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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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4 0Muitos analistas atribuem ao sistema monárquico tal resultado, tese ameu ver insustentável, que me dispenso <strong>de</strong> discutir nesta oportunida<strong>de</strong> na medidaem que o fiz nos textos <strong>de</strong>dicados ao tema do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador (2). Entendo queo aludido <strong>de</strong>sfecho provém do que <strong>de</strong>nomino aprimoramento da representação,justamente o que tornou dispensável o recurso às armas. O fato <strong>de</strong> que o sistemafosse constituído a partir <strong>de</strong> sufrágio limitado não justifica que a Repúblicativesse primado por ignorar tão significativa experiência. Os países que lograramproce<strong>de</strong>r com sucesso à <strong>de</strong>mocratização do sistema seguiram a linha <strong>de</strong> fazê-loprogressivamente, tendo presente a lição <strong>de</strong> Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846) (3), isto é, sendo a representação <strong>de</strong> interesses, o essencial consiste emestruturá-la <strong>de</strong> modo a possibilitar a institucionalização dos mecanismos queassegurem a normalida<strong>de</strong> da negociação entre a diversida<strong>de</strong> daqueles interesses.A novida<strong>de</strong> do século XX - ignorada pela República brasileira - consiste natransformação dos blocos parlamentares nos partidos políticos contemporâneos.3. O monumental fracasso do fe<strong>de</strong>ralismo da Constituição <strong>de</strong> 1991A segunda questão a ser discutida seria, a meu ver, as razões domonumental fracasso do fe<strong>de</strong>ralismo criado pela primeira Constituiçãorepublicana. Há uma tendência nítida a tentar explicá-lo pelo equívoco conceito<strong>de</strong> oligarquias estaduais, que correspon<strong>de</strong>riam aos grupos econômicos que seapossaram do po<strong>de</strong>r nos estados. Acontece que, nessa questão específica, averda<strong>de</strong> parece residir no lado oposto: a riqueza <strong>de</strong> fato existente nos territóriosdas antigas províncias resumia-se precisamente à máquina estatal. Vejamos comose apresenta o problema.No governo constituído após a proclamação da República participavampelo menos três correntes <strong>de</strong> opinião: os liberais, os positivistas e os militaressem maior formação doutrinária, mas em cujo seio apareceram grupos exaltados,por isso mesmo <strong>de</strong>nominados jacobinos. Os liberais eram li<strong>de</strong>rados por RuiBarbosa. O chefe do governo, Marechal Deodoro, conceituado militar, achava-sedistanciado <strong>de</strong> todo radicalismo, mas não tinha qualquer compromisso com umprojeto <strong>de</strong>mocrático, nem se po<strong>de</strong> dizer que existisse tal, em seu <strong>de</strong>lineamentoglobal, salvo no que respeita à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restringir o período <strong>de</strong> exceção,dotando o País <strong>de</strong> nova Constituição.A hegemonia estava com os positivistas, embora não se achassemunidos quanto às características que <strong>de</strong>veriam imprimir ao novo regime. Aquelahegemonia se expressava, sobretudo, pela presença <strong>de</strong> Benjamin Constant à frentedo Ministério da Guerra. O prestigiado lí<strong>de</strong>r militar, embora positivista confesso,não tinha boas relações com o Apostolado. Este, contudo, achava-se representadono ministério por Demétrio Ribeiro.Aurelino Leal, na História constitucional do Brasil, conta ter ouvidodo próprio Rui Barbosa que "os positivistas e os jacobinos lutaram pela dilataçãodo regime ditatorial". Segundo os diversos <strong>de</strong>poimentos, o chefe do governo nãoatribuía maior relevo à questão constitucional. De sorte que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>convocar a Assembléia Constituinte <strong>de</strong>ve-se à habilida<strong>de</strong> e persistência<strong>de</strong>monstradas por Rui Barbosa, mas também ao apoio recebido <strong>de</strong> BenjaminConstant, que acabou concordando com a providência <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver obtido aanuência do chefe da Igreja Positivista em Paris. (4)A Constituição <strong>de</strong> 1891 <strong>de</strong>u aos liberais um instrumento aglutinador,permitindo-lhes elaborar o que Nelson Saldanha <strong>de</strong>nominou pensamento políticooficial. Assim, pelo menos ao longo das três primeiras décadas republicanas, o

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