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IMPULSO ÀS INOVADORAS - Anprotec

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ÍndiceA revista Locus é uma publicaçãoda Associação Nacional deEntidades Promotoras deEmpreendimentos InovadoresConselho editorialMaurício Guedes – presidenteCarlos Américo Pacheco,Gina Paladino, Helena Lastres eJosealdo TonholoCoordenação editorialDébora HornMárcio CaetanoColaboraçãoAdriane Alice Pereira, AmandaMiranda, Bruno Moreschi, CarolineMazzoneto, Eduardo Kormives,João Werner Grando, Leo Branco,Rosalvo Streit Junior e Salis ChagasJornalista responsávelDébora Horn – MTb/SC 02714 JPDireção de arteLuiz Acácio de SouzaEdição de arteRafael RibeiroRevisãoSérgio RibeiroFoto da capaShutterstockPresidenteGuilherme Ary PlonskiDiretoriaFrancilene Procópio Garcia, GisaBassalo, Josealdo Tonholo, SilvestreLabiak Junior e Paulo GonzalezSuperintendênciaSheila Oliveira PiresCoordenação de Comunicação e MarketingMárcio Caetano Setúbal AlvesEndereçoSCN, quadra 1, bloco C,Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília / DF – CEP 70711-902Contatos(61) 3202-1555E-mail: revistalocus@anprotec.org.brWebsite: www.anprotec.org.brAnúncios: (61) 3202-1555revistalocus@anprotec.org.brProduçãoa m b i e n t ed a in o v a ç ã o b r a s i l e i r aJaneiro 2009 • n o 55 • Ano XVISSN 1980-3842PatrocínioApoioImpressãoGráfica Brasil UberlândiaTiragem5.000 exemplares610162232343940424447495026 c a p aInovação no DNANovo programa da Finep quer incentivar a geraçãoe o crescimento de empreendimentos inovadores.Descubra por que o Prime é diferente de todos osprogramas de fomento implantados no Brasil.E n t r e v i s t aCarlos Eduardo Guillaume, sócio da empresa de capital sementeConfrapar, revela o que atrai os investidores em uma empresa nascente.E m m o v i m e n t oRetrospectiva 2008: os resultados do estudo sobre parques tecnológicos,a compra de uma graduada pela Vale e as principais discussões do último SeminárioNacional. Para 2009: eventos importantes, editais em aberto e produtos inovadores.n e g ó c i o sNa onda da sustentabilidade, polímeros verdes ganham espaço nomercado internacional e garantem lucro a empresas de todos os portes.I n v e s t i m e n t oEspecialistas garantem: a crise não afetará a oferta de venture capital parafinanciar MPEs inovadoras. Mas os investidores estão ainda mais seletivos.I N T E R N A C I O N A LSucesso no Brasil, a Semana Global de Empreendedorismoreuniu 78 países para disseminar o “bota pra fazer”.s u c e s s oOs vencedores das etapas regionais do Prêmio Finep de Inovação Tecnológicacontam como transformaram P&D em diferencial competitivo.O p o r t u n i d a d eIntegração de software é apontada como grande tendênciado setor de Tecnologia da Informação e Comunicação.G E S T Ã OEm tempos de crise, aumenta a procura por MBAs na área de gestão.Descubra se a capacitação pode ajudar sua empresa a enfrentar a turbulência.A p o i oCom 200 anos de história, Banco do Brasil está se reinventandopara atender demandas de pequenas empresas inovadoras.e d u c a ç ã oNúcleos de Inovação Tecnológica aumentam em quantidade e qualidade. Agorafalta capacitar profissionais para fazer a interface entre pesquisadores e mercado.c r i a t i v i d a d eEmpresa do Pará transforma couro de peixe em calçados eacessórios cobiçados pelo mundo fashion. Novidade já chegou à França.C u l t u r aConfira por que o filme Gomorra vem sendo chamado de “Cidade de Deus”italiano, além das tradicionais dicas de livros, exposições e música.o p i n i ã oNa estréia como articulista da Locus, Mauricio Guedesconta uma história para inspirar gestores públicos.


E n t r e v i s t aA lógica do semeadorIlana LanskyDéb o r a Ho r n6Locus • Janeiro 2009Formado engenheiro eletricista pelaUniversidade Federal de Minas Gerais(UFMG), Carlos Eduardo Guillaumedeixou uma promissora carreira executivana Microsoft para criar uma das maioresempresas brasileiras da área de capitalsemente. A Confrapar foi fundada em 2005por um grupo de 10 pessoas – alguns eramseus amigos, outros apenas conhecidos. Emcomum, o fato de todos trabalharem comtecnologia. “Conversávamos muito sobrequais tecnologias iriam decolar, quaisempresas seriam um bom investimento equem eram os empreendedores nos quaisapostaríamos. Decidimos que era melhorparar de falar e fazer”, conta Guillaume.Como os outros nove sócios, ele assinou umcheque de R$ 50 mil para dar início aonegócio. Os primeiros anos no novo nichomostraram que a formação de uma redemaior de investidores poderiapotencializar o conhecimento sobre aindústria e o próprio processo deinvestimento. Para atrair novossócios, a Confrapar fez doisaumentos de capital e fundiu-se coma Estufa Investimentos, co-gestorado fundo Rotatec, focado em projetosinovadores no pólo eletroeletrônicoda região de Santa Rita do Sapucaí(MG). Com a fusão, o volume derecursos geridos pela Confraparpassou para cerca de R$ 90 milhões.Em entrevista à Locus, Guillaumerevela as razões que levaminvestidores a alocar recursos emempresas nascentes e dá dicas sobreos atributos indispensáveis aempreendimentos que buscam o seedcapital para sair do papel.


Locus: Como você avalia o mercado deseed capital brasileiro atualmente?Quais as principais diferençasobservadas em relação a outros países?Guillaume: O mercado de seed capitalno Brasil ainda é muito pequeno. Sãopoucos os gestores de seed capital queatuam de maneira profissional. O Brasilse destaca em relação a outros paísespor bons e maus motivos. Por um lado,temos uma cultura bastante empreendedora,em que novas empresas e idéiassurgem a todo momento. Por outro lado,temos ainda uma taxa de juros bastantealta, o que não ajuda o investimento nosetor produtivo, pois o capital acabasendo atraído para outros tipos de investimento,como a renda fixa. Se asperspectivas dos analistas para os próximosmeses se concretizarem, com taxasde juros na casa dos 11%, o nível de seedcapital tende a aumentar, pois haveráuma migração de investimentos.Locus: O sistema de inovaçãobrasileiro é favorável aodesenvolvimento do seed capital?Guillaume: Vários programas estão favorecendoo desenvolvimento dessa indústria.Vale citar dois exemplos da Financiadorade Estudos e Projetos(Finep). Um é o programa Inovar Semente,que investe até 40% em fundosselecionados de seed capital, e do qual aConfrapar já participa. Outro é o Prime(Programa Primeira Empresa Inovadora),que irá incentivar empresasnascentes com recursos da ordem de R$120 mil por empreendimento.Locus: Que mecanismos serianecessário aperfeiçoar paraalavancar investimentos?Guillaume: Esperávamos mudançasmais rápidas após a Lei da Inovação,mas hoje percebemos que o avançolento se deve à própria cultura do pesquisadorbrasileiro. No Brasil ainda dependemosde muitos cases de sucesso,de cientistas que se tornaram empreendedores,para sensibilizar outros pesquisadores,fazendo com que eles descubramque há a opção de empreender.Essa mudança de cultura não ocorre deforma rápida, pois os cientistas, assimcomo a maioria dos profissionais, foramformados para ter emprego e nãopara serem empreendedores.Os cientistas, assim como a maioria dosprofissionais, foram formados para teremprego e não para serem empreendedoresLocus: O que motiva um investidor aaplicar recursos em uma empresanascente? Que riscos e possibilidadesde retorno costumam ser avaliados?Guillaume: Os retornos financeiro esocial são os dois principais motivospara o investidor. A indústria norteamericanaapresentou resultados superioresa 37% ao ano para o investidorna última década. Espera-se retorno financeiroda mesma ordem para o Brasilnos próximos 10 anos, embora sejasempre difícil fazer previsões, principalmentepelo fato de termos gestoresinexperientes nesse mercado, o que aumentaa chance de erros. Mas temos oventure capital crescendo junto com opaís, assim como várias oportunidadesde inovação aguardando recursos. Ouseja: há uma grande quantidade de projetosrepresada, que permitirão boaperformance aos fundos de investimentonos próximos anos. Além do aspectofinanceiro, outro motivo gratificantepara se investir no setor é saber queaquele dinheiro vai criar novas empresas,empregos, arrecadação de impostos– já que investimos somente em empresas100% formais – e alavancar novastecnologias no Brasil.Locus: Como a Confrapar tem aferido7Locus • Janeiro 2009


E n t r e v i s t ao retorno de seus investimentos?Guillaume: Alguns fundos da Confraparestão apenas no início de suas operaçõese outros em estágio pré-operacional.A empresa fez um investimentodireto – sem usar a estrutura de fundos– que foi a Via6, uma rede profissionalonline (www.via6.com). Quando investimosna empresa, no início de 2007,ela tinha menos de 30 mil usuários cadastrados.Hoje tem quase 400 mil. Sósaberemos o retorno desse investimentoquando a empresa for vendida, masestá claro que já criamos bastante valorao longo do caminho.Uma equipe fraca ou a falta de um diferencialna oportunidade apresentada – a ausência deinovação – são fatais para a ambição de qualquerempreendedor em conseguir investimentoLocus: Como é formada umacarteira de investimentos em seedcapital? Qual a origem dos recursosque são aportados nas empresas?Guillaume: Os recursos geralmente sãooriundos de fundos de pensão, órgãosde fomento e investidores-anjos. Acomposição da carteira depende muitodo gestor e do setor do fundo, mas geralmenteé composta por várias empresas,de setores ou características complementares,visando minimizar o riscodo investimento. No caso da Confrapar,como investimos apenas em tecnologia,procuramos diversificar os portfóliosinvestindo em subsetores diferentes.empreendimento nos próximos quatroou cinco anos.Locus: Como os investidores costumamavaliar a capacidade de uma equipe?Guillaume: A capacidade de uma equipepara desenvolver e executar um projetose revela em uma série de fatores,como um currículo forte na indústriaem que se propõe a atuar, um backgroundde formação interessante e asexperiências que a equipe já teve emconjunto. Outro fator importante é verse eles estão motivados com a oportunidadeque estão apresentando ou seum salário 50% mais alto os faria abandonara equipe. Tem equipe que você vêque vai executar o projeto de qualquerforma, em que os membros já investiramrecursos do próprio bolso, o quemostra o grau de comprometimento detodos com a proposta.Locus: Quais as razões – principaisou mais recorrentes – que levamà rejeição de um projeto por partedo investidor?Guillaume: No caso das empresas eprojetos que analisamos, uma equipefraca ou a falta de um diferencial naoportunidade apresentada – a ausênciade inovação – são fatais para a ambiçãode qualquer empreendedor em conseguirinvestimento. A Confrapar, porexemplo, não avalia empresas de umapessoa só. Nesses casos, orientamos oempreendedor a procurar um sócio queacredite na sua idéia. Ou seja: convençaum amigo, parente ou colega de faculdadede que sua idéia é boa e depoisnos procure.8Locus • Janeiro 2009Locus: Qual o perfil de negócioconsiderado potencial parareceber seed capital?Guillaume: Empresas que apresentamuma equipe forte e motivada, capaz detransformar a inovação em um elevadocrescimento de receitas e lucros para oLocus: Muitas vezes, a entradade um investidor externo exigeajustes no modelo de gestão dasempresas e no comportamento dopróprio empreendedor. Comotornar construtiva – e menosconflitante – a relação entre


empreendedores e investidores?Guillaume: Esse é um desafio constante.A falta de maturidade da indústriade venture capital no Brasil não contribuimuito. Temos que ajudar o empreendedora se sentir confortável antes eapós o investimento. Nesse ponto, atransparência do investidor e o respeitopelo empreendedor são fundamentais.Muitas vezes o empreendedor não compreendecomo o investidor vai ganhardinheiro, desconhece o business.Locus: Nesse caso, qual o melhorcaminho para o entendimento?Guillaume: É preciso mostrar ao empreendedorquais são as intenções e expectativasdo investidor, apresentandoinclusive os instrumentos jurídicos queregulamentarão a parceria. Esse processode preparação demora em médiaquatro meses, até que a empresa recebao investimento e dê início a uma relaçãoque deve durar cerca de quatroanos. Nosso papel é muito mais informativonessa hora. Isso por que a desinformaçãogera uma incerteza aindamaior na cabeça do empreendedor.Locus: Qual o papel dos parquestecnológicos e das incubadoras noaprimoramento do seed capital?De que forma podem contribuirpara aproximar empreendedorese investidores?Guillaume: Muitas incubadoras e parquesjá fazem sua parte. Estão modificandoseu modelo de negócios para umestilo menos paternalista, protetor. Asincubadoras perceberam que um dosseus principais papéis é casar cada empresacom uma alternativa de investimentoou financiamento adequada. Ocapital empreendedor é apenas umadessas alternativas.Locus: Quais as perspectivas domercado de capital semente brasileirofrente à crise financeira internacional?O que os empreendedores podemesperar para 2009?Guillaume: Essa crise irá afetar asempresas já estabelecidas, principalmenteas médias e grandes, de uma formamais contundente. As pequenasempresas nascentes, principalmente noAs incubadoras perceberam que um deseus principais papéis é casar cada empresacom uma alternativa de investimento oufinanciamento adequadaBrasil, estão afastadas do mercado decapitais e não devem sentir tão fortementea retração da economia. Entãoirão sofrer menos com os efeitos. Muitasempresas de tecnologia até irão seaproveitar da crise para abrir mercado,aproveitando oportunidades trazidaspela turbulência. Um exemplo: a necessidadede reduzir gastos aumentará ademanda por softwares que gerenciemcustos. A empresa que tiver esse softwarecom o grau de inovação desejadopelo mercado terá grandes possibilidadesde crescimento. Então os empreendedoresdevem continuar a inovar e tiraras idéias do papel. O impossível éaquilo que ainda não foi tentado.Locus: Qual seu conselho para oempreendedor que precisa derecursos para executar um projetoinovador? Onde buscar ajuda? O quefazer primeiro?Guillaume: Pesquise e descubra seseu projeto é de fato inovador. Apaixone-sepelo projeto. Depois busque emotive uma equipe capaz de executaressa idéia. Se ela for de fato inovadora etiver um alto potencial de crescimento,busque ajuda de um fundo de capitalempreendedor. Um e-mail conciso ebem escrito basta para chamar a atençãodo investidor.9Locus • Janeiro 2009


E M M O V I M E N T O<strong>Anprotec</strong> revela evoluçãode parques tecnológicosAinda falta muito para que se conheça em profundidadeo nível de desenvolvimento e o potencial dosparques tecnológicos instalados no Brasil. Mas oprimeiro passo já foi dado. Em uma reunião comparceiros realizada no dia 16 de dezembro de 2008,a <strong>Anprotec</strong> lançou o “Portfolio de Parques Tecnológicosno Brasil”, que apresenta dados sobre diversasexperiências nacionais de parques, ampliando o nívelde informação sobre o segmento.No levantamento, foram identificadas 74 iniciativasde parques tecnológicos, distribuídas por todasas regiões brasileiras, das quais 64 responderam àpesquisa enviada pela <strong>Anprotec</strong>, dando origem aosindicadores. Desses, apenas 25 encontram-se emplena operação. A maioria ainda está em fase deprojeto ou implantação – o que se explica pelo fatode 49 parques terem iniciado a partir de 2005 (vejagráficos). As regiões Sul e Sudeste concentramgrande parte das iniciativas, com 23 e 34 parques,respectivamente. No Centro-Oeste e no Norte doBrasil, todos os parques identificados pelo levantamentoencontram-se em fase de projeto.Em todo Brasil, os parques em operação abrigam520 empresas, que juntas geram receitas da ordemde R$ 1,7 bilhão por ano. Porém, o faturamento individualde 475 delas não ultrapassa R$ 5 milhões.“O grande desafio dos parques é ampliar o nível defaturamento de suas empresas”, afirma o ex-presidenteda <strong>Anprotec</strong> José Eduardo Fiates, que coordenouo estudo. Para consolidar os parques tecnológicos,a <strong>Anprotec</strong> estima que são necessários cerca deR$ 4 bilhões em investimentos, dos quais R$ 1,86bilhão viria do setor público.Segundo Fiates, os resultados da pesquisa demonstramque o estímulo aos parques pode ser estratégicopara o desenvolvimento econômico e tecnológicodo Brasil. “É fundamental saber quais sãoas prioridades setoriais, tecnológicas e regionais queo governo precisa estimular. Isso foi feito na França,na Coréia do Sul, na China e na Índia, tendo os parquescomo catalizadores desse processo de desenvolvimento”,enfatiza Fiates.O portfolio traz informações detalhadas sobre os64 parques que responderam à pesquisa e está disponívelno site da <strong>Anprotec</strong> (www.anprotec.org.br).10Locus • Janeiro 2009


DIVULGAÇÃO/valeVale compra empresa graduadaCriada em 2003 na Incubadora de Empresasda Coppe/UFRJ, a Petroleum GeoscienceTechnology (PGT), especializada em consultoria,análise e interpretação de dados de baciaspetrolíferas, foi comprada pela Vale emnovembro de 2008. O negócio, estimado emR$ 15 milhões, consolida a estratégia da mineradorade produzir gás natural para suprirsuas operações no Brasil e no exterior.Desde 2007, a PGT prestava serviço à Valena identificação de áreas potenciais para adescoberta de petróleo, tendo assessorado agigante na aquisição de nove blocos na 9ª Rodadade Licitações da Agência Nacional doPetróleo (ANP). Ao comprar a PGT, a Vale absorveutodo o quadro técnico da empresa,com cerca de 50 funcionários. De acordo coma mineradora, os sócios-diretores da PGT permanecerãona empresa, ajudando a conduziros processos exploratórios. Com faturamentoestimado em R$10 milhões por ano, a ex-incubadaatende petroleiras do Brasil e do exterior.Integram a carteira de clientes as brasileirasQueiroz Galvão e Starfish, a norueguesaNorse Energy e a colombiana Ecopetrol.Bayer testa produto da ImunyEm dezembro de 2008, a Bayer CropScience, subsidiáriada Bayer que atua no setor de ciências agrícolas, começoua testar em suas plantações um produto desenvolvidopela Imuny, empresa de biologia molecular graduadana Incubadora de Empresas da Unicamp (Incamp), deCampinas (SP). Estão em teste os kits para diagnósticoprecoce da ferrugem-da-soja, um teste imuno-químicopadrão, desenvolvido para aplicação em laboratório.A ferrugem-da-soja é causada por um fungo e tem ocasionadoprejuízos à produção desde que chegou ao Brasil,há cerca de sete anos. Até agora, a identificação da ferrugemnas lavouras de soja vem sendo feita pela observaçãodas folhas com o auxílio de uma lupa. Aplicando-se o testedesenvolvido pela Imuny no monitoramento periódicoda safra, a doença poderá ser detectada em seu estágioinicial, ainda imperceptível visualmente nas folhas, o quegarantirá uma resposta mais precoce.O teste consiste em macerar a folha de soja, aplicá-la namembrana de nitrocelulose e, então, adicionar uma soluçãodo anticorpo específico para o fungo da ferrugem,que foi desenvolvido pela equipe do Laboratório de ImunologiaAplicada do Instituto de Biologia da Unicamp. Seos testes forem bem-sucedidos, o produto brasileiro podeconcorrer com o similar importado, cuja aplicação tornou-seinviável no Brasil devido ao alto custo. Confianteno resultado dos testes, a Imuny já abriu uma spin-off,denominada RheaBiotech, para aprimoramento e comercializaçãodo novo produto.DIVULGAÇÃO/embrapaPlanta industrial da Vale:aquisição da PGT contribuirápara geração própria de energiaPlanta de soja atingidapor ferrugem11Locus • Janeiro 2009


shutterstockAgentes locaisApós ser implantado no Paraná e no Distrito Federal, o projetoAgentes Locais de Inovação (ALI) será levado pelo Sebrae a maisnove estados brasileiros. Ao todo, serão empregados R$ 27,8 milhõespara incentivar a inovação em cerca de 10 mil empreendimentosde Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso doSul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Paraisso, devem atuar 204 agentes locais de inovação – pessoas formadashá três anos e capacitadas pelo Sebrae para orientar e proporsoluções inovadores às empresas. Um projeto especial de ALI serádesenvolvido pelo Sebrae na Região Norte, que contará com R$6,6 milhões, beneficiando cerca de 1.600 empresas.Mercosul tem fundode US$ 100 milhõespara MPEsProposto pelo Brasil, o Fundo paraPequenas e Médias Empresas doMercosul foi lançado na última cúpulado bloco, realizada em dezembrode 2008 na Costa de Sauípe (BA).O fundo contará com US$ 100 milhões,que devem ser utilizados comogarantia em empréstimos concedidosa pequenas e médias empresas porbancos públicos e privados de Brasil,Argentina, Uruguai e Paraguai. Osrecursos serão destinados a empresasque mantêm projetos de integraçãoprodutiva com os países vizinhos.O Brasil terá 70% de participaçãono fundo, contra 27% da Argentina,2% do Uruguai e 1% do Paraguai,com possibilidade de contribuiçõesvoluntárias adicionais. Mas o acessoserá igualitário: cada país terá direitoa 25% do montante. Os recursos serãogerenciados por um comitê intergovernamental.Parque do Rio abrigará multinacionaisAs multinacionais Schlumberger e FMC anunciaram neste mês ainstalação de unidades no Parque Tecnológico do Rio, localizado nocampus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juntas,elas deverão criar cerca de 600 empregos de alta qualificação técnica,além de gerar oportunidades de transferência de conhecimento com omeio acadêmico. “A chegada dessas empresas só confirma que a principalvocação da cidade do Rio de Janeiro é ser o celeiro do conhecimentobrasileiro”, afirmou o prefeito Eduardo Paes ao anunciar a instalaçãoas companhias no Parque.Instalação das companhias foi anunciada peloprefeito Eduardo Paes (centro), ao lado doreitor da UFRJ, Aloísio Teixeira (direita), e dosecretário municipal de C&T, Rubens AndradeEspecializada na área de petróleo e gás, a Schlumberger, de origem francesa, atua em mais de 80 países etem na inovação tecnológica uma de suas principais características. Também atuante no setor de petróleo, acompanhia norte-americana FMC Technologies fabrica equipamentos submarinos para a extração de óleo egás em águas profundas.As multinacionais irão somar-se às 17 empresas já instaladas no Parque Tecnológico do Rio, que até 2017 terámais de 120 mil m² de área construída. A estimativa é de que 4 mil pessoas trabalhem em cerca de 220 empresassediadas no local.divulgação13Locus • Janeiro 2009


E M M O V I M E N T Odivulgação/anprotecAscensão feminina foidestaque em AracajuReunidas na capital sergipana, cerca de600 pessoas participaram do XVIII SeminárioNacional de Parques Tecnológicos eIncubadoras de Empresas, organizado pela<strong>Anprotec</strong> em parceria com o Sebrae. Realizadoentre os dias 22 e 26 de setembro de2008, o evento promoveu discussões quecontribuirão para o avanço do empreendedorismoinovador no Brasil. Um dos temasde maior destaque foi a pesquisa MulheresEmpreendedoras: Gênero e Trabalhonas Incubadoras de Empresas e ParquesTecnológicos, realizada pela <strong>Anprotec</strong> emparceria com a Incubadora Tecnológica deCooperativas Populares da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (ITCP/UFRJ).Segundo a pesquisa, 47% das mulheresque trabalham em parques tecnológicos eincubadoras exercem cargos de gerênciaou coordenação. “Esse resultado rompecom o paradigma de que o setor seja tradicionalmentemasculino”, afirmou o antropólogoMarcelo Silva Ramos, que organizoua pesquisa. Apesar dos avanços, apesquisa revelou que o preconceito à liderançafeminina ainda é muito presente nasinstituições, pois 45% das entrevistadasdisseram ter sofrido alguma discriminaçãodevido à idade – a maioria delas tementre 25 e 35 anos – ou ao sexo.Nova data a celebrarPara estimular a criação de empreendimentos inovadores,incubadoras de 60 países se mobilizaram no último dia 8 dedezembro para comemorar 1º Dia Global de Incubação deEmpresas. A iniciativa, liderada pela UK Business Incubation,celebrou o papel de entidades dessa natureza na promoçãoda inovação e do empreendedorismo. No Brasil, diversasinstituições, coordenadas pela <strong>Anprotec</strong>, realizaram uma sériede eventos paralelos, como exposição de casos de sucessode empresas incubadas, realização de um dia de visitação àsincubadoras, palestras e workshops, campanhas de mobilizaçãode parcerias com os setores privado e governamental,além de atividades on-line. Segundo levantamento feito pelaassociação, o movimento brasileiro de incubação de empresastem crescido a uma taxa expressiva nos últimos 10 anos, alcançandouma média superior a 25%. Atualmente, o país contacom cerca de 400 incubadoras que congregam 6.300 empresasde base tecnológica, responsáveis pela geração de 33mil postos de trabalho, a maior parte dos quais qualificados.Inovação e saúde na gôndolaApós lançar os primeiros limpadores de língua no mercadobrasileiro e ser reconhecida pela FDA, a Kolbe, empresa graduadapelo Condomínio de Empreendedores e de InovaçõesTecnológicas (Compete) da Universidade Federal da Bahia,comemora a parceria com a Ebal – Empresa Baiana de Alimento,conhecida como Cesta do Povo. Controlada pelo governoestadual, a Ebal é a maior rede de abastecimento alimentardo estado, com 279 lojas presentes em 225 municípiosbaianos. Com foco na população de baixa renda, a estatal colocouo limpador de línguas à venda em suas lojas, com preçodiferenciado. Segundo a Kolbe,pesquisas mostram que 70% dasdoenças causadas por bactérias seinstalam originalmente na boca, oque torna a limpeza da língua umaeficaz medida preventiva.divulgaçãoSessão plenária apresentouos resultados da pesquisano Seminário de Aracaju14Locus • Janeiro 2009Limpador de língua daKolbe previne doençasoriginadas na boca


High-TechCaneta espertaCriada pelaTechway, residentedo Centro deIncubação eDesenvolvimentoEmpresarial deManaus (CIDE), aPentop permite aprodução de livrosinterativos. Utilizando tecnologia semelhante aode leitores de código de barras, um sensor lê oscódigos impressos no livro e reproduz os sonscorrespondentes, como falas, sons ambientes,ruídos e músicas, por exemplo. A Pentoptambém pode traduzir textos e associar sons àsimagens impressas.Saiba mais: www.techwaybr.com.brDados a salvoQuem trabalha com notebook sabe: ter amáquina furtada pode representar não apenasprejuízo financeiro, mas também a perda deinformações importantes ou até sigilosas.Pensando nisso a FindME, empresa residenteno Centro Incubador de Empresas Tecnológicas(Cietec/SP) criou o TComInspice Trace, um rastreadorque permite localizar oequipamento e apagar osdados armazenados deforma remota. Tudoisso por meio de umprograma instalado emum diretório oculto do HD.Saiba mais: www.findeme.com.brSem odoresPara alívio dos profissionais e clientes desalões de beleza, o mau cheiro gerado porprodutos químicos de coloração ealisamento capilar está com os diascontados. A TBN, residente na ArcaMultincubadora, da UniversidadeFederal do Mato Grosso, acabade lançar um exaustor portátil,que neutraliza odores e melhoraa qualidade do ar do ambiente,prevenindo doenças respiratórias.Saiba mais: www.arcamultincubadora.com.brdivulgação shutterstockdivulgaçãoAgendaABRIL17º Venture Forum FinepData: 15 de abril de 2009Local: São Paulo (SP)Informações: www.finep.gov.brMAIO3rd Global Forum on Business IncubationData: 11 a 15 de maio de 2009Local: Brasília (DF)Informações: www.3rdglobalforum.comConferência Internacional Ethos 2009 – Empresas eResponsabilidade SocialData: 11 a 14 de maio de 2009Local: São Paulo (SP)Informações: www.ethos.org.br/Ci2009JUNHO9ª Conferência da Anpei – Associação Nacional dePesquisa, Desenvolvimento e Engenharia dasEmpresas InovadorasData: 8 a 10 de junhoLocal: Porto Alegre (RS)Informações: www.anpei.org.br26ª Conferência Mundial da InternationalAssociation of Science Parks (IASP)Data: 1° a 4 de junhoLocal: Raleigh, Carolina do Norte (EUA)Informações: www.iasp2009rtp.comOUTUBROXIX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos eIncubadoras de EmpresasData: 26 a 30 de outubroLocal: Florianópolis (SC)Informações: www.seminarionacional.com.br15Locus • Janeiro 2009


N e g ó c i o sshutterstockRos a l v o St r e i t Ju n i o r16Locus • Janeiro 2009A nova matériaMercado de biopolímeros cresce 30% ao ano e atraiempreendedores. Mas ainda é preciso convencer oconsumidor a abandonar o barato plástico convencionalSegunda-feira é dia de compras paraa comerciante Tani Fátima dos Reis,45 anos. Moradora da pequena cidademineira de Guarda-Mor, a 600 quilômetrosda capital Belo Horizonte, ela nãocomeça a semana sem ir ao supermercado.A lista, na maioria dos casos, resumesea frutas, verduras e a alguns produtosque estejam em falta na casa da família.“Prefiro comprar aos poucos, uma vezpor semana, pois é mais prático e menoscansativo”, afirma.Mas cada vez que ela vai ai supermecado,o porta-malas é ocupado por um materialtão consumido quanto as própriascompras: as famosas sacolas plásticas.Para Tani, quanto mais, melhor. No supermercado,na padaria, na farmácia ouem uma locadora de filmes – não importao lugar – o mesmo comportamento. “Levoo maior número possível de sacolas plásticas.Preciso delas para usar como embalageme para colocar o lixo”, justifica.Atitudes como essa se repetem em milhõesde lares do país. Os consumidoresbrasileiros podem não saber, mas, juntos,consomem todos os meses 1,5 bilhão desacolas, cuja matéria-prima é plástico-filme,produzido a partir de uma resina chamadapelos especialistas de polietileno debaixa densidade, originada do petróleo.Resultado: 210 mil toneladas de plásticofilmesão eliminadas todos os anos nopaís, contaminando o meio ambiente –em média, o tempo de decomposição dessematerial é de 100 anos.Desde que foi inventado – em 1862 peloinglês Alexander Parkes –, o plástico surgiucomo alternativa de redução de custosàs indústrias. “A matéria”, como era popu-


larmente chamado (nome herdado de“matéria plástica”), ganhou espaço e virouvício da sociedade capitalista. Impulsionadapelos preços competitivos do petróleono início do século, a produção dessematerial – “flexível, resistente, à provad’água e, principalmente, barato”, conformedivulgava a publicidade – virou mania.Da comerciante Tani, no interior de MinasGerais, às grandes indústrias e multinacionais,os polímeros sintéticos são presençagarantida em diversos setores daeconomia e tomaram conta do planeta.Esperança verdeEm junho deste ano, o recorde de preçodo barril de petróleo foi manchete emtodos os jornais: US$ 140, o maior já registradona Bolsa Mercantil de Nova Iorque.Menos de seis meses depois, a crisefinanceira mundial contribui para derrubaro valor do barril a US$ 55. Essa instabilidadede preço da matéria-primausada para a fabricação do plástico sintético,somada à importância da preservaçãodo meio ambiente, tem estimulado apropagação de uma inovadora tecnologia,a dos biopolímeros.A tecnologia não é propriamente nova.O desenvolvimento dos polímeros verdes,como também são conhecidos, datado início da década de 1960. “Essa tecnologiavoltou a ser discutida recentemente,pois os preços estão mais competitivose o apelo ecológico cada vez maior”,explica a pesquisadora do Instituto dePesquisas Tecnológicas de São Paulo MarildaKeico Taciro, que estudou o temadurante o doutorado.Produzidos a partir de matéria-primarenovável, os plásticos verdes despertarama atenção das indústrias. “Antes, porcausa do preço e da qualidade inferior,produzir esses plásticos era inviável. Hoje,a oferta de matéria-prima renovável noBrasil é infinita, os gastos com esse setorestão menores e os consumidores exigemresponsabilidade ambiental das empresas”,explica o gerente de propriedade industrialda Braskem, Antônio Morschbacker.A multinacional brasileira é a maiorfabricante de polietileno da América Latinae umas das primeiras a investir nessenicho de mercado.Com investimentos em pesquisa e desenvolvimentoda ordem de R$ 5 milhões,a Braskem anunciou, em 2007, a produçãodo primeiro polietileno com certificadointernacional pela Beta Analytic, um dosprincipais laboratórios do mundo. A novatecnologia, que começou a ser implantadahá três anos, já rendeu reconhecimento –a Braskem conquistou, no ano passado, oprimeiro lugar no prêmio BioplasticAwards, na Alemanha.Produzido a partir do etanol da canade-açúcar,o polietileno verde da Braskemé fabricado em escala piloto – 12 toneladasanuais – no Centro de Tecnologia eInovação da empresa em Triunfo (RS). Ameta, segundo Morschbacker, é aproveitartodo o potencial do país na oferta dematéria-prima renovável. “Assim como oOriente Médio é referência na produçãode petróleo, o Brasil é símbolo mundialna produção de álcool extraído da canade-açúcar,potencial que pretendemos explorar”,explica. Morschbacker acrescentaMorschbacker, daBraskem: empresaquer explorar opotencial do etanolDIVULGAÇÃO17Locus • Janeiro 2009


Fotos: DIVULGAÇÃON e g ó c i o sBrinquedo e troféu doGP Brasil de Fórmula‐1,produzidos com oplástico verde da Braskem18Locus • Janeiro 2009que, em virtude do aumento da procurapelo álcool, o preço do produto tambémsubiu e diminuiu a disparidade com o petróleo.Mais um motivo, afirma, para investirnos biopolímeros.Escala industrialA Braskem programa para 2010 o inícioda produção, em escala industrial, do primeiroplástico verde com certificado dequalidade internacional do mundo. Cienteque o mercado de biopolímeros cresce,em média, 30% ao ano, a empresa decidiuconstruir uma fábrica capaz de produzir,anualmente, 200 mil toneladas. “Temosindicadores que nos garantem o interessedo mercado pelo nosso produto. EstadosUnidos e Japão, por exemplo, são nossosprincipais clientes”, diz Morschbacker.Para convencer os clientes a comprar aidéia da Braskem não faltam bons argumentos.“Nosso polietileno é muito versátile pode ser usado na fabricação de diversosprodutos como frascos, sacolas ebrinquedos”. Outro ponto positivo é a facilidadecom que os biopolímeros se adaptamàs máquinas industriais que trabalhamcom o plástico convencional. Alémde facilitar a operação, isso exime a empresade investimentos extras para adaptaro parque.Enquanto a produção em larga escalanão começa, empresas como a fabricantede brinquedos Estrela já procuraram aBraskem para firmar parcerias. Utilizandoo plástico verde, a Estrela colocou àvenda, em junho de 2008, 10 mil unidadesdo chamado ‘Banco Imobiliário – Sustentável’,renovando um dos jogos mais famososdo país. As peças do brinquedo e ofilme plástico que envolve a embalagemforam fabricados com a nova resina. Resultadoda inserção da Estrela na onda desustentabilidade que carrega organizaçõesde todo o mundo, esse foi o primeiro investimentoda empresa nos biopolímerose deve gerar novas parcerias.Para dar ainda mais visibilidade à inovação,a Braskem apostou no poder dedivulgação da Fórmula‐1. O último GPBrasil, que decidiu a competição no anopassado, concedeu ao vencedor um troféuconfeccionado com o polímero deorigem vegetal, 100% renovável, fato inéditona história da Fórmula‐1. Além dainovação tecnológica, a peça tinha outroatrativo: foi desenhada por Oscar Niemeyer,que se inspirou nas colunas do Palácioda Alvorada.Ao apresentar o troféu à imprensa, o


presidente da Braskem, Bernardo Gradin,revelou o potencial do mercado. “Clientescomprometidos com a sustentabilidadeem todo o mundo demandam soluçõestecnológicas e econômicas da indústriapetroquímica. Estivemos na Bio Plastic,no Japão, e confirmamos esse interesse,principalmente no mercado asiático. Firmamosparcerias com empresas renomadas,como a indústria de cosméticos Shiseido”,afirmou.Apenas o começoApesar de ser a principal matéria-primapara a fabricação de biopolímeros, oetanol da cana-de-açúcar não está sozinho.A resina pode ser extraída de outrosmateriais – a exigência é que a fonte sejauma matéria-prima renovável. Essa oferta,somada ao empreendedorismo de algunsempresários, faz com que a lista deprodutos com essa finalidade seja extensa.Vai, por exemplo, da quitosana extraídada carapaça de crustáceos à sacaroseda própria cana. “O mercado para os biopolímerosnão pára de crescer no Brasil.Cabe a cada fabricante encontrar o seunicho de mercado e saber explorá-lo”, resumeAntônio Morschbacker. Palavras deum especialista que já foram compreendidaspor empresas em diversas regiõesdo Brasil e estão se transformando em experiênciasde sucesso.Tampas de caneta e de garrafas, coposplásticos, maçanetas de carros, retrovisores,embalagens de iogurte e chapas paracartão de crédito, crachás e chaves de hotel.Geralmente, esse tipo de objeto plásticotem origem no petróleo e gera uma sériede danos ao meio ambiente quandodescartado. Mas os artigos produzidospela empresa paulista PHB Industrial sãodiferentes. “Nosso biopolímero é feito apartir do processo de fermentação da sacaroseextraída da cana-de-açúcar – fontenatural e renovável – e se biodegrada emambientes com atividade bacteriana”, or-gulha-se o diretor executivoda PHB, SylvioOrtega Filho.Localizada em Serrana(SP), a empresafoi uma das primeirasdo país a investir, desdeo início da décadade 90, na fabricação debiopolímeros. Da planta-pilotoà fase industrial,prevista para começara operar nospróximos três anos, a PHB utiliza diversastécnicas de transformação para chegar aoresultado final, o plástico biodegradável.Atendendo pelo nome comercial deBiocycle, o produto da PHB já conquistouo mercado internacional. Assim como nocaso da gigante Braskem, Japão e EstadosUnidos são os principais clientes. A metaé produzir até 30 mil toneladas por anoem 2011 – atualmente, a produção não ultrapassa60 toneladas anuais.Apesar de otimista, Ortega aponta doisfatores que podem prejudicar a expansãodos negócios para quem pretende investirno mercado de biopolímeros. Primeiro, opreço do produto, mais caro que o doplástico convencional – o quilo doBiocycle, por exemplo, custa, em média,US$ 4,4, enquanto o concorrente sintéticoé vendido a US$ 1.O segundo empecilho, segundo o empresário,estaria ligado à falta de consciênciaambiental do governo e da populaçãobrasileira. “As pessoas ainda não têmconsciência de que comprar um produtofabricado com biopolímeros é mais saudávelao meio ambiente. Por outro lado, acarga tributária que pagamos para produziro plástico verde é a mesma cobradadas fábricas convencionais. Não recebemosincentivo algum”, reclama.A pesquisadora Marilda Keico Taciroconcorda com Ortega: “Falta legislaçãoespecífica no Brasil para que o brasileiropossa adotar os biopolímeros em seu diaa-dia”.Mas é otimista em relação ao futu-Equipamentosda QuantasBiotecnologia:biopolímero extraídoda sacarose19Locus • Janeiro 2009


N e g ó c i o sro. “Paralelamente ao desenvolvimento denovas tecnologias, o preço desses novosprodutos irá cair”. Enquanto os biopolímerosnão recebem a devida importânciano Brasil, a PHB Industrial segue apostandonesse mercado.Duplo benefícioA empresa baiana Quantas BiotecnologiaS/A encontrou no plástico verde umaforma de gerar duplo benefício ao meioambiente. Além de substituir recursosnão-renováveis na fabricação de plásticos,faz com que a inevitável extração de petróleoseja mais limpa. A empresa tambémproduz um biopolímero extraído dafermentação da sacarose da cana-de-açúcar– desta vez com a ação da bactériaXanthomonas campestris –, a goma xantana.O nome pode parecer difícil, mas aaplicação é simples: ela é usada na perfuraçãode poços, inclusive os de petróleo.O material substitui os fluidos usados nasatividades de perfuração que são fabricadoscom matéria-prima não-renovável edemoram décadas para se decompor.Com elevado peso molecular e alta viscosidade,a goma adquire um efeito gel etorna-se capaz de suspender os resíduosretirados da rocha enquanto se perfura opoço. Ou seja: evita o entupimento doorifício, pois mantém o material retiradona superfície. Além disso, atua como lubrificantedas brocas de perfuração e evitaque elas se rompam. O projeto, desenvolvidoem parceria com o Serviço Nacionalde Aprendizagem Industrial (Senai) daBahia, já foi aprovado pela Petrobras.“Estamos bastante otimistas. Neste iníciode ano vamos colocar o produto nomercado para testes. Em 2010 a meta écomeçar a produzir em escala industrial”,afirma o diretor-presidente da QuantasBiotecnologia, Edson Buzanelli. Ele afirmaque R$ 5 milhões já foram investidosem pesquisa e desenvolvimento durante afase-piloto e semi-industrial e que outrosR$ 20 milhões estão previstos para terminara construção da fábrica no Pólo Petroquímicode Camaçari (BA). Quando estiverpronta, ela vai ser a primeira doHemisfério Sul a produzir goma xantanaem escala industrial, com capacidade instaladade 7 mil toneladas por ano.Mas a expansão do produto esbarra,mais uma vez, na questão do preço. Comotambém é controlado internacionalmente,o valor da goma xantana no mercado aindaé elevado, cerca de US$ 10 por quilo.“Precisamos trabalhar para desenvolver-As mil e uma utilidades da quitosanaInovaçãoCosméticos inteligentesQuitosana em cápsulasQuitosana aromatizadaQuitosana + bactéria microcapsuladaProdução de etanol com levedurasimobilizadas em quitosanaBandagensMembrana e películas de quitosanaBenefíciosCombatem rugas e radicais livresCaptura a gordura dos alimentos, favorecendo o emagrecimentoQuando ingerida, funciona como aromatizante natural do corpoEm acidentes com petróleo em alto-mar, a bactéria se alimenta docombustível e atua na limpeza da áreaComo a levedura se contamina com o álcool que produz, aquitosana a encapsula e a protegeA quitosana contribui para estancar hemorragiasPreserva frutas e verduras na pós-colheita. Aumenta o tempo deprateleira de oito para 18 diasFonte: Polymar20Locus • Janeiro 2009


mos mais tecnologia e diminuirmos essascifras”, afirma Buzanelli. Mesmo assim, aQuantas Biotecnologia tem razões paracomemorar. Recentemente, transformouseem uma sociedade anônima para recebercomo acionista um importante bancode investimento. Os aportes financeirosda parceira já garantiram a conclusão daprimeira etapa da fábrica. “Vamos começara produzir em módulos. Primeiro, iniciaremosuma parceria com a Petrobraspara a perfuração dos poços. Depois, partiremospara desenvolver produtos farmacêuticos,cosméticos e alimentícios. O últimopasso é conquistar os mercados daAmérica Latina”, garante Buzanelli.QuitosanaOs crustáceos – caranguejos, lagostas ecamarões – que dão sabor à mesa de milharesde brasileiros todos os dias ganharamuma finalidade bastante curiosa nosúltimos anos. A quitina extraída da carapaçadesses invertebrados tem servido,por meio de uma transformação químicae enzimática, de matéria-prima à produçãode quitosana, convertida em um biopolímeromultiuso.No Ceará, a Polymar, empresa graduadano Parque de Desenvolvimento Tecnológico(Padetec), decidiu aliar as condiçõesgeográficas do estado – propíciasao desenvolvimento de crustáceos – aocrescimento do mercado de biopolímeros.“Como somos os maiores produtoresde camarão do país, por exemplo, e vimosa extensa gama de opções em que aquitosana pode ser usada, não pensamosduas vezes. Resolvemos apostar”, conta odiretor-presidente da Polymar, AlexandreCraveiro.Ainda em fase-piloto, a expectativa daPolymar é encontrar parceiros para que oprojeto chegue à fase industrial nos próximosdois anos. Produtos para serem desenvolvidos,garante Craveiro, não faltam.A lista de pedidos de patentes para seremregistradas pela Polymar já soma 38 projetos.“Nosso objetivo é virar referênciano país”, explica o diretor-presidente.A Polymar enfrenta o mesmo problemaque as demais fabricantes de biopolímeros:o valor elevado em comparação aosprodutos convencionais. “Já temos preçoscompetitivos nos ramos alimentício e farmacêutico.O desafio é reduzir os custosde produção para a quitosana no setor industrial”,explica Craveiro.Por enquanto, o meio ambiente é omaior beneficiado pelo plástico verde daBraskem ou as inovações em biopolímerosda PHB Industrial, da Quantas BiotecnologiaS/A e da própria Polymar. Essasempresas já provaram ter tecnologia, iniciativae empreendedorismo de sobra paratornar o Brasil um destaque na área debiopolímeros. Falta, ainda, a disposiçãodos clientes em pagar mais por um produtoque não prejudica o ecossistema.Produção e pesquisasna Polymar: quitinade crustáceos éconvertida embiopolímero multiusoFotos: DIVULGAÇÃO21Locus • Janeiro 2009


i n v e s t i m e n t oshutterstockEd u a r d o Ko r m i v e s22Locus • Janeiro 2009A fonte não secouApesar do cenário econômico internacional, fundos aindatêm muito dinheiro para investir em negócios inovadores.Mas aumentaram as exigências para minimizar riscosPrimeiro a boa notícia: a despeito daturbulência financeira global, a indústriade capital de risco funciona a todovapor para financiar ou turbinar o crescimentode empresas inovadoras no país. Anotícia ruim é que a venda de participaçãopara fundos de private equity ou venturecapital será negociada em termos bem menosfavoráveis do que alguns meses atrás,quando havia fartura de crédito na praça.O fato é que essa indústria representatalvez a única janela de negócios nummomento em que a crise tornou o dinheirodos bancos caro e escasso e simplesmentevarreu da lista de opções o lançamentode ações no mercado (IPO, na siglaem inglês). Estrear na Bolsa de Valores deSão Paulo foi uma grande jogada em 2007.O número recorde de 64 IPOs realizadosna Bovespa resultou em R$ 55,5 bilhõescaptados. Mas lançar mão de tal estratégiaestá fora de questão desde o segundo semestredo ano passado.Na montanha-russa que se transformouo mercado acionário, a bolsa paulista acumulouperdas de 42,7% entre janeiro enovembro de 2008. Tanto que apenas quatroempresas – OGX Petróleo e Gás, LeLis Blanc, Hypermarcas e Nutriplant – fizeramofertas primárias de ações nesseperíodo, o que lhes rendeu R$ 7,5 bilhões.E uma única, a fábrica de fertilizantes Nutriplant,de Paulínia (SP), inaugurou, emfevereiro, o Bovespa Mais, novo segmentovoltado a empresas de menor porte.Os IPOs são a melhor estratégia de saída– desinvestimento, no jargão do mercado– da indústria de capital de risco.Como observa o economista Robert Binder,da Antera, gestora do fundo de capitalsemente Criatec, “o private equity trabalhanum horizonte com a certeza deIPO, enquanto que o venture capital, com50% de chance”. Apesar disso, o cenáriode turbulência das bolsas caiu como umaluva para o setor.A explicação mescla três fatores principais.Em primeiro lugar, os investimentosdos fundos de private equity e venture capitalsão focados no longo prazo. Segundo:sem os IPOs, as empresas tornaram-seinvestimentos mais atraentes e mais aber-


tas à entrada de um sócio. “Como haviafarta oferta de recursos, os empresárioscomeçaram a enxergar as suas própriasempresas com uma idéia errada. Por isso,ficou mais difícil fechar negócios”, afirmaLuiz Eugênio Figueiredo, presidente daAssociação Brasileira de Private Equity &Venture Capital (Abvcap).Para a chefe da unidade de investimentosda Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), Patrícia Freitas, a crise está trazendoo mercado de volta à realidade. “Asempresas voltaram ao preço normal. Háum retorno à análise dos fundamentospara determinar o seu valor”, explica.Caixa reforçadoPor último, mas não menos importante,a indústria de capital de risco dispõe deum bom caixa para tirar proveito dasoportunidades. Uma pesquisa da KPMGpara o jornal Valor Econômico revelouque em agosto do ano passado os 38 fundosde private equity ouvidos dispunhamde R$ 8,1 bilhões em capital não-investido.No mesmo mês de 2007, esse montanteera de R$ 5,6 bilhões, ou 30,9% menor.Figueiredo, da Abvcap, descarta um recuona atuação dos investidores apesar daturbulência. Não há volta em relação aodinheiro em caixa não-investido nem aosrecursos que os investidores se compro-Figueiredo, da Abvcap:investidores não irãorecuar por causa da criseDIVULGAÇÃOOs tipos de investidorInvestidor-anjoAplica dinheiroquando a empresanão é nada além deum brilho nos olhosdo empreendedor.Normalmentetratam-se deprofissionais bemsucedidosqueresolvem apostar embons projetos.shutterstockCapital sementeUm grau além do investidor-anjo, são recursos parauma empresa que já se firmou para iniciar um processode crescimento. Normalmente são fundos públicos oude entidades sem fins lucrativos, mas também podehaver dinheiro privado.Venture Capital (capital de risco)Recursos mais estruturados, dedicados a comprarpartes ou o controlede empresas iniciantescom sólidas perspectivasde crescimento.Normalmente são recursosprivados de investidoresinstitucionais.Private EquityFundos de investimentosdedicados a comprarpartes de empresas jáestabelecidas, que têmboas possibilidades de abrir capital ou de seremvendidas para um investidor estratégico. Normalmente,são recursos privados de investidores institucionais.Mezzanine FundsDedicados a financiar empresas que pretendemabrir capital comprando ações e títulos de rendafixa. Normalmente, são recursos privados deinvestidores institucionais.23Locus • Janeiro 2009


i n v e s t i m e n t oIPOs na Bovespa24Locus • Janeiro 2009Ano Operações Volume de captação (R$ bilhões)2004 7 4,52005 9 5,42006 26 15,42007 64 55,52008* 4 7,5*Até novembroFontes: Bovespa e AbvcapNúmeros do setor, em R$ bilhõesAno Total de recursos Capital comprometido2008 50,6 39,52007 26,7 14,7Ano Recursos investidos Recursos não-investidos2008 31,4 8,12007 6,6 5,6Fonte: pesquisa KPMG para o jornal Valor EconômicoA divisão do capital sementeParticipação por tipo de investidor nos fundos aprovados pela Finep - em %Fonte: GVcepeFinep 72,9Investidores-anjo 15,7Outros investidores privados 6,0Fundos de pensão 5,4Balanço das saídasVenda das participações via abertura de capital e venda privada - em %Ano Venda privada Abertura de Capital2003 100 -2004 63 372005 62 382006 52 482007 63 37Fonte: Abvcapmeteram a colocar nos fundos – R$ 50,6bilhões em 2008.Todas essas condições reunidas no mercadobrasileiro explicam por que a gestoraamericana Advent assumiu o controle davarejista gaúcha de eletroeletrônicos emateriais de construção Quero-Quero,com 170 lojas no Rio Grande Sul e emSanta Catarina, em setembro, quando acrise estourou mundo afora. O valor donegócio, estimado em US$ 300 milhões,vem a ser o maior investimento de umfundo de participações no país.Embora os aportes da indústria de capitalde risco signifiquem menos dinheirodo que se poderia esperar de um IPO, naavaliação de Patrícia Freitas, da Finep,para as empresas inovadoras eles representamuma maneira mais segura de seobter crescimento sustentável.Em muitos casos, a estréia na bolsasantecede a profissionalização da gestão,principal atividade dos fundos, que preparamas empresas para acessarem sozinhaso mercado de capitais. “Muitas empresasacabam pulando a etapa decrescimento com governança e indo diretopara a bolsa”, afirma Patrícia.Áreas atraentesE por falar em crescimento, as empresasinovadoras, as chamadas portadoras defuturo, saem na frente em relação aos demaissetores em busca de capital para alavancá-lo.“As áreas de biotecnologia, mobilidadee segurança têm chamadoatenção. Historicamente, a área de Tecnologiada Informação atrai investimentos evai continuar assim”, projeta Eugênio Figueiredo,que, além de presidir a Abvcap,é sócio da Rio Bravo, gestora de fundoscom R$ 250 milhões em carteira, partedeles investidos em tecnologia.Patrícia Freitas, por sua vez, observa queos fundos de venture capital em operaçãono país chegaram a concentrar algo emtorno de 80% de seus investimentos em TI.


Hoje, a fatia abocanhada pelo segmentositua-se entre 40% e 45%. A diversificaçãocolocou em evidência áreas como biotecnologia,energias limpas, nanotecnologia eagronegócio. “Há uma boa chance de seconseguir recursos. Os fundos de capitalsementetêm bastante dinheiro para investir.Qualquer proposta submetida no nossosite será examinada. E há uma série defundos de venture capital não-afetadospela crise que também estão com dinheiro”,afirma Robert Binder.O fundo gerido por ele, o Criatec, contacom R$ 100 milhões dirigidos a empresasinovadoras com faturamento anual de atéR$ 6 milhões. O dinheiro deve ser aplicado,no prazo de três anos, em 50 operações.Em um ano, 10 projetos foram aprovadose seis já receberam investimentos.Estimativas do mercado apontam paraum patrimônio total já comprometidopela indústria de capital-semente de cercade R$ 140 milhões.ProjeçõesAs boas perspectivas para a indústria decapital de risco não significam que, noBrasil, o setor esteja desconectado dosdesdobramentos da crise financeira global.Nos Estados Unidos, epicentro doabalo, os fundos de venture capital estãogradativamente fechando as torneiraspara novos aportes.Um levantamento da Thomson Reuters,com PricewaterhouseCoopers e a NationalVenture Capital Association, no terceirotrimestre, mostrou fluxo de US$ 7,1bilhões para empresas iniciantes (startups),uma queda de 9% em relação aomesmo período do ano passado e a primeiradesde o último trimestre de 2005.Além disso, num cenário de instabilidade,apenas seis empresas americanasapoiadas por fundos de venture capitaliniciaram o processo de abertura de capital,o menor volume em 31 anos. Há umconsenso, no entanto, que o impacto dacrise será menor noBrasil do que nos outrospaíses.“Acho que o Brasilnão vai ser atingidotão fortemente porquenão fizemos nem sombraao volume de negóciosderivativos nospaíses desenvolvidos.A maior parte não estavaespeculando emmoeda”, avalia Binder.Figueiredo, presidenteda Abvcap, confessaque nem se arriscamais a respondersobre quanto tempomais a turbulência durará.Mas ressalta que os fundos de venturecapital e private equity serão mais oumenos afetados dependendo do estágioem que se encontrarem. Aqueles em fasede captação podem enfrentar dificuldadescom a restrição de crédito internacional ecom a desconfiança dos investidores emníveis variáveis conforme os seus perfis.Os fundos em fase de desinvestimento,avalia ele, serão os mais afetados.A Abvcap estima que estejam disponíveiscerca de US$ 11 bilhões para investimentonos fundos de participação domésticose naqueles estrangeiros que destinamparte das carteiras ao Brasil. Ao todo, segundoa associação, são cerca de US$ 26bilhões, incluindo recursos já alocadosem empreendimentos, o que representaum aumento de 56% em relação a 2008.Para Patrícia Freitas, da Finep, não haveráuma queda na disposição do investidornacional. Porém, ela se mostra muitomenos confiante em relação ao capital estrangeiro.“Quem tiver de tomar decisãono Brasil sobre uma boa oportunidade deinvestimento vai esperar até o final de2009. Investimento mesmo, só no primeirosemestre de 2010”. Sinal de que os empreendedoresbrasileiros ainda vão ouvirfalar muito sobre a crise.Patrícia Freitas, da Finep:aporte de capital derisco pode garantirsustentabilidade àsinovadorasJoão Luiz Ribeiro/FINEP25Locus • Janeiro 2009


e s p e c i a lshutterstockDéb o r a Ho r n26Locus • Janeiro 2009Inovação no DNAFinep lança programa para estimular a geração de empreendimentosinovadores e combater os fatores que reduzem as chances decrescimento das MPEs. Com R$ 240 milhões para distribuir somenteem 2009, Prime será operado por incubadoras de empresasHá dois anos, a rotina da pesquisadoraVera Fantinato mudou completamente.Professora aposentada da UniversidadeEstadual de São Paulo (Unesp), eladecidiu transformar em negócio o estudodesenvolvido durante o doutorado no finaldos anos 1980. A dedicação à pesquisa,que pretende colocar no mercado um iogurtecapaz de reduzir a incidência deamigdalite, passou a ser dividida com asnovas atribuições de empreendedora. Daobtenção da patente à busca por financiamento,Vera deparou-se com um universodesconhecido. “A parte que se refere à pesquisasempre foi mais fácil, afinal eu dominoo assunto. Mas o processo de aberturae estruturação da empresa representaum grande desafio, pois tudo é novidade.Sinto que não tenho todos os subsídios necessáriosao gerenciamento do negócio”,afirma Vera, que abrigou o empreendimentono Centro Incubador de EmpresasTecnológicas (Cietec), de São Paulo.Neste ano, Vera e outros tantos empreendedoresbrasileiros terão a rara oportunidadede receber apoio financeiro paratransformar idéias inovadoras em negóciossustentáveis. Lançado no final de2008 pela Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT), o Programa PrimeiraEmpresa Inovadora (Prime) concederáR$120 mil em recursos não-reembolsáveis(é isso mesmo: dinheiro dado) a mais de 2mil empreendimentos de todo o país. Enão pára por aí: as empresas que cumpri-


em os objetivos da etapa inicial receberãomais R$120 mil a juro zero – a serempagos em 100 parcelas.Não é à toa que o Prime tem deixadoem polvorosa empreendedores, investidorese gestores de incubadoras e parquestecnológicos de todo o país. Segundo especialistas,se tudo correr como o esperado,o programa tem potencial para revolucionaro sistema de inovação brasileiro.“O Prime deve proporcionar o surgimentode 5,4 mil empresas inovadoras nospróximos quatro anos. Nesse período, osrecursos totais do programa ultrapassamR$ 1,3 bilhão. Estamos apostando muitonesse projeto porque cada empresa beneficiadavai impactar positivamente a cadeiaprodutiva em que está inserida”, explicao diretor de inovação da Finep,Eduardo Costa.ajudar na gestão dosempreendimentos nascentesao mesmo tempoem que garante adedicação do empresárioao projeto inovador”,afirma Gina.Conforme o regulamentodo programa, osR$ 120 mil recebidospela empresa na primeiraetapa deverãoser destinados à contrataçãode recursoshumanos qualificadose de serviços de consultoriaespecializadanas áreas jurídica, financeira e de gestão.Quem pode participarA empreendedora Vera:gestão da empresaainda representa umgrande desafioStúdio código nove/sirlene oliveiraFoco nas nascentesIntegrando o Plano de Ação 2007-2010do MCT, o Prime reúne característicasque o diferem de outros programas de fomentoà inovação implantados no Brasilnas últimas décadas. Isso por que, conformea superintendente da área de pequenasempresas inovadoras da Finep, Gina Paladino,foi elaborado com base na constataçãode duas deficiências recorrentes nessetipo de empreendimento. “Por um lado,os empreendedores carecem de conhecimentona área de gestão, essencial para obom encaminhamento dos negócios. Poroutro, quando esses empreendedores, geralmentepessoas com formação técnicade alto nível, participam ativamente daadministração da empresa, encontram dificuldadespara se dedicar ao desenvolvimentode projetos inovadores”, explica.A oportunidade para combater essasfragilidades veio com o advento da subvençãoeconômica, em 2004. “A partirdesse mecanismo foi possível elaborar umprograma que prevê a alocação de recursosem um conjunto de competências paraEmpresas nascentes, com no máximo dois anos de existência– contados a partir da data de lançamento do edital. Caso aempresa ainda não tenha sido formalizada, no envio da primeiraproposta não é necessário apresentar o registro no CadastroNacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). O mais importante éapresentar produtos ou serviços com elevado nível de inovaçãoe um plano de negócios que indique as reais possibilidades decrescimento da empresa.Como participarNo site de cada incubadora-âncora (veja box na pág. 29) estãodisponíveis, além do edital completo, os formulários eletrônicospara preenchimento. Na primeira fase, deve ser enviada umaproposta simplificada, contendo uma breve descrição daempresa, dos produtos, da tecnologia e do mercado em quepretende atuar. Um plano de negócios mais aprofundado seráelaborado pelas empresas contempladas após a realização doprograma de treinamento previsto no edital.Principais critérios de seleção• Grau de inovação do produto/serviço• Viabilidade e potencial de mercado• Potencial de retorno econômico-financeiro• Consistência do plano de negócios27Locus • Janeiro 2009


e s p e c i a ldivulgação/ anprotecradicalmente o seu modo de operar, comsegurança de que os padrões de ética, eficáciae eficiência no uso dos recursos públicosserão atendidos”, afirma o presidenteda <strong>Anprotec</strong>, Guilherme Ary Plonski.joão luiz ribeiro/ finepGestores deincubadorasreuniram-se com aFinep para assinaturados contratosOutro diferencial doPrime está na escolhade operadores descentralizadospara gerenciartanto os recursosquanto os resultadosdo programa. A experiênciadas incubadorasde empresas em prospectare apoiar empreendimentos inovadoresfez com que a Finep elegesse 18 incubadoras-âncora,em nove estados, paradesempenhar essa função na primeira etapado Prime. “A Finep reconheceu nas incubadorasa combinação de competênciasespecíficas, postura e credibilidade adequadaspara que a agência pudesse inovarOperador engajadoAs incubadoras-âncora também sãoresponsáveis pelo lançamento do edital epela seleção de projetos que receberãoos recursos. Embora o programa tenhaabrangência nacional, as incubadoras têmorientado os empreendedores a enviarempropostas às instituições de seus estados.Mas nada impede que as âncoras aprovemprojetos de diferentes regiões do país, emespecial as incubadoras temáticas. Na incubadorado Pólo de Biotecnologia do Riode Janeiro (BioRio), por exemplo, serãoavaliadas propostas vindas de outros estados,nos quais a instituição já mantémparcerias. “Embora nosso foco esteja noRio de Janeiro, já temos um parceria coma cidade de Lages, em Santa Catarina, quedeve originar projetos com potencial”, explicaa gerente de desenvolvimento de negóciosdo BioRio, Kátia Aguiar.Ao todo, cada incubadora-âncora deveráselecionar 120 empreendimentos inovadorespara participar do Prime. “O programanão exige que essas empresas28Locus • Janeiro 2009O Kit PrimeO Kit Prime, como foram denominadospela Finep os itens de apoio, prevê opagamento de até dois empreendedorespara a realização de atividades na áreatecnológica. Caso os sócios da empresa nãotenham formação para o desenvolvimentoItemApoio ao empreendedor/especialista técnicoApoio ao controller/gestor de negóciosApoio a consultorias na área de gestãoApoio à consultoria de mercadodessas atividades, o recurso poderá seraplicado na contratação de um especialista.Além disso, deverá ser contratado umgestor de negócios (controller) paraacompanhar a execução do projetoapoiado com recursos do programa.Valor máximo alocado (R$)40 mil40 mil30 mil30 mil


Distribuição das incubadoras-âncoraRRAPCIDEwww.cide.org.brACAMROMTPATOMAPIBACEPAQTEC www.paqtec.org.brRNPBPE CESAR www.cesar.org.brALSECISE www.cise.org.brGODFFipaseCietecFVE/UnivapIncampMSwww.fipase.org.brwww.cietec.org.brwww.univap.br/parquetecnologicowww.incamp.unicamp.brRSPRSPSCMGBiominas www.biominas.org.brES Fumsoft www.fumsoft.softex.brInatel www.inatel.brRJCoppe/UFRJ www.incubadora.coppe.ufrj.brInstituto Gênesis www.genesis.puc-rio.brBioRiowww.biorio.org.brPUC/RaiarFAURGS/CEIwww.pucrs.br/agt/raiarwww.inf.faurgs.br/ceiCeltaInstituto Genewww.celta.org.brwww.institutogene.org.brresidam na incubadora, mas estamos trabalhandopara ampliar nossas instalaçõese abrigar parte delas”, afirma Kátia. Atualmente,a incubadora do BioRio abriga 30empreendimentos. Para atuar como operadorado programa, cada âncora receberá3% do valor total destinado às empresas.No estado do Rio de Janeiro, as trêsincubadoras-âncora selecionadas pela Finep– BioRio, Instituto Gênesis e Incubadorada Coppe/UFRJ – formaram umconsórcio que receberá recursos complementaresdo Sebrae estadual para desenvolvero programa. “Cada uma dessas incubadoraspretende atender as 120empresas previstas pelo edital. Se imaginarmosque 10% dessas empresas obtenhamsucesso, teremos 36 empreendimentosgerando produtos inovadores,emprego e renda. É uma grande oportunidadede as incubadoras contribuíremainda mais com o desenvolvimento regional”,conclui Kátia.A descentralização das operações da Finep,ampliando a abrangência dos programaspor meio de parceiros nos estados,está entre as principais recomendações deum estudo desenvolvido pelo economista29Locus • Janeiro 2009


divulgaçãodivulgação/ ipeae s p e c i a lIncubadoras-âncora,como o Cietec(SP), selecionarão120 empresas paraparticipar do PrimeMorais, do IPEA:operadoresdescentralizadosaumentam capilaridadedo programa30Locus • Janeiro 2009José Mauro de Morais, do Instituto dePesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA),que avalia os programas desenvolvidospela agência. “A Finep precisa descentralizarsuas operações, conforme determinaa Lei da Inovação. O fato de haver uma incubadora,com know how na identificação,seleção e apoio a projetos inovadoresdá um perspectiva maior de sucesso paraesse programa”, afirma Morais.Atalho para o crescimentoPara Sérgio Risola, gestor do CentroIncubador de Empresas Tecnológicas(Cietec), de São Paulo, o Prime deve abreviarde forma significativa o caminho trilhadopor empresas nascentes até chegarao mercado. “Nossa experiência mostraque, após ingressar na incubadora, osempreendimentos passam cerca de oitomeses aguardando recursos de algumafonte – editais da Fapesp, CNPq e Finep,por exemplo. Ao conceder os R$ 120 millogo no início do negócio, o Prime permitiráque o empreendedor estruture aempresa para uma entrada mais rápidano mercado”, afirma.O atalho para o crescimento tem comofator decisivo a oferta de recursos, já queas empresas de pequeno porte enfrentamrestrições de acesso a empréstimos concedidospelo sistema financeiro. De acordocom o estudo do IPEA, a ausência de ativospara apresentar como garantias, a faltade transparência nos registros contábeise a inexperiência dos empreendedoresna área de gestão são fatores que impedemo acesso das MPEs às linhas de créditoconvencionais. “No caso de empresasinovadoras, essas dificuldades tendem aser mais acentuadas, pois o risco envolvidoem um projeto inovador é muitomaior”, explica Morais.Segundo o gerente executivo da diretoriade micro e pequenas empresas do Bancodo Brasil, Kedson Macedo, são poucasas instituições financeiras dispostas a correros riscos inerentes à inovação. “Geralmente,as empresas inovadoras trabalhamcom recursos intangíveis, baseadas emconhecimento e não em bens de produção.A maioria das linhas de financiamentoatuais não está adaptada a essa realidade”,diz. O resultado: juros altos, prazoscurtos para pagamento e exigências burocráticasque inviabilizam o obtenção derecursos para alavancar o negócio. “Porisso o Prime representa o recurso certo nahora certa”.Mas as barreiras não são exclusividadedo mercado privado de crédito. O estudodo IPEA indica que os programas governamentaisde financiamento também exigeminformações quantitativas e qualitativasnormalmente indisponíveis nasempresas que desenvolvem projetos deinovação – dados de produção e vendas,previsões dos fluxos de caixa e resultadosdo negócio, por exemplo. “É preciso adequara oferta de crédito às característicase necessidades desse público-alvo. Nocaso do Prime, a participação das incubadorascontribuirá muito, pois são instituiçõesacostumadas a dar suporte técnico aempresas na captação de recursos, o queajudará a Finep a adaptar o modus operandido programa”, analisa o gerente daUnidade de Acesso à Inovação do Sebrae,Paulo Alvim.


Ações perenesApontada como um dos principais motivosde fracasso das empresas, a capacidadegerencial dos empreendedores estáno foco do Prime. Antes de assinar o contratopara receber a verba, os empresárioscontemplados passarão por um treinamentoobrigatório, a fim de ampliar osconhecimentos sobre gestão e aperfeiçoaro plano de negócios. “Esse é um diferencialfundamental do Prime em relação aoutros programas: aliar o fomento à capacitação,por meio de um treinamento deâmbito nacional, direcionado especificamentea esse perfil de empreendedor”,afirma Gina Paladino, da Finep.As empresas que obtiverem sucesso nos12 primeiros meses do programa, alcançandoas metas estipuladas no plano denegócios, poderão candidatar-se, apósum processo de avaliação, a receber umempréstimo do programa Juro Zero, garantindomais R$ 120 mil para alavancaras atividades no segundo ano – esse valordeverá ser devolvido em cem parcelas. “Aconcessão da segunda parcela de recursosgarante continuidade às ações da empresadesenvolvidas com apoio do Prime.Além disso, esses empreendimentos serãopreparados para receber aporte de venturecapital ou seed money no futuro”, explicaa superintendente da Finep.A possibilidade de receber investimentosde um fundo de capital semente dependerádas condições criadas pela empresapara produzir um produto ouserviço inovador e com viabilidade demercado. “O benefício que o Prime traz éa pré-seleção de projetos, indicando aosinvestidores as empresas com potencialpara receber venture capital. Ter participadodo programa será uma espécie deaval”, afirma o economista José Mauro deMorais, do IPEA.Após analisar os programas da Finepvoltados a empresas de pequeno porte, oeconomista ressalta a necessidade de monitoramentodos empreendimentos beneficiados.“O grande problema que encontramosem nossos estudos é que asempresas beneficiadas nos últimos anospelos mecanismos de subvenção não têmapresentado seus resultados à sociedade.Se esses dados existem, estão guardados.É preciso divulgar o que está acontecendocom as empresas que são financiadas. Issocontribui com a análise da eficácia dosprogramas”, avalia.Plantando figueirasComo toda inovação, o Prime aindaprecisa de tempo para ser avaliado de formamais crítica. Entre as fontes consultadaspor Locus, há consenso em relação aopotencial do programa para alavancar oempreendedorismo inovador. “É nossaexpectativa, bem como de outros parceirosdo movimento, que os resultados doPrime ajudarão a criar uma massa críticade empreendedores que têm a inovaçãoem seu DNA, capaz de transformar o panoramaempresarial brasileiro no médioprazo”, afirma o presidente da <strong>Anprotec</strong>,Guilherme Ary Plonski.Para o diretor de inovação da Finep,Eduardo Costa, o programa deve incentivarnão apenas potenciais empreendedoresrecém-formados, mas também profissionaisque atuam em empresas e desejamtransformar uma idéia inovadora em umempreendimento comercial. “O nosso objetivonão é criar, manter e acalentar empresaspequenas. Não queremos criarbonsais, queremos plantar figueiras”, explicaCosta.Transformar anos de pesquisa em umproduto que beneficie a sociedade é ogrande sonho da Vera Fantinato. Apesardos recursos conquistados por ela em outrasfontes de fomento, não foi possívelcolocar seu empreendimento de biotecnologiapara funcionar. Pré-incubada noHotel de Projetos do Cietec, a empresaainda não tem nome. Mas a esperançatem: Prime.Plonski , da <strong>Anprotec</strong>:Prime podetransformar panoramaempresarial brasileirodivulgação/anprotec31Locus • Janeiro 2009


internacionalFotos: DIVULGAÇÃOCar o l i n e Ma z z o n e t t oPeça publicitária dacampanha lideradapelo InstitutoEmpreenderEndeavor no Brasil32Locus • Janeiro 2009O mundo bota pra fazerEvento realizado simultaneamente em 78 países dissemina o movimentoempreendedor em escala global. Em 2008, Brasil foi um dos destaquesEntre os dias 17 e 23 de novembro doano passado o mundo esteve sincronizadoem torno de uma causa comum:promover o empreendedorismo, ensinandoe incentivando jovens a investir emseus projetos e idéias. Foram sete dias depalestras, seminários, workshops, debates,fóruns, gincanas, competições, jogose outras atividades gratuitas acontecendoao mesmo tempo em 78 países – a SemanaGlobal do Empreendedorismo. No Brasilo evento foi organizado pelo InstitutoEmpreender Endeavor e reuniu 1.735 parceiros(entre profissionais, empresas, universidadese instituições) e mais de 1,4milhão de pessoas em todos os estados, oque fez da edição a maior do mundo emnúmero de participantes.A Semana faz parte de um movimentosurgido na Inglaterra, que pretendia retomara cultura do empreendedorismo queconduzira o país à Revolução Industrialdos séculos XVIII e XIX. Com a adoção deuma economia mais focada em instituiçõesfinanceiras, essas idéias haviam sidoabandonadas. Em 2004 o então ministroda Fazenda britânico, Gordon Brown, lançoua Enterprise Week UK para resgatar oempreendedorismo que impulsionara opaís nos séculos anteriores.Com o sucesso do movimento, a Semanabritânica se repetiu nos anos seguintes.Em 2007 os Estados Unidos copiaram aidéia e organizaram a EntrepreneurshipWeek USA. Os dois eventos, somados, envolveramnaquele ano 11 mil organizações,responsáveis por nove mil atividades.Surgiu então a idéia de realizar ummovimento mundial e, em novembro doano passado, representantes de 30 naçõesse reuniram em Londres para discutir aSemana Global do Empreendedorismo.O Brasil era um dos participantes. “Oresultado foi surpreendente. A gente realmentenão esperava. Tínhamos uma metagrande, mas nos surpreendemos”, orgulha-seRodrigo Teles, diretor da Endeavor.A meta citada por ele era de envolver ummilhão de brasileiros nas atividades daSemana brasileira – número que atingiu1,4 milhão de pessoas. Nos outros países,que realizaram atividades semelhantes, amobilização foi menor – o que prova, deacordo com Teles, que o Brasil é muitomais empreendedor.Enquanto que a Enterprise Week UK épuxada pela campanha nacional MakeYour Mark, aqui a Semana faz parte doBota Pra Fazer. Uma das grandes açõesdesse movimento é disseminar exemplosde empreendedores que colocaram suasidéias em prática e tiveram sucesso. “Obrasileiro precisa muito de exemplos.Quando mostramos que tem gente botandopra fazer, incentivamos as pessoas acorrerem atrás de seus sonhos”, completao diretor da Endeavor.


Com os exemplos de sucesso e as demaisatividades, a Semana pretende colocaro empreendedorismo, de uma vez portodas, na pauta da sociedade. De acordocom a coordenadora do Programa de Empreendedorismodo Instituto Brasileiro deQualidade e Produtividade (IBQP) – queexecuta no Brasil o Global EntrepreneurshipMonitor (GEM), a mais completapesquisa sobre o tema no mundo –, SimaraGreco, qualquer campanha que envolvaum grande número de pessoas, como aSemana fez, desperta o interesse das pessoaspara o empreendedorismo. “Qualquerpessoa que não está envolvida começaa prestar atenção e os que já conhecemintensificam a valorização do tema”, explicaSimara.Resultados intangíveisCom o objetivo de disseminar o interessepelo empreendedorismo, os resultadosdo movimento não são medidos em números.Para Simara, a chance de que a Semanarenda frutos é grande, principalmentepor que muitas das atividadesdesenvolvidas estavam relacionadas à disseminaçãodo conhecimento através detreinamentos e capacitação. “Se sair umempreendedor de cada evento já vamoster uma grande evolução”, completa.A falta de capacitação, aliás, é um dosgrandes problemas do empreendedorismobrasileiro. O retrato que o GEM faz daquié de um país bastante empreendedor, commuitas pessoas motivadas, mas pela causaerrada: cerca de 50% delas são movidaspela necessidade de superar dificuldadesfinanceiras. Com isso, os empreendedoresbrasileiros, em geral, têm pouco conhecimentoe habilidade, o que torna seus negóciosfrágeis em relação aos implantadosem outros países.As atividades da Semana preenchem,em parte, essa lacuna. “É preciso manter onível de empreendimentos, mas aumentara sofisticação, o conhecimento de gestãodos empreendedores”, acrescenta Simara.De acordo com o GEM 2007, o país estáentre as 10 nações onde as pessoas maisabrem novos negócios.Ainda que haja abertura para novos negócios,o mercado brasileiro impõe dificuldadespara os iniciantes. Prova disso éque a atividade que mais repercutiu naSemana foi a discussão sobre o ambienteregulatório nacional e as dificuldades dese fazer negócio no Brasil. “Seria idealque o país fizesse as reformas necessáriase melhorasse os processos dentro do governo”,explica Teles.Com o encerramento das Semanas Globaisdo Empreendedorismo, uma reuniãode avaliação será realizada nos EstadosUnidos para discutir o resultado do evento.Sejam quais forem as conclusões, jáestá confirmado: neste ano tem Semanade novo.Teles, do Endeavor,e Simara, do GEM:eventos como aSemana impulsionamo empreendedorismo33Locus • Janeiro 2009


s u c e s s ofotos: divulgaçãoAd r i a n e Al i c e Pe r e i r aProdução naPharmakos d’Amazônia34Locus • Janeiro 2009Grandes inovadorasPequenas empresas foram o destaque da 11ª edição do PrêmioFinep de Inovação, respondendo por 44% das inscriçõesEm sua 11ª edição, o Prêmio Finep deInovação 2008 recebeu um númerorecorde de inscrições de pequenas empresas.Foram 140 inscritos na categoria, 55%a mais do que no ano passado. As pequenasrepresentaram 44% do total de inscriçõesno Prêmio e mostraram que são inovadorasem sua essência. As cincovencedoras das etapas regionais atuam emsetores bastante distintos – de fármacos arobótica –, mas todas são exemplos quecomprovam o slogan do Prêmio: “Dentrode cada brasileiro existe um inovador”.Foi uma inquietação que levou o pesquisadore professor de Farmácia da UniversidadeFederal do Amazonas (UFAM)Schubert Pinto a abrir a Pharmakosd’Amazônia, pequena empresa vencedorado Prêmio Finep de Inovação na RegiãoNorte. “Sempre me intrigou o fato de quea grande maioria das pesquisas não ultrapassaas prateleiras das bibliotecas e, conseqüentemente,não chega ao alcance econômicoe social”, conta Pinto.Com esse questionamento, apresentouum plano de negócios para incubação noCentro de Incubação e DesenvolvimentoEmpresarial (CIDE), de Manaus. “O objetivoda empresa era aproveitar os recursosbioativos oriundos da floresta amazônica,transformando-os em produtos inovadorespara a beleza, a saúde e o bem-estar.Gerando emprego e renda para os povosribeirinhos, promovendo o desenvolvimentosustentável, economicamente justoe ecologicamente correto”, destaca o diretor-presidenteda empresa.Evolução inovadoraCom apenas quatro funcionários, a empresanasceu, em janeiro de 2001, operandocom utensílios e recursos improvisadose com uma produção artesanal de 500unidades diárias. O lançamento do primeiroproduto inovador foi em 2002, comum gel do óleo de copaíba (árvore da região)com ação tópica antiinflamatória.“Nos anos seguintes fomos pioneiros nolançamento da primeira parafina bronzeadoracom óleo de urucum, seguida deum sabonete íntimo de crajiru e do Reumatgel,na época apelidado de Salompasdo Amazonas”, enumera Pinto.Hoje, com 40 colaboradores, a empresapossui uma linha de 73 produtos entrexampus, condicionadores, géis, pomadas,xaropes, óleos, parafinas, sabonetes ebronzeadores. Todos resultados da inovação.A empresa investe em pesquisa e desenvolvimentotecnológico cerca de 35%do faturamento bruto. “Conseguimos proporcionarmaior valor agregado ao produtoe, pelo fato de o retorno ser palpável,a empresa como um todo consegue visua-


lizar, valorizar e conseqüentementedesejarparticipar desse processo”,afirma Pinto.Para o diretor-presidenteda Pharmakosd’Amazônia, a inovaçãoé fundamental paraa empresa se diferenciarno mercado. “Copiaré permanecersempre um passo atrásdo concorrente e inovaré antever e melhoraro processo, contribuindotanto para odesenvolvimento pessoalquanto tecnológicoe social”, destaca opesquisador. A inovaçãoda Pharmakostambém é reconhecidapelo destaque no PrêmioFinep. Das quatroedições de que participou,a empresa conquistoutrês vezes o primeiro lugar regionale uma vez a segunda colocação.Outra campeã no Prêmio Finep de inovaçãoé a Armtec Tecnologia em Robótica,de Fortaleza (CE). A empresa, criadaem 2004, ganhou o Prêmio 2005 na categoriaproduto, com o robô SACI, tecnologiade apoio ao combate de incêndios.Dois anos depois, em 2007, outro produtoda empresa foi eleito o mais inovador dopaís – o Sistran, equipamento que simulao trafégo de veículos para testes de durabilidadede cobertura asfáltica. No mesmoano a Armtec venceu a categoria PequenaEmpresa. Feito que repetiu em 2008.Primeiro empreendimento abrigado naincubadora da Universidade de Fortaleza(Unifor), a empresa respira, expira etranspira inovação. Além de investir 40%do faturamento e dedicar 83% da equipe àárea de pesquisa e desenvolvimento, 100%do lucro é aplicado em inovação. “A Armtecestá na fase de investir na geração denovos produtos. Atualmente temos oitoprodutos no mercado e 15 em fase de projeto”,explica Roberto Lins de Macêdo,diretor-executivo de P&D da Armtec.Capacidade de sonharOs investimentos pesados em inovaçãoexigem que a empresa se estruture em todosos setores, envolvendo profissionaisde diferentes áreas. “Mostramos para todaa equipe que a empresa como um todo éresponsável pela inovação. Dessa forma,desenvolvemos o principal valor de umaempresa inovadora: a capacidade de sonhare de realizar da sua equipe”, destacaMacêdo. Nesse ambiente, a Armtec premiaas iniciativas inovadoras dos seus colaboradores.Há um programa interno,chamado Prêmio Inventor Armtec, queestimula a adoção de práticas para reduzircustos e aumentar a produtividade. AlémEquipamentodesenvolvido pelaFrontalmaq, doMato Grosso35Locus • Janeiro 2009


s u c e s s oIncubada na categoria não-residente(associada) à ARCA Multiincubadora, daUniversidade Federal de Mato Grosso(UFMT), a Frontalmaq desenvolve máquinase implementos agrícolas para aprodução de silagem. Diante das necessidadescada vez maiores de eficiência esustentabilidade do setor agrícola, a empresase diferencia no mercado pela ofertade produtos inovadores. “Entendemosque inovar é explorar novas idéias, e foiexatamente isso que fizemos quando decidimostrabalhar e desenvolver os implementosque hoje fabricamos. Os impactossão revelados pelo incremento nas vendas,no quadro de funcionários, nas margensde lucro e no acesso a novos mercados,entre outros benefícios”, avalia Dias.O principal produto da empresa é a máquinacolhedora de forragem MCF-3000,um dispositivo inédito em formato de kit,acoplável em colheitadeiras de grãos dediversos modelos. A empresa também desenvolveuma plataforma de recolhimentoem linha para milho e sorgo e outra plataforma,duas linhas, para recolhimento decana-de-açúcar. Para ampliar a gama deprodutos, a empresa planeja investir aindamais em inovação. “Consideramos queas inovações são capazes de gerar vantafotos:divulgaçãonononnonnnonononnnonononMacedo, da Armtec, e oinovador Sistran (ao lado)36Locus • Janeiro 2009disso, os colaboradores da empresa quepropõem um produto inovador ou quecaptam editais de projetos recebem partedo lucro obtido com a inovação.Esse modelo de participação, aliado àestrutura enxuta, mas com grande concentraçãode capital intelectual, resultaem um sistema de gestão também inovador.Esse modelo inclui a terceirização daprodução, a parceria com instituições depesquisa e universidades e a formação deuma rede de cooperação bem estruturada.“Ter um produto inovador não quer dizerque a empresa seja inovadora. O importanteé ter uma gestão inovadora com impactodireto na sua competitividade”, avaliao diretor da Armtec.Localizada na cidade de Primavera doLeste, a 230 quilômetros de Cuiabá, noMato Grosso, a empresa Frontalmaq crescea índices expressivos graças ao investimentoem inovação. Desde a sua fundação,em 2004, a empresa apresenta umpercentual de crescimento de mais de145% em seu faturamento e de aproximadamente120% no quadro de funcionários.“Investindo em pesquisa e valorizando opessoal técnico a Frontalmaq apostou nainovação tecnológica, produzindo máquinasque geram alto impacto na produtividadee rentabilidade na alimentação animal,produzindo ração de elevadaqualidade”, destaca o sócio da empresa,Beronício Dias.Diferencial competitivo


gens competitivas em médio e longo prazos.Inovar torna-se essencial para a existênciae continuidade da nossa empresa”,ressalta Dias. O primeiro Prêmio Finep épara a empresa um reconhecimento e umincentivo para continuar a inovar. “Acreditamosque novas portas se abrirão parafirmarmos parcerias no quesito inovaçãotecnológica”, prevê Dias.Na incubadoraAssim como a Frontalmaq, a ESSS (EngineeringSimulation and ScientificSoftware), de Florianópolis (SC), venceueste ano pela primeira vez o Prêmio Finepde Inovação na Região Sul. Criada em1995 e incubada do Centro Empresarialpara Laboração de Tecnologias Avançadas(Celta), a ESSS desenvolve softwares parasimulação computacional de sistemas deengenharia e atua em diversos setorescomo óleo e gás, automotivo, metalurgia eeletrodomésticos, entre outros.A tecnologia da ESSS permite que empresassimulem o desempenho de seusprodutos por meio de um software. “Asnossas ferramentas auxiliam empresasque desenvolvem novos produtos e processossimulando no computador o seufuncionamento. Dessa forma, as empresaspodem testar virtualmente uma idéia, detectarproblemas e efetuar modificaçõesantes de criar um protótipo físico. Assim,a tecnologia da ESSS contribui para a economiade recursos e de tempo”, aponta opresidente Clóvis Maliska Júnior. Um dosprincipais clientes da empresa é a Petrobras,que utiliza diversas soluções daESSS, entre elas uma voltada a simular aperfuração e a produção de reservatóriosde petróleo.Com 100 funcionários, três escritóriosno Brasil e um em Santiago, no Chile, aempresa exporta para mais de 10 países.Trabalhando com clientes altamente inovadorese que exigem conhecimentos técnicosavançados, a ESSS mantém o caráterinovador em todas as atividades cotidianasda empresa. “A inovação é o alimentoda empresa. Vendemos conhecimento,que irá gerar ganhos e promover a inovaçãodos nossos clientes”, completa o empreendedorMaliska Júnior.Em órbitaAtender a clientes referência em inovaçãotambém é a realidade da Orbital Engenharia,de São José dos Campos (SP),vencedora do Prêmio Finep de Inovaçãona Região Sudeste. A empresa desenvolveprodutos e presta serviços para o setor aeroespacial.Entre eles estão geradores fo-Maliska Júnior,empreendedorda ESSSSoftwares da ESSSsimulam sistemasde engenharia37Locus • Janeiro 2009


s u c e s s odivulgaçãoGeradores fotovoltaicosproduzidos pela Orbital38Locus • Janeiro 2009tovoltaicos para aplicações espaciais, quegeram a energia elétrica necessária paraalimentar os equipamentos e carregar asbaterias a bordo de satélites artificiais.Os geradores fotovoltaicos convertemdiretamente a radiação solar extraterrestreem energia elétrica. “Os geradores viabilizama utilização de equipamentos eletrônicosa bordo dos satélites artificiaispor longos períodos de tempo, proporcionandodessa forma uma gama imensa deaplicações que vão desde a simples retransmissãode dados até complexos sistemasde imageamento ambiental, telecomunicaçõese de aplicações científicas deexploração espacial nas mais diversas áreasdo conhecimento”, explica Célio CostaVaz, diretor de engenharia da Orbital.Com alto grau inovação tecnológica, aOrbital contribui para o desenvolvimentode tecnologias e produtos que estão sendoutilizados em importantes projetos do governobrasileiro, como são os casos doCbers-2B e do foguete de sondagem VSB-30. Além disso, a Orbital já exporta suatecnologia para uma companhia canadense.“Somos uma das poucas empresas brasileirasque atuam no segmento espacial eque conquistaram participação, ainda quemodesta, no mercado externo desse segmentode elevada competitividade e complexidadetecnológica”, avalia Vaz.Criada em 2001, esta é a segunda vezque a empresa vence o Prêmio Finep deInovação. Em 2007, ganhou na Região Sudestena categoria Processo – que em 2008foi excluída do Prêmio. Essa foi apenasuma das mudanças feitas pela Finep na11ª edição da premiação. “Em 2008 lançamoso piloto de um novo Prêmio que nãopretende premiar uma empresa com umúnico produto inovador, mas sim umaempresa inovadora na sua natureza”, afirmaVera Marina da Cruz e Silva, coordenadoranacional do Prêmio Finep.Na edição de 2008 as vencedoras dascategorias Produto e Grande Empresa foramescolhidas entre as companhiasclientes da Finep. A principal mudança,no entanto, foi feita nas premiações. Apartir dessa edição as empresas vencedorasregionais e nacionais terão direito auma linha pré-aprovada de financiamento.No caso das pequenas empresas, o financiamentoé via subvenção econômicano valor de R$ 500 mil para as vencedorasregionais e mais R$ 500 mil para ascampeãs nacionais.


o p o r t u n i d a d eOutro perfil de usuárioEspecialista alerta para a necessidade deadaptação dos softwares a diferentes públicosAtecnologia da informação precisa,com urgência, de investimentospara desenvolver softwares voltados a pessoasque vivem abaixo da linha da pobreza.Essa é a constatação do presidente honorárioda Universidade de Berkeley, naCalifórnia, C. V. Ramamoorthy, que esteveno Brasil em novembro do ano passado,participando da 5 a Conferência Internacionalde Integração de Sistemas. SegundoRamamoorthy, dois terços da populaçãomundial não têm acesso à tecnologia, poisos softwares atuais são focados nas pessoascom alto poder aquisitivo.O currículo de Ramamoorthy lhe confereautoridade para apontar tendências.Graduado em Física e Tecnologia, EngenhariaMecânica, Engenharia Elétrica eCiências da Computação, ele foi um dostrês engenheiros que desenvolveram oprimeiro computador transistorizado dahistória – Honeywell (H290). Para Ramamoorthy,hoje a solução é inovar, desenvolvendosoftwares que interajam unscom os outros em diversas áreas, a fim deatender, por exemplo, as necessidades dohomem no campo, possibilitando que oagricultor acompanhe, pelo computador,as diversas etapas da produção. “Isso jáocorre na China e na Índia, onde a migraçãodo campo para a cidade diminuiu,mostrando o quanto é válido o processode desenvolvimento de softwares destinadoa pessoas de baixa renda”, afirmou.SHUTERSTOCKtecnologia da informação devem investirna criação de equipamentos e sistemasque acompanhem não apenas o crescimento,mas também o envelhecimentopopulacional. O pesquisador sugere a interaçãode todas as disciplinas relacionadasà computação, denominada por ele de“convergência de tudo”, tornando a integraçãodos softwares mais acessível.Durante a conferência da qual participouRamamoorthy, profissionais da áreade TI reclamaram da falta de investimentosem tecnologia em todo o mundo. Parao presidente do Programa Instituto Internacionalde Integração de Sistemas, FuadGattaz Sobrinho, os investimentos devempriorizar recursos humanos para gerarinovações. “Deve-se investir no que chamamosde protocolos: protocolos de conteúdo,protocolo de comunicação, protocolode interface e protocolo de sistemas.Quando se desenvolve um protocolo, oretorno sobre o investimento é alto”, explica.Segundo Fuad, a integração de softwarepode ser considerada uma das principaistendências da área de TI.S a l i s Ch a g a sEstimativa de vida em2020 será de 128 anos:softwares devem focarterceira idadeNovas demandasRamamoorthy alerta para a expectativade vida da população em 2020, estimadaem 128 anos. Segundo ele, as empresas de39Locus • Janeiro 2009


G E S T Ã OShutterstockPo r Le o Br a n c o40Locus • Janeiro 2009Questão de sobrevivênciaCrise financeira alavanca procura por MBAs no Brasil.Especialistas garantem que quem administra melhor temmais chances de entender e superar a instabilidadeEm terra de cego, quem tem um olho érei. O ditado serve como analogiapara o fenômeno que atinge escolas de negóciosem todo o mundo: a procura porcursos de pós-graduação em gestão, osMBAs, aumenta quando os mercados financeirosentram em crise, a exemplo damais recente, derivada dos problemas decrédito no setor imobiliário norte-americanoe considerada a pior desde o crashde 1929. O interesse está na capacitaçãoprofissional como diferencial em um mercadode trabalho mais instável por contada escassez de crédito. “As pessoas estãoávidas por conhecimento e querem estarpróximas umas das outras, aproximar-sede quem sabe para esclarecer o que estáacontecendo”, diz a coordenadora de cursosde MBA da Fundação Getulio Vargas(FGV), Ana Lígia Finamor.Segundo a coordenadora, por conta docurto espaço de tempo decorrido desde ocomeço da crise, cujo ápice foi a quedageneralizada das bolsas de valores duranteo mês de outubro, essa demanda extrapor qualificação ainda não pôde ser checadaem números, mas sim pela quantidadede telefonemas e pedidos de reserva dematrícula para os próximos cursos, quecomeçam em março de 2009.Opinião semelhante tem o coordenadorde cursos de pós-graduação e gestão daFaculdade Trevisan, Olavo Henrique Furtado.Para ele, o aumento pelo interesse seexplica pelo apelo psicológico que a turbulênciafinanceira causa em empresáriose gestores, mas a procura por qualificaçãoainda ocorre mais lentamente no Brasildo que em outros países. “A crise aqui nãochegou ao mesmo porte do que chegounos Estados Unidos”, explica. Segundo osdois coordenadores, outra maneira deavaliar o impacto das turbulências financeirassobre o mercado de qualificaçãoprofissional são os pedidos para abordarassuntos que tenham relação com a crise


em sala de aula. “É obrigação da escola.No curso de Gestão Empresarial, porexemplo, quem vai trabalhar a parte de finançasjá está reservando um trecho daaula para sair da ementa da disciplina econversar sobre a crise com os alunos”,explica Ana Lígia, da FGV.Foco amploNa Trevisan, os tópicos são abordadosde maneira diferenciada em cada curso,mas não houve uma remodelação dos currículossomente para atender esses conteúdos.“Não é a crise que determina o queensinar, mas sim que sociedade você temhoje e como você vai se qualificar paraela. O foco é mais amplo”, afirma Furtado.Segundo o coordenador, a escola tem avisão de formar recursos humanos preparadosnão apenas para gerenciar uma crise,mas para sobreviver às mudanças porque passa a sociedade constantemente.Mesmo sem um foco específico no gerenciamentoda atual crise financeira, quemestá saindo de um MBA neste momentosente-se mais preparado para planejar asatividades profissionais. É o caso do engenheiroquímico Leonardo Paes Rangel, daESSS, empresa que desenvolve softwares eserviços de alta tecnologia, com sedes emSão Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.Ao longo da carreira, Rangel investiu emuma formação técnica, o que o levou aotítulo de doutor em Engenharia Químicapela Universidade de São Paulo, com especializaçãona área de combustão. Suaatuação profissional, no entanto, estavamais ligada ao gerenciamento de processosdo que à sua execução. Faltava-lheuma formação nessa área.Durante o MBA em Gerenciamento deProjetos, pela FGV, realizado entre 2006 e2008, Rangel aprendeu a importância dacomunicação constante entre a equipe eda renegociação de prazos e custos apóscada etapa de execução de um projeto,para aumentar sua produtividade. A crisefinanceira teve um impacto que varia entre20% a 30% do trabalho da empresa,que possui forte atuação no setor petrolífero.“Mas a forma como decidimos gerenciarnossos projetos fez com que nossoscustos fossem mitigados”, afirma. Aexperiência do MBA rendeu ainda umapromoção a Rangel, de coordenador a gerentede serviços técnicos da ESSS, quecusteou a maior parte do valor do MBA,orçado em R$ 17 mil.Furtado, da Trevisan:turbulência financeiratem apelo psicológicosobre empresáriose gestoresDivulgaçãoOrientação gratuitaPensando nos empresários que têm dúvidas sobre asmelhores alternativas para lidar com as conseqüênciasmais significativas da crise financeira, entre elas aredução do crédito e queda das vendas, o núcleo deOrientação Profissional do Sebrae São Paulo elaborou acartilha Como Agir na Crise, disponível para downloadno site www.sebraesp.com.br.Estruturado em capítulos, o material é focado emmicro e pequenas empresas, mas também oferecedicas para organizações de grande porte. O conteúdo éatualizado sistematicamente, conforme surgem novasnotícias sobre a crise.“Das 600 pessoas que atendemos diariamente,cerca de 70% buscam orientações em dois grandesprocessos: vendas e área financeira. De alguma forma,a crise afetará, se vier de forma mais pesada, essas duasáreas. Mas não há desespero e sim investigação sobreaonde as coisas podem chegar”, explica o gerente donúcleo de Orientação Profissional do Sebrae, AntonioCarlos de Matos.Entre as dicas da cartilha está o incentivo a formasalternativas de financiamento de capital de giro,uma vez que o crédito está mais escasso nos bancos.“O próprio fornecedor pode oferecer esse capital,na medida em que parcela as compras, em lotesmenores, mais freqüentes, com pagamentos mais bemdistribuídos. O cliente também pode ser um ótimofornecedor de crédito, na medida em que a empresapode melhorar as vendas à vista", explica. Ao final dacartilha, uma dica serve de estímulo a profissionais eempresas: “Fique atento às novas oportunidades, elassempre surgem em momentos de crise”.41Locus • Janeiro 2009


a p o i oParceiro de longa dataAo completar dois séculos de história, Banco do Brasil consolida-seentre os principais apoiadores do empreendedorismo inovador no paísEnquanto as tropas de Napoleão invadiama Península Ibérica, em 1808, aFamília Real portuguesa fugia para o Brasil,onde viraria de pernas para o ar o cotidianoda então colônia. A fim de legitimara fuga e a transferência da capital do impériopara o Rio de Janeiro, D. João VI estabeleceuuma série de medidas que acabarampor ampliar a autonomia em territóriobrasileiro. Uma delas foi a criação do Bancodo Brasil, que no ano passado comemorou200 anos, figurando entre as mais fortesmarcas da economia brasileira.Com a experiência de ser a primeirainstituição bancária do país, o BB investehoje em empreendedorismo por meio devárias ações, sendo uma delas o apoio aArranjos Produtivos Locais (APLs) – grupode empresas que compartilha experiênciase desenvolve ações conjuntas.Exemplos de APLs que receberam incentivodo Banco do Brasil são o Porto Digitalem Recife (PE), o pólo de Tecnologiada Informação de Santa Rita do Sapucaí(MG), o APL de turismo de Florianópolis(SC) e o de calçados de Franca (SP). “Obanco apóia um conjunto de empresaspara que elas se desenvolvam e façamcrescer a região em que atuam, como umtodo”, explica o gerente de divisão da Diretoriade Micro e Pequenas Empresas doBanco do Brasil, Jonatas Ramalho.São 174 APLs em todo o país – sendooito deles de tecnologia – que englobam12 mil empreendimentos. O volume decrédito concedido pelo BB a essas organizaçõesnos últimos anos já chega a R$ 1,25bilhão. Para apoiar o empreendedorismoinovador, o BB assinou, em agosto de2006, um protocolo de intenções com aAssociação Nacional das Entidades Promotorasde Empreendimentos Inovadores(<strong>Anprotec</strong>), com o objetivo de desenvolverações conjuntas em favor das empresasincubadas e facilitar seu acesso ao crédito.De quebra, o protocolo ajuda aFatos históricos1808 – D. João VI assina o Alvará Real, que,entre outras medidas, cria o Bancodo Brasil.1829 – Falido, o Banco do Brasil éliquidado por lei.1906 – Início das negociações de açõesordinárias do BB na Bolsa deValores do Rio de Janeiro.1953 – Criada a carteira deComércio Exterior (Cacex).1995 – Reforma estatutária transformaBB em conglomerado financeiro,mantendo sua função oficialde dar suporte às políticasgovernamentais, medianteatendimento prioritário ao setorexportador, à agricultura e àsmicro e pequenas empresas.1800 1850 1900 1950200042Locus • Janeiro 20091853 – O Banco do Brasil érecriado, após a fusão entreo Banco do Comércio doRio de Janeiro e um bancoparticular fundado doisanos antes pelo Viscondede Mauá.1969 – Realizado primeiro concursoaberto também às mulheres.Lançamento do primeirocheque especial do mercado.1986 – BB deixa de ter autoridademonetária e passa a competirno mercado financeiro.2000 – O Banco se prepara para aderirao Novo Mercado da Bovespa.2003 – Sustentabilidade entra na pautadas decisões estratégicas do BB.2008 – Banco do Brasil comemora200 anos.


estreitar o relacionamento entre banco,incubadora e empresa incubada. Para isso,o BB indicou agências de referência parainformar os empreendedores sobre as linhasde financiamento e os aspectos burocráticosdo negócio.Em Brasília, os técnicos do BB tambémrealizaram ações intensivas de visitas a incubadorase palestras. Como resultado,conforme Jonatas Ramalho, cerca de 99%das empresas incubadas da cidade têmacesso às linhas de financiamento do banco.Os mesmos encontros aconteceram,embora de forma menos intensa, em outrosestados, e o plano é continuar em2009 o trabalho iniciado em Brasília.“Queremos replicar a experiência de modoque esse protocolo tenha uma efetividademaior, pois os resultados foram extremamentefavoráveis”, afirma Ramalho.Tratamento especialOutro projeto em andamento diz respeitoà forma de negociar com as empresasinovadoras. Isso por que trata-se deempreendimentos diferentes: muitas vezesse resumem a um computador, umapessoa extremamente capacitada e umaboa idéia. Por isso, o financiamento deuma empresa inovadora é diferente do deuma tradicional. “Se você consegue olharessas empresas de forma diferenciada,você pode atendê-las melhor”, completaRamalho. O plano do banco é desenvolveruma metodologia de crédito diferenciadapara esse tipo de negócio e que possa serdisponibilizada em todas as agências.Quem trata do apoio ao empreendedorismoe à inovação das micro e pequenasempresas no Banco do Brasil é a Diretoriade MPE, da qual Ramalho faz parte. Criadaem 2004, a diretoria consolida umaparceria que começou há dois séculos. “Ahistória do empreendedorismo no Brasilpode ser contada através da história dobanco”, afirma Glauco Cavalcante Lima,diretor de estratégia e organização do BB.Logo que foi criado por D. João VI, oBanco do Brasil funcionava como autoridademonetária – era o Banco Central daépoca. Na primeira fase da instituição,que vai até 1908, a grande ação do BB foiajudar a minimizar o choque econômicocausado pela libertação dos escravos coma Lei Áurea, de 1888. O banco criou umalinha de crédito especial, que permitia aosagroempresários continuarem sua produçãoutilizando a mão-de-obra assalariadados imigrantes.A partir de 1908, com a consolidação dobanco e do próprio país, ambos se expandiram.A rede de agências se espalhou pelointerior, em lugares onde a economia brasileirase desenvolvia. A primeira fábricade calçados do Rio Grande do Sul, porexemplo, foi inaugurada em 1906 e quatroanos depois o BB instalava sua primeiraagência no estado. Em 1936 foi criada aCarteira de Crédito Agrícola e Industrial,que financiava a aquisição de maquinário,custeava safras e entressafras, sementes eadubos, a melhoria dos rebanhos, além dematéria-prima e reequipamento industrial.A partir de 1964, o Banco do Brasildeixou de ser autoridade monetária e entrouno mercado de varejo.Nos últimos anos, o investimento emempreendedorismo tem se intensificado.Exemplo disso foi o Programa Brasil Empreendedor,de 1999, criado pelo governofederal e cuja operacionalização ficava acargo do banco. Foram criadas 51 Salas doEmpreendedor para prestar atendimentoespecializado, além da própria rede deagências, a fim de fortalecer as MPEs eempresários informais por meio de capacitaçãogerencial e tecnológica, concessãode crédito e assessoria técnica.Para Glauco Cavalcante Lima, o segredoda longevidade do Banco do Brasil éuma atitude bastante comum entre empresascentenárias: não se abater diantede dificuldades. “O que o banco tem é acapacidade de crescer toda vez que estádiante deles”, garante. Boa notícia emtempos de crise.Ramalho, do BB: olhardiferenciado paraempresas inovadorasJorge Diehl43Locus • Janeiro 2009


e d u c a ç ã oJo ã o We r n e r Gr a n d oPonte em construçãoNITs crescem nas instituições de pesquisa, contribuempara a transferência de conhecimento e demandamnovo perfil de profissional: o gestor da inovaçãoUma chamada pública da Finep, realizadano último mês de outubro,atraiu cerca de 160 instituições de ciênciae tecnologia que querem estabelecer ouconsolidar Núcleos de Inovação Tecnológica,os chamados NITs, mecanismos determinadospela Lei da Inovação parafuncionarem como gestores das práticasinovadoras em universidades e institutosde pesquisa.O número, expressivo para o cenárionacional, ganha mais relevância quandocomparado com o edital anterior de submissãode projetos de NITs. Ainda norastro da recém-regulamentada legislação,em 2006 a chamada atendeu apenas40 projetos. No resultado desta última,espera-se que pelo menos 100 propostassejam contempladas.O crescimento verificado entre os doiseditais demonstra a disseminação dosNúcleos de Inovação Tecnológica e, paraalém dos números, seus avanços em outrospontos. Em 2006, os R$ 8 milhõesofertados tiveram como destino quase exclusivamenteinstituições públicas, principalmenteuniversidades federais.Em 2008, como explica o chefe do Departamentode Instituições de Pesquisa daFinep, Edgar Rocca, a chamada passou acontemplar, além das universidades públicas,as privadas sem fins lucrativos,sendo que se pretende também apoiar iniciativasde institutos de pesquisa. Alémdisso, os recursos, agora no volume de R$10 milhões, passarão a ser divididos emCapacitaçãopromovida pelaInova, da Unicamp:necessidade deformar gestoresFotos: divulgação44Locus • Janeiro 2009


duas linhas temáticas: uma para NITsconsolidados avançarem em suas atividadese a outra para estruturação de novosnúcleos por meio de redes estaduais e regionais.Do total dos recursos, 30% deveser aplicado nas regiões Norte, Nordeste eCentro-Oeste.Crescimento acelerado24%6%Esse avanço é atribuído, em grandeparte, a projetos de disseminação e organizaçãodo setor iniciados logo após a regulamentaçãoda Lei da Inovação. Entreeles, estão as ações de capacitação de recursoshumanos realizadas pelo FórumNacional de Gestores de Inovação eTransferência de Tecnologia (Fortec) e oprojeto InovaNIT, realizado pela AgênciaInova, que funciona como NIT na Unicamp.Nessa parceria, que teve o apoio daFinep com R$ 1,15 milhão, são realizadoscursos para capacitar as instituições acriarem seus núcleos. Os treinamentoschegaram a todos as regiões do país, tendoatendido, conforme números da InovaNIT,175 instituições entre agosto de2007 e setembro de 2008.O crescimento da representatividadedo Fortec, de acordo com sua coordenadoranacional, Elizabeth Ritter, é demonstradopelo número de afiliados. Dosmenos de 30, na época de criação do fórum,somam-se agora 134 instituições.“Da mesma forma, os resultados alcançadospelos NITs têm se ampliado de formaexpressiva. Basta analisar os dados divulgadospelo Ministério da Ciência e Tecnologia.Em 2006, o total dos valores auferidospelas ICTs em royalties, por meiode contratos de transferência de tecnologiaou de licenciamento de patentes, comou sem exclusividade, foram de R$ 810mil. Em 2007, esses valores chegaram aquase R$ 5 milhões”.Para 2009, os cursos do InovaNIT devempassar a ser oferecidos por meio datecnologia de ensino a distância. O convêniocom a Finep, com duração de doisanos, esgotará seu prazo nos próximosmeses, mas há negociações para que sejaprorrogado. “Não há treinamentos semelhantes,por isso, a demanda continuacrescente”, ressalta a gerente do projetoInovaNIT, Patricia de Toledo.Como indica Elizabeth, os cursos sãoimprescindíveis especialmente tendo emvista que a falta de recursos humanos capacitadosconfigura-se como principaldesafio na implantação dos NITs. “Alémde serem em número insuficiente no mercado,uma vez que não há formação específicapara profissionais especializadosem gestão da inovação, há uma dificuldadede absorção desses profissionais pelasICTs. Principalmente nas ICTs públicas,em que a contratação precisa ser feita porconcurso, e, além disso, precisa haver umaalocação de vagas específicas para osNITs. Então, a maioria deles tem desenvolvidosuas atividades com pessoal temporário,como bolsistas contratados pormeio de projetos apoiados por agênciasde fomento. Aí cria-se um círculo viciosona retenção de equipes: depois de qualificadosos profissionais, termina a vigênciada bolsa e as ICTs não dispõem de mecanismospara retê-los.”Natureza das instituições com NITFonte: Fortec24%24%22%6%24%6%6%48%Elizabeth, do Fortec:resultados alcançadospelos NITs são favoráveis24%48%6%Locus • Janeiro 200948%45


e d u c a ç ã oRoyalties gerados pelos NITsFonte: Fortec, 2008divulgaçãoPatricia, do InovaNIT:núcleos devemrespeitar diferençasentre ICT e mercado46Locus • Janeiro 2009A Agência Inova, da Unicamp, foi escolhidapara realizar o trabalho de capacitaçãojustamente por ter conseguido superaressas dificuldades e ter se tornadoreferência. Criada em 2003, antes da Leida Inovação, ela foi estabelecida para consolidaruma política institucional de gestão,proteção e transferência do conhecimentodesenvolvida desde 1989.Atualmente, atividades desse NITabrangem desde a gestão da PropriedadeIntelectual até o empreendedorismo tecnológico,por meio, por exemplo, da suaincubadora Incamp.Bom exemploOutra característica importante é a revisãoanual da gestão estratégica da agência,na qual se monitora seu desempenho,se analisa o ambiente em que atua e seidentificam oportunidades. Esses resultadosindicam progressos para a universidade,que concentra 15% da pesquisa dopaís e tem o maior número de licenciamentosde tecnologia. Antes da criação daInova, a Unicamp possuía seis contratosde licenciamento vigentes, sendo que depois,até final de 2007, somavam-se 40. Aspatentes depositadas durante todos osanos pré-agência chegavam a 255, númerosuperado em apenas quatro anos deatuação da Inova.Especialistas do setor concordam que odesempenho positivo desse e de outrosNITs baseia-se em sua capacidade de interagir,ao mesmo tempo, com a instituiçãode pesquisa e a iniciativa privada. Cadaum, porém, acha sua maneira para explicarcomo os núcleos devem fazer a ligaçãoentre esses dois mundos.Rocca, da Finep, recorre à metáfora dasantenas. “Os núcleos devem ter o perfil deaproximar a instituição das empresas. Temque ser como uma antena dentro e fora dainstituição. Dentro, captando as potencialidadesdos cientistas. E fora buscando sabero que as empresas demandam.”Na explicação de Patricia, do InovaNIT,tratam-se de “mundos distintos com objetivosconflitantes”. “Os NITs têm que saberrespeitar esses dois mundos. De umlado há as instituições, que pregam a liberdadede pesquisa, a difusão do conhecimentoe resultados em longo prazo. Dooutro, as empresas exigindo sigilo e prazosapertados. Na medida em que se conseguirfazer esses dois mundos convergirem,a sociedade ganha”.


c r i a t i v i d a d eModa que vem das águasEmpreendedores do Pará reaproveitam o courode peixe para a produção de bolsas, sapatos eacessórios. Produção sustentável atrai clientesCores vibrantes e produtos que chamama atenção pela beleza e criatividade.A descrição poderia estar presenteem qualquer catálogo de moda nacionalou internacional, mas a inovação de empresáriosde uma marca de bolsas, sapatose acessórios do Pará aliou essas característicasao cuidado ambiental, originandoum produto exótico que deixaria qualquergrande designer ou estilista admirado.A principal matéria-prima da Forad’Água, cujo trabalho é basicamente artesanal,é o couro de peixe. O que serialixo orgânico é totalmente reaproveitado,transformando-se em peça exclusiva, diferenciadae, claro, sem odor. A idéiavirou negócio há cinco anos, quando oantigo proprietário da empresa se especializouno reaproveitamento da pele dopeixe, em uma viagem à Alemanha. Aocolocar a empresa à venda, algum tempodepois, a beleza das peças encantou umaempreendedora de Belém. “Como estavaaposentada e achei o trabalho maravilhoso,me dispus a fazê-lo em sociedade commeu filho e minha nora”, relembra MartaBeatriz Costa e Silva, uma das atuais sóciasda marca.Apesar de o negócio estar em fase deevolução – conta com poucos funcionáriose não possui filial –, a marca de inovaçãoe criatividade indica bons momentospela frente. Segundo Marta, vendedoresautônomos do Rio de Janeiro, de Brasília,Presidente Prudente, Goiânia e Macapá jácomercializam suas bolsas, sapatos e aces-Ama n d a Mi r a n d aDivulgaçãoFabricação artesanaldá origem apeças exclusivas47Locus • Janeiro 2009


FOTOS: DivulgaçãoProdutos da Forad’Água: matériaorgânica transformada48Locus • Janeiro 2009sórios para o resto do país.A peculiaridade e o apelo ecológico daFora d’Água também levaram o Serviço deApoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)e o governo do Pará a incentivaremos empreendedores a participar de umafeira na França. “Fizemos, na época, boasvendas e estamos aguardando retorno dessavisita. No momento, temos uma pequenarepresentação em Lyon”, conta Marta.A empresa não revela dados sobre faturamento,mas como o trabalho é artesanala produção acaba sendo limitada. Isso nãoimpede que novos funcionários sejamcontratados à medida que os pedidos aumentem.De acordo com a empresária, aFora d’Água dispõe inclusive de uma cen-tral de cadastros, com nomes de profissionaisqualificados que já executaram trabalhospara a marca.Além da beleza dos produtos, é a preocupaçãocom a sustentabilidade que fascinaos apreciadores da Fora d’Água. O courodo peixe é comprado dos pescadoreslocais, gerando mais renda para trabalhadorese, em conseqüência, o desenvolvimentoregional. Ao invés de lixo, o que sevê é um catálogo de aguçar o instinto consumistade qualquer um. Tudo ecologicamentecorreto. “O que é novo e curiosodesperta desejos. Na moda, as coisas nãodeixam de ser assim também”, destaca aempresária, que já contabiliza os lucros devalorizar a arte e a cultura locais.


GomorraDireção: Matteo Garrone. Ano: 2008. Com SalvatoreAbruzzese, Simone Sacchettino e Salvatore Ruocco.Aclamado pelacrítica e premiado no Festivalde Cannes, Gomorra já échamado de Cidade de Deusitaliano. Em vez da favelacarioca, o foco está na máfiada organização Camorra, quemata mais do que qualqueroutra milícia européia –desde 1992, estima-se que 3,1 mil pessoas já morreram. Numafotografia propositadamente suja e edição frenética tal qual ofilme brasileiro de Fernando Meirelles, o diretor Matteo Garronemostra como a máfia está intimamente ligada a atividadestão diversas quanto o controle do lixo e o luxo da indústria damoda. Quando o filme termina a sensação é de desesperança.Repare na ótima interpretação dos atores, que criam a aura deextremo realismo na produção.C i n e m aEXPOSIÇÃOUm mundo a perderde vista - GuignardFundação Iberê Camargo. Avenida Padre Cacique,2.000. Porto Alegre (RS). De terça a sexta, das 10hàs 19h. Quintas até as 21h. Sábados, domingose feriados, das 11h às 19h. Entrada franca.C U L T U R AB r u n o M o r e s c h iGomorra – Al e i t u r a história real deum jornalista infiltrado naviolenta máfia napolitanaAutor: RobertoSaviano. EditoraBertrand Brasil.350 páginas.O filme Gomorra ébaseado numa obraliterária de mesmonome escrita peloescritor e jornalistaRoberto Saviano. Por mais de cincoanos, ele mergulhou nos meandros damáfia para escrever o livro. A prova deque o assunto não é brincadeira: atéhoje, Saviano vive sob escolta policialem local desconhecido. A Camorrajá afirmou mais de uma vez que iriaassassiná-lo antes do fim de 2009.Nas páginas do livro a descriçãosubstitui análises profundas quecertamente tirariam o impacto dasdenúncias da obra.De tempos em tempos, artistas antes considerados apenas mais umnome dentro de um amplo movimento artístico recebem novosestudos, mostras individuais até que suas características os tornampintores cujo trabalho sustenta-se por si só. É o que está acontecendocom Alberto da Veiga Guignard, o brasileiro que nasceu em NovaFriburgo e foi estudar em Munique e Florença. Em Porto Alegre,a Fundação Iberê Camargo faz uma retrospectiva das pinturas deGuignard com preciosidades como as duas telas Noite de São João,cedidas pelo Museu da Arte Moderna de Nova Iorque.Aproveite a visita e veja também na Fundação o trabalho de três artistas contemporâneos gaúchos. As obras deElaine Tedesco, Karin Lambrecht e Lucia Koch espalham-se pelo quarto andar e pelas janelas e rampas do local.Assista Família Soprano. Acaba de ser lançada uma caixa com seistemporadas da série de TV que conta a história de um mafioso ítaloamericanoque tenta se livrar de freqüentes ataques de pânico.Imperativo Ouça Fleet Foxes. Nos jornais Independent e New York Times, na revistaRolling Stone, a maioria das listas dos melhores discos de 2008 elegeu, senão em primeiro, pelo menos entre os 10 melhores, o CD de estréia lançado poressa banda de Seattle que mistura pop com elementos de jazz.49Locus • Janeiro 2009


o p i n i ã oDivulgaçãoMauricio Guedes**Mauricio Guedes édiretor da Incubadorade Empresas daCoppe/UFRJ e doParque Tecnológicoda universidade. Atualvice-presidente daInternational Associationof Science Parks(IASP), está deixando apresidência do ConselhoEditorial da Locus epassa a colaborar coma seção Opinião a partirdesta edição.50Locus • Janeiro 2009Uma história inspiradoraoda virada de ano sugere balanços eT reflexões. É difícil lembrar um AnoNovo mais conturbado e, por isso mesmo,mais inspirador: crise mundial e com passaporteamericano, fraude mundial e tambémcom passaporte americano, velhosconflitos e novas guerras, novo (e surpreendente)presidente nos Estados Unidos e,finalmente, o todo-poderoso mercadovoltando a ser questionado e fazendo comque políticas públicas para dominar suasforças sejam acionadas em escala global.Tantos fatos mexem com as cabeças quetentam pensar e construir o futuro, emtodo o mundo. No Brasil, temos um motivoa mais que torna este momento especialmenteimportante: acabam de tomarposse 5.563 novos prefeitos no país, que,ao lado dos mais de 50 mil vereadoreseleitos em outubro passado, vão conduziras cidades onde vivemos pelos próximosquatro anos.É curioso o fato de que o desenvolvimentoeconômico seja um tema tão poucodebatido nas eleições municipais. Afinal,é nas cidades que a capacidade empreendedorade uma sociedade se constrói, apartir das pessoas, do ambiente, da cultura,das políticas públicas, das entidades edas empresas.Neste momento, vale a pena relembrar ahistória de um prefeito especial. PauloFrederico Toledo, falecido precocementeem 1998, administrou a cidade de SantaRita do Sapucaí, no interior de Minas Gerais,em meados da década de 1980. Fuiapresentado ao Paulinho Dentista, comoera conhecido, naquela época. Santa Ritatinha cerca de 30 mil habitantes e o Valeda Eletrônica, que hoje conta com maisde uma centena de empresas do setor,empregando cerca de 7 mil pessoas , davaseus primeiros passos.Foi o próprio Paulinho, com seu jeito defalar deliciosamente mineiro, que me contoucomo surgiu a idéia. Ao planejar suacampanha eleitoral, o grupo que o apoiavase reuniu – segundo ele em um bar – paraavaliar o que a cidade tinha de especial eque ainda não havia sido plenamente explorado.Obviamente chegaram à EscolaTécnica de Eletrônica (ETE), criada em1959 pela lendária Sinhá Moreira, e aoInstituto Nacional de Telecomunicações(Inatel), fundado em 1965.Recém-eleito, cidade pequena, o PaulinhoDentista era assediado por muitagente que lhe pedia um emprego. A todos,respondia: “Emprego eu não tenho, masse você criar uma empresa de eletrônica, aprefeitura paga o seu aluguel por doisanos.” E assim, desse jeito simples, nasciaum projeto que mudaria os rumos da cidadenas década seguintes. Santa Rita encontravauma importante vocação econômica,colhendo os frutos do sonho devisionários que criaram naquela pequenacidade a primeira escola técnica de eletrônicada América Latina.Reencontrei Paulinho Toledo, não maisprefeito, mas ainda dentista, em meadosdos anos 90. Não sei como ele soube queeu, na época presidente da <strong>Anprotec</strong>, estavana cidade e foi me encontrar no Inatel.Vestindo seu jaleco branco, me contouque estava fazendo mestrado. Eu pergunteiem que área. Ele, surpreso com a perguntaóbvia, respondeu: “Ora, em eletrônica,claro”!Essa é uma das lições deixadas por Paulinhoe que pode servir como inspiraçãoàqueles que estão assumindo o comandode nossos municípios. Um prefeito comcapacidade empreendedora, olhar no futuroe pés no chão pode escalar o mundoacadêmico local para protagonizar umahistória de sucesso que ficará marcadapor transformar o futuro da cidade.

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