1 1 2m e s m o a n o , p r o c e d e u - s e à o c u p a ç ã o d e R o m a , t o r n a d a c a p i t a l d oR e i n o .A dificulda<strong>de</strong> do empreendimento podia ser medida pela afirmativa doconhecido filósofo e pensador liberal Bertrando Spaventa (1817/1883): “A Itália está feita;agora é preciso fazer o italiano”. Com efeito, as repúblicas e os pequenos reinos queacabaram estruturando-se alguns séculos <strong>de</strong>pois da queda do Império Romano haviamacumulado tradições que se consolidaram ao longo <strong>de</strong> pelo menos mil anos. Lombardos,napolitanos, venezianos, sicilianos ou piomonteses não iriam, da noite para o dia, abdicar<strong>de</strong> sua soberania. A estruturação <strong>de</strong> um Estado central revelou-se uma tarefa <strong>de</strong> muitodifícil execução. A impressão que se recolhe, notadamente em <strong>de</strong>corrência do compromissoa que se chegou no período subseqüente à Segunda Guerra, é a <strong>de</strong> que o país renunciou aesse objetivo, consoante teremos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indicar expressamente.A presença do Vaticano e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixar um estatuto razoável a fim <strong>de</strong>assegurar a sua in<strong>de</strong>pendência seria, durante largo período elemento perturbador . Ainsistência da alta hierarquia católica na manutenção do po<strong>de</strong>r temporal indispôs o novoEstado com a Igreja. Embora tivesse sido aprovada, em 1871, a <strong>de</strong>nominada Lei <strong>de</strong>Garantias, reconhecendo a inviolabilida<strong>de</strong> e as prerrogativas pessoais dos Pontífices eassegurando in<strong>de</strong>pendência e livre exercício <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> espiritual, a Santa Sé recusousea reconhecê-la, consi<strong>de</strong>rando-se o Papa um prisioneiro. A questão somente sesolucionaria em 1929, sob Mussolini, quando a Itália reconhece o po<strong>de</strong>r temporal do Papasobre o Estado do Vaticano. Tratando-se <strong>de</strong> um país eminentemente católico, a disputaserviu para criar divisões artificiais entre católicos e liberais, levando, por esse meio, águapara o moinho dos inimigos do sistema representativo, que acabaram por <strong>de</strong>rrocá-lo..H a v i a a i n d a a q u e s t ã o d o a t r a s o d o s e s t a d o s m e r i d i o n a i s ,o n d e p r e d o m i n a v a a g r i c u l t u r a r o t i n e i r a . A R e v o l u ç ã o I n d u s t r i a ll i m i t a r a - s e a o s e s t a d o s d o N o r t e . D e s t e m o d o , a s c o n d i ç õ esv i g e n t e s n o S u l s e r v i r a m p a r a n u t r i r a s f i c ç õ e s d o c o r p o r a t i v i s m o ,i s t o é , d a s e x c e l ê n c i a s d e u m a e c o n o m i a l i v r e d a c o m p e t i ç ã o , a t e seq u e e r a o c e r n e d a d o u t r i n a c o r p o r a t i v a , a f i n a l e n c a m p a d a p e l oP a r t i d o Fa s c i s t a .V i g o r o u n o p a í s a m o n a r q u i a c o n s t i t u c i o n a l c o m o f o r m a d eg o v e r n o . C o n t u d o , a p r á t i c a e s t e v e l o n g e d e a s s e g u r a r e s t a b i l i d a d e .S o m e n t e e m f i n s d o s é c u l o X I X c h e g a a o p o d e r m o n a r c a q u e a d m i t ec o n v i v e r c o m o s i s t e m a p a r l a m e n t a r .A I t á l i a u n i f i c a d a a d o t o u s i s t e m a e l e i t o r a l p r o p o r c i o n a l ,b a s e a d o n a v o t a ç ã o e m l i s t a p r é - o r d e n a d a , j u s t a m e n t e o q u e t i p i f i c ae s s e m o d e l o . A o l o n g o d a s p r i m e i r a s d é c a d a s d o s é c u l o X X n ã o s er e v e l o u c a p a z d e a s s e g u r a r a a p a r e n t e n o r m a l i d a d e , r e c e n t e m e n t ec o n q u i s t a d a . N e s s e p e r í o d o e m e r g e m o r g a n i z a ç õ e s r e v o l u c i o n á r i a s ,d e i n s p i r a ç ã o s o c i a l i s t a , q u e l e v a r i a m a u m a g r a n d e r a d i c a l i z a ç ã o .D i s s o r e s u l t o u q u e a q u e s t ã o d a o r d e m s e t o r n a s s e o e l e m e n t od e f i n i d o r d o p r o c e s s o p o l í t i c o . O f e n ô m e n o e m c a u s a d e u e n s e j o àf o r m a ; c ã o d o P a r t i d o Fa s c i s t a q u e c h e g o u a o p o d e r p e l o v o t o . N op l e i t o e l e i t o r a l d e 1 9 2 4 o b t e v e 6 5 % d o s s u f r á g i o s . E s s e f a t oe q u i v a l e u a u m a c a r t a b r a n c a p a r a a d e s t r u i ç ã o d o s i s t e m ad e m o c r á t i c o r e p r e s e n t a t i v o , i m p l a n t a n d o - s e r e g i m e d i t a t o r i a l .
1 1 3O f a s c i s m o f o i d e r r o t a d o e m j u l h o d e 1 9 4 3 , e md e c o r r ê n c i a d a i n v a s ã o d o p a í s e o c u p a ç ã o d e p a r t e d o t e r r i t ó r i op e l o A l i a d o s . E m b o r a a l u t a a r m a d a c o n t i n u e , o c u p a n d o o s a l e m ã e sp a r t e d o p a í s , f o r m a - s e g o v e r n o p r ó - A l i a d o s . P o r u m p l e b i s c i t ol e v a d o a c a b o e m 1 9 4 6 , a b o l i u - s e a m o n a r q u i aA t r a v é s d a n o v a C o n s t i t u i ç ã o , a p r o v a d a e m 1 9 4 8 , a I t á l i aa d o t a a r e p ú b l i c a p a r l a m e n t a r . O p t o u - s e p e l o s i s t e m a p r o p o r c i o n a lq u e n ã o m a n i f e s t o u d e s d e l o g o s e u s e f e i t o s d e s a s t r o s o s g r a ç a s àp r e s e n ç a d e u m a n o v a a g r e m i a ç ã o p o l í t i c a : o P a r t i d o D e m o c r a t aC r i s t ã o .Em que pese a <strong>de</strong>nominação, o PDC não tinha qualquer caráter confessionalnem recebeu nenhuma espécie <strong>de</strong> bafejo da Cúria Romana. Seu gran<strong>de</strong> artífice seriaAlci<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gasperi (1881/1954), que li<strong>de</strong>rara o Partido Popular, nos anos vinte, assumindo<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo uma atitu<strong>de</strong> francamente antifascista, o que lhe valeu con<strong>de</strong>nação e exílio.Outros lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>mocrata-cristãos haviam se <strong>de</strong>stacado na Resistência. Deste modo, o PDCnão tinha compromissos com o velho conservadorismo, ostentando, ao contrário, uma facereformista e mo<strong>de</strong>rna, cuja plataforma abrangia inclusive a reforma da estrutura agrária noSul. A par disto, optava sem reservas pelas instituições do sistema representativo,arquivando as reticências que caracterizavam o posicionamento da alta hierarquia católica.Apesar <strong>de</strong> que contou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo com uma aguerrida oposição <strong>de</strong> esquerda,representada pela aliança entre os Partidos Socialista e Comunista, o PDC conseguiuminimizar os efeitos das crises ministeriais e dar curso à reorganização do país. Nasprimeiras eleições parlamentares, em abril <strong>de</strong> 1948, o PDC alcança maioria relativamentefolgada (307 <strong>de</strong>putados, equivalentes a 57,3% do total, correspon<strong>de</strong>nte a 535 ca<strong>de</strong>iras).Nessa primeira eleição, a frente Popular Socialista-Comunista fez 182 <strong>de</strong>putados (34% daCâmara). Contudo, nas eleições <strong>de</strong> 1953, a votação obtida pela <strong>de</strong>mocracia cristã reduz-se a40%. Inicia-se o processo <strong>de</strong> fracionamento, fazendo-se representar no Parlamentopequenas agremiações como os Partidos Liberal (Radical), Republicano, Monarquista elogo adiante até mesmo os neofascistas. Entre os socialistas aparece uma facção que seopõe à aliança com os comunistas (política sustentada por Pietro Nenni) e funda o PartidoSocial Democrata, li<strong>de</strong>rado por Saragat. Essa cisão da esquerda iria dar alento aos governos<strong>de</strong>mocrata-cristãos, mas sustentados por maiorias precárias. A votação obtida pelo PDCreduziu-se a 38,3% nas eleições <strong>de</strong> 1963 e a 39,1% nas <strong>de</strong> 1968.A nova li<strong>de</strong>rança que se colocou à frente do regime <strong>de</strong>mocrático na Itália tratou<strong>de</strong> aproximar-se da França e da Alemanha, formando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo entre os que preconizavamaquele tipo <strong>de</strong> unificação econômica que iria <strong>de</strong>sembocar no Mercado Comum Europeu.Deste modo, apostou no tipo <strong>de</strong> capitalismo que veio a resultar do keynesianismo, freandoao mesmo tempo a ingerência direta do Estado no processo produtivo, que viria a ocorrer,mas sem afetar a dinâmica capitalista, como acabou acontecendo na Inglaterra. Ao mesmotempo, renunciou claramente à formação <strong>de</strong> estruturas estatais centralizadas, i<strong>de</strong>al quenunca chegara a ser atingido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a unificação do país, o que é compreensível em face docaráter milenar dos pequenos estados que se formaram na península, divisões territoriaisque acabaram encontrando uma <strong>de</strong>limitação amplamente consentida na forma do estadoprovincial que, na Itália, é chamado <strong>de</strong> região.Em 1967, os 50,6 milhões <strong>de</strong> habitantes com que contava a Itália distribuíam-se<strong>de</strong>ste modo: 24,2 milhões (48%) vivendo nas oito regiões do Norte, abrangendo as gran<strong>de</strong>sáreas industriais <strong>de</strong> Turim, Gênova e Milão, além das concentrações urbanas do Vale do
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