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Quem foi que disse que isso é lixo? - Redes de desenvolvimento da ...

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Bairro Maré / Rio <strong>de</strong> Janeiro - Ano 1 | n o 10 - Outubro <strong>de</strong> 2010Elisângela Leite<strong>Quem</strong> <strong>foi</strong><strong>que</strong> <strong>disse</strong> <strong>que</strong><strong>isso</strong> é <strong>lixo</strong>?Se você olha os vasilhames <strong>de</strong>sta foto e enxerga <strong>lixo</strong>, está na hora<strong>de</strong> rever seus conceitos. A maior parte do <strong>que</strong> jogamos fora não é<strong>lixo</strong> e po<strong>de</strong> – e <strong>de</strong>ve – ser reaproveitado. Enquanto a Prefeitura nãoimplanta coleta seletiva na favela, a Maré faz a sua parte. Duas cooperativas<strong>de</strong> reciclagem localiza<strong>da</strong>s no bairro possuem capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> receber mais embalagens, papéis, plásticos, metais e PET dosmoradores. “Se todos apren<strong>de</strong>rem mais sobre reciclagem, teremosum futuro melhor para os nossos fi lhos e netos”, diz a catadoraMarta. Pág. 6Palafi tas do Par<strong>que</strong> MaréReproduçãoMeninos,eu vi!“Nossa história” é a nova seçãodo Maré <strong>de</strong> Notícias. A históriaconta<strong>da</strong> por <strong>que</strong>m viu e viveu. Oprimeiro entrevistado é Zé Careca,<strong>que</strong> passou a fre<strong>que</strong>ntar oPar<strong>que</strong> Maré em 1951, quandoa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> estava começando,com menos <strong>de</strong> 70 barracossobre palafi tas. Pág. 11Veja a programação<strong>da</strong> Lona <strong>da</strong>Maré. Pág. 8Elisângela LeiteElisângela LeiteMarcílio Dias sob nova direçãoA Associação <strong>de</strong> Moradores do Conjunto Marcílio Diasdribla as difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e busca uma série <strong>de</strong> melhoriaspara a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A presi<strong>de</strong>nte Jupira dos Santos <strong>que</strong>ratrair projetos para a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> e busca a melhoria dosserviços públicos. Pág. 5Moradores graduadosAntigamente, <strong>que</strong>m se formava na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>era chamado <strong>de</strong> “doutor”. Tratavase<strong>de</strong> uma conquista distante <strong>de</strong> pessoas<strong>de</strong> território popular, mas essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> jámudou também na Maré, on<strong>de</strong> o acesso<strong>de</strong> moradores à facul<strong>da</strong><strong>de</strong> triplicou <strong>de</strong>2000 a 2008. Pág. 3Turma do CPV <strong>Re<strong>de</strong>s</strong>Mais mulheres <strong>de</strong>nunciam maus-tratosA Lei Maria <strong>da</strong> Penha já colhe seus frutos. O número <strong>de</strong> mulheres<strong>que</strong> <strong>de</strong>nunciam a violência sofri<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa aumentou112% este ano. Saiba como agir nesses casos. Na Maré, oCentro <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Mulheres - Carminha Rosa, na Vila doJoão, faz encaminhamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias e aju<strong>da</strong> na geração<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s vítimas <strong>que</strong> <strong>que</strong> mu<strong>da</strong>m suas vi<strong>da</strong>s. Pág. 4Equipe do Centro <strong>de</strong> Mulheres Carminha RosaShyrlei RosendoO Maré <strong>de</strong> Notícias conquistou o Selo Prêmio Cultura Viva, do Ministério <strong>da</strong> Cultura, e agoraconcorre ao Prêmio Cultura Viva <strong>que</strong>, em sua terceira edição, busca valorizar iniciativas <strong>que</strong>articulem cultura e comunicação. A equipe do jornal gostaria <strong>de</strong> compartilhar essa conquistacom todos os leitores. Foram selecionados 120 projetos <strong>de</strong> 1.794 inscritos.


2 |Outubro <strong>de</strong> 2010EditorialBoas notícias <strong>da</strong> MaréO Maré <strong>de</strong> Notícias chega à décima edição com uma conquis-ta <strong>que</strong> a equipe gostaria <strong>de</strong> dividir com os leitores. Afi nal, o jornalé também fruto <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias, opiniões e sugestões dos moradores einstituições atuantes no bairro. Conquistamos o Selo Prêmio CulturaViva, concedido pelo Ministério <strong>da</strong> Cultura a iniciativas <strong>que</strong> buscamvalorizar a articulação entre cultura e comunicação. Mais <strong>de</strong> 1.700iniciativas concorreram ao selo e, <strong>de</strong>stas, 120 foram seleciona<strong>da</strong>s.Para saber mais, visite www.premioculturaviva.org.br/Nesta edição, <strong>da</strong>mos início a duas novas seções: Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>da</strong> Maré e Nossa Gente. A primeira trará notícias sobre ca<strong>da</strong> uma<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré; e a segun<strong>da</strong> contará um pouco <strong>da</strong> vastahistória do bairro, <strong>de</strong> acordo com lembranças dos moradores<strong>que</strong> vivem na locali<strong>da</strong><strong>de</strong> há mais tempo. Confi ra as duas primeirasreportagens nas páginas 5 e 11!Nas próximas páginas, o leitor encontrará também algumas <strong>da</strong>sboas iniciativas <strong>que</strong> fl orescem bem pertinho <strong>da</strong> gente. Uma <strong>de</strong>lassão os cursos pré-vestibulares, <strong>que</strong> contribuem para aumentar oacesso dos moradores ao ensino superior (pág. 3). Na pág. 4, amatéria sobre violência contra mulheres cita o trabalho <strong>de</strong>senvolvidona Vila do João; e a matéria principal trata <strong>de</strong> reciclagem <strong>de</strong>ntro<strong>da</strong> Maré (pág. 6 e 7).Boa leitura!CARTASCoragemVi o jornal <strong>de</strong> vocês e gostaria <strong>de</strong> parabenizá-los pela coragem.Vi<strong>da</strong> longa ao Maré <strong>de</strong> NotíciasWânia MonteiroParabenizo a equipe pela iniciativa <strong>de</strong> criar uma mídia <strong>que</strong> relatao cotidiano dos moradores <strong>da</strong> periferia. Este tipo <strong>de</strong> ação criauma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. As pessoas se reconhecem. Belíssimo conteúdo.Que esta produção permaneça por longos anos.Alessandro SwinerdCultura <strong>da</strong> leituraQuero parabenizá-los não só pelo conteúdo <strong>da</strong>s matérias, masprincipalmente pelo enorme trabalho <strong>que</strong> é levar a cultura <strong>da</strong>leitura a uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> carente. Alguns anos atrás, participeiativamente do jornal comunitário do meu bairro, tendo uma colunafalando sobre futebol e <strong>da</strong>ndo minhas opiniões em outrosesportes, fato <strong>que</strong> me <strong>foi</strong> muito gratifi cante. Hoje, formado emMarketing, administro uma loja <strong>da</strong> Rua Teixeira Ribeiro. Fico noaguardo do próximo exemplar do jornal.César D. AzevedoO PODER DA MÍDIA EM DEBATEEm muitos países cresce o olhar crítico <strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s populaçõessobre a chama<strong>da</strong> “gran<strong>de</strong> imprensa”, acusa<strong>da</strong> <strong>de</strong>apresentar as notícias conforme seus interesses políticos eeconômicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presi<strong>de</strong>nteBarack Obama já trata a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisão Fox News comoum partido político. Na Bolívia, o presi<strong>de</strong>nte Evo Morales <strong>de</strong>clarou<strong>que</strong> a maior oposição <strong>que</strong> ele enfrenta vem <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>imprensa. Aqui no Brasil, o jornalista Paulo Henri<strong>que</strong> Amorimpopularizou a expressão “Partido <strong>da</strong> Imprensa Golpista(PIG)”, termo criado por internautas em 2007. Não é <strong>de</strong> estranhar,portanto, <strong>que</strong> o Núcleo Piratininga <strong>de</strong> Comunicação(NPC) tenha escolhido como tema <strong>de</strong> seu 16º curso anual “Opo<strong>de</strong>r <strong>da</strong> mídia no século 21”. O curso acontecerá entre osdias 24 e 28 <strong>de</strong> novembro, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>stinado a todos <strong>que</strong> <strong>que</strong>iram aperfeiçoar a comunicaçãopopular. O NPC é um grupo <strong>de</strong> bravos jornalistas, profi ssionais <strong>de</strong> comunicação e professoresuniversitários <strong>de</strong> várias áreas <strong>que</strong> se propõe a fortalecer a comunicação popular como alternativa à hegemoniados meios tradicionais. Mais informações pelos telefones (21) 2220-5618 / 9628-5022, peloe-mail: npiratininga@uol.com.br ou pelo site http://www.piratininga.org.br/Se você tem alguma informaçãosobre estas crianças, ligue para(21) 2286-8337(Fun<strong>da</strong>ção para a Infância eAdolescência - FIA).Leandro <strong>da</strong> Silva Ro<strong>que</strong>Michele Santana <strong>de</strong> AraújoExpedienteInstituição Proponente<strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong>Desenvolvimento <strong>da</strong> MaréDiretoriaEblin FarageEdson DinizEliana Sousa SilvaFernan<strong>da</strong> GomesCoor<strong>de</strong>nadora doSetor <strong>de</strong> ComunicaçãoTatiana GalvãoInstituição ParceiraObservatório <strong>de</strong> FavelasApoioAção Comunitária do BrasilAdministração doPiscinão <strong>de</strong> RamosAssociação ComunitáriaRo<strong>que</strong>te PintoAssociação <strong>de</strong> Moradores eAmigos do ConjuntoBento Ribeiro DantasAssociação dos Moradores eAmigos do Conjunto EsperançaAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Conjunto Marcílio DiasAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Conjunto PinheirosAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Morro do TimbauAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Par<strong>que</strong> EcológicoAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Par<strong>que</strong> Habitacional<strong>da</strong> Praia <strong>de</strong> RamosAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Par<strong>que</strong> MaréAssociação <strong>de</strong> Moradoresdo Par<strong>que</strong> Rubens VazAssociação <strong>de</strong> Moradores<strong>da</strong> Vila do JoãoAssociação Pró-Desenvolvimento<strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Nova Holan<strong>da</strong>Biblioteca ComunitáriaNéli<strong>da</strong> PiñonCentro <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Mulheres<strong>da</strong> Maré - Carminha RosaConexão GConjunto HabitacionalNova MaréConselho <strong>de</strong> Moradores<strong>da</strong> Vila dos PinheirosLuta pela PazUnião <strong>de</strong> Defesa eMelhoramentos do Par<strong>que</strong>Proletário <strong>da</strong> Baixa do SapateiroUnião EsportivaVila Olímpica <strong>da</strong> MaréEditora executiva ejornalista responsávelSilvia Noronha(Mtb – 14.786/RJ)Repórteres e re<strong>da</strong>toresHélio Eucli<strong>de</strong>s(Mtb – 29919/RJ)Marianna AraujoRosilene Miliotti(Estagiária)Rosilene Ricardo(Estagiária)Vitor <strong>de</strong> Castro(Mtb 30.325/RJ)FotógrafaElisângela LeiteProjeto Gráfico ediagramaçãoAnna IanniniLogotipoMonica Soffi atti(com foto <strong>de</strong> Genílson Araújo)Assistente gráficoFelipe ReisColaboradoresAnabela Paiva,Ay<strong>da</strong>no André Mota,Coletivo Favela em Foco,Flávia Oliveira,Imagens do Povo,Marília Gonçalves.ImpressãoNews Technology Gráfi caEditora Lt<strong>da</strong>Tiragem30.000<strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong>Desenvolvimento <strong>da</strong> MaréRua Sargento Silva Nunes, 1012,Nova Holan<strong>da</strong> / MaréCEP: 21044-242Informações: (21) 3104.3276(21)3105.5531www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.brre<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare@re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.brParceiros


EducaçãoOutubro <strong>de</strong> 2010 | 3Cresce o número <strong>de</strong>moradores com curso superiorCursinhos pré-vestibulares comunitários contribuem para <strong>que</strong> um sonho se torne reali<strong>da</strong><strong>de</strong>Fábio (ao fundo, à es<strong>que</strong>r<strong>da</strong>), morador <strong>da</strong> Maré, dá aula no pré-vestibularTexto e fotos: Hélio Eucli<strong>de</strong>sDes<strong>de</strong> a época <strong>da</strong> re<strong>de</strong>mocratização, nos anosO percentual <strong>de</strong>1980, os movimentos populares vêm lutando emmoradores <strong>da</strong> diversas frentes por direitos iguais e melhoria <strong>de</strong>Maré graduados vi<strong>da</strong> do brasileiro. Faz parte <strong>de</strong>ssa luta o trabalhoe graduandos <strong>de</strong>senvolvido nos cursos pré-vestibulares comunitários,<strong>que</strong> exercem papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<strong>que</strong> na am-aumentou <strong>de</strong>pliação <strong>da</strong>s escolhas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> diferentesi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Os esforços já <strong>de</strong>ixam seus frutos.1,6%, em 2000,para 4,7%,Segundo os resultados do Censo Maré 2000, aem 2008 porcentagem <strong>de</strong> moradores universitários na<strong>que</strong>leano era <strong>de</strong> 1,6%. Em 2008, pesquisa realiza<strong>da</strong>com 514 moradores em to<strong>da</strong>s as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré, para a tese <strong>de</strong>doutorado <strong>de</strong> Eliana Sousa Silva, diretora <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento<strong>da</strong> Maré, verifi cou <strong>que</strong> o índice havia aumentado para 4,7%.Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, o acesso <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares à universi<strong>da</strong><strong>de</strong>era mais raro ain<strong>da</strong>, o <strong>que</strong> a própria Eliana, hoje aos 48 anos, sentiu napele. Quando jovem, ela tirava cópia <strong>da</strong>s apostilas dos cursos preparatórios<strong>que</strong> os amigos fre<strong>que</strong>ntavam. “Estu<strong>da</strong>va sozinha, <strong>foi</strong> um gran<strong>de</strong>esforço. Em 1983, quando passei, era mais difícil do <strong>que</strong> hoje, pois tive<strong>que</strong> construir uma estratégia individual. Agora há uma iniciativa coletiva,com pré-vestibulares nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, compara.A moradora <strong>da</strong> Vila do Pinheiro e também doutora Ja<strong>que</strong>line Luzia, <strong>de</strong>32 anos, diz <strong>que</strong>, em 1996, quando prestou vestibular, os preparatórios<strong>que</strong> existiam eram todos muito caros. “Fi<strong>que</strong>i sabendo <strong>da</strong> existência <strong>de</strong>um curso comunitário no bairro <strong>de</strong> Oswaldo Cruz; e mesmo longe <strong>de</strong>casa, o curso signifi cava para mim a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> me preparar para ovestibular e para a minha formação <strong>de</strong> consciência”, recor<strong>da</strong>-se.No fi nal <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990, o movimento em prol dos cursos preparatórioscomunitários cresceu. Um dos percussores <strong>foi</strong> frei David Santos,coor<strong>de</strong>nador do Educafro. “De lá para cá, as mu<strong>da</strong>nças foram gran<strong>de</strong>snos quatro cantos do Brasil. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> negra e branca pobre tomouconsciência <strong>de</strong> seus direitos. A nossa luta para <strong>que</strong> o governo tivesse umplano <strong>de</strong> inclusão <strong>foi</strong> <strong>de</strong>terminante”, revela frei David.Apren<strong>de</strong>ndo a estu<strong>da</strong>rPara Roberta Alves, <strong>de</strong> 28 anos, o extinto curso Provest <strong>da</strong> Vila do João<strong>foi</strong> indispensável para seu ingresso no curso <strong>de</strong> biblioteconomia, em2007. “Ensinou-me o <strong>que</strong> não sabia: a disciplina para estu<strong>da</strong>r”, avalia.Para muitos jovens, o Curso Pré-Vestibular <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré (CPV <strong>Re<strong>de</strong>s</strong>)se tornou uma espécie <strong>de</strong> guia nessa trilha <strong>que</strong> já contabiliza mais <strong>de</strong> 600aprovados somente para universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Alémd<strong>isso</strong>, o curso procura trabalhar o <strong>de</strong>senvolvimento humano por meio <strong>de</strong>inúmeras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. “Os alunos passam a se engajar em <strong>que</strong>stões sociais,fortalecem seus laços <strong>de</strong> pertencimento com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, enfi m,se percebam sujeitos <strong>de</strong> sua própria história, <strong>de</strong> sua própria vi<strong>da</strong>”, analisao coor<strong>de</strong>nador do curso, Tiago Cavalcante. A aluna Ana Cláudia, <strong>de</strong> 23anos, completa: “Depois do pré vejo a vi<strong>da</strong> com outro olhar”.Outro projeto fre<strong>que</strong>ntado por moradores <strong>da</strong> Maré é o Pré-VestibularSamora Machel, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), <strong>que</strong>visa promover o acesso <strong>da</strong> população vizinha à Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Universitária. “Oscursos comunitários ain<strong>da</strong> são uma boa opção. Esse movimento <strong>foi</strong> ummotor <strong>que</strong> empurrou a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para pensar e atuar nessa <strong>que</strong>stão.Lembro <strong>que</strong> as cotas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Uerj)foram frutos <strong>de</strong>sse movimento”, <strong>de</strong>staca o coor<strong>de</strong>nador do curso e professorJoão Massena.Três moradores <strong>da</strong> Maré sãoprofessores do Samora. “O prévestibularensina a fazer uso do“Os alunos passam a seengajar em <strong>que</strong>stões sociais,ensino, a viver o <strong>que</strong> se apren<strong>de</strong>.fortalecem seus laçosEu me realizo <strong>da</strong>ndo aulas e é umaforma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer”, comenta <strong>de</strong> pertencimento com aFábio Monteiro, <strong>de</strong> 29 anos, professor<strong>de</strong> história, morador <strong>da</strong> sujeitos <strong>de</strong> sua própriacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, se percebamMaré. Seu aluno Josimar Costa,história, <strong>de</strong> sua própria vi<strong>da</strong>”<strong>de</strong> 35 anos, <strong>da</strong> Vila do Pinheiro,Tiago Cavalcante,chama atenção para o diferencialcomunitário. “O fato <strong>de</strong> o cursodo CPV <strong>Re<strong>de</strong>s</strong><strong>da</strong>r consciência política faz <strong>de</strong>leuma bússola”, afi rma.On<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>rJosimar Costa,morador <strong>da</strong> Vila do Pinheiro,no Pré-Vestibular Samora Machel• Pré-Vestibular <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré - funciona à noite, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>a sexta e também nas tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sábado, na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> instituição,na Nova Holan<strong>da</strong>, com três turmas. Há uma quarta turma naAssociação <strong>de</strong> Moradores <strong>da</strong> Vila do João. Tel: 3105-5531.• Pré-Vestibular Samora Machel - funciona à noite, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>a sexta, nas instalações do Centro <strong>de</strong> Ciências Matemáticase <strong>da</strong> Natureza (CCMN), <strong>da</strong> UFRJ, no Fundão. Com duas turmas<strong>de</strong> 70 alunos ca<strong>da</strong>.


4 | Políticas públicasOutubro <strong>de</strong> 2010Basta!Ca<strong>da</strong> vez mais mulheres <strong>de</strong>nunciam as agressõesvin<strong>da</strong>s do companheiro ou <strong>de</strong> outro familiarTexto e foto: Hélio Eucli<strong>de</strong>s“Em mulher não se bate nem com uma fl or” – uma frase poética <strong>que</strong>em pleno ano 2010 ain<strong>da</strong> não é leva<strong>da</strong> à sério. Dados <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong>Políticas para as Mulheres, do governo fe<strong>de</strong>ral, revelam um aumento <strong>de</strong>112% no registro <strong>de</strong> chama<strong>da</strong>s para a Central <strong>de</strong> Atendimento à Mulher,<strong>de</strong> janeiro a junho <strong>de</strong>ste ano, em comparação com o mesmo período<strong>de</strong> 2009, em todo o território nacional. Foram 343.063 atendimentos noperíodo, contra 161.774. Esses números se <strong>de</strong>vem à realização <strong>de</strong> campanha<strong>de</strong> divulgação <strong>da</strong> Lei Maria <strong>da</strong> Penha, promulga<strong>da</strong> em 2006 como objetivo <strong>de</strong> coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.No Rio <strong>de</strong> Janeiro, terceiro estado em chama<strong>da</strong>s, com 25.274 registros,a campanha provocou o aumento <strong>de</strong> notifi cações nas <strong>de</strong>z DelegaciasEspeciais <strong>de</strong> Atendimento a Mulher (Deam) existentes. Somentena Deam do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> são registra<strong>da</strong>s em média <strong>de</strong> 60 a 70<strong>de</strong>núncias por dia, <strong>que</strong> geram a abertura <strong>de</strong> 600 a 700 inquéritos pormês. “Aqui o atendimento é diferenciado, só para mulheres. Trabalhamosem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> instituições, tipo os juizados <strong>que</strong> têmatendimento para a vítima e agressor, com terapia”, comenta a <strong>de</strong>lega<strong>da</strong><strong>da</strong> Deam Centro, Célia Silva Rosa, <strong>de</strong> 55 anos.Em média, a maioria <strong>da</strong>s mulheres <strong>de</strong>nuncia somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doisanos <strong>de</strong> maus-tratos, pois, em geral, elas acreditam <strong>que</strong> o agressor vaiparar <strong>de</strong> bater ou sentem difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong> por <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem fi nanceiramentedo marido. “Mesmo após a procura, 5% se arrepen<strong>de</strong>m e afi rmam <strong>que</strong>só <strong>que</strong>riam <strong>da</strong>r um susto. Elas têm medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o conforto, <strong>que</strong> paraela é uma vi<strong>da</strong> organiza<strong>da</strong>. Não po<strong>de</strong>mos forçar ninguém, mas recomendo<strong>que</strong> se <strong>de</strong>nuncie logo na primeira agressão, seja física, moral oupatrimonial”, afi rma a <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>.Violência psicológica e patrimonial também são crimesDiversas medi<strong>da</strong>s po<strong>de</strong>m ser toma<strong>da</strong>s pela polícia e pela justiça para impedir<strong>que</strong> algo <strong>de</strong> mais grave ocorra. Em primeiro lugar, vale ressaltar <strong>que</strong>até quando não há lesão, o agressor é indiciado. Isto por<strong>que</strong> a lei Maria<strong>da</strong> Penha <strong>de</strong>fi ne como crimes as violências física, sexual, psicológica,moral e patrimonial (quando há retenção ou subtração <strong>de</strong> bens ou mesmo<strong>de</strong> documentos) e enquadra ain<strong>da</strong> atitu<strong>de</strong>s como manter a mulhersob vigilância constante ou sob ameaça, entre outras.Como prevenção, operações <strong>de</strong> busca e apreensão têm acontecidoquando o companheiro faz ameaça com arma. Outra ação é o impedimento<strong>de</strong> qual<strong>que</strong>r comunicação do agressor com a vítima, com <strong>de</strong>cretação<strong>de</strong> prisão caso a <strong>de</strong>terminação seja <strong>de</strong>scumpri<strong>da</strong>. Em situação <strong>de</strong>risco, o Estado indica uma casa <strong>de</strong> abrigo para a mulher; e se ela precisousair <strong>de</strong> casa às pressas, os policiais a acompanham para <strong>que</strong> possapegar seus pertences.“Alguns agressores atribuem sua atitu<strong>de</strong> à bebi<strong>da</strong>, outros explicamcomo normal a violência. O agressor acha <strong>que</strong> não tem limite, mas apanhar<strong>de</strong> marido não é normal. Lembro <strong>que</strong> a agressão não é só <strong>de</strong> companheirocontra a mulher, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> pai, sogro, outra mulher, quandoela vive afetivamente”, explica Célia. Segundo a <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>, são poucas asDelegacia <strong>da</strong> Mulher: <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> moradoras <strong>da</strong> Maré são rarasLeis contra a violência domésticaMaria <strong>da</strong> Penha (11.340 /2006) - cria mecanismos para coibir aviolência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos: do parágrafo8° do artigo 226 <strong>da</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral, <strong>da</strong> convençãosobre a eliminação <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> discriminação contraas mulheres e <strong>da</strong> convenção interamericana para prevenir, punir eerradicar a violência contra a mulher; dispõe sobre a criação dosjuizados <strong>de</strong> violência doméstica e familiar contra a mulher; alterao código <strong>de</strong> processo penal, o código penal e a lei <strong>de</strong> execuçãopenal; entre outras providências.O nome <strong>da</strong> lei é uma homenagem à farmacêutica Maria <strong>da</strong> Penha,<strong>que</strong> <strong>foi</strong> agredi<strong>da</strong> pelo marido durante seis anos. Em 1983,por duas vezes, ele tentou assassiná-la, numa <strong>de</strong>las <strong>de</strong>ixando-aparaplégica. Maria <strong>da</strong> Penha lutou 19 anos pela con<strong>de</strong>nação doagressor <strong>que</strong>, mesmo assim, cumpriu apenas dois anos <strong>de</strong> prisãoem regime fechado.Lei n.º 9.099 - instituiu e regulamentou os juizados especiais cíveise criminais (JECrim), <strong>que</strong> tem competência para conciliação, processoe julgamento <strong>da</strong>s causas cíveis <strong>de</strong> menor complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<strong>de</strong>núncias provenientes <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. “Da Maré são raros, mas não<strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong> não exista agressão”, afi rma.Na Maré existe, há cinco anos e meio, um trabalho coletivo <strong>de</strong> combateà violência contra a mulher, <strong>de</strong>senvolvido por estu<strong>da</strong>ntes e moradores, <strong>que</strong>oferecem atendimento psicológico, político e social. Trata-se do Centro <strong>de</strong>Referência <strong>de</strong> Mulheres <strong>da</strong> Maré - Carminha Rosa, <strong>que</strong> concentra profi s-sionais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), como assistentessociais, técnicas em assuntos educacionais e estagiários. Eles executamativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e culturais, cursos e palestras, para a geração <strong>de</strong>ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres assisti<strong>da</strong>s. Desse jeito contribuem para <strong>que</strong> as vítimastenham mais condições <strong>de</strong> sair <strong>da</strong> situação <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> gênero. “É umapolítica permanente no local, aju<strong>da</strong>mos com encaminhamento também,mas a porta <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> não é o atendimento e sim as ofi cinas”, <strong>de</strong>talha aprofessora e coor<strong>de</strong>nadora do CRMM-CR, Eliana Moura, <strong>de</strong> 55 anos. Paraduplicar esse trabalho, no fi nal <strong>de</strong> outubro a o Rio <strong>de</strong> Janeiro ganhará outrocentro <strong>de</strong> referência, na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Universitária.A <strong>que</strong>m recorrer• Central <strong>de</strong> Atendimentoà Mulher: Ligue 180• Dis<strong>que</strong> Mulher: (21) 2332-8249• Dis<strong>que</strong> AssembleiaDireitos <strong>da</strong> Mulher: 0800 2820119• Centro <strong>de</strong> Referência<strong>de</strong> Mulheres <strong>da</strong> Maré -Carminha Rosa (UFRJ)Rua 17, Vila do João - Maré(anexo ao Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>)Tel/ fax: (21) 3104-9896E-mail: equipe.crmm@cfch.ufrj.brwww.cfch.ufrj.br/crmmHorário <strong>de</strong> Atendimento:2ª a 6ª feira <strong>da</strong>s 9h às 17h• Delegacia Especializa<strong>da</strong> <strong>de</strong>Atendimento à Mulher (Deam)Av: Viscon<strong>de</strong> do Rio Branco, 12 - Centro(próx. à Praça Tira<strong>de</strong>ntes)Tel.: (21) 2334-9859 / 2332-9998• I Juizado Especial <strong>de</strong> ViolênciaDoméstica e Familiar contra a MulherRua <strong>da</strong> Carioca, 72 - centroTel. 2232-9939 / 2332-8566


Outubro <strong>de</strong> 2010 Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré| 5Se<strong>de</strong> <strong>da</strong> associação <strong>de</strong> moradores, atualmente em reformasA volta por cima <strong>de</strong> Marcílio DiasComuni<strong>da</strong><strong>de</strong> luta por serviços públicos e projetos <strong>de</strong> melhoria para to<strong>da</strong> a população localTexto: Silvia Noronha | Fotos: Elisângela LeiteA Associação <strong>de</strong> Moradores do Conjunto Marcílio Dias está em plenoprocesso <strong>de</strong> transformação. Para começar, a associação existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, mas só em meados <strong>de</strong>ste ano, na atual gestão, oprocesso <strong>de</strong> legalização <strong>da</strong> instituição <strong>foi</strong> fi nalizado. “Agora posso dizer<strong>que</strong> pertencemos à Maré”, afi rma Jupira dos Santos, <strong>de</strong> 50 anos, <strong>que</strong>este ano assumiu a presidência <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> situa<strong>da</strong> entre a áreamilitar <strong>da</strong> Marinha e o Mercado São Sebastião, na Penha.Entre as muitas batalhas a serem venci<strong>da</strong>s estão reformar a se<strong>de</strong> <strong>da</strong>associação e <strong>de</strong>senvolver projetos em prol <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>que</strong> contacom cerca <strong>de</strong> 12 mil moradores, segundo estima Jupira. “Estamos es<strong>que</strong>cidos.Marcílio não tem projetos, faltam investimentos <strong>de</strong> empresase instituições, mas escutamos dizer <strong>que</strong> existe em outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s”,ressente-se.Jupira e seu vice-presi<strong>de</strong>nte, Luciano Aragão, <strong>de</strong> 35 anos, já conseguiramas telhas novas, indispensáveis ao bom funcionamento <strong>da</strong>associação, on<strong>de</strong>, por enquanto, chove <strong>de</strong>ntro. Parte <strong>da</strong>s obras contacom o apoio <strong>de</strong> moradoras <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>que</strong> fazem o cursoMulheres Construindo um Novo Rio, na Biblioteca Comunitária Néli<strong>da</strong>Piñon, em Marcílio Dias.“Impossível fazer qual<strong>que</strong>r coisa nesse estado. Após a troca <strong>da</strong>s telhasvamos pintar a se<strong>de</strong> e correr atrás <strong>de</strong> projetos. Um <strong>de</strong>les será um curso<strong>de</strong> informática”, revela Luciano, <strong>que</strong> é instrutor <strong>de</strong> informática na biblioteca.Outras i<strong>de</strong>ias são curso pré-vestibular e alfabetização <strong>de</strong> adultos.A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e suas privaçõesA única uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino público na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é a Escola MunicipalGonzaguinha, <strong>que</strong> oferece turmas somente até a 4ª série, obrigando osalunos a estu<strong>da</strong>rem fora <strong>de</strong> Marcílio Dias a partir do 5º ano. Vale lembrar<strong>que</strong> os moradores sofrem com a oferta precária <strong>de</strong> transportes. Só existemdois horários <strong>de</strong> ônibus, <strong>que</strong> saem às 6h30 e às 7h30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas não existe volta. É <strong>isso</strong> mesmo.Vai, mas não volta. Com <strong>isso</strong>, a população local é obriga<strong>da</strong> a gastar maisdinheiro com transporte, por<strong>que</strong> as kombis não possuem autorização paracircular fora <strong>de</strong> Marcílio Dias, po<strong>de</strong>m ir apenas até a Aveni<strong>da</strong> Brasil. Resultado:para trabalhar, a maioria precisa pegar pelo menos duas conduçõespara ir e outras duas para voltar, o <strong>que</strong> ao fi nal do mês soma um gasto <strong>de</strong>R$ 191,40.“Estamos correndo atrás para tentar legalizar o transporte alternativo,por<strong>que</strong> a população sofre muito com essa situação. Às vezes, a fi scalizaçãopega três ou quatro kombis num dia, e <strong>que</strong>m fi ca na mão é o morador”,conta Jupira. “Aqui nós estamos es<strong>que</strong>cidos mesmo”, lamenta ela, <strong>que</strong>tenta mu<strong>da</strong>r essa e muitas outras situações <strong>de</strong> privação na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Entre as outras lutas está o aumento do número <strong>de</strong> garis comunitários.Atualmente são apenas quatro, mas a Prefeitura prometeu aumentar para30 a partir do ano <strong>que</strong> vem. Outra batalha é o tratamento <strong>de</strong> esgoto pelaCe<strong>da</strong>e. “Está horrível, tudo entupido”, conta Jupira. Pelo menos o projetoÁgua para Todos, <strong>que</strong> está sendo <strong>de</strong>senvolvido nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>Maré, também chegou a Marcílio Dias.Além d<strong>isso</strong>, a associação está iniciando bons contatos visando benefi -ciar a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> to<strong>da</strong>. “Estamos procurando a Marinha, o Rotary Clube,as empresas do bairro, entre outros. Com a Comlurb também conseguimosum bom relacionamento. Eu ligo, peço para eles buscarem o <strong>lixo</strong> na Aveni<strong>da</strong>Lobo Júnior e eles sempre vêm. A Ce<strong>da</strong>e prometeu voltar para cui<strong>da</strong>rdo esgoto”, relata Luciano, <strong>que</strong> é nascido e criado em Marcílio Dias.A Rio Luz, por sua vez, tem trocado as lâmpa<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s ruas, mas o serviçoacontece lentamente, praticamente uma rua por vez. “Nesse ritmo, otrabalho vai terminar no fi m do ano; <strong>isso</strong> se nenhuma lâmpa<strong>da</strong> <strong>que</strong>imar atélá”, constata Jupira, <strong>que</strong> mora na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> há 20 anos.A presi<strong>de</strong>nte diz <strong>que</strong> só não faz mais por falta <strong>de</strong> recursos, pois contacom apenas 31 associados pagando mensali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> R$ 5, ou seja, o recursoé mesmo escasso, mas po<strong>de</strong> melhorar um pouco quando o postodo Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Família (PSF) começar a funcionar na parte dosfundos <strong>da</strong> associação, o <strong>que</strong> vai gerar um aluguel mensal, em valor ain<strong>da</strong>não negociado.“O <strong>que</strong> eu gostaria mesmo era <strong>que</strong> o Programa <strong>de</strong> Aceleração do Crescimento(PAC), do governo fe<strong>de</strong>ral, entrasse aqui, para ter infraestrutura,asfalto etc. Só mesmo o PAC resolveria os problemas”, acredita Jupira.Para fi nalizar, ela explica <strong>que</strong> não existe comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> Kelson, nome <strong>da</strong>antiga fábrica <strong>que</strong> existia no local. O nome correto é apenas Marcílio Dias,<strong>que</strong> inclui Man<strong>da</strong>caru, on<strong>de</strong> moradores ain<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong>m <strong>de</strong>fi nição sobreum projeto <strong>de</strong> reassentamento (leia ed. n. 4 <strong>de</strong> Maré <strong>de</strong> Notícias, em www.jornalmare<strong>de</strong>noticias.blogspot.com).Marcílio Dias teveinício com pescadores <strong>que</strong>construíram barracos sobrepalafi tas em 1948. Des<strong>de</strong>então, só faz crescer e agora<strong>que</strong>r aparecer com seus direitosgarantidos.Associação<strong>de</strong> Moradores doConjuntoMarcílio DiasAveni<strong>da</strong> Lobo Júnior, 83Aberta <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> asexta-feira em horáriocomercialÁrea <strong>de</strong> lazer abandona<strong>da</strong>


6 | Meio ambienteOutubro <strong>de</strong> 2010Manuseio do papel na Rio Coop, <strong>que</strong> tem mais <strong>de</strong> 300 colaboradoresSeparação do <strong>lixo</strong> na Rio CoopRecicle essa i<strong>de</strong>iaA maior parte do <strong>que</strong> jogamos fora não é <strong>lixo</strong>. Um <strong>de</strong>stino correto são as cooperativas <strong>da</strong> MaréTexto: Rosilene Ricardo | Fotos: Elisângela LeiteVocê sabe qual é o <strong>de</strong>stino fi nal do <strong>que</strong> você joga na lixeira todos os diasna sua casa? Normalmente vai para aterros sanitários, boa parte <strong>de</strong>les sinônimos<strong>de</strong> lixão por não estarem a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente preparados, gerandopoluição do solo e do lençol freático, fortes odores para as populaçõesvizinhas, entre outros problemas. Isso quando as embalagens plásticas,papel, PET, isopor, vidro etc. não vão parar nos rios, valões, no mar ounas águas <strong>da</strong> Baía <strong>de</strong> Guanabara.Aqui na Maré, duas cooperativas optaram pela reciclagem e hoje,além <strong>de</strong> servirem como fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para muitas pessoas, contribuempara <strong>da</strong>r um <strong>de</strong>stino ecologicamente correto a tudo aquilo <strong>que</strong> no passadoera visto como <strong>lixo</strong>. Uma <strong>de</strong>las é a Rio Coop 2000, na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>Par<strong>que</strong> Maré, e a outra a Cooperativa dos Trabalhadores do Complexo<strong>de</strong> Bonsucesso (Cootrabom), na Vila dos Pinheiros – ambas prepara<strong>da</strong>spara receber mais material dos moradores do bairro.De acordo com o coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> área <strong>da</strong> Comlurb na Maré, RômuloOlegário, apenas 20% do <strong>lixo</strong> produzido hoje no Rio <strong>de</strong> Janeiro são aproveitados.Ele afi rma <strong>que</strong> bairros <strong>da</strong> zona sul, como Copacabana, Lagoae Leblon, possuem coleta seletiva <strong>da</strong> Comlurb. Na zona norte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,por enquanto, o serviço é praticamente inexistente. “Há oito anos, aComlurb implantou um projeto nas escolas <strong>da</strong> Maré <strong>que</strong>, além <strong>de</strong> colocarlatas <strong>de</strong> coleta seletiva, <strong>da</strong>va palestras para os alunos. No entanto, esseprojeto não vingou”, conta Rômulo.Na opinião <strong>da</strong> geógrafa Thais Paiva <strong>da</strong> Felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, 28 anos, não bastacolocar os latões nas escolas se as crianças não receberem orientação.“Sem uma educação <strong>de</strong> base <strong>que</strong> auxilie nesse segmento, será mais difícilconseguir mostrar a importância <strong>da</strong> reciclagem”, avalia. Thaís propõe<strong>que</strong> as associações <strong>de</strong> moradores ofereçam cursos para donas e donos<strong>de</strong> casa sobre a importância <strong>da</strong> separação <strong>de</strong> resíduos e ain<strong>da</strong> sobre o<strong>que</strong> fazer com o <strong>lixo</strong> orgânico, <strong>que</strong> po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> adubo. Esse processo,<strong>que</strong> se chama compostagem, se caracteriza por um conjunto <strong>de</strong> técnicasaplica<strong>da</strong>s para controlar a <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> materiais orgânicos,como restos <strong>de</strong> comi<strong>da</strong>. A fi nali<strong>da</strong><strong>de</strong> é obter um material estável, rico emhúmus e nutrientes minerais.Como separar o <strong>lixo</strong>Quando o conteúdo <strong>da</strong>s embalagens acabar, limpe os vasilhamese <strong>de</strong>ixe secar. Depois é só colocá-los em um sacoseparado do <strong>lixo</strong> orgânico. Se não for possível levar o materialaté uma <strong>da</strong>s cooperativas situa<strong>da</strong>s na Maré, procure saber sehá catadores na sua área e <strong>de</strong>ixe o <strong>que</strong> é reciclável em sacosseparados. Além <strong>de</strong> facilitar o trabalho do catador, evitará <strong>que</strong>ele precise abrir os sacos com material misturado com restos<strong>de</strong> alimentos.O <strong>que</strong> separarPapel e papelão, metal (folha <strong>de</strong> fl andres, alumínio etc.), vidros,plástico, PET, isopor. A Rio Coop também aceita óleo <strong>de</strong>cozinha usado, pilhas e baterias.On<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o material para reciclarRio Coop 2000 – Rua Dezessete <strong>de</strong> Fevereiro, n° 408 –Par<strong>que</strong> Maré. Tel.: 2573-4412 / 3105-7703.Cootrabom – Via Seletiva, n° 126 – Vila dos Pinheiros. Tel.:3104 7976Especificação <strong>da</strong>s cores na coleta seletivaSe você encontrar pontos <strong>de</strong> coleta seletiva já instaladospela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, fi <strong>que</strong> atento para a separação dos materiais:Metais (amarelo)Plástico (vermelho)Vidro (ver<strong>de</strong>)Papel (azul)Para saber mais, inclusive como transformar seu <strong>lixo</strong> orgânicoem adubo, visite o site: www.<strong>lixo</strong>.com.br


Meio ambienteOutubro <strong>de</strong> 2010 | 7Rio Coop recebe óleo <strong>de</strong> cozinha, pilha e bateriaUmas <strong>da</strong>s catadoras <strong>da</strong> Rio Coop, Marta Esteves Policarpo conta<strong>que</strong> fez vários cursos para apren<strong>de</strong>r um pouco mais sobre reciclagem.Em seu trabalho, ela já encontrou muitos objetos no meio do<strong>lixo</strong>, entre elas livros novos e até jóias. “Se todos apren<strong>de</strong>rem mais,teremos um futuro melhor para os nossos fi lhos e netos”, diz Marta.“Ain<strong>da</strong> existe muito preconceito com as pessoas <strong>que</strong> coletam <strong>lixo</strong>.Mas imagine se as cooperativas não o coletassem como o mundoseria?”, <strong>que</strong>stiona.Des<strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção, em 1999, a Rio Coop recebe e separa materiaiscomo alumínio, papel, vidro e óleo <strong>de</strong> cozinha. De acordo com ocoo<strong>de</strong>rnador <strong>da</strong> cooperativa, José Luiz <strong>de</strong> Oliveira Estácio, parte do<strong>que</strong> é coletado vem <strong>da</strong> zona sul. Os condomínios <strong>que</strong> têm convêniocom a Rio Coop já separam materiais como papel, alumínio, papelãoe plástico por tipo. Além d<strong>isso</strong>, 1.500 postos <strong>de</strong> gasolina doam asgarrafas plásticas <strong>de</strong> óleo lubrifi cante, incentivados pelo projeto JogueLimpo, criado por Estácio. Outro parceiro é a Coca-Cola, <strong>que</strong> atravésdo Projeto Reciclar é Legal, também criado por ele, incentiva catadoresa pegarem as garrafas PET <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.A Rio Coop 2000 conta hoje com 32 empregados diretos e 300colaboradores indiretos <strong>que</strong> levam os materiais na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> cooperativa.Com esse número é possível coletar uma média <strong>de</strong> 300 tonela<strong>da</strong>s<strong>de</strong> material reciclado por mês. “Com o tempo tivemos algumasconquistas, entre elas a concessão para receber pilhas e baterias<strong>de</strong> celular. <strong>Quem</strong> tiver esse tipo <strong>de</strong> material po<strong>de</strong> trazer. Depois <strong>que</strong>recolhermos uma certa quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> enviaremos esse material parauma empresa responsável”, afi rma Estácio.A Cootrabom, por sua vez, <strong>foi</strong> fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 2002 e conta comcerca <strong>de</strong> 20 trabalhadores diretos e mais 30 catadores indiretos.Além d<strong>isso</strong>, possui convênio com várias empresas, entre elas a TetraPak, fabricante <strong>da</strong>s caixas <strong>de</strong> leite, <strong>que</strong> são reutiliza<strong>da</strong>s na fabricação<strong>de</strong> telhas. O Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES) ce<strong>de</strong> papéis, o Centro Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisas Físicas(CBPF) <strong>de</strong>stina papelão e papel e a Queiroz Galvão, responsávelpela limpeza <strong>da</strong> Baía <strong>de</strong> Guanabara, conta com o auxílio <strong>de</strong> catadorespara a coleta do <strong>que</strong> estiver nas águas.Agnaldo Moraes, coor<strong>de</strong>nador <strong>da</strong> cooperativa, diz <strong>que</strong> entre osganhos <strong>da</strong> iniciativa está, inclusive, a abertura <strong>de</strong> contas bancáriaspara os catadores. “Dessa forma, inserimos as pessoas na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,já <strong>que</strong> muita gente não respeita essa profi ssão”, afi rma.Reduzir, reutilizar, reciclar e repensarEm breve, mais empresas <strong>de</strong>verão se associar às cooperativas. É <strong>que</strong>em agosto <strong>de</strong>ste ano <strong>foi</strong> sanciona<strong>da</strong> a Política Nacional <strong>de</strong> ResíduosSólidos (lei 12.305, <strong>de</strong> 02/08/2010), para <strong>que</strong> empresas, governos e ci<strong>da</strong>dãos<strong>de</strong>em <strong>de</strong>stino fi nal a<strong>de</strong>quado aos resíduos, incluindo o <strong>lixo</strong> eletrônico.A lei estabelece a logística reversa, ou seja, <strong>que</strong>m fabrica algopassa a ser responsável pelo retorno <strong>de</strong> embalagens e outros materiaisprovenientes <strong>de</strong> sua produção industrial após o consumo e o <strong>de</strong>scartepela população.Um dos graves problemas <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> é o <strong>de</strong>stino dos produtoseletrônicos, como os aparelhos <strong>de</strong> celular e os computadores. Especialistasacreditam <strong>que</strong> a implantação <strong>da</strong> logística reversa contribua tambémpara <strong>que</strong> as indústrias optem pela utilização <strong>de</strong> materiais menos<strong>da</strong>nosos ao meio ambiente, entre os elementos <strong>que</strong> compõem seusprodutos.Cooperativas <strong>da</strong> Maré recebem papel enviado por empresasMas a lei prevê uma série <strong>de</strong>outras medi<strong>da</strong>s, inclusive a proibição<strong>de</strong> lixões e a implantação <strong>de</strong> sobre reciclagem, teremos um“Se todos apren<strong>de</strong>rem maiscoleta seletiva pelas prefeituras. A futuro melhor para os nossostragédia do Morro do Bumba, nofilhos e netos. Ain<strong>da</strong> existeinício <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>ste ano em Niterói,é um exemplo do perigo domuito preconceito com asabandono irresponsável <strong>de</strong> antigoslixões.imagine se as cooperativaspessoas <strong>que</strong> coletam <strong>lixo</strong>, masUma ação implanta<strong>da</strong> em 2009 não o coletassem como opelo Ministério do Meio Ambientemundo seria?”<strong>foi</strong> a campanha “Saco é um saco”,Marta Esteves Policarpo,<strong>que</strong>, pelos cálculos do governo,catadoraevitou o uso <strong>de</strong> 800 milhões <strong>de</strong> sacolasplásticas em um ano. Ca<strong>da</strong> vez mais brasileiros usam sacolas retornáveis,como as <strong>de</strong> pano, para levar suas compras para casa. Mas ain<strong>da</strong> épouco. Estima-se o uso <strong>de</strong> um milhão e meio <strong>de</strong> sacolas plásticas por horano Brasil. Ain<strong>da</strong> uma outra política pública a ser implanta<strong>da</strong> pelo ministérioenvolve o Plano <strong>de</strong> Produção e Consumo Sustentáveis, atualmente emconsulta pública.A dona <strong>de</strong> casa Magna Carla Nascimento, 30 anos, moradora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>Nova Holan<strong>da</strong>, já mudou os hábitos. Ela faz sabão em casacom o óleo <strong>de</strong> cozinha usado e, normalmente, já separa plásticos, papéise latas <strong>de</strong> uso doméstico. “Se <strong>de</strong>ixo tudo misturado no saco, as pessoasrasgam tudo e o <strong>que</strong> não é usado fi ca espalhado. Se todos pensaremassim, com certeza teremos ruas mais limpas”, conclui.Montanha <strong>de</strong> material <strong>que</strong> será recicladoA catadora Marta mostra blusa encontra<strong>da</strong> no <strong>lixo</strong>


8 | CulturaOutubro <strong>de</strong> 2010CARNAVALCrianças <strong>da</strong> Maré noCarnaval 2011O carnavalesco Paulo Cavalcanti,<strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Samba MirimInocentes <strong>da</strong> Caprichosos,convi<strong>da</strong> as crianças <strong>da</strong> Marépara participarem do <strong>de</strong>sfile<strong>de</strong> 2011, <strong>que</strong> terá como enredo“Xuxa e seu reino encantadono mundo <strong>da</strong> imaginação”.A escola preten<strong>de</strong> levar paraaveni<strong>da</strong> 2.000 crianças, distribuí<strong>da</strong>sem 30 alas. O <strong>de</strong>sfileserá no Sambódromo, na sexta-feira<strong>de</strong> Carnaval. “Gostaria<strong>de</strong> lembrar <strong>que</strong> as fantasias são gratuitas e a escola man<strong>da</strong> quantosônibus forem necessários para levar e trazer to<strong>da</strong>s as crianças”,avisa Paulo. Mais nformações com o Paulo, na quadra <strong>da</strong> escola,na rua Faleiro, nº 01, em Pilares.LIVROArtistas ci<strong>da</strong>dãosCURSOCurso na Mangueiraoferece bolsa auxílioA Associação ProfissionalizanteBM&FBovespa, um dos programassociais <strong>da</strong> Vila Olímpica <strong>da</strong>Mangueira, está com inscriçõesabertas para diversos cursosprofissionalizantes, nas áreas<strong>de</strong> construção civil, marcenaria,elétrica e beleza em geral.As inscrições vão <strong>de</strong> 18 a 22 <strong>de</strong>outubro e exigem i<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 17e 22 anos, escolari<strong>da</strong><strong>de</strong> mínimado 6º ano do ensino fun<strong>da</strong>mental(antiga 5º série) e oferecembolsa auxílio <strong>de</strong> R$ 110. Maisinformações pelos telefones2218-2563 ou 2218-2714.Livro do poeta Sérgio Vaz, “Cooperifa, antropofagia periférica” contaa história dos saraus <strong>que</strong> chegam a reunir 500 pessoas na periferia <strong>de</strong>São Paulo em torno <strong>da</strong> poesia. Ao reunir as várias histórias <strong>que</strong> marcarama Cooperifa (Cooperativa dos Artistas <strong>da</strong> Periferia), Sérgio Vazfala <strong>da</strong> apropriação <strong>que</strong> a periferia tem feito <strong>de</strong> áreas como a literatura,antes fecha<strong>da</strong> a um seleto grupo <strong>de</strong> intelectuais tradicionais. Mas,como o livro <strong>de</strong>ixa bem claro, a literatura ganhou as ruas, os becos evielas <strong>da</strong>s periferias, trazendo à tona uma produção livre <strong>de</strong> qual<strong>que</strong>rtutela, capaz <strong>de</strong> ultrapassar a faixa <strong>da</strong> exclusão para se fazer presenteno circuito cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Criado em 2001 pelo próprio Sérgio,o Sarau <strong>da</strong> Cooperifa é <strong>de</strong>scritopor ele como o quilombocultural <strong>da</strong> senzala mo<strong>de</strong>rna:a periferia. O livro faz parte<strong>da</strong> coleção Tramas Urbanas(Aeroplano Editora), i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong>por Heloisa Buar<strong>que</strong> <strong>de</strong>Hollan<strong>da</strong> e <strong>que</strong> tem como propostaabrir espaço para umanova e crescente produçãointelectual, em especial à<strong>que</strong>lanasci<strong>da</strong> nas periferias ouvolta<strong>da</strong> para elas. Para <strong>que</strong>mse interessar a editora já disponibilizouvários volumespara download gratuito. É sóclicar e conferir. http://www.portalliteral.com.br/blogs/tramas-urbanas-para-download(Texto: Tatiana Galvão)RÁDIONas on<strong>da</strong>s do ZoasomUm programa feito por jovens e para os jovens. Este é o novo Zoasom,programa semanal <strong>de</strong> auditório, transmitido ao vivo pela RádioMEC, to<strong>da</strong>s as quintas-feiras, às 17h. O programa estreou emagosto, produzido pela ONG Criar Brasil. O Zoasom discute temasligados à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e juventu<strong>de</strong> com entrevistas, humor, presença<strong>de</strong> cantores e cantoras consagrados e ban<strong>da</strong>s alternativas, semprecom a participação dos jovens <strong>da</strong> plateia. Além d<strong>isso</strong>, a ca<strong>da</strong> semanauma escola é convi<strong>da</strong><strong>da</strong> e há espaço para produções <strong>de</strong> rádioscomunitárias ou rádio-escolas. <strong>Quem</strong> quiser participar é só aparecerna Praça <strong>da</strong> República, 141 A, centro do Rio. A entra<strong>da</strong> é franca ea distribuição <strong>de</strong> senhas começa às 16h. Para saber mais e ouvir oprograma, visite: http://www.zoasom.com ou sintonize Rádio MECAM em 800 kHz.Os apresentadores Camila e Michel, estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> jornalismoSegun<strong>da</strong>-feira9h às 11h – Construção <strong>de</strong>instrumentos musicais14h às 16h – Artes circensesTerça-feira10h às 12h – Sonorização/DJ14h às 16h – TeatroQuarta-feira10h ás 11h30 – Maracatu11h30 às 13h – Maracatu14h às 16h – Artes circensesPrograme-se!O <strong>que</strong> rola pelaLona <strong>da</strong> Maré08/10 (sexta-feira), 20h - Or<strong>que</strong>stra Voadora. Após o show,a festa continuará. R$ 520/10 (quarta-feira) 19h - Exibição do filme PalavraEncanta<strong>da</strong>, <strong>de</strong> Helena Solberg5/11 (sexta-feira) 20h - Show com a ban<strong>da</strong> Dona Joana. R$ 512/11 (sexta-feira) 20h - III Favela Rock Show. R$ 219/11 (sexta-feira) 10h - show <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> <strong>de</strong>palhaços Ro<strong>da</strong> Gigante - Direção teatral <strong>de</strong> Flavia Reis.O show é uma brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> oito palhaços <strong>que</strong> tentamexplicar através <strong>de</strong> um repertório musical bastanteeclético qual é o sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. GRATUITO.Oficinas gratuitas na LonaA Lona Cultural Municipal Herbert Viannafica na rua Ivanildo Alvez, s/n, Nova Maré.Ingressos à ven<strong>da</strong> no local e na secretaria<strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> (rua Sargento Silva Nunes,1012 - Nova Holan<strong>da</strong>). Mais informações:lona<strong>da</strong>mare@gmail.com ou 3105-6815.Quinta-feira10h às 12h – Sonorização/DJ14h às 16h – TeatroSexta-feira9h às 11h – Construção<strong>de</strong> instrumentos musicais10h às 11h30 – Maracatu11h30 às 13h – MaracatuSábado11h às 13h – Prática <strong>de</strong>or<strong>que</strong>straCULTURADivulgação


Outubro <strong>de</strong> 2010 Por <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Maré| 9Seminário com base nasreivindicações <strong>de</strong> professoresProfessores lotaram o auditório no primeiro seminário, no FundãoElisângela LeiteNo dia 27 <strong>de</strong> novembro, professores e representantes do ensino municipalvão se reunir no 2º Seminário <strong>de</strong> Educação <strong>da</strong> Maré, em auditórioa ser <strong>de</strong>fi nido na UFRJ, na Ilha do Fundão, <strong>de</strong> 8h às 17h. Na tentativa <strong>de</strong>construir um pensamento <strong>de</strong> coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em torno do tema, as propos-tas apresenta<strong>da</strong>s pelos professores no primeiro seminário, em 2009,foram vali<strong>da</strong><strong>da</strong>s este ano, por meio <strong>de</strong> consultas aos profi ssionais. Aspropostas estão sendo <strong>de</strong>bati<strong>da</strong>s com os professores nos Fóruns <strong>de</strong>Educação <strong>da</strong> Maré, eventos preparatórios para o seminário. “É nosso<strong>de</strong>safi o pensar formas <strong>de</strong> mobilização dos profi ssionais <strong>da</strong> educação<strong>da</strong> Maré”, afi rma a diretora <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong>, Eblin Farage, uma <strong>da</strong>s organizadorasdo evento.Em 24 <strong>de</strong> setembro, na segun<strong>da</strong> reunião do fórum, na se<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>Re<strong>de</strong>s</strong><strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Maré, os professores se mostraram preocupadoscom as poucas vagas para o segundo segmento do ensinofun<strong>da</strong>mental, o <strong>que</strong> obriga a família a procurar uma escola fora <strong>da</strong>Maré para o fi lho continuar os estudos. Além d<strong>isso</strong>, manifestarammedo <strong>da</strong> privatização do ensino e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir os alunos sobre o<strong>que</strong> eles esperam <strong>da</strong> escola. Todos os presentes se comprometerama mobilizar o coletivo para o seminário. “Espero maior participaçãodos professores, e <strong>que</strong> o encontro possa colaborar com as reivindicaçõespara o bom funcionamento <strong>da</strong> educação na Maré. Temos <strong>que</strong>pensar estratégias <strong>de</strong> cobrar os direitos já <strong>de</strong>fi nidos para o acesso àeducação”, argumenta o professor do Ciep Operário Vicente Mariano,Bruno Paixão, <strong>de</strong> 29 anos.Acompanhe as informações sobre o segundo seminário em www.re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br.(Texto: Hélio Eucli<strong>de</strong>s)Trabalho socialem favelasEm 19 <strong>de</strong> outubro, <strong>de</strong> 9h às 17h30, a <strong>Re<strong>de</strong>s</strong><strong>da</strong> Maré realizará o I Seminário <strong>da</strong> Maré <strong>de</strong>Trabalho Social em Favelas e Espaços Populares,na Lona Cultural Herbert Vianna, noPar<strong>que</strong> Maré. O objetivo é reunir técnicos <strong>da</strong>área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação e assistência socialpara discutir sobre as políticas públicas naMaré. Informações: 3105-5531.Seminário discutirá políticas públicas na MaréElisângela LeiteVi<strong>da</strong> saudávelO Instituto <strong>de</strong> Nutrição <strong>da</strong>UFRJ oferece tratamento nutricionalgratuito para mulherescom i<strong>da</strong><strong>de</strong> entre 30 e 45 anos<strong>que</strong> estejam acima do peso.O objetivo é o emagrecimentosaudável com dieta supervisiona<strong>da</strong>por nutricionistas. Sónão po<strong>de</strong>m participar mulheresna menopausa, diabéticase fumantes. Informações comWânia Monteiro pelo telefone2562-6596.


10 | ArtigoOutubro <strong>de</strong> 2010ColunistaSonia Aguiar*A vi<strong>da</strong> é um <strong>lixo</strong>?!O <strong>que</strong> o <strong>de</strong>sabamento do Morro do Bumba, ocorrido em Niterói, em abril<strong>de</strong>ste ano, tem em comum com o aci<strong>de</strong>nte provocado por césio 137em Goiânia, 23 anos atrás? Ambos envolvem três <strong>que</strong>stões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>interesse social, <strong>que</strong> só recentemente vêm ganhando atenção <strong>de</strong> pesquisadorese do po<strong>de</strong>r público: a segurança ambiental, a justiça ambiental ea comunicação <strong>de</strong> risco.No primeiro caso, 45 pessoas morreram <strong>de</strong>pois <strong>que</strong> suas casas foramatingi<strong>da</strong>s pelo <strong>de</strong>slizamento do terreno on<strong>de</strong> haviam sido construí<strong>da</strong>s,provocado por fortes chuvas. No segundo, pelo menos uma centena <strong>de</strong>pessoas tiveram a saú<strong>de</strong> gravemente afeta<strong>da</strong> pela contaminação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong>em 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1987, quando uma cápsula radioativa(utiliza<strong>da</strong> em aparelhos <strong>de</strong> radioterapias) <strong>foi</strong> encontra<strong>da</strong> por catadores<strong>de</strong> papel, <strong>que</strong> pensaram se tratar <strong>de</strong> uma sucata qual<strong>que</strong>r. Em ambos,o <strong>de</strong>sconhecimento ou <strong>de</strong>scuido <strong>da</strong> população sobre os riscos <strong>que</strong> corriame a negligência, má-fé ou irresponsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos po<strong>de</strong>res público eprivado em relação a essas pessoas caracterizam situações típicas <strong>de</strong>insegurança ambiental.Muita gente reagiu com indignação ao saber <strong>que</strong> o Morro do Bumbanão era elemento geográfi co natural e sim o resultado remanescente <strong>de</strong>um antigo <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> <strong>lixo</strong> a céu aberto, operado pela prefeitura localentre 1970 e 1986. Logo após a sua <strong>de</strong>sativação, a ocupação humanado terreno <strong>foi</strong> proibi<strong>da</strong>. Mas, aos poucos, a falta <strong>de</strong> fi scalização e <strong>de</strong> memóriasocial fez surgir uma nova comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como a imprensa cariocarelatou no dia seguinte à tragédia, em vez <strong>de</strong> reprimir a ocupação irregulardo antigo lixão, o po<strong>de</strong>r público municipal e estadual promoveu a fi xação<strong>da</strong><strong>que</strong>las pessoas no local ao instalar ali equipamentos e serviços <strong>de</strong>urbanização como caixa d’água, re<strong>de</strong> elétrica, escola, creche, quadrapoliesportiva e o Programa Médico <strong>de</strong> Família.Ou seja, o <strong>que</strong> nas campanhas eleitorais aparecia como benefíciossociais era, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ingredientes <strong>de</strong> um bomba relógio <strong>de</strong> efeito ambientalretar<strong>da</strong>do, resultante <strong>da</strong> <strong>de</strong>composição do <strong>lixo</strong> acumulado durantemais <strong>de</strong> 25 anos e “adormecido” em outros 25. A tentativa <strong>de</strong> construção<strong>de</strong> um aterro sanitário, nos anos 1990, em área em frente ao Morro doBumba, inviabiliza<strong>da</strong> por uma invasão <strong>de</strong> pessoas sem teto, e o redirecionamentodo <strong>lixo</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o Morro do Céu, próximo ao local do<strong>de</strong>slizamento <strong>de</strong> abril, sinalizam uma situação <strong>de</strong> injustiça ambiental, <strong>que</strong>expõe a situações <strong>de</strong> risco as populações mais pobres.De forma semelhante, o aparelho <strong>de</strong> radioterapias abandonado nasinstalações <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um hospital na zona central <strong>de</strong> Goiânia, ao serirresponsavelmente <strong>de</strong>smontado, repassado a terceiros e <strong>de</strong>scartado <strong>de</strong>forma ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, acabou provocando um rastro <strong>de</strong> contaminação entrepessoas dos grupos mais vulneráveis <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.Então pense rápido: <strong>de</strong> <strong>que</strong>m é a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo <strong>de</strong>stino <strong>da</strong>stonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sobras <strong>de</strong> comi<strong>da</strong>, objetos <strong>que</strong>brados, remédios vencidos,restos <strong>de</strong> materiais utilizados em tratamentos médicos, e os milhares <strong>de</strong>aparelhos e componentes eletrônicos <strong>que</strong> <strong>de</strong>scartamos com frequênciaca<strong>da</strong> vez maior no nosso dia a dia? A resposta é simples: todos nós,como indica a Política Nacional <strong>de</strong> Resíduos Sólidos sanciona<strong>da</strong> pelopresi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> República no último dia 4 <strong>de</strong> agosto.Mas a lei <strong>de</strong>ixa em aberto uma parte importante na prevenção <strong>da</strong>sconsequências <strong>de</strong> tudo <strong>isso</strong>: a comunicação dos riscos a <strong>que</strong> as pessoasestão expostas pelo tratamento ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas formas <strong>de</strong>resíduos, ou seja, do <strong>lixo</strong> nosso <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> dia. A comunicação <strong>de</strong> risco,<strong>que</strong> nasceu e se <strong>de</strong>senvolveu associa<strong>da</strong> a <strong>da</strong>nos relacionados a saú<strong>de</strong>e a riscos <strong>de</strong> morte, como epi<strong>de</strong>mias e contaminações químicas, radioativase bacteriológicas, vem ganhando ca<strong>da</strong> vez mais atenção a partirdo acirramento <strong>da</strong>s catástrofes ambientais. E já não se trata apenas <strong>de</strong>avisar quando o perigo está próximo mas, sobretudo, <strong>de</strong> como evitar ouminimizar as ameaças e <strong>da</strong>nos à vi<strong>da</strong>, <strong>que</strong> afi nal, ninguém acha no <strong>lixo</strong>.* Jornalista, professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe e coor<strong>de</strong>nadora doLaboratório Interdisciplinar <strong>de</strong> Comunicação Ambiental (http://licaufs.blogspot.com/)


Outubro <strong>de</strong> 2010 Nossa história| 11Zé Careca mostra foto antiga <strong>da</strong>s palafi tas do Par<strong>que</strong> MaréAs muitaslutas doPar<strong>que</strong>MaréA história <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>diversas vezes ameaça<strong>da</strong> <strong>de</strong> remoção,conta<strong>da</strong> por <strong>que</strong>m viu e viveuTexto: Silvia Noronha | Foto: Elisângela LeiteEm 1951, a área <strong>da</strong> Rua Teixeira Ribeiro, no Par<strong>que</strong> Maré, contava commenos <strong>de</strong> 70 barracos construídos sobre palafi tas. Quando a maré enchia,as águas <strong>da</strong> baía passavam <strong>de</strong>baixo <strong>da</strong>s casinhas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e, navolta, levavam embora a sujeira acumula<strong>da</strong>. Para as crianças, era umabrinca<strong>de</strong>ira com direito a banho em meio às estacas <strong>da</strong> palafi ta, apesardo perigo provocado pela lama ali existente.Pois esse cenário <strong>foi</strong> justamente o <strong>que</strong> encantou o rapazinho <strong>de</strong> 14anos recém chegado <strong>de</strong> Campinha Gran<strong>de</strong>, na Paraíba. José GomesBarbosa, hoje com 75 anos e conhecido como Zé Careca, veio para oRio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> ônibus, com dois amigos, conhecer o carnaval. Depois<strong>da</strong> festa, os amigos voltaram e ele <strong>de</strong>cidiu fi car. Durante a semana trabalhavacomo ferreiro, dormia na casa <strong>de</strong> uma tia no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>;e no fi m <strong>de</strong> semana gostava <strong>de</strong> curtir a vi<strong>da</strong> na Maré, on<strong>de</strong> morava aconcunha<strong>da</strong> <strong>da</strong> tia. Nas palafi tas, havia forró e agitação, e a vi<strong>da</strong> era maisanima<strong>da</strong> para o Zé.Até <strong>que</strong> este rapaz, já com mais <strong>de</strong> 20 anos, enfrentou a primeira <strong>da</strong>smuitas intervenções dos governantes, <strong>que</strong> <strong>que</strong>riam acabar com as favelase habitações ti<strong>da</strong>s como precárias <strong>da</strong>s áreas centrais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em1960, a casa <strong>da</strong> tia no centro <strong>foi</strong> <strong>de</strong>moli<strong>da</strong> para <strong>da</strong>r lugar à construção<strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Chile. A tia morava <strong>de</strong> frente para o Morro <strong>de</strong> Santo Antonio,parcialmente <strong>de</strong>molido em nome <strong>da</strong> “mo<strong>de</strong>rnização” <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, feita emações <strong>que</strong> sempre impactavam as populações mais pobres.E Zé passou a morar <strong>de</strong> vez no Par<strong>que</strong> Maré, <strong>que</strong> nessa época já tinhamais <strong>de</strong> 500 barracos em palafi tas e nas partes <strong>da</strong> Teixeira já aterra<strong>da</strong>spelos próprios moradores, <strong>que</strong> pediam para os caminhões <strong>de</strong> entulho<strong>de</strong>spejarem material ali. Moradores como Zé Careca também faziam o<strong>que</strong> podiam. Arranjavam borra <strong>de</strong> minério, <strong>de</strong> carvão <strong>de</strong> co<strong>que</strong>, pó <strong>de</strong>mármore, o <strong>que</strong> fosse possível, e levavam para ir aterrando aos poucoso Par<strong>que</strong> Maré.Des<strong>de</strong> os anos 1950, chegava muita gente do Nor<strong>de</strong>ste para construirsua casinha on<strong>de</strong> fosse possível. A região Su<strong>de</strong>ste do Brasil estava empleno processo <strong>de</strong> industrialização, com forte expansão <strong>da</strong> economia,atraindo milhares <strong>de</strong> moradores do Nor<strong>de</strong>ste, região <strong>que</strong>, na<strong>que</strong>la época,não recebia investimentos <strong>que</strong> promovessem a melhoria <strong>da</strong>s condições<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua população. Com <strong>isso</strong>, a promessa <strong>de</strong> dias melhores vinhaprincipalmente <strong>de</strong> São Paulo e Rio.Organizando o crescimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>No início dos anos 1960, Zé Careca integrava um grupo <strong>de</strong> 11 moradores<strong>que</strong> tentava organizar o crescimento acelerado do Par<strong>que</strong> Maré. Era precisoimpedir a construção <strong>de</strong> um barraco sobre o outro, estabelecer umespaço entre as construções e outros afazeres comunitários <strong>que</strong> levaramà fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> associação <strong>de</strong> moradores.Também se fazia necessário alargar a Teixeira Ribeiro para melhorar acirculação pela locali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, lá se <strong>foi</strong> o time <strong>de</strong> 11 lí<strong>de</strong>res acamparno Palácio do governo do estado, dia e noite, sem re<strong>da</strong>r pé nem comerdireito até <strong>que</strong> o então governador Carlos Lacer<strong>da</strong> aceitasse receber ogrupo, o <strong>que</strong> aconteceu na 11ª noite. “Nós estamos aqui para o senhorconhecer a Maré”, <strong>disse</strong>ram eles. E o governador aceitou o convite! Avisita <strong>foi</strong> marca<strong>da</strong> para a segun<strong>da</strong>-feira seguinte, às 10h. Além do alargamento<strong>da</strong> rua, Lacer<strong>da</strong>, em 1962, fez também a Nova Holan<strong>da</strong>, i<strong>de</strong>ia <strong>que</strong>teria partido do próprio Zé Careca para abrigar moradores removidos <strong>de</strong>morros do Rio.São muitas as histórias <strong>de</strong> luta dos moradores do Par<strong>que</strong> Maré, <strong>que</strong>sofreram diversas ameaças <strong>de</strong> remoção. Um episódio famoso ocorreuem 1979, quando Zé Careca ousou enfrentar o ministro do período <strong>da</strong>ditadura militar, Mário Andreazza, <strong>que</strong> também <strong>que</strong>ria acabar com a Marée transferir seus moradores para Santa Cruz, na zona oeste. “Aqui erachi<strong>que</strong>iro <strong>de</strong> porco para eles”, diz.Mas esse paraibano arretado dobrou Andreazza, <strong>que</strong> acabou <strong>de</strong>senvolvendoo Projeto Rio nos anos 1980, <strong>que</strong> <strong>de</strong>u fi m apenas às palafi tas epromoveu melhorias nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Maré, sem tirar os moradores<strong>da</strong>s proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Foi assim <strong>que</strong> surgiu a Vila do João. “Na<strong>que</strong>le tempo,era mais fácil conversar com político. Hoje, eles prometem, mas tem hora<strong>que</strong> não fazem”, compara Zé Careca, <strong>que</strong> continua na luta, na associação<strong>de</strong> moradores <strong>que</strong> ajudou a fun<strong>da</strong>r.“Eu não tinha medo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota, por<strong>que</strong>não acreditava n<strong>isso</strong>. Só acreditava emDeus.” (sobre a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fi car no Rio,em 1951, aos 14 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>)“Às vezes dormia no trabalho, por<strong>que</strong>tinha uma horinha só <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso.Eu estava interessado em não passarvergonha na minha vi<strong>da</strong>. Não meincomo<strong>da</strong>va trabalhar muito, sempretrabalhei, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança. Des<strong>de</strong> os 7anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, já ia para a feira aju<strong>da</strong>r osmatutos a segurar saco <strong>de</strong> carvão paraencher e carregar pacote <strong>de</strong> ma<strong>da</strong>me.”“Para fazer trabalho comunitário,a pessoa tem <strong>que</strong> gostar <strong>de</strong> encarar aver<strong>da</strong><strong>de</strong>; e a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é muito difícil para<strong>que</strong>m não gosta.”“Ca<strong>da</strong> governador <strong>que</strong> entrava <strong>que</strong>riatirar a gente <strong>da</strong> Maré por causa dopessoal <strong>da</strong> zona sul, <strong>que</strong> passava <strong>de</strong>avião e <strong>da</strong>va para ver até a pessoatomando banho, por<strong>que</strong> não tinhacobertura. Colocava um latão ou umbarril <strong>de</strong> vinho e era o chuveiro.”“Na<strong>que</strong>le tempo tinha mocotó e raba<strong>da</strong>.Não tinha carne.”“Tinha <strong>que</strong> buscar água. Às vezes<strong>de</strong>morava duas horas na fi la.”“A política é a coisa melhor do mundo.Como li<strong>de</strong>rança, é preciso conhecerum político para apoiar a sua causa,e em cima <strong>de</strong>sse apoio, ele ganhavotos. Mas tem <strong>que</strong> cobrar as obras, osprojetos. Não peço emprego a político,não aceito dinheiro, por <strong>isso</strong> eles merespeitam. <strong>Quem</strong> se ven<strong>de</strong>, não érespeitado pelo político.”


12 | Espaço AbertoOutubro <strong>de</strong> 2010Arte em PETna MaréCarlos Augusto <strong>de</strong> Oliveira Calixto, <strong>de</strong> 36 anos, veio do Espírito Santopara o Rio <strong>de</strong> Janeiro aos 17 anos. E <strong>foi</strong> na Maré, on<strong>de</strong> está há seisanos, <strong>que</strong> ele criou raízes. “Sou muito feliz aqui na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nãosou cria do local, mas sou amado e conhecido como sou”, revela.Calixto é professor <strong>de</strong> Artes, trabalha com jornal, papelão, vidro e principalmentePET. Vira e mexe, a criança<strong>da</strong> o procura para pedir apoiona hora <strong>de</strong> fazer trabalhos escolares com material reciclado. “É o meutrabalho. Tenho muito comprom<strong>isso</strong> para <strong>que</strong> ele seja importante navi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas, além <strong>da</strong> minha. Acredito <strong>que</strong> faço um trabalho importantepara a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> por<strong>que</strong> aqui se gera muito <strong>lixo</strong> <strong>que</strong> precisaser reciclado, mas preciso <strong>de</strong> apoio para continuar meu trabalho.Minha intenção é formar um projeto <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>”, conta ele,<strong>que</strong> já participou <strong>de</strong> várias exposições, entre eles a Primavera Gla<strong>de</strong>,no ano passado, quando expôs uma rosa <strong>de</strong> um metro e meio, feitaem PET, na Praça Car<strong>de</strong>al Arcover<strong>de</strong>, em Copacabana. Há dois anos,fez as saias <strong>de</strong> 30 baianas para o <strong>de</strong>sfile do Gato <strong>de</strong> Bonsucesso eatualmente oferece oficinas na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Samba para o setor <strong>de</strong> a<strong>de</strong>reçose chapelaria. Contatos com Calixto po<strong>de</strong>m ser feitos na antigaquadra do Gato, na rua São Jorge, Nova Holan<strong>da</strong>, ou pelo telefone:3869-7713. No orkut, visite: augusto calixto artes em pet.POESIAPela última vezMarilena Manuel AlbertoQuando o último peixe for mortoQuando a última árvore for mortaQuando o último rio secarQuando o último lago se esgotarQuando a última gota <strong>de</strong> chuva cairQuando o último amor morrerQuando a última paixão <strong>de</strong> acabarQuando a última lágrima cairQuando você me <strong>de</strong>r o último beijoQuando você me <strong>de</strong>r o último abraçoQuando você me falar a última palavraQuando você me comover pela última vezQuando eu me entregar à fantasia pela última vezQuando eu me comover pela última vezVou me emocionar e impressionarQuando eu sonhar pela última vezVou me entregar à fantasiaQuando eu te conquistar pela última vezVou alcançar mérito e obter sucessoQuando eu sorrir pela última vezVou mostrar prazer <strong>de</strong> viver a vi<strong>da</strong>Quando eu criar pela última vezVou <strong>da</strong>r existência <strong>de</strong> mostrar i<strong>de</strong>iasQuando eu amar pela última vezNão sei o <strong>que</strong> vou fazerSe vou morrer ou vou resistir a esta dor imensaQuando eu celebrar pela última vezVou encantar o mundo pela última vezcom a minha alegria <strong>de</strong> viver pela última vezPor <strong>isso</strong>, vivam! Amem como se fosse pela última vez.“Faço trabalho <strong>de</strong> colaboração <strong>de</strong> futebolcom as crianças, na ciclovia, há mais <strong>de</strong> 20anos, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> a sexta-feira, e na terçaain<strong>da</strong> ofereço um lanche. A publicação <strong>da</strong>imagem <strong>de</strong>les no jornal Maré <strong>de</strong> Notícias,do qual gosto muito, é um incentivo paraeles e para seus responsáveis”Severino Fernan<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> 49 anos,morador <strong>da</strong> Vila do PinheiroParticipe <strong>de</strong>sta página! Envie suas fotos, <strong>de</strong>senhos, grafi te, poesia, crônica...A seção ESPAÇO ABERTO <strong>foi</strong> cria<strong>da</strong> para <strong>que</strong> você, leitor do Maré <strong>de</strong> Notícias, possa mostrar a todos a sua arte: uma fotografi a,uma ilustração, uma poesia, uma crônica! O importante é participar! Envie a sua arte para a Re<strong>da</strong>ção do Jornal, na <strong>Re<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Maré -rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holan<strong>da</strong>; ou pelo e-mail: comunicacao@re<strong>de</strong>s<strong>da</strong>mare.org.br

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