1 8A temática do partido políticoCreio que não seria nenhum exagero afirmar-se que, embora oconjunto da socieda<strong>de</strong> brasileira tenha dado sucessivas provas <strong>de</strong> apreçopela <strong>de</strong>mocracia - basta lembrar nos anos oitenta o vigor do movimento pelarestauração da eleição direta para Presi<strong>de</strong>nte da República -, não há maiorclareza, notadamente no seio da própria elite política, sobre a <strong>de</strong>pendênciaem que se encontra do partido político.Se examinarmos com isenção a história da República, ver-se-áque, tanto na República Velha como no chamado interregno <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong>1945 a 1964, vigorou a suposição <strong>de</strong> que as instituições <strong>de</strong>mocráticas sesustentariam sem partidos políticos. No último período referido, as"alianças <strong>de</strong> legendas" distorciam completamente o voto do eleitorado. Eembora personalida<strong>de</strong>s do porte <strong>de</strong> Afonso Arinos (1905/1990) tivesseminsistido nos perigos <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, nada foi feito e sabemoscomo acabou. A legislação da abertura ignorou essa experiência e asrestaurou, com o nome <strong>de</strong> "coligações". É certo que no presente não maisproduzem o efeito negativo <strong>de</strong> dimensões equivalentes ao que ocorria, poruma razão muito simples: a possibilida<strong>de</strong> do troca-troca.Esperemos que a disposição regimental da Câmara minimize aproporção <strong>de</strong> tal <strong>de</strong>sgaste, na medida em que <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> produzir efeito noque se refere ao funcionamento da Casa. Mas o simples fato <strong>de</strong> que seadmita possam ter assento na instituição até <strong>de</strong>zoito agremiações dá bemuma idéia da pouca importância que se atribui ao partido político.Ao que tudo indica, não tem produzido qualquer resultado ainsistência na tese <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> haver <strong>de</strong>mocracia sem tais agremiações.No sentido <strong>de</strong> contribuir para o melhor entendimento <strong>de</strong>ssaquestão, suponho que talvez <strong>de</strong>vêssemos partir do registro, proveniente dosespecialistas, <strong>de</strong> que a bibliografia <strong>de</strong>dicada ao tema é relativamente tardia.Assim, a primeira <strong>de</strong>ssas obras é <strong>de</strong> 1901 (M. Ostrogorski), época em queapenas na Inglaterra, em <strong>de</strong>corrência da expansão do sufrágio, inicia-se atransição do antigo bloco parlamentar para o partido com as característicasque acabaram firmando-se (direção centralizada; atuação parlamentarreferida a programas; comitês nas principais circunscrições eleitorais). Acomplementação <strong>de</strong>sse processo consistiria na constituição <strong>de</strong> assessoriasespecializadas; publicações <strong>de</strong> índole doutrinária; formação <strong>de</strong> quadros,etc... O estudo <strong>de</strong>ssa fase ulterior teve que esperar a experimentação dasdécadas subseqüentes.Em síntese, na atualida<strong>de</strong>, a doutrina do partido político incorporanão apenas o conceito <strong>de</strong> que a representação política é <strong>de</strong> interesses(Benjamin Constant (1767/1830) - Princípios <strong>de</strong> política, Paris, 1815,edição revista do texto <strong>de</strong> 1806). Sua função consiste em afunilá-los(basicamente, vinculando-se às correntes <strong>de</strong> opinião o que, por sua vez,implica em que se apóie num núcleo programático a partir do qualcertamente terá que negociar alianças, em prol da governabilida<strong>de</strong>). A pardisto, dado o aparecimento <strong>de</strong> regimes comunista e socialista, éimprescindível que a agremiação partidária explicite qual o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>
1 9socieda<strong>de</strong> que se disporá a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Provém <strong>de</strong>ssa exigência o imperativoda redução do número <strong>de</strong> partidos, porquanto os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> nãose multiplicam ao infinito, como se supõe entre nós.Com o propósito <strong>de</strong> bem aferir o quanto nos distanciamos <strong>de</strong>ssaproblemática - e explicitar a forma como se manifesta a ausência <strong>de</strong> cultura<strong>de</strong>mocrática -, permito-me passar em revista alguns momentos <strong>de</strong> nossopassado nessa matéria.Começo por <strong>de</strong>stacar que, em geral per<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> vista as razõespelas quais a República <strong>de</strong>sconheceu <strong>de</strong> modo radical a experiênciaanterior. Se a tivesse levado em conta, provavelmente evitaria muitos dos<strong>de</strong>sacertos, cometidos ao longo dos 120 anos <strong>de</strong> existência, que <strong>de</strong>ntro embreve completará.A elite que se lançou, em caráter pioneiro, à construção dasinstituições do sistema representativo, tinha clareza plena <strong>de</strong> que éramosneófitos na questão. Deveriam, pois, <strong>de</strong>bruçar-se sobre os ensinamentosadvindos da experiência dos países que nos prece<strong>de</strong>ram. A serieda<strong>de</strong> comque o fizeram po<strong>de</strong> ser comprovada no livro Ensaio sobre o direitoadministrativo (1862), da autoria <strong>de</strong> Paulino José Soares, Viscon<strong>de</strong> doUruguai (1807/1866). O título da primeira edição (tiragem, como se dizia),fazia referência às instituições imperiais. Na verda<strong>de</strong>, o livro elucida asdificulda<strong>de</strong>s com que se <strong>de</strong>frontaram na implantação dos institutosconsagrados em outros países. e, mais importante, como as superaram pelaexperimentação, guiados pela doutrina <strong>de</strong> que a representação política era<strong>de</strong> interesses, e o arranjo a ser implantado <strong>de</strong>veria conduzir à negociação,ao invés do confronto pelas armas, que seria o típico nas duas décadassubseqüentes à In<strong>de</strong>pendência. Coube a Silvestre Pinheiro Ferreira(1769/1846) familiarizar-nos com a doutrina da representação política comosendo <strong>de</strong> interesses, que se tornaria entendimento dominante, conformetivemos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprovar em pesquisa específica. Além disto, assucessivas reformas ten<strong>de</strong>ntes a aprimorar a representativida<strong>de</strong> dos distritosconstituem outra expressiva comprovação <strong>de</strong>sse fato.Creio, portanto, que passarmos em revista os traços marcantes danossa vivência política, no século XIX, muito contribuiria no sentido <strong>de</strong>comprovar o papel do partido político e as razoes pelas quais torna-seimprescindível ao a<strong>de</strong>quado funcionamento do governo representativo.A República começou por recusar o legado parlamentar doImpério. Os republicanos lidaram com o problema como se estivesseassociado à monarquia, ignorando a existência <strong>de</strong> República Parlamentar<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a III República Francesa, que é <strong>de</strong> 1870. Começando pela implantaçãoda "ditadura republicana", acabamos <strong>de</strong>scambando para a chamada "práticaautoritária". Estou convencido <strong>de</strong> que a construção, entre nós, <strong>de</strong> umaautêntica cultura <strong>de</strong>mocrática passa pela reavaliação daquela experiência.Razões da recusa à República ParlamentarEm geral, quando se discute parlamentarismo é quase impossível
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