>de</strong>ralismo criado pela primeira Constituiçãorepublicana. Há uma tendência nítida a tentar explicá-lo pelo equívoco conceito<strong>de</strong> oligarquias estaduais, que correspon<strong>de</strong>riam aos grupos econômicos que seapossaram do po<strong>de</strong>r nos estados. Acontece que, nessa questão específica, averda<strong>de</strong> parece residir no lado oposto: a riqueza <strong>de</strong> fato existente nos territóriosdas antigas províncias resumia-se precisamente à máquina estatal. Vejamos comose apresenta o problema.No governo constituído após a proclamação da República participavampelo menos três correntes <strong>de</strong> opinião: os liberais, os positivistas e os militaressem maior formação doutrinária, mas em cujo seio apareceram grupos exaltados,por isso mesmo <strong>de</strong>nominados jacobinos. Os liberais eram li<strong>de</strong>rados por RuiBarbosa. O chefe do governo, Marechal Deodoro, conceituado militar, achava-sedistanciado <strong>de</strong> todo radicalismo, mas não tinha qualquer compromisso com umprojeto <strong>de</strong>mocrático, nem se po<strong>de</strong> dizer que existisse tal, em seu <strong>de</strong>lineamentoglobal, salvo no que respeita à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restringir o período <strong>de</strong> exceção,dotando o País <strong>de</strong> nova Constituição.A hegemonia estava com os positivistas, embora não se achassemunidos quanto às características que <strong>de</strong>veriam imprimir ao novo regime. Aquelahegemonia se expressava, sobretudo, pela presença <strong>de</strong> Benjamin Constant à frentedo Ministério da Guerra. O prestigiado lí<strong>de</strong>r militar, embora positivista confesso,não tinha boas relações com o Apostolado. Este, contudo, achava-se representadono ministério por Demétrio Ribeiro.Aurelino Leal, na História constitucional do Brasil, conta ter ouvidodo próprio Rui Barbosa que "os positivistas e os jacobinos lutaram pela dilataçãodo regime ditatorial". Segundo os diversos <strong>de</strong>poimentos, o chefe do governo nãoatribuía maior relevo à questão constitucional. De sorte que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>convocar a Assembléia Constituinte <strong>de</strong>ve-se à habilida<strong>de</strong> e persistência<strong>de</strong>monstradas por Rui Barbosa, mas também ao apoio recebido <strong>de</strong> BenjaminConstant, que acabou concordando com a providência <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver obtido aanuência do chefe da Igreja Positivista em Paris. (4)A Constituição <strong>de</strong> 1891 <strong>de</strong>u aos liberais um instrumento aglutinador,permitindo-lhes elaborar o que Nelson Saldanha <strong>de</strong>nominou pensamento políticooficial. Assim, pelo menos ao longo das três primeiras décadas republicanas, o
liberalismo correspon<strong>de</strong>u à doutrina política oficial. Mas a prática do regime erafrancamente autoritária.A prática autoritária republicana consiste basicamente no abandono doprincípio da representação.No Império, a gran<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> consistia, sem dúvida, no Estado <strong>de</strong>características patrimonialísticas. Contudo, a elite dirigente, premida pela onda<strong>de</strong> insurreições, assegurou aos vários interesses, reconhecida sua diversida<strong>de</strong> elegitimida<strong>de</strong>, o direito <strong>de</strong> fazer-se representar no sistema do po<strong>de</strong>r. Arepresentação não tinha certamente caráter <strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> que não cogitava oliberalismo da época. Mas, a par do predomínio da classe proprietária rural,tinham acesso à representação as camadas urbanas, não só os proprietários(comerciantes, sobretudo) como igualmente o funcionalismo e a intelectualida<strong>de</strong>.Assim, embora não tivesse ocorrido nenhuma ruptura abrupta com opatrimonialismo português (5), facultava a paulatina estruturação da socieda<strong>de</strong>civil.A prática republicana criou uma situação inteiramente nova. Passou aprimeiro plano o conflito entre grupos cujo interesse próprio se resume emapossar-se do patrimônio constituído pelo Estado. E mais: essa conquista, nonível das antigas províncias, revela-se <strong>de</strong> pronto insuficiente. É necessárioassegurar a posse do Executivo Central. Para apaziguar esse conflito inventou-sea “política dos governadores” ou o chamado "café-com-leite" (alternância <strong>de</strong> SãoPaulo e Minas na suprema magistratura).Nas antigas províncias (agora <strong>de</strong>nominadas "estados") não surgiramativida<strong>de</strong>s econômicas capazes <strong>de</strong> manter alta rentabilida<strong>de</strong> durante largoperíodo, a exemplo da cafeicultura, agora radicada basicamente em São Paulo eMinas, que ensejasse o aparecimento <strong>de</strong> novos grupos locais e assim contribuindopara tornar mais diversificada a socieda<strong>de</strong>. Desse modo, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> progresso, quese inscrevera na nova ban<strong>de</strong>ira que o regime republicano <strong>de</strong>ra ao País, ficaracircunscrito a São Paulo. Os recursos públicos mal permitiam a mo<strong>de</strong>rnização daCapital da República.E, quanto à or<strong>de</strong>m, esta só se mantinha mediante a sucessiva<strong>de</strong>cretação <strong>de</strong> estados <strong>de</strong> sítio e a intervenção naquelas unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rativaspoliticamente mais fracas.À medida que a prática autoritária se generalizava, os liberais iampaulatinamente circunscrevendo sua plataforma à <strong>de</strong>fesa das liberda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>mocráticas. Não lhes ocorria sequer a necessida<strong>de</strong> da diversificação partidária -o regime era <strong>de</strong> partido único, o republicano, estruturado em nível estadual -salvo em 1926, quando se criou em São Paulo o Partido Democrático. Os liberaissofreram também a influência positivista e acabaram minimizando o papel dadoutrina da representação.À prática autoritária se ia sobrepondo o autoritarismo doutrinário. Nãosendo o caso, nesta oportunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>termos em sua caracterização<strong>de</strong>talhada, cabe tão-somente indicar como amadurece a idéia da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>um Estado Central forte e unitário. Essa idéia seria trabalhada pelo positivismogaúcho - o castilhismo, tão bem estudado por Ricardo Vélez Rodriguez (6) - esobretudo por Oliveira Vianna (1883/1951).Oliveira Vianna <strong>de</strong>senvolve crítica sistemática ao irrealismo da eliterepublicana. A propósito escreve: "O gran<strong>de</strong> movimento <strong>de</strong>mocrático daRevolução Francesa; as agitações parlamentares inglesas; o espírito liberal dasinstituições que regem a República Americana, tudo isto exerceu e exerce sobreos nossos dirigentes políticos, estadistas, legisladores, publicistas, uma4 1
- Page 2 and 3: 2A N T O N I O P A I MA QUESTÃO DE
- Page 4 and 5: 4A P R E S E N T A Ç Ã OA q u e s
- Page 6: 6v e r i f i c a r q u e n ã o h
- Page 9 and 10: comprova que a ingerência militar
- Page 11 and 12: obtendo. 53,4% das cadeiras na Câm
- Page 13 and 14: 1 3PAPEL DA CULTURA DEMOCRÁTICA E
- Page 15 and 16: em sucedido a ponto da nova forma d
- Page 17 and 18: 1 7A relevância da noção de inte
- Page 19 and 20: 1 9sociedade que se disporá a defe
- Page 21: 2 1a primeira tentativa de implanta
- Page 24 and 25: Portanto, a solidariedade que as at
- Page 26 and 27: uma elite. Há também o chamado po
- Page 28 and 29: 2 8ELENCO DAS RAZÕES PELAS QUAIS A
- Page 30 and 31: 3 0detrimento dos acionistas. A gra
- Page 32 and 33: 3 2sejam obrigados a enfrentar ques
- Page 34 and 35: 3 4As nuanças nas correntes social
- Page 36 and 37: 3 6ocorrido na Europa, oportunidade
- Page 38 and 39: Mostra, em primeiro lugar, que a he
- Page 42 and 43: 4 2fascinação magnética, que lhe
- Page 44 and 45: 4 4(7) Não tendo chegado a ser edi
- Page 46 and 47: 4 6Os Tigres Asiáticos e a moral c
- Page 48 and 49: 4 8Outra pesquisa que aponta para a
- Page 50 and 51: 5 0consultei, objetam a essa restri
- Page 52 and 53: 5 2FANTASIAS SOBRE A DEMOCRACIA ATE
- Page 54 and 55: esolvidos por arbitragem, a interve
- Page 56 and 57: 5 6I N C O N S I S T Ê N C I A D A
- Page 58 and 59: 5 8j u s t i f i c a ç ã o d o p
- Page 60 and 61: 6 0I g n o r a n d o s o l e n e m
- Page 62 and 63: 6 2g e n e r a l i z a ç ã o d e
- Page 64 and 65: l a c r è m e d e l a b u r e a u
- Page 66 and 67: 6 6C h e g a - s e a s s i m à g r
- Page 68 and 69: 6 8i n t e g r a n t e s . É e v i
- Page 70 and 71: 7 0c u l t u r a d o s p a í s e s
- Page 72 and 73: 7 2R e p ú b l i c a d e We i m a
- Page 74 and 75: 7 4C o m u n i d a d e A t l â n t
- Page 76 and 77: t e x t o i n t r o d u t ó r i o
- Page 78 and 79: f i n s d a d é c a d a d e o i t
- Page 80 and 81: 8 0A meu ver, uma componente que, d
- Page 82 and 83: 8 2à o c u p a ç ã o n a z i s t
- Page 84 and 85: 8 4P a r t i d o %C a d e i r a sd
- Page 86 and 87: G r a ç a s a s u c e s s i v a s
- Page 88 and 89: 8 8m u d a n ç a s e x p e r i m e
- Page 90 and 91:
9 0C o m o d e r e s t o n o s d e
- Page 92 and 93:
9 2A s a g r e m i a ç õ e s r e
- Page 94 and 95:
9 4C o m e f e i t o , e n t r e 1
- Page 96 and 97:
9 6j u s t a m e n t e o q u e l e
- Page 98 and 99:
9 8A n oT a x a d e d e s e mp r e
- Page 100 and 101:
1 0 0que sete governos. Todas as re
- Page 102 and 103:
1 0 2A E s q u e r d a U n i d a c
- Page 104 and 105:
1 0 4O s e g u n d o p a r t i d o
- Page 106 and 107:
1 0 6A p a r d i s t o , d i s t i
- Page 108 and 109:
1 0 8consubstanciada no slogan “m
- Page 110 and 111:
1 1 0p r o g r e s s i v o a b a n
- Page 112 and 113:
1 1 2m e s m o a n o , p r o c e d
- Page 114 and 115:
1 1 4Pó; aproximadamente 10 milhõ
- Page 116 and 117:
1 1 6a s s i m a t u a r c o n t i
- Page 118 and 119:
1 1 8s u p e r a d o o i n t e r r
- Page 120 and 121:
1 2 0C D S 4 9 8 9 7T O T A I S 9 3
- Page 122 and 123:
1 2 2d i v i d i d o e n t r e o s
- Page 124 and 125:
1 2 4E m q u e p e s e p o s s a o
- Page 126 and 127:
1 2 6T c h e c a , E s l o v á q u
- Page 128 and 129:
1 2 8a ) O e s f a c e l a me n t o
- Page 130 and 131:
1 3 0N o c a s o d a B ó s n i a -
- Page 132 and 133:
1 3 2d a R e p ú b l i c a , e m s
- Page 134 and 135:
1 3 4O n ã o r e c o n h e c i m e
- Page 136 and 137:
1 3 6D e s o r t e q u e , n o p r
- Page 138 and 139:
1 3 8( 1 9 5 3 ) , H o d j a r e c
- Page 140 and 141:
1 4 03 . A c o mp l e x a e x p e r
- Page 142 and 143:
1 4 2( c a s o d a T c h e c o s l
- Page 144 and 145:
1 4 4s o b a l i d e r a n ç a d e
- Page 146 and 147:
1 4 6c o m p r o p o s t a s v o l
- Page 148 and 149:
1 4 8d e n ú n c i a d e q u e S t
- Page 150 and 151:
1 5 0c o m u n i s t a s e o u t r
- Page 152 and 153:
1 5 2f o r m a l m e n t e d e d i
- Page 154 and 155:
1 5 4N a s e l e i ç õ e s p a r
- Page 156 and 157:
1 5 6o u t r a s i n i c i a t i v
- Page 158 and 159:
1 5 8Q u a n d o o c o r r e u o f
- Page 160 and 161:
1 6 0P a r l a m e n t o E u r o p
- Page 162 and 163:
1 6 2T e m i a - s e q u e a q u e
- Page 164 and 165:
1 6 4M o v i m e n t o L i b e r a
- Page 166 and 167:
1 6 6s e r i a p r e v i s í v e l