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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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Portanto, a solidarieda<strong>de</strong> que as atuais gerações prestam às que jáse afastaram da ativida<strong>de</strong> produtiva - ou se encontram <strong>de</strong>la afastadasinvoluntariamente - não po<strong>de</strong> ser transformada num tabu. Em primeirolugar, cabe reconhecer que o sistema <strong>de</strong> financiamento adotadocorrespon<strong>de</strong>u a um equívoco, à vista <strong>de</strong> que não se revelou auto-sustentável.Em contrapartida, o mo<strong>de</strong>lo norte-americano, baseado no seguro, passou aprova da história.Em segundo lugar, como assinala Raymond Plant, no ensaio antescitado, tem sido <strong>de</strong>monstrado que "no mundo do pós-Segunda Guerra, osdireitos adquiridos tinham sido fortalecidos e os <strong>de</strong>veres enfraquecidos.Foram atribuídos benefícios sem que nada se exigisse em troca."Plant enten<strong>de</strong> que a idéia <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> restabelece aimprescindível ligação entre direitos e <strong>de</strong>veres. Lembra: "envolve aindaalguns ecos dos i<strong>de</strong>ais como os <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> e solidarieda<strong>de</strong>, herdados dopassado mais socialista do Partido Trabalhista, mas atualizados <strong>de</strong> tal modoque podiam ser apresentados <strong>de</strong> uma forma progressista e mo<strong>de</strong>rna."Chegando ao po<strong>de</strong>r em fins da década <strong>de</strong> noventa, os trabalhistasproce<strong>de</strong>ram a ampla reformulação dos programas <strong>de</strong> apoio a <strong>de</strong>sempregadose carentes. Em relação aos jovens <strong>de</strong> 16 a 18 anos, estabeleceu-se que<strong>de</strong>viam estudar em tempo integral ou trabalhar. Encontrando dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho, somente recebem rendimentosprovenientes do Estado se se submeterem a uma formação profissional outrabalhar em organizações do voluntariado, neste caso igualmente <strong>de</strong> modointegral. O novo princípio é o seguinte: <strong>de</strong>ve haver trabalho para os quepo<strong>de</strong>m trabalhar e segurança para os que não po<strong>de</strong>m. O trabalho é não só amelhor forma <strong>de</strong> sair da pobreza como conduz a maior inclusão e integraçãosociais.Escreve o prof. Raymond Plant: "Para aqueles que po<strong>de</strong>mtrabalhar, o governo tem uma estratégia multifacetada. O primeiro aspectoconsiste em encorajá-los para voltar ao trabalho, não só através <strong>de</strong>incentivos mas também exercendo alguma pressão. Os incentivos chegarãoatravés <strong>de</strong> consultores <strong>de</strong> emprego que tentarão aconselhar essas pessoassobre o tipo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho possíveis e avaliar se po<strong>de</strong>rãoapren<strong>de</strong>r novas competências técnicas que tenham procura no mercado <strong>de</strong>trabalho. Também há pressão - exercida através da exigência feita a essaspessoas <strong>de</strong> comparecimento a entrevistas e sessões <strong>de</strong> aconselhamento.Claro que um indivíduo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado realmente incapacitado paratrabalhar após várias formas <strong>de</strong> avaliação e, nessas circunstâncias, osbenefícios incondicionais disponíveis serão significativamenteaumentados".No Brasil, o típico é consi<strong>de</strong>rar que o conceito <strong>de</strong> cidadaniaconsista num elenco <strong>de</strong> direitos. Po<strong>de</strong> até mesmo parecer "politicamenteincorreto" preten<strong>de</strong>r-se que, em todas as hipóteses, não há direitos sem<strong>de</strong>veres. Acontece que não se po<strong>de</strong> pensar em cultura <strong>de</strong>mocrática a partir<strong>de</strong> enormida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste tipo.2 4

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