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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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3 4As nuanças nas correntes socialistas fixam-se a partir doposicionamento em face do conflito social. A sua crença na capacida<strong>de</strong> moral doEstado é diretamente proporcional à forma como encaram a este último. Se oenten<strong>de</strong>m como um mal eliminável, o en<strong>de</strong>usamento do Estado dá-se em termosabsolutos. A terceira via admite que o mal também possa provir do Estado, masnão o situam como inserido no conflito. Gid<strong>de</strong>ns argumenta que não só o mercadoproduz <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. Escreve: "Mesmo em suas formas mais <strong>de</strong>senvolvidas, oEstado não é um bem absoluto. Todos os Estados <strong>de</strong> Bem-Estar Social criamproblemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, danos morais, burocracia, formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>interesses e corrupção."(10) Ainda assim, a terceira via não advoga a redução doEstado.Em contrapartida, o PS Francês não tem qualquer posicionamentocrítico em relação à instituição.Do lado liberal, os conservadores chegam a <strong>de</strong>fini-lo como um malnecessário. O liberalismo social enten<strong>de</strong> que o Estado, entregue a si mesmo,tentará a maximizar o direcionamento dos recursos públicos para as ativida<strong>de</strong>smeio.Ainda assim, é uma estrutura imprescindível ao funcionamento dasocieda<strong>de</strong>, sendo inapropriado consi<strong>de</strong>rá-lo um mal.A partir da dicotomia, não há como atribuir maior relevância a essetipo <strong>de</strong> discrepância. Entretanto, se <strong>de</strong>sejamos diferenciar as correntes políticas,tudo indica que o posicionamento diante do Estado correspon<strong>de</strong> a ponto <strong>de</strong>cisivo.6. ConclusãoA principal razão pela qual a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve recusar a dicotomiaresi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que é empobrecedora das análises políticas. Posto que não háimposições objetivas para a escolha <strong>de</strong>ssa ou daquela doutrina, em termosestritamente acadêmicos as escolhas somente se justificam se têm valorheurístico, isto é, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iluminar o campo <strong>de</strong> estudo, abrir os horizontesda pesquisa.Em termos vivenciais, cotidianos, compreen<strong>de</strong>-se que na Europa sejauma realida<strong>de</strong> irrecusável. Há partidos políticos que se consi<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> direita,sem o que per<strong>de</strong>ria o sentido que uma agremiação política se dissesse <strong>de</strong>esquerda. É preciso ter presente também que, fora da Europa, mesmo em termosvivenciais a dicotomia não se aplica.Nos Estados Unidos, no plano político, não há porque valer-se dadistinção. O que proporciona características distintivas são os termos liberal econservative.No Brasil, ainda que a imprensa o utilize, não há, entre os políticos,quem se consi<strong>de</strong>re <strong>de</strong> direita, don<strong>de</strong> o emprego do termo equivale a xingamento.A insistência nessa dicotomia, na Universida<strong>de</strong>, acabará por tornarmais extensa a lista dos fenômenos políticos que escapam à sua competência.Será que a reforma do Welfare possa in<strong>de</strong>finidamente ser consi<strong>de</strong>rada como umaproposta <strong>de</strong> direita, <strong>de</strong>pois que se chegou a amplo e satisfatório acordo naAlemanha, capitaneado pela SD <strong>de</strong> Schroe<strong>de</strong>r? Será que po<strong>de</strong> mesmo ser batizadocomo sendo <strong>de</strong> direita o mo<strong>de</strong>lo norte-americano dos Fundos <strong>de</strong> Pensões, <strong>de</strong>poisque o Le Mon<strong>de</strong> atribui-lhe um nome europeu (sistema <strong>de</strong> capitalização),acrescentando que mereceria a aprovação do que chamou <strong>de</strong> "esquerda mo<strong>de</strong>rna"?Enfim, acredito que muito nos beneficiaríamos se suspendêssemos poruns tempos o emprego da dicotomia na análise dos fenômenos políticos. Afinal a

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