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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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2 1a primeira tentativa <strong>de</strong> implantação das correspon<strong>de</strong>ntes instituições seriaplenamente coroada <strong>de</strong> êxito, na medida em que facultou ao país, no séculoXIX, cerca <strong>de</strong> cinqüenta anos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> política, isto é, sem golpes <strong>de</strong>Estado, insurreições, presos políticos, empastelamento <strong>de</strong> jornais, etc.Naquele período, contamos com partidos políticos, alternância nopo<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>bate teórico do mais alto nível. A praxe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a República, é<strong>de</strong>negrir aquela experiência. Vejamos os argumentos então empregados.Alega-se que o eleitorado era reduzido. Para proce<strong>de</strong>r a umaavaliação a<strong>de</strong>quada, cabe levar em conta as experiências inglesa e francesa,no mesmo período. Na França, Napoleão III ampliou o eleitorado, semqualquer base para fazê-lo, a partir do que passou a valer-se <strong>de</strong> plebiscitospara ir concentrando po<strong>de</strong>res em suas mãos até alcançar a restauração damonarquia absoluta. Na Inglaterra, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocratização do sufrágio nãocausaria quaisquer comoções, foi preparada por diversas medidas. Aprimeira consistiu em absorver as escolas confessionais (das Igrejas) parainstituir ensino público universal. E, <strong>de</strong>pois, promover a disseminação dodireito <strong>de</strong> voto com a máxima cautela. A adoção do sufrágio universal(admitido apenas o voto masculino) ocupou praticamente todo o séculoXIX. Os eleitores correspondiam a 7% da população maior <strong>de</strong> 21 anos, em1832; 9% em 1864: 16% em 1883 e 28,5% em 1886. Para completar oprocesso faltava apenas incorporar as mulheres, o que foi feito nas reformas<strong>de</strong> 1920 e 1930.Os partidos políticos constituem o outro alvo do menosprezo, soba alegação <strong>de</strong> que seriam simples blocos parlamentares. Acontece que estaera precisamente a característica comum a todos os países que vinhamadotando o novo regime. Na Inglaterra, somente começam a trilhar ocaminho, que os levaria às complexas estruturas do presente, quando sedissemina o sufrágio. Max Weber indica que o embrião do partido mo<strong>de</strong>rnocomeça pela fusão entre o bloco parlamentar e o comitê em que o <strong>de</strong>putado<strong>de</strong>veria apoiar-se, nessa ou naquela circunscrição.Por fim, o sistema <strong>de</strong>mocrático representativo em construção nopaís é <strong>de</strong>svalorizado pela presença do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>rador. Veremos se aalegação tem alguma consistência.A questão teórica do Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>radorEm toda socieda<strong>de</strong> há questões que transcen<strong>de</strong>m as divisões sejami<strong>de</strong>ológicas sejam reflexo <strong>de</strong> interesses materiais. São aquelas <strong>de</strong> índolemoral. No plano político-institucional, a aplicação da prerrogativa <strong>de</strong>dissolver a Câmara - e convocar novas eleições - não po<strong>de</strong> ser conduzida emtermos partidários, sob pena <strong>de</strong> lançar na guerra civil o país que se <strong>de</strong>frontecom circunstâncias <strong>de</strong> tal natureza. Dando-se conta <strong>de</strong>sse imperativo, opensador francês do início do século XIX, Benjamin Constant, concebeuuma instituição a que <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r Neutro (Silvestre PinheiroFerreira o chamou <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r Conservador que talvez sema mais apropriado),que viria a ser experimentado entre nós.

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