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A Questão Democrática, 2010. - Instituto de Humanidades

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1 8A temática do partido políticoCreio que não seria nenhum exagero afirmar-se que, embora oconjunto da socieda<strong>de</strong> brasileira tenha dado sucessivas provas <strong>de</strong> apreçopela <strong>de</strong>mocracia - basta lembrar nos anos oitenta o vigor do movimento pelarestauração da eleição direta para Presi<strong>de</strong>nte da República -, não há maiorclareza, notadamente no seio da própria elite política, sobre a <strong>de</strong>pendênciaem que se encontra do partido político.Se examinarmos com isenção a história da República, ver-se-áque, tanto na República Velha como no chamado interregno <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong>1945 a 1964, vigorou a suposição <strong>de</strong> que as instituições <strong>de</strong>mocráticas sesustentariam sem partidos políticos. No último período referido, as"alianças <strong>de</strong> legendas" distorciam completamente o voto do eleitorado. Eembora personalida<strong>de</strong>s do porte <strong>de</strong> Afonso Arinos (1905/1990) tivesseminsistido nos perigos <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, nada foi feito e sabemoscomo acabou. A legislação da abertura ignorou essa experiência e asrestaurou, com o nome <strong>de</strong> "coligações". É certo que no presente não maisproduzem o efeito negativo <strong>de</strong> dimensões equivalentes ao que ocorria, poruma razão muito simples: a possibilida<strong>de</strong> do troca-troca.Esperemos que a disposição regimental da Câmara minimize aproporção <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>sgaste, na medida em que <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> produzir efeito noque se refere ao funcionamento da Casa. Mas o simples fato <strong>de</strong> que seadmita possam ter assento na instituição até <strong>de</strong>zoito agremiações dá bemuma idéia da pouca importância que se atribui ao partido político.Ao que tudo indica, não tem produzido qualquer resultado ainsistência na tese <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> haver <strong>de</strong>mocracia sem tais agremiações.No sentido <strong>de</strong> contribuir para o melhor entendimento <strong>de</strong>ssaquestão, suponho que talvez <strong>de</strong>vêssemos partir do registro, proveniente dosespecialistas, <strong>de</strong> que a bibliografia <strong>de</strong>dicada ao tema é relativamente tardia.Assim, a primeira <strong>de</strong>ssas obras é <strong>de</strong> 1901 (M. Ostrogorski), época em queapenas na Inglaterra, em <strong>de</strong>corrência da expansão do sufrágio, inicia-se atransição do antigo bloco parlamentar para o partido com as característicasque acabaram firmando-se (direção centralizada; atuação parlamentarreferida a programas; comitês nas principais circunscrições eleitorais). Acomplementação <strong>de</strong>sse processo consistiria na constituição <strong>de</strong> assessoriasespecializadas; publicações <strong>de</strong> índole doutrinária; formação <strong>de</strong> quadros,etc... O estudo <strong>de</strong>ssa fase ulterior teve que esperar a experimentação dasdécadas subseqüentes.Em síntese, na atualida<strong>de</strong>, a doutrina do partido político incorporanão apenas o conceito <strong>de</strong> que a representação política é <strong>de</strong> interesses(Benjamin Constant (1767/1830) - Princípios <strong>de</strong> política, Paris, 1815,edição revista do texto <strong>de</strong> 1806). Sua função consiste em afunilá-los(basicamente, vinculando-se às correntes <strong>de</strong> opinião o que, por sua vez,implica em que se apóie num núcleo programático a partir do qualcertamente terá que negociar alianças, em prol da governabilida<strong>de</strong>). A pardisto, dado o aparecimento <strong>de</strong> regimes comunista e socialista, éimprescindível que a agremiação partidária explicite qual o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>

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