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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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uma elite. Há também o chamado po<strong>de</strong>r invisível (menciona máfias,organizações secretas <strong>de</strong> particulares e mesmo serviços secretos oficiais,ambas infensas a qualquer tipo <strong>de</strong> controle). Tampouco se conseguiu educarplenamente o cidadão, sobrevivendo apatia política e <strong>de</strong>sinteresse pela coisapública. O <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong> trouxe problemas que somentetécnicos e especialistas po<strong>de</strong>m resolver. Verificou-se também crescimentocontínuo dos aparelhos burocráticos. Finalmente, as liberda<strong>de</strong>s e aautonomia da socieda<strong>de</strong> civil elevaram o nível das <strong>de</strong>mandas sociaisenquanto o aparelho político <strong>de</strong>mocrático age <strong>de</strong> forma lenta: "a <strong>de</strong>mocraciatem a <strong>de</strong>manda fácil e a resposta difícil; a autocracia, ao contrário, está emcondições <strong>de</strong> tornar a <strong>de</strong>manda mais difícil e dispõe <strong>de</strong> maior facilida<strong>de</strong>para dar respostas". Segue-se a avaliação:"Pois bem, a minha conclusão é que as promessas não cumpridas eos obstáculos não-previstos <strong>de</strong> que me ocupei não foram suficientes para"transformar" os regimes <strong>de</strong>mocráticos em regimes autocráticos. Adiferença substancial entre uns e outros permaneceu. O conteúdo mínimo doestado <strong>de</strong>mocrático não encolheu: garantia dos principais direitos <strong>de</strong>liberda<strong>de</strong>; existência <strong>de</strong> vários partidos em concorrência entre si; eleiçõesperiódicas a sufrágio universal, <strong>de</strong>cisões coletivas ou concordadas ... outomadas com base no princípio da maioria e, <strong>de</strong> qualquer modo sempre apósum livre <strong>de</strong>bate entre as partes ou entre os aliados <strong>de</strong> uma coalizão egoverno. Existem <strong>de</strong>mocracias mais sólidas e menos sólidas, maisinvulneráveis e mais vulneráveis; existem diversos graus <strong>de</strong> aproximaçãocom o mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al, mas mesmo a <strong>de</strong>mocracia mais distante do mo<strong>de</strong>lo nãopo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> modo algum confundida com um estado autocrático e menosainda com um totalitário".Explicita que se havia ocupado <strong>de</strong> problemas internos. Quanto àsameaças externas à <strong>de</strong>mocracia, lembra que não se registram guerras entreEstados <strong>de</strong>mocráticos.Antes <strong>de</strong> concluir, Bobbio consi<strong>de</strong>ra ainda a suposição <strong>de</strong> que,sendo a <strong>de</strong>mocracia um conjunto <strong>de</strong> procedimentos, não dispõe <strong>de</strong> apeloscapazes <strong>de</strong> fomentar o aparecimento <strong>de</strong> cidadãos ativos. Na verda<strong>de</strong>,entretanto, a <strong>de</strong>mocracia promoveu e promove i<strong>de</strong>ais com que não contou ahumanida<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong> sua história. O primeiro <strong>de</strong>les é a tolerância e, osegundo, a não-violência. Afirma: "Jamais esqueci o ensinamento <strong>de</strong> KarlPopper segundo o qual o que distingue essencialmente um governo<strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> um não-<strong>de</strong>mocrático é que apenas no primeiro os cidadãospo<strong>de</strong>m livrar-se <strong>de</strong> seus governantes sem <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue." Assim,o adversário <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um inimigo (que <strong>de</strong>ve ser eliminado) passando adispor da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chegar ao governo.O terceiro i<strong>de</strong>al consiste na renovação gradual da socieda<strong>de</strong>através do <strong>de</strong>bate das idéias. Explicita: "Apenas a <strong>de</strong>mocracia permite aformação e a expansão das revoluções silenciosas, como foi por exemplonestas últimas décadas a transformação das relações entre os sexos - quetalvez seja a maior revolução dos nossos tempos".Finalmente, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>: "gran<strong>de</strong> parte da históriahumana é uma história <strong>de</strong> lutas fratricidas. Na sua Filosofia da História,2 6

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